O Que Não Se Quer, Se Mata

O Que Não Se Quer, Se Mata



Draco Malfoy relembrava os acontecimentos da noite passada com um sentimento de estranheza, e o conhecido preconceito.



Draco estava sentado no vagão do expresso de Hogwarts, sozinho. Ele lembrava-se exatamente das palavras que a Diretora McGonagall havia dito para ele e sua mãe, e de certa forma as remoia.

“-É
óbvio que ele será aceito em Hogwarts. Os professores e funcionários o acolherão como qualquer aluno, mas o que me preocupa é a aceitação dos alunos. Puniremos qualquer ação hostil quanto ao sr. Malfoy mas obviamente haverá hostilidades, exclusão... Ouso dizer que seria melhor que não fosse à escola, pelo menos este ano.”

Seu burro!” Pensava ele agora. McGonagall proferira uma profecia, na verdade. Ele tivera de suportar olhares de desdém, xingamentos, e sinais hostis, desde o momento em que ele passara pelo portal da King’s Cross, ainda que ele tenha chegado bem cedo para evitar enfrentar as pessoas. Seus antigos amigos viravam as costas para ele. Não era bom ter sua imagem associada à de um ex-comensal da morte.

Agora o imponente Malfoy estava ali, em ruínas, sozinho. Nada poderia apagar o que ele fizera para os outros, e ele aceitava que estava pagando por todos os anos de desprezo, ódio e miserabilidade. Foram três meses realmente esclarecedores para Draco. Ele se via sem amigos, com uma mãe depressiva e com um pai obsessivo preso. – Que belo fim, hein, Draco? – Repetia pelo menos três vezes ao dia.

Foi nessas condições que lhe encontraram Harry, Hermione e Ginny, um pouco antes do expresso de Hogwarts começar a andar.

Draco olhou com curiosidade para os três, quando pararam na frente da porta do seu vagão, e começaram a sussurrar, mesmo ele podendo ouvir tudo o que diziam.

-Você ficou maluca, Hermione? – Perguntou Harry. – Você não vai entrar aí pra falar com esse esnobe!

-Olha o estado dele! Eu não gosto dele também, poxa, mas dá um desconto! – Sussurrou.

-Hermione, não seja ridícula! – Disse Harry, exasperado.

-Cala a boca. – Disse Hermione, abrindo a porta do vagão, e sorrindo para Draco.

-Vai, s... – Sangue ruim? Não, essa expressão não estava mais no vocabulário de Draco. Ele estava disposto a mudar, e ele prometera a si mesmo mudar. – Vai, Hermione. – Corrigiu-se. – Vomita todos os xingamentos, diz que eu estou pagando pelos meus pecados, diz que eu não mereço nada menos que isso, e diz que minha mãe é uma vadia, e meu pai um monte de estrume. Eu ainda posso assentir se você quiser.

Hermione olhou para Draco horrorizada, e disse, de nariz empinado. – Eu ainda não sou você, Malfoy.

Ela tinha razão. Essa era uma atitude digna de Draco.

-O que você veio fazer aqui, Hermione?

-Sinceramente, não sei! – Disse, bufando.

-Quer sentar?

Hermione pareceu ser pega de surpresa, e nem Draco planejara perguntar aquilo. Mas seu desejo inconsciente de companhia foi mais forte que ele.

O silêncio perdurou por longos minutos, em que uma Hermione insegura estava sentado na frente de um arruinado Draco.

-C-como foi seu verão, enfim? – Perguntou Draco.

Hermione quase se engasgou antes de responder. – Não foi o melhor da minha vida, se quer saber. Sofri bastante, você sabe. E eu e Ron não estamos mais juntos.

-Há! Você sofreu! – Disse, em um tom debochado. – O que você perdeu, afinal?

Hermione pareceu realmente ofendida e retrucou – Tonks, Lupin! Fred! Pessoas próximas a mim, se você quiser saber.

-Você não sabe o que é sofrer, vejo. E me parece que você acha ser a pessoa mais sofrida do mundo, mas me perdoe se vai doer, mas você
não é.

-Como você...

-Ah, olha, desculpa. Falei no impulso.

Hermione pareceu satisfeita com a interrupção de Draco, mas amarrou a cara. Para que ela não fosse embora – Meu Deus, ele não queria que ela fosse – ele resolveu puxar assunto.

-Então, você finalmente se tocou que Ron não era bom o suficiente para você?

-Na verdade... Ele acabou comigo.

