Revelações



Cavalgaram por algumas horas, afastando-se rapidamente da propriedade. Finalmente pararam às margens de um riacho, para descansarem um pouco e se alimentarem. O ambiente estava mais leve e descontraído, e Rony não escondia toda a sua felicidade em estar entre os seus novamente. Após um lanche, à base de pão, queijo e vinho, ele deitara sob a copa de uma árvore, enquanto sua mãe brincava com seus cabelos, enrolando-os entre os dedos, falando a todo instante o quanto estavam compridos, com Gina e Mione a seu lado. Harry estava mais afastado, conversando com dois de seus companheiros. Ao vê-lo se aproximar, imediatamente Gina se retraiu, sua feição assumindo um semblante de desagrado. Ignorando a reação da jovem Harry disse.


 


            - Acho que estamos sendo seguidos.


            - Você viu alguém? – Perguntou o ruivo, levantando-se de pronto.


- Não, mas é óbvio que Malfoy mandou alguém atrás da gente. Já estamos longe o suficiente, acho que está na hora de darmos um jeito neles. Não quero que nos sigam até em casa. – E Harry já se virava para pegar seu cavalo, quando viu Rony acompanhá-lo – Aonde você vai?


- Com você, é claro. Ou acha que eu deixaria você enfrentar os homens do Malfoy sozinho? – Disse Rony, com simplicidade.


- Não, você não vai. Sua prioridade é proteger sua família. – Respondeu Harry, colocando a mão sobre o ombro do amigo – Além disso, você já ficou tempo demais longe deles. Seu lugar é ao lado deles, pelo menos por enquanto.


- Minha obrigação é ficar ao seu lado, como você sempre ficou ao meu todos estes anos. Não vou deixá-lo voltar lá sozinho, Harry. Sem chance.


- Não estarei sozinho. Neville irá comigo, fique tranqüilo. E por enquanto, esqueça de mim um pouco e curta sua família. Não sabemos por quanto tempo isto durará, então aproveite. – Com relutância, Rony assentiu e então Harry continuou – Encontraremos vocês mais tarde, no mesmo local em que acampamos ontem.


- Certo. Mas tome cuidado, ok? E não banque o herói de novo. – Resmungou o ruivo, antes de Harry finalmente montar em seu cavalo e partir, acompanhado de Neville.


 


 Rony reuniu o restante do grupo e também partiu, visivelmente contrariado. Mione emparelhou sua montaria à dele, questionando-o.


 


 


            - Rony, por que você está tão preocupado com ele? Harry corre algum perigo real?


- Infelizmente sim, Mione. Não sabemos quantos homens estão atrás de nós. E Harry pode acabar fazendo alguma besteira.


- Foi decisão dele em ir sem você, Rony. Se for ferido, a responsabilidade não é sua. – Cortou Gina, aproximando-se.


- Por que acha que ele cometerá alguma imprudência? - Emendou Mione, ainda querendo arrancar mais informações do ruivo.


- Harry não é imprudente. Pelo menos não na maior parte do tempo. – Rony disse, ignorando o comentário da irmã – Mas...


- Rony! – Alertou Dino, que vinha pouco atrás e percebeu a indecisão do rapaz – Não temos o direito de comentar sobre a vida dele.


- Não vou falar nada demais. – Retrucou este – Na verdade é algo que todos já supõem.


 - O que você quer dizer, Rony? Fale de uma vez. – Insistiu Gina, impaciente. Ela não queria dar o braço a torcer, mas estava tão curiosa quanto todos.


- Harry é uma das pessoas mais corajosas que eu conheço. – Começou Rony – É o tipo de pessoa que sempre está à frente, arriscando-se pelo que acredita. É um amigo fiel e sincero. E sacrificaria a vida por qualquer um de nós.


- Assim como nós faríamos por ele. – Emendou Dino, uma vez mais.


- E o que tem isso demais? Não é o que qualquer cavaleiro faria por seus companheiros? – Perguntou Fred, juntando-se à conversa.


- O problema é que Harry exagera um pouco. – Rony respondeu e continuou, ao perceber que não era compreendido – Vejam, Harry perdeu os pais quando criança. Na verdade, eles se sacrificaram para que ele conseguisse escapar, deram suas vidas pela dele. Segundo nosso mestre, isto desencadeou em Harry uma necessidade de se provar.


- Como assim, se provar? Provar o quê? – Indagou Fred.


- Provar a si mesmo que o sacrifício dos pais valeu a pena. Que não morreram em vão. Ele tenta, sempre que pode, ajudar o maior número de pessoas possível, mesmo que para isso, coloque a própria vida em perigo. E eu lhes garanto, isto acontece com uma freqüência fora do normal. – Explicou Rony.


- Mas isto é um contra censo. – Disse Mione, ignorando momentaneamente a informação de que os pais do amigo haviam sido assassinados em circunstancias tão cruéis – Harry não pode se culpar pela morte dos pais e muito menos arriscar a própria vida numa maneira de compensar isto.


- Tente explicar isto para ele então, Mione. Nós já cansamos. – Finalizou Rony, apressando o passo do animal.


 


 Gina nada mais comentou. Mas seus pensamentos estavam inquietos e confusos. Por que Harry escondera o que acontecera com os pais, quando chegara a sua casa? A cada momento ela descobria mais e mais segredos envolvendo a vida do rapaz, o que lhe dava ainda mais certeza de que aquele a quem conhecera no passado não passava de uma mentira.


 


 *****


  


Estavam em um local muito bom para uma emboscada. Um pequeno desfiladeiro, que desembocava na clareira onde estavam. Desmontaram dos cavalos, escondendo-os fora do campo de visão de quem quer que entrasse na clareira. Então, os dois amigos se posicionaram, um de cada lado do caminho, ocultos pela vegetação. Tiraram várias flechas de suas aljavas e fincaram suas setas no chão, para facilitar seu manuseio com os arcos, já preparados e retesados esperando seus perseguidores.


 


Não precisaram aguardar muito. Logo, uma coluna de cavaleiros surgiu, avançando rapidamente. Eram em torno de quinze homens, muito bem armados. Cavalgavam em pares, numa fila indiana, seus movimentos restringidos pelas paredes do pequeno desfiladeiro, como intuíra Harry. Os dois amigos trocaram um olhar de entendimento e quando Harry deu o sinal, ambos começaram a disparar, rapidamente. Pegos de surpresa, antes que pudessem esboçar qualquer reação, seis homens já haviam tombado. Ainda antes que dispersassem, porém, Harry saiu de seu esconderijo, empunhando sua espada e chamando-lhes a atenção. Ao Vê-lo e avançarem, Neville teve tempo de derrubar mais dois, antes que a luta de espadas começasse e então ele corresse para ajudar o moreno.


 


Enquanto Harry derrubava o primeiro de seu cavalo, atingindo-o com um golpe certeiro na região do abdômen, Neville chegava e duelava com outro. Esquivou-se de um golpe direcionado a sua cabeça e atingiu seu cavalo, que caiu sobre seu cavaleiro, dando a oportunidade a Neville em liquidá-lo. Enquanto isto, Harry já derrubara mais dois e lutava com mais um.


 


Sem o elemento surpresa, este cavaleiro já aguardava Harry. Era um homem alto, de feições duras e físico avantajado. Ambos se estudaram por alguns instantes e então o homem atacou. Harry bloqueou o golpe, devolvendo com a mesma intensidade. Trocaram golpes rápidos por alguns instantes, até que Harry conseguiu dar uma rasteira em seu oponente, desestabilizando-o e finalmente terminando o embate. Olhou em volta e percebeu que apenas ele e Neville estavam de pé. O amigo tinha um ferimento que sangrava no braço esquerdo e apesar do tom avermelhado do rosto, sinal do nervosismo, parecia estar bem. Ambos se abraçaram levemente, felizes pelo sucesso da operação e começaram a caminhar, rumo ao local onde os cavalos estavam, quando ouviram um som às suas costas. Atentos, ambos viraram-se imediatamente, espadas em guarda, esperando por um novo ataque. Mas este não veio da maneira prevista.


 


 Um dos soldados abatidos no início por suas flechas, não morrera. Com esforço, arrastara-se até um arco caído e agora o mirava, devidamente armado, para a dupla. Antes que um deles conseguisse tomar qualquer atitude defensiva, a seta foi lançada, seguindo certeira em direção a Neville. Por puro instinto, ignorando tudo que aprendera nos últimos anos, Harry entrou no caminho da flecha, abraçando o amigo e tentando abaixá-lo, mas não foi rápido o suficiente. Neville ouviu distintamente o gemido do amigo no momento em que foi atingido. Revoltado, desvencilhou-se do abraço protetor e correu até o atacante, que tentava armar seu arco novamente, e golpeou-o sem dó, trespassando-o no peito com sua espada. Assim que este tombou, foi esquecido imediatamente. Neville correu em direção ao amigo, que jazia de joelhos no chão, respirando pesadamente.


  


            - Harry! Por que fez isso?


            - O que você acha? – Desdenhou ele, com voz baixa e sentida.


- Não precisava me proteger, droga! Já posso fazer isso muito bem sozinho. – Retrucou o rapaz, enquanto analisava o ferimento, localizado na região da escápula esquerda – E se queria fazer algo, poderia ter feito de outra forma, que não fosse entrando na frente da flecha, você não acha?


- Eu sei que você não precisa de ninguém mais o protegendo, Neville. Não foi intencional, eu apenas reagi. Por isso fiz o que fiz, na hora nem pensei. Apenas agi. – Desculpou-se o moreno.


- Certo! Agora precisamos cuidar disto, antes que piore.


- Não. Aqui não. Vamos para o acampamento, lá você vê o que dá para se fazer. Quebre apenas a ponta da flecha, deixe o resto aí. – Ordenou ele.


- Harry, se não tratarmos disto logo, pode infeccionar. Ou causar uma hemorragia. E a dor, enquanto cavalga, será terrível. A flecha pode entrar ainda mais.


- Eu sei, Neville. Sei de tudo isso. Mas não podemos ficar aqui, outros podem vir. E não podemos correr o risco de Rony vir nos procurar, caso demoremos muito a retornar. Não tem jeito, cuidaremos disto no acampamento.


 


 


Vendo que não conseguiria convencê-lo, Neville resolveu acatar a decisão. Com a ajuda de uma faca, cortou a extremidade da flecha, deixando pouco mais de dez centímetros para fora do ferimento. Em seguida, buscou os cavalos e ajudou Harry a montar e então partiram.


 


 *****


 


 


Rony estava visivelmente impaciente. Há muito já anoitecera e após uma ótima refeição preparada por sua mãe e Gina ( ele não conseguia mensurar o quanto sentira falta da comida da mãe), logo ele começou a estranhar a demora dos amigos. O grupo estava espalhado pelo local, uma clareira que haviam encontrado no dia anterior, muito bem escondida. Fora uma grande coincidência a encontrarem, pois já estava anoitecendo e eles não desejavam viajar durante a noite. Devido a altura das árvores e a densidade da vegetação, era praticamente impossível alguém ver a fogueira que ardia ao centro. Além disso, um riacho de águas gélidas e cristalinas cortava a orla norte da clareira, o que foi muito bem vindo entre todos, após a fuga sob o jugo do sol.


 


 


Já estava pensando seriamente em chamar os gêmeos e partir em busca dos amigos, quando ouviu o som de cavalos se aproximando. Fez sinal para os demais, para que se calassem e se preparassem e aguardou, escondido atrás de uma árvore. Em seguida entraram na clareira dois cavalos, trazendo Neville e Harry. Este último, vinha debruçado sobre o animal, que era conduzido pelo outro. Adivinhando que algo acontecera, Rony correu em direção aos recém-chegados.


 


- O que foi que aconteceu com ele? – Perguntou, tomando as rédeas do cavalo e puxando-o para o centro do acampamento, onde poderia enxergar melhor.


  


Logo eram cercados pelos demais e com extremo cuidado, desciam-no do cavalo, enquanto Neville também desmontava e corria para ajudar, indicando o local do ferimento.


 


- Um dos soldados fingiu que estava morto, para nos pegar pelas costas. Esperou quando já estávamos vindo embora para tentar nos matar. – Explicou o rapaz.


- Como ele está? É grave? – Mione perguntou, preocupada, temendo a perda do amigo que acabara de reencontrar.


- O ferimento está sangrando bastante. Tentei tratar dele mais cedo, mas ele não permitiu. Exigiu ser trazido para cá. – Neville continuou a explicar-se.


- Típico! – Disse Simas – Sabia que estaríamos preocupados com ele.


- Agora, precisamos tratar do ferimento. Durante o caminho, colhi algumas ervas que vão combater a infecção e ajudar na cicatrização. Mas primeiro precisamos retirar a ponta de flecha, que ainda está dentro do ombro. – E enquanto falava, Neville virava o amigo de lado, rasgava sua camisa e analisava mais detalhadamente o ferimento.


- Não podemos puxá-la de volta, o estrago será bem maior. Poderá causar uma hemorragia. – Disse o Sr Weasley.


- Só há uma forma de retirá-la. – Finalmente pronunciou-se Harry, que apesar dos olhos fechados, estava consciente – Ela precisa trespassar e sair pela frente.


 


 Ninguém falou nada por alguns instantes. Era óbvio que esta era a única ação a ser tomada, mas a idéia de causar ainda mais dor ao rapaz não agradava a ninguém. Ou a quase ninguém.


 


- Ele tem razão. Só tem um jeito de retirar esta flecha e quanto antes o fizerem, melhor. – Gina, que até então estava um pouco mais afastada observando a cena disse, adiantando-se e abaixando-se ao lado de Harry – E não há maneira delicada de fazê-lo.


 


A jovem se ajoelhou, às costas de Harry. Antes que qualquer dos presentes pudesse fazer ou falar algo contra, ela pegou um galho de árvore que estava queimado quase por inteiro da fogueira na mão direita, segurou o ombro ferido com a mão esquerda e bateu com força a madeira contra a ponta de flecha. Harry deu um grito alto e desmaiou, ao mesmo tempo em que a ponta metálica da flecha rasgava a pele alva, acompanhada de um jorro de sangue. Sob os olhares agora chocados de todos, Gina pegou a seta com mão trêmula e se virou para Neville.


 


 - Agora você pode cuidar do seu amigo. – E levantou-se, levando a ponta de seta com ela.


 


 Rapidamente Neville, auxiliado pela Srª Weasley começaram a tratar do rapaz, estancando o sangramento e cuidando da ferida. Enquanto isso, Mione partiu atrás da amiga, ainda atônita pelo que vira.


  


- Gina, você está louca? Como pôde fazer aquilo com Harry? Com toda aquela frieza? – Esbravejou ela, ao alcançá-la. Ela estava no riacho, lavando as mãos e seu suvenir.


- Só fiz o que era necessário, Mione. Ninguém parecia querer tomar  a iniciativa, então eu tomei. Se quer saber, posso até ter salvo a vida dele. – Respondeu a ruiva, tentando não demonstrar o quanto estava abalada pelo que fizera.


- Eu sei que era necessário e que você fez o que era certo. Não estou questionando sua coragem, tão pouco. – Explicou Mione, começando a se acalmar – O que eu quero dizer, é que você gostou de causar dor em Harry. Eu vi isso em seus olhos, você queria ferí-lo. Isto é errado, Gina. Nós não sabemos o que aconteceu a eles nos últimos anos, você o está condenando sem a menor chance de defesa.


- Eu... Eu sinto muito, Mione. Foi maior que eu, quando percebi, já estava lá, arrancando aquela flecha do ombro dele. Não sei o que me deu, sinceramente não estou entendendo o que se passa comigo.


- Eu também não entendo, Gina. E não estou reconhecendo a minha amiga hoje. Desde que eles voltaram para nos buscar, você não é a mesma. E isto me deixa muito triste, pois minha amiga é uma pessoa adorável, não esta amarga que está na minha frente. – Mione percebeu que suas palavras haviam atingido o alvo e começou a se afastar, dizendo – Dê a ele a chance de se explicar. Tenho certeza de que houve uma razão muito forte para tantos anos de ausência.


 


 Gina sentou-se às margens do riacho, pensativa, fitando o objeto em suas mãos, enquanto lágrimas escorriam por sua face. Mione sempre fora sua grande e única amiga, e elas nunca haviam discutido. Ouvir palavras tão duras dela era extremamente doloroso. E o fato dela quase sempre estar certa, criava ainda maior confusão em Gina. A jovem ficou mais algum tempo ali sozinha e só depois que todos – fora Dino que estava de guarda - já estavam dormindo foi que ela também resolveu dormir.


 


 A madrugada já estava chegando ao fim. Era aquele horário em que a noite fica mais fria, quando falta pouco para o amanhecer. Uma neblina leve cobria o acampamento. Harry havia acordado já há algum tempo, mas permanecera deitado. Sabia que necessitava de repouso para se recuperar e que quando amanhecesse não teria mais tempo para descansar. Devido  o ferimento, seu braço repousava em uma tipóia. Estava absorto em seus pensamentos, quando um gemido chamou sua atenção. Ele se levantou, preocupado, buscando sua origem. Ao longe, Neville cumpria seu turno como vigia e fitou-o, curioso. Ele o cumprimentou e continuou procurando a origem do som, que continuava. Então encontrou, era Gina.


 


A jovem, que dormia, remexia-se em sua cama improvisada, num sono conturbado. Visivelmente estava tendo um pesadelo. Com sua movimentação, acabou por se descobrir. Harry abaixou-se e com a mão sã, puxou o cobertor, voltando a cobrí-la. Mas ela se virou novamente, jogando-o longe e iniciando um choro sentido. Preocupado com seu estado, Harry resolveu acordá-la e tocou sem ombro, chamando-a baixinho.


 


            - Gina! Calma, é só um pesadelo. Está tudo bem. Você está segura.


  


Gina acordou assustada e instintivamente buscou sua adaga, escondida sob seu travesseiro improvisado. Com uma agilidade fora do comum, ela se virou em direção a Harry, que só percebeu o que ela tinha na mão quando um pálido reflexo atingiu a lâmina. Sua mão voou de encontro à de Gina e ele segurou firmemente seu pulso, fazendo uma careta de susto e dor.


 


 


- O que você pensa que está fazendo? – Perguntou Gina ao mesmo tempo, entre assustada e raivosa.


- Você estava tendo um pesadelo. Estava gemendo e chorando, eu só quis ajudar. – Respondeu ele, fitando-a seriamente nos olhos.


- Eu não preciso da sua ajuda. Nunca precisei e nunca vou precisar.


- Não tive a intenção de assustá-la, Gina. Só fiquei preocupado com você. Não há mais motivos para ter medo, agora você está segura.


- Não acha que é meio tarde para se preocupar com alguém? E como pode dizer que não tenho motivos para ter pesadelos, se o teor dele está aqui, agora, me assombrando? – Rosnou ela, tentando soltar o braço.


- Gina, eu não entendo. Por que você me odeia tanto? Será que não consegue ver que não tive escolha? Que não queria ter desaparecido daquela maneira e por tanto tempo?


- Isto não importa agora, Harry. É passado. E temos que aprender a conviver com nosso passado. Mas não suporto sua presença. Muito menos seu toque. Por isso, acho melhor me soltar, antes que eu enfie este punhal em você. – E ela mexeu uma vez mais a lâmina, a qual não olhara até então, mas sabia que estava próxima do corpo de Harry.


- Peço desculpas. Por tudo. Talvez um dia você entenda o que está acontecendo e possa me perdoar. Ou pelo menos, não me odiar. E prometo que não a tocarei nunca mais, a não ser que me autorize. – E com uma careta, Harry largou o braço de Gina, virou-se e saiu.


 


 Enquanto ele se virava, Gina percebeu uma mancha vermelha na tipóia que sustentava o braço de Harry. Braço este que estava à sua frente, detalhe que ela não havia reparado. Temerosa, Gina olhou para seu punhal e viu que sua longa lâmina estava manchada de sangue. Imediatamente soltou-a e levou a mão à boca, horrorizada com o que fizera. Era a segunda vez naquela noite que ela feria, literalmente, Harry. E desta vez ele estava completamente consciente e nada fizera para impedir. Pensou em chamá-lo e se desculpar, mas seu orgulho e vergonha a impediram. Então ficou apenas olhando para suas costas, enquanto ele chegava ao local onde estava dormindo e tirava o braço da tipóia, avaliando o ferimento. Então, uma luminisciencia, à frente de Harry surgiu por alguns instantes. Gina chegou a dar alguns passos em direção ao rapaz, preocupada com o que poderia ser. Mas o brilho logo desapareceu e Harry se deitou, sem olhar sequer uma vez para onde ela estava. Não havendo mais nada a fazer, Gina também se deitou e tentou dormir. Tarefa na qual falhou miseravelmente, pois seus pensamentos foram inundados pelas palavras de Mione e suas atitudes até aquele momento. Um sentimento de culpa a assolou e quando o dia finalmente amanheceu, ela já não tinha mais tanta certeza dos motivos pelos quais decidira odiar Harry. Naquele momento, odiava mais a si mesma.


 


 


Assim que amanheceu o grupo levantou acampamento. Tinham muito a cavalgar ainda e não queriam dar chance a nenhum outro homem enviado por Malfoy que os alcançasse. Gina reparou que a tipóia havia sido trocada e Harry não dava nenhum sinal de que havia sido ferido. Confusa, acreditou que se enganara sobre o ferimento.


 


Não houve qualquer tipo de contratempo durante o restante da viagem. No quarto dia, ao final da manhã, Harry anunciou que estavam chegando ao destino. Para assombro dos Weasleys, ao contornarem uma curva do caminho, avistaram um belo castelo no alto de uma colina. Conforme se aproximavam, podiam vislumbrar os estandartes espalhados pelas torres e mastros. Um grande leão dourado em posição de ataque sob um fundo vermelho. Ao redor do castelo, encrustada na colina e espalhando-se no entorno, várias casas que formavam uma pequena vila. Ao fundo era possível ver um rio que cortava a região e abastecia a vila. Tudo isto protegido por muros e portões, com vários metros de altura.


 


 Harry tomou a dianteira da comitiva. Assim que se aproximaram dos portões, estes foram abertos, sem demora. Conforme seguiam pelas ruelas da pequena vila rumo ao castelo, as pessoas surgiam de todas as partes para cumprimentá-los. As crianças, em especial, corriam ao lado dos cavalos de Harry, Rony e os outros, recebendo afagos e sorrisos sinceros por parte destes. Andando no centro do grupo, com Gina, Mione ainda assimilava tudo que via, uma ruga em sua testa, o que significava que ela tentava lembrar de algo.


 


 


- O que foi Mione? Por que esta cara? – Perguntou Gina, ao notar o semblante da amiga. Ela mesma estava adorando a recepção, não entendia o estado da outra.


- Não sei bem. Acho que conheço esta bandeira. – Disse ela, apontando para uma flâmula que balançava ao sabor do vento – Mas não consigo me lembrar de onde.


 


 Gina deu de ombros. Não fazia idéia do que isto poderia significar. Só desejava poder finalmente descansar um pouco, em qualquer daquelas pequenas casas pelas quais passavam. O local parecia hospitaleiro, as pessoas pareciam de bem. Em nada se assemelhava com as terras que haviam deixado para trás, onde a opressão e os maus tratos reinavam. Ali, parecia que todos eram tratados com dignidade. Não havia crianças aparentando fome nem idosos maltrapilhos, abandonados à própria sorte por não mais poderem trabalhar nas lavouras.E isto tudo era uma novidade para ela. Só temia o que ela e sua família teriam que fazer para merecer viver naquele lugar.


 


Quando atravessaram os portões do castelo, ganhando seu pátio interno, ficaram ainda mais extasiados com a visão. No centro do pátio, havia um imenso Chafariz. Com o formato de um unicórnio, empinando sobre as patas traseiras que lançava água atravéz de seu chifre, todo em mármore branco. Mais além, era possível visualizar a entrada em arco de um jardim. Por toda a volta do pátio, porém, era visível o cuidado com os detalhes, pois todo caminho era ladeado por flores, principalmente Agapantos e Madressilvas, estas últimas espalhando-se pelas paredes e muros internos do castelo, numa profusão de cores e perfumes.


 


Assim que desmontaram, já havia alguns pagens os aguardando. Rapidamente eles capturaram as rédeas dos cavalos, saudando os recém chegados com uma breve referência. Antes porém que Harry falasse qualquer coisa, um homem, na faixa dos vinte e cinco a trinta anos se aproximou, repetindo a reverência e lhe entregando um pergaminho.


 


 - Loefgreen? Você não estava na corte com Sirius e Remo? – Indagou Harry, enquanto pegava o papel e quebrava o lacre.


- Sim meu senhor. Estava. Mas fui enviado de volta, para lhe trazer esta carta e acompanhar uma pessoa. – Respondeu e já emendou, antes que Harry indagasse sobre quem era - As explicações estão na carta.


 


Curioso e preocupado, Harry abriu o pergaminho e leu rapidamente seu conteúdo. Rony e Neville juntaram-se a ele, aguardando para saber do que se tratava.


 


 - Só o Sírius mesmo! – Exclamou Harry assim que terminou a leitura, estendendo a carta para que os amigos pudessem ler e virando-se para Loefgreen novamente – Onde ela está? Quando vocês chegaram?


- Chegamos esta manhã, meu senhor. A jovem está na sala de audiências, aguardando sua chegada.


- Há!Há! – Riu Rony, acompanhado por uma discreta risada de Neville, que agora repassava a carta para que Dimas e Simas pudessem ler – Parece que seu padrinho arranjou uma noiva para você, Harry. E ela já veio para ficar.


- Cala essa boca, Rony. Não é nada disso, está muito bem explicado na carta. Trata-se apenas de uma jovem órfa, a quem Sírius e Remo resolveram acolher. – Retrucou Harry, mau humorado. Então virou-se para os demais e continuou – Parece que meu padrinho convidou mais uma pessoa para morar no castelo conosco.


- Será que ela é bonita? – Perguntou Fred, interessado.


- Você poderá constatar mais tarde, enquanto jantamos. Agora, vocês podem acompanhar Rony. Ele mostrará onde ficam seus quartos. – E emendou, virando-se para Gina e Mione – Eu mesmo vou mostrar o quarto de vocês duas. Importam-se de me acompanharem até a jovem? Assim mostro o quarto para todas de uma vez.


 


 Gina deu de ombros enquanto Mione sequer ouvia a conversa. Sua atenção estava focada em uma figura que caminhava com dificuldade em direção ao grupo. Um ser, ou remedo de ser, completamente deformado, com sinais de queimadura por todo o corpo. Logo os outros notaram-no e acompanhavam seu progresso. Mas Harry, assim que o viu, foi em seu encontro.


 


 


- Jovem mestre! – Falou o homem, com dificuldade, abraçando Harry pela cintura. Ele mal alcançava o tórax de Harry – Está ferido!


- Olá Dobby! – E acariciando a cabeça desnuda e repleta de cicatrizes, continuou sorrindo – E não se preocupe, isto foi apenas um arranhão. Amanhã já estará bom.


- Menino Harry igual ao pai. Sempre se metendo em confusões. Dobby sabe, Dobby lembra. – E Dobby balançava a cabeça, inconformado.


- Não sou eu quem procura confusão, Dobby. Ela é quem está sempre me perseguindo – Sorriu o rapaz, falando com meiguice, de uma maneira que comoveu a todos – Mas que tal não contar a meu padrinho sobre este pequeno incidente, hein? Você sabe como ele é, ainda me trata como criança.


 


 


Dobby assentiu, divertido. Só então olhou para os demais.


 


- Mestre trouxe o restanta da família de jovem mestre Ronald. Que bom, agora todos podem ficar reunidos novamente. – Disse, sorrindo para os presentes.


- Isso Dobby. Agora a família está reunida novamente. Você preparou os quartos, como pedi? – Após um aceno de cabeça, ele continuou – Teremos mais uma hóspede. Você pode pedir para alguém prepará-lo, com a máxima urgência?


- O quarto já está pronto, meu senhor. Assim que o capitão chegou trazendo a  moça, Dobby já arrumou o quarto para ela.


- Perfeito, meu amigo. Sempre posso contar com você, não é mesmo? – E desta feita, Harry foi quem abraçou Dobby. Um abraço sincero e cheio de significados – Posso lhe pedir mais um favor? Peça ao cozinheiro para caprichar hoje. Diga que prepare um banquete, temos muito o que comemorar esta noite.


 


 


Dobby fez uma mesura e se retirou, andando o mais rápido que seu corpo debilitado permitia. Harry ficou olhando até que ele entrasse no castelo com um olhar triste e então se virou para os presentes.


 


 


- Vocês são meus convidados nesta casa. Têm a liberdade para fazer qualquer coisa que queiram. A única coisa que eu não aceitarei, é que maltratem Dobby. Que façam troça, preguem peças ou o descriminem de qualquer forma por sua aparência. Eu peço que o respeitem até mesmo mais do que respeitam a mim. – E finalizou olhando em direção a Gina, que enrusbeceu imediatamente.


- Claro Harry. Ninguém desta família será descortez com o pobre homem. Mas diga-nos, o que aconteceu com ele para ficar neste estado?


- Dobby era a pessoa que tomava conta de mim quando pequeno. Quando o castelo foi atacado e meus pais mortos, tentaram me matar também. Mas Dobby me protegeu  com o próprio corpo. Eu acabei apenas com um ferimento na testa enquanto ele ficou neste estado. – Explicou Harry, suspirando ao final – Mas depois explico melhor. Só entendam que ele não é criado deste castelo. É meu amigo, a quem devo a vida. Ele não precisa trabalhar, mas se recusa a não servir nossa família. Então, lhe confiamos tarefas simples, que não exijam muito esforço. Assim ele se sente útil.


- É uma atitude muito nobre esta sua, meu filho. – Disse Molly, com a voz embargada.


- É só o que posso fazer, srª Weasley. Infelizmente. – Mudando rapidamente o semblante, continuou – Vamos então? Sei que estão todos cansados e querem repousar um pouco antes do banquete.


 


 


Atendendo o chamado, seguiram em frente. Ao entrarem no castelo, porém, se dividiram. Enquanto Rony levava os gêmeos e os pais por uma escada à oeste, Neville, Simas e Dino seguiram em frente e tomaram outra escada, ao norte. Harry e as meninas atravessaram o enorme saguão e entraram por um corredor. Pelo caminho, elas apreciavam a beleza do lugar. Dezenas de quadros pendurados pelas paredes, tapeçarias e muitas obras de arte. O corredor terminou em uma enorme porta de mogno, toda entalhada, que Harry abriu e deu passagem para que elas atravessasem, entrando em seguida. Uma jovem loira, aproximadamente da mesma idade deles, levantou-se imediatamente de uma cadeira. Pega de surpresa, quase derrubou uma travessa que estava depositada em uma pequena mesa a sua frente, repleta de frutas, pão e queijo, além de uma jarra de água.


 


 


            - Lady Lovegood! – Cumprimentou Harry, fazendo uma respeitosa reverência.


- Meu lorde! – Devolveu ela, também o reverenciando e também cumprimentando as outras duas, enquanto falava – Peço seu perdão pela invasão. Mas lorde Black me disse que o senhor estaria aqui e que eu seria bem vinda. Se soubesse que não estaria em casa, nunca teria aceito o convite,


- Para começar, meu nome é Harry. Não sou lorde nem senhor de nada nem de ninguém. – Começou Harry sorrindo, indicando para que todos se sentassem – E se meu padrinho a acolheu, você é mais do que bem vinda. Será nossa hóspede pelo tempo que quiser.


- É muita gentileza sua, meu lor... quero dizer, Harry. Meu nome é Luna. – E ela sorriu, finalmente erguendo seus olhos, que até então mantinha abaixados, em claro sinal de submissão e fitando Harry. Eram olhos enormes, de um azul claro e límpido como o céu  – Você não é como eu esperava, Harry.


- Vou considerar isto como um elogio. – Harry ainda sorria. Estava gostando da jovem – Estas são ladies Hermione Granger e Gina Weasley. Também estão se mudando hoje. Há outros membros da família, que mais tarde você conhecerá.


- Olá! – Cumprimentou Luna – Isto é ótimo, não ficarei mais sozinha.


- Olá. É um prazer conhecê-la, Luna. – Respondeu Mione em nome das duas.


- Luna, a carta de Sírius não foi clara quanto ao que aconteceu com você. Pode me explicar o que houve? – E Harry tornou-se sério imediatamente.


- Bem, creio que posso. Na verdade, acho que devo, não é mesmo? Afinal você está me acolhendo em seu castelo e não sabe nada sobre mim. Ou sobre minha família. – Ela tomou fôlego e começou a narrar – Meu pai era um Bardo. Escrevia estórias e depois as contava ao povo, em troca de alguns trocados. Mas ele nunca ganhava muito, então minha mãe o ajudava com as despesas da casa, lavando roupa para os nobres da corte. Há coisa de dois meses atrás, ouvi ele conversando com minha mãe. Disse que alguns homens o procuraram, com uma proposta. De que ele escrevesse e disseminasse entre o povo estórias falsas sobre o rei. Meu pai se recusou e a partir de então começou a ser ameaçado. Dias depois, enquanto eu fui entregar uma leva de roupas que minha mãe acabara de lavar e passar, os tais homens invadiram minha casa e mataram meus pais. Quando eu voltei, já encontrei minha casa tomada por soldados.


- Isto é horrível! – Murmurou Mione, solidária com a dor que a outra expressava.


- A coroa acabou confiscando nossa casa. Como eu não tinha nenhum parente a quem recorrer, acabei sendo enviada para as freiras. Foi lá que lorde Black me encontrou, semana passada. Ele conhecia meu pai e ficou sabendo do ocorrido assim que chegou à corte. Então me tirou do convento e me enviou para cá. – Finalizou ela.


- Sinto muitíssimo pela sua perda, Luna. – Disse Harry com sinceridade – Você por acaso sabe quem foram os homens que mataram seus pais?


- Não. Eles não conversavam sobre isso perto de mim. Só ouvi uma vez, à noite, quando achavam que eu estava dormindo.


- Entendo. Bom, se conheço meu padrinho, ele deve estar tentando descobrir o que houve. Provavelmente quando retornar, teremos alguma notícia. – Ele então se levantou, sendo imitado pelas três – Agora vou mostrar onde ficam seus quartos.


 


 


Assim, voltaram pelo mesmo corredor e subiram uma escadaria a leste do saguão principal. No andar superior, seguiram por um outro corredor, até chegarem em uma ala repleta de portas também trabalhadas,dos dois lados do corredor, que terminava também em uma porta. No total, havia sete quartos naquele corredor. Harry encaminhou-se para a primeira porta à direita, abrindo-a e dando passagem para que as moças entrassem.


 


 


            - Este é seu quarto, Luna. Espero que seja de seu agrado.


 


 


Nenhuma das três respondeu de imediato. Adimiraram a decoração, toda em tons de amarelo, desde as cortinas até os tapetes, passando pela generosa cama de dossel. Ao fundo uma outra porta, a qual Harry abriu e mostrou se tratar de um espaçoso banheiro. E outra na parede lateral, que aparentemente ligava ao quarto ao lado. Luna apenas sorriu e disse, agradecida.


 


 


            - É perfeito, muito obrigada. Eu adoro amarelo.


 


 


Passaram para o quarto seguinte. Era exatamente igual ao anterior, porém em tons de azul-claro. Mas Mione não reparou em nada disso, pois assim que ela entrou, sua atenção foi diretamente para uma pilha de livros que repousava bem no meio do quarto. Ela deu um grito, empurrando Harry e correndo até a pilha.


 


            - Harry! São meus livros! Mas como?


- Você achou mesmo que eu ia deixar que a última lembrança deixada por seu pai se perdesse? – Perguntou ele sorrindo e piscando para ela.


            - Mas... Você disse que iria destruí-los... – Murmurou Gina, incrédula.


- Não! Eu não disse que iria destruí-los. Só que daria um fim ao problema que tínhamos, ou seja, transportá-los. Mandei-os na frente, apenas isso. – Harry continuava sorrindo, muito satisfeito com a felicidade da amiga, que não escondia a emoção. De soslaio fitou Gina, e percebeu o primeiro sorriso sincero que esta dava em sua frente.


- Ah Harry! Obrigada!- Agradeceu Mione, correndo até ele e abraçando-o com força – Nem quero saber como conseguiu, o que importa é que estão aqui.


- Depois eu conto o segredo. E já deu para perceber que este é o seu quarto, não é? Se importa com as cores?


- Não, claro que não. Adoro azul. – Sorriu Mione, desfazendo o abraço.


 


 


Finalmente entraram no terceiro quarto, o qual Gina pressupôs que seria o seu. E não conteve o cair do queixo e a cara de assombro ao entrar. Não havia grande diferença quanto aos outros dois. Os móveis eram os mesmos, o tamanho era o mesmo. O que a deixara deslumbrada fora a cor. Era todo decorado em tons cor-de-rosa bem claro, muito delicado.


 


 


            - Espero que fique confortável neste quarto, Gina.


            - Ah! Sim, certamente ficarei. Obrigada! – Foi apenas o que conseguiu dizer.


- Como podem ver, os quartos são interligados.  – Harry apontou a porta lateral, que ligava ao quarto de Mione – Achei que vocês gostariam desta facilidade, para poderem transitar livremente entre seus quartos com mais privacidade.


- E por que a outra porta está lacrada? – Luna apontou a porta, que daria para o último quarto, que ficava ao fundo do corredor e que tinha uma grande armário bloqueando a passagem.


- Por que aquele é o meu quarto. Achei que se sentiriam mais seguras se a porta ficasse lacrada. – Explicou Harry sem se alterar.


- Harry, posso fazer uma pergunta? – Mione olhava com aquele olhar que deixava claro que seu cérebro estava funcionando a mil – Estes quartos... De quem eram?


 


 


 


Harry não respondeu de imediato. Ficou olhando para a amiga por alguns instantes, provavelmente decidindo de deveria ou não responder, um sorriso triste estampado em seu rosto. Até que finalmente pareceu se decidir, enquanto voltava para o corredor, sendo novamente acompanhado.


 


 


- Este. – E apontou para o próprio quarto – Era o quarto de meus pais. E estes – Então apontou para os quartos que acabavam de visitar – Eram os quartos de meus irmãos.


- Você tem irmãos? – Assustou-se Gina. Seria mais uma revelação assombrosa da misteriosa vida de Harry?


- Na verdade não. Mas quando se casaram, quando construíram este castelo, meus pais tinham a intenção de ter muitos filhos. Por isso tantos quartos. O meu era o azul, mas a idéia era ter muitos outros, segundo meu padrinho me contou. – E agora o rapaz não escondia mais a tristeza no olhar.


- E o que houve? Por que mudaram de idéia? – Perguntou Mione.


- Ainda antes de meu nascimento, algo fez com que desistissem da idéia de uma grande família. Acharam que a carnificina seria menor, se não colocassem mais crianças no mundo. Infelizmente estavam certos. – O final foi praticamente um sussurro, mas o impacto das palavras foi tão forte que ninguém pediu maiores explicações – Mas falaremos sobre isto mais tarde.


 


 


Harry seguiu até seu quarto, abrindo a porta e pedindo, com um jesto, que as jovens entrassem.


 


 


- Tenho algo para vocês. Espero que gostem. – E dizendo isto, foi até o closet, que ocupava toda uma parede do lindo quarto, decorado em vermelho e dourado e abriu suas portas, revelando dezenas de vestidos e outras peças de roupas femininas – Pertenciam à minha mãe. Meu padrinho não conseguiu se desfazer de tudo, nem eu. Mas acho que ela ficaria muito feliz se vocês ficassem com o que quiserem.


- Tem certeza Harry? – Perguntou Mione, indecisa.


- Absoluta! Sei que devem estar um tanto fora de moda, mas vou pedir para que Mme Malkin, a costureira da vila venha aqui amanhã, ajudá-las no que for necessário.


- São maravilhosos, Harry. Sua mãe tinha um gosto muito refinado. – Disse Luna, alisando um dos vestidos.


- E os outros quartos? – Perguntou Gina, para mudar de assunto. Estava se sentindo incrivelmente incomodada.


- Bom, nestes dormem meu padrinho, Sirius e meu “tio” Remus. – Disse, apontando para os dois primeiros – E o outro era o de Rony. Ele preferiu mudar e ficar perto de seus pais.


- E por que eu não fgiquei junto com o restante da minha família? – Perguntou Gina, desconfiada.


- Pensei que gostaria de ficar junto de Hermione. Mas se quiser, peço para a acomodarem em outra ala, mais próxima de seus pais e irmãos. – Respondeu ele naturalmente.


- Não, tudo bem. – Apressou-se em responder Gina – Eu gostei do quarto. E vai ser ótimo termos um espaço praticamente só nosso. Só não sei se você vai suportar por muito tempo este bando de mulheres tagarelando em seu corredor. – E finalmente, Gina deu seu primeiro sorriso para Harry.


- Não se preocupe. Será um prazer tê-las aqui. – E Harry também sorriu, o maior sorriso que deu desde que retornara. Também o primeiro realmente feliz. Ele fitou Gina com profundidade, mergunlhando fundo nos olhos castanhos da jovem. Esta por sua vez, sentiu-se hipnotizada pelo brilho esmeralda dos olhos verdes dele, e o sorriso de ambos foi desaparecendo aos poucos. Recompondo-se rapidamente, Harry continuou – Vou deixá-las a vontade, para garimparem as roupas. Se me dão licença...


- Mas este é o seu quarto. Não temos o direito de expulsá-lo do próprio quarto. – Apressou-se Gina – Você não vai descansar?


- Não agora. Tenho outros assuntos a tratar. Mais uma vez, fiquem a vontade. – E dizendo isto, Harry saiu.


 


 


O trio ficou calado até ele sumir no final do corredor, então Mione se virou para a amiga, com um olhar matreiro, e perguntou.


 


 


            - E aí? Ainda acha o Harry, o pior ser humano da face da Terra?


- Não sei ao certo. Talvez não seja o pior. O segundo, talvez? – Brincou Gina, mas continuou em seguida, mais séria – Estou confusa, Mione. Muito confusa.


- Deu para perceber toda a sua confusão agora há pouco. – Finalizou Mione de forma dúbia, dirigindo-se para o Closet, sendo seguida por Luna. Gina permaneceu parada mais um instante e então se juntou a elas.


 


 


 


 


Após uma verdadeira farra, escolhendo e provando os vestidos, um banho reconfortante e um bom descanso foram mais do que bem vindos. Quando Gina acordou, a tarde já se encaminhava para seu final. Da janela de seu quarto, podia ver as sombras do crepúsculo no horizonte. Espreguiçou-se com gosto, apreciando a cama macia e cheirosa. Ela tinha certeza de que nunca dormira tão bem em sua vida. Levantou-se preguiçosamente e foi até a porta que separava seu quarto do de Hermione. Bateu levemente na porta e depois de alguns segundos recebeu permissão para entrar. A amiga ainda estava dormindo e ela se desculpou por acordá-la, mas esta pulou rapidamente da cama, agradecendo-lhe.


 


 


- Precisamos nos arrumar, Gina. Logo devem nos chamar para o banquete, não podemos nos atrasar. – E arrastando a ruiva pela mão, começaram a se arrumar.


 


 


Finalmente a noite chegou e com ela, batidas na porta. Era Rony chamando. Pouco depois todos entraram na sala de jantar, onde uma mesa gigantesca estava abarrotada de todo tipo de comida. Mas Rony as conduziu para além, uma ante-sala onde os outros membros da família e Harry estavam reunidos. Assim que Rony entrou com as jovens, este fez um sinal com a cabeça para Dino, que saiu da sala por outra porta. O rapaz parou a conversa que estava tendo com Fred e Jorge, sobre seu treinamentos para cavaleiro e voltou-se para elas.


 


- Sei que devem estar famintas, mas peço apenas mais um pouco de paciência. Tenho uma surpresa para os Weasleys.


 


 


Neste momento, a porta pela qual Dino saíra volta a se abrir, dando passagem a dois jovens de cabeleiras vermelhas.


 


 


- Gui! Carlinhos! – Gritou Molly, correndo em direção a eles – Ah, meus filhos. Meus filhos queridos!


 


 


O restante da família correu em direção aos membros desaparecidos da família, uma balbúrdia ruiva de abraços, afagos, choro e risadas. Gina foi a primeira, logo após a mãe, a saltar sobre os rapazes. Não sem antes, lançar um olhar de gratidão para Harry. Este se aproximou de Mione e Luna, pegando-as pelo cotovelo e a conduzindo-as para uma sacada. Aquele era um momento familiar.


 


 


- Harry! Mas como é possível? Disseram que eles estavam mortos. – Perguntou Mione, secando lágrimas que brotavam de seus olhos. Afinal, aquela família a havia acolhido quando perdera seus pais e ela acompanhara todo o sofrimento pela perda de seus filhos.


- E era essa mesma a idéia, Mione. Que eles morressem nas Cruzadas. – Respondeu Harry, escorando-se no parapeito e ficando de frente para ela – Malfoy os enviou para que acabassem mortos em batalha.


- Mas então... Como? – Insistiu ela.


- Mione, desde que deixei a casa dos Weasleys... Desde que meu padrinho tomou conhecimento do quão importante esta família era para mim, que sempre temos pessoas monitorando o que acontece. Assim, quando os dois foram enviados para a guerra, meu padrinho alertou um de nossos aliados na Terra Santa, para que tomasse conta deles. Um dia, ambos foram enviados para uma missão suicida. Ajudar um barão normando, sitiado há vários dias pelos infiéis. Eles, acompanhados de um pequeno grupo,conseguiu entrar na fortaleza normanda e tentaram mudar o rumo da batalha, mas a inferioridade numéria era gritante e a derrota era uma questão de tempo. Mesmo assim, eles permaneceram firmes na posição. Assim que Sir Alastor Moody, nosso homem que estava na região, ficou sabendo da batalha, enviou nossos homens para lá e depois de uma batalha bem acirrada, finalmente conseguimos entrar e resgatar os sobreviventes. O barão ficou tão agradecido pela fidelidade dos dois, que os levou para seu castelo na Normandia, onde eles ficaram por quase um ano. O barão tem um grande apreço por ambos, principalmente por Gui, que salvou sua vida duas vezes durante a batalha. Quando finalmente deixaram a Normandia, seguiram as instruções de Moody e vieram diretamente para cá, onde tomaram conhecimento de toda a verdade. Concordaram em permanecer aqui, em segredo, até que os retirássemos das garras de Malfoy.


- Isso é fantástico Harry. Como não retornaram para o acampamento dos homens de Malfoy, foram considerados mortos em batalha. – Mione parou por um momento, ponderando se deveria falar o que tinha em mente. Decidiu que sim – Harry, o que vi estes últimos dias... Este castelo, as cores e o símbolo na bandeira, a estória que nos contou mais cedo... Apesar de não entender como é possível, eu acho que sei quem você é.


- Eu ficaria surpreso se não soubesse, Mione. – Sorriu Harry – Você contou para mais alguém a sua suspeita? – Mione negou com um movimento de cabeça e Harry arrematou – Então peço que aguarde um pouco mais, até o final do jantar para expor o que acha. Daí poderemos falar abertamente.


- Hei! Será que podemos jantar? Estou morrendo de fome. – Disse Rony, entrando pela porta e alisando o estômago, ilustrando seu sentimento.


- Ele não muda, não é mesmo? – Perguntou Mione para Harry, cruzando os braços e fitando de forma severa o rapaz.


- Não neste ponto. Continua com o mesmo apetite de sempre. – Respondeu Harry e ambos riram, e juntos os três voltaram para dentro, seguidos de uma sorridente Luna. Apesar de não compartilhar da intimidade do grupo, sentia-se muito bem ali com eles.


 


 


 


O que era para ser apenas um jantar, acabou se tornando uma imensa festa. Gina sentou-se ao lado de Gui e não escondia a sua felicidade em ter os irmãos novamente. Seu sorriso era enorme e seus olhos brilhavam o tempo inteiro. Molly não se aguentava de tanta felicidade, a todo instante secava as lágrimas que escorriam de sua face rosada. Arthur estava igualmente emocionado, exagerara um pouco no vinho e a todo instante agradecia a Harry por ter acolhido seus filhos. Gui e Carlinhos passaram o jantar inteiro contando suas aventuras na Terra Santa, para deleite de alguns e pavor de sua mãe. Ao final da refeição, que prolongou-se até tarde, Harry levantou-se e disse.


 


 


- Acho que agora, se não estiverem muito cansados, está na hora de algumas explicações. – Imediatamente a mesa caiu em silêncio. Harry voltou a se sentar, toda a atenção voltada para si. Bebeu um gole de seu vinho e continuou – Meu nome é Harry. Harry Thiago Potter. Filho de lorde e lady Potter.


- Mas... Os Potter’s foram assassinados. Há vários anos. – Retrucou Arthur, assim que se recuperou do choque da notícia.


- Sim. Mais exatamente, na mesma noite em que eu fui deixado na sua porta, sr. Weasley. – Disse Harry.


- E como, uma criança como você, conseguiu chegar em nossa casa na mesma noite em que seus pais eram assassinados aqui? – Perguntou Gina, seu desconfiômetro ativado novamente.


- Ótima pergunta, Gina. E tem a ver com tudo que aconteceu em nossas vidas e nosso futuro.  – Respondeu Harry, inclinando-se levemente para a frente – Eu sou um bruxo.


 


 


O silêncio desta vez foi um pouco maior. Então, os gêmeos e Gina explodiram em gargalhadas, os dois primeiros socando a mesa de tanto rir. Mas isto passou logo, ao perceberem que não eram acompanhados pelos demais.


 


            - O quê? É piada, certo? – Perguntou Fred, olhando ao longo da mesa.


            - Então por que ninguém está rindo? – Completou Jorge, a seu lado.


 


Gina não falou nada, mas fitou Mione, que também permanecia séria. Tinha uma expressão compenetrada, como se estivesse juntando as peças daquele quebra-cabeças e chegando a alguma ou várias conclusões. Ao cruzarem o olhar, Gina entendeu que não era brincadeira. E que Hermione acreditava naquela afirmação. A ela só restou arregalar os olhos, incrédula, e fitar Harry novamente.


 


 


- Não, não é piada. – Dizia Harry, calmamente. – Eu sou um bruxo, assim como meus pais eram. Assim como há vários espalhados pelo mundo, ocultos entre os não-bruxos. Há, inclusive, alguns aqui mesmo, nesta sala. Senhores, mostrem-se.


 


 


Um tanto inibidos, levantaram-se Neville, Dino, Simas e um rubro Rony. Sentaram-se novamente logo em seguida e Harry retomou a palavra.


 


 


- Foi por isso que consegui surgir em sua porta, naquela noite. Foi assim que eu e Rony desaparecemos, tempos depois. Foi assim que transportei os livros de Mione para cá. – O sorriso desapareceu dos lábios do rapaz quando disse as próximas palavras – E foi por isso que tantos foram mortos. Meus pais, os pais de Hermione e Percy. Por causa da magia. Ou melhor, por minha causa.


- Harry, acho melhor você parar de enrolar e explicar de uma vez. – Atalhou Hermione.


- Claro! Então vamos lá. – Anuiu ele, recostando-se em sua cadeira e tomando mais um gole de vinho – Bruxos existem. Sempre existiram, vivendo entre os não-bruxos, muitas vezes protegendo-os. Outras vezes, tentando dominá-los. Como tudo e todos, existem pessoas boas e más entre nós. Gostamos de nos considerar bruxos “do bem”, não usando nossos poderes mágicos visando prejudicar outrem. Mas há também aqueles que preferem usar a magia para o mal, para prejudicar as pessoas ou conseguir benefícios próprios, para dominarem ou sobrepujarem as pessoas. Que se especializam no ramo mais negro da magia. São os que chamamos de bruxos das trevas.


- E que, infelizmente, não são exatamente a minoria. – Acrescentou Rony.


- Com certeza. – Assentiu Harry – Há alguns anos, uma bruxa muito conceituada, que também possuia o dom da premonição, fez uma profecia. Ela previu que surgiria um bruxo das trevas, extremamente poderoso, que arrebanharia um grande número de seguidores e que poderia dominar o trono da Inglaterra. Mas também previu, que surgiria alguém capaz de impedí-lo. Nascido em família nobre e bruxa, de pessoas que se opunham a ele, esta criança teria o poder de impedir sua ascenção definitiva.


- E você acha que é esta criança? – Gina não conseguiu reprimir o tom de deboche na afirmação.


- Na verdade não. Pelo menos, nunca pensei muito nisto enquanto era criança. – Respondeu Harry, sem se alterar – Mas muitas pessoas, inclusive meus pais e um homem que se julga objeto da profecia, acreditaram.


- Mas por quê? O que você tem de diferente ou de especial para que as pessoas acreditem ser o predestinado? – Perguntou Mione.


- Na verdade, Harry não era o único possível candidato. – Interrompeu Neville – A profecia dizia que este jovem nasceria no final do sétimo mês, no ano do eclipse da lua. Houve um eclipse da lua em janeiro daquele ano. Dentre as famílias bruxas, poucos nasceram nestas condições. Na verdade, apenas nós dois.


- Os pais de Neville, apesar de também serem opositores às artes das trevas, sempre foram mais discretos e políticos do que os meus. Conseguiram ocultar o nascimento dele por um ano e quando o anunciaram, disseram que era outra data. Meus pais tentaram me proteger, também ocultaram a data de meu nascimento, mas quando eu já tinha seis anos a verdade finalmente vazou e nós fomos atacados. Meu pai tombou nas muralhas, junto com vários cavaleiros. Meu tio, Remus, foi seriamente ferido. Já meu padrinho não se encontrava no castelo no dia, estava na côrte. Só ficou sabendo do ataque dias depois, mas não havia mais nada a fazer. E minha mãe... Bom, minha mãe tentou me proteger até o fim. Quando o castelo foi invadido, ela tentou enfrentar sozinha o assassino. Deu ordem a Dobby que me protegesse e saiu para lutar. – Os olhos verdes do rapaz estavam parados, distantes, viajando em imagens do passado – Depois que ele a matou, veio atrás de nós. Explodiu a porta do quarto e estava pronto para me matar. Lançou um feitiço, mas antes que este me atingisse, Dobby entrou na frente, me protegendo com seu corpo. Meu único ferimento foi este, na testa. Não sei como, mas Dobby conseguiu me tirar de lá, usando o resto de forças que tinha. Me transportou para fora do castelo, onde fomos encontrados por Hagrid, um servo de um grande mago e amigo de meus pais, Dumbledore. Eles me tiraram daqui e na mesma noite Dumbledore me entregou para vocês.


 


O silêncio havia tomado conta da sala. Molly soluçava baixinho, imaginando o horror pelo qual o rapaz já havia passado na vida em tão tenra idade. Harry terminou sua taça de vinho e retomou a palavra.


 


 - Acredite, Gina. Não sei se sou a pessoa da qual a profecia fala. Espero que não. Mas o homem que matou meus pais acredita e é isso o que importa.


- Harry, meu querido. Por que não nos contou nada disso enquanto vivia conosco? – Perguntou Molly, ainda chorosa – Poderíamos ter protegido você melhor, ter tentado amenizar sua dor.


- Por que eu não me lembrava, Srª Weasley. Dumbledore achou melhor que eu não me lembrasse do ocorrido, então apagou minhas lembranças. Só voltei a lembrar de tudo depois que ele me tirou de lá. Disse que era mais seguro, para mim e para todos vocês.


- Se era tão seguro assim, por que meu irmão está morto? – Gina não se conteve. A raiva, irracional, voltou a dominá-la.


- Como eu já disse, a culpa é minha. Se bem que Dumbledore assume boa parte de culpa por isto também. – Harry respondia, abaixando a cabeça. Não queria olhar para ela