-Como assim?! – Perguntou, fingindo estar indignado.

-Ah, não força não, ô Malfoy.

-Por que você ainda me chama de Malfoy? Eu já te chamo de Hermione.

Hermione rosnou – sim,
rosnou – e disse:

-Quer que eu acredite que o seu verão foi de conversão e você agora é uma pessoa limpa e pura?! Eu não acredito neste novo Malfoy, Malfoy.

-Que eu me lembre, foi você quem tomou a iniciativa de conversar comigo! Eu estava aqui curtindo minha depressão em paz antes de você chegar!

Hermione ficou em silêncio por alguns instantes e disse, cheia de compaixão.

-Como estão as coisas na sua casa?

-HÁ! Às mil maravilhas, se você quer saber. Não importa que eu tenha de afastar objetos pontudos de mamãe se não ela se mata, ou que eu não consiga dormir por causa de seus lamentos, ou que meu pai esteja obsessivo por Voldemort, e que ele ache que ele ainda vai ascender ao poder. A vida continua, se é que você me entende.

Hermione finalmente estava entendendo as dimensões de
sofrimento e se calou, antes que falasse algo inadequado.

-Desculpe... Que cabeça a minha, óbvio que eu não devia ter perguntado.

Draco se recostou, e murmurou: - Não há nada para se desculpar.

-Você me desculpa? – Perguntou Draco, de repente.

-O que?!

-Não me faça me pedir desculpa uma terceira vez, você me desculpa!?

-Pelo que?

-Por favor, Hermione. Eu sempre te desprezei, te chamando de sangue-ruim. Te olhava com superioridade, arrogância. Te julgava inferior, ninguém digno de respeito, mas eu JURO que vejo as coisas diferentes agora.

-Claro que te perdôo, Malfoy. – Disse Hermione, para confortá-lo.

Outro silêncio que perdurou mais que o primeiro.

-Você tem um bom soco, sabia? – Disse, recordando da dolorida cena nos seus terceiro ano letivo em que Hermione quase afundara seu nariz.

Hermione riu encabulada, e a conversa foi se destravando as poucos. Era uma conversa contida, feita por frases rápidas e nunca se estacionando em um assunto por mais de quatro frases.

Até que a mulher dos doces passou reto pela cabine deles.

-Quem ela pensa que...

-Malfoy, controle-se.  – Disse Hermione, baixinho. – Vá até lá e peça educadamente o que você quer.

-Certo, é o que eu vou fazer. – Disse, se levantando e saindo apressado da cabine, esbarrando em alguém.

O resto já fora narrado. Ron Weasley, briga, Draco indo comprar doces, voltando para a cabine, e dizendo:

-Não adianta se esconder atrás de sua juba, ele te viu. – Disse Draco, sorridente.

Hermione fuzilou-o com os olhos, mas se derreteu ao ver que seu sorriso não era de deboche. Era de compreensão. Ela gemeu, frustrada.

-Ah, neste instante ele deve estar imaginando bobagens.

-Tipo o que?

-Sei lá, que eu estou loucamente apaixonada por você, ou que eu estou com você para fazer ciúmes para ele.

-Mas isso seria impossível?

-O que? Estar apaixonada por você, ou estar fazendo ciúmes para ele?

-Ambas as opções.

Ela ficou rubra repentinamente, pensando se interpretara certo o que Draco havia perguntado. – Ora, óbvio que eu nunca estaria apaixonada por você, mas eu sou bem infantil quando se trata de fazer ciúmes, portanto, eu bem que poderia estar fazendo sim.

-Nunca tenha tanta certeza de algo, Hermione. – Disse Draco, jogando algum doce qualquer para ela.

-Você diz sobre estar apaixonada por você ou estar fazendo ciúmes para ele?

-Neste caso sobre se apaixonar por mim. – Disse, e logo cuspindo um feijãozinho longe. – Que droga é essa?! Estrume de dragão, eu acho.

Hermione riu, e resolveu deixar passar o último comentário de Draco.



E agora ele estava deitado em seu dormitório, embaixo de seus lençóis verdes e Sonserinos, olhando para a lua, pela janela aberta. Ele estava exausto, depois de um farto e solitário jantar, e uma seleção cansativa. Mas não conseguia dormir. Seu antigo Draco ainda resmungava com ele “Toda essa auto-piedade... E amigo de uma Sangue-Ruim, mais essa!”

Como se não bastasse, ele sabia o que essa aproximação repentina renderia, e ele não queria ir por este caminho. Ou queria?

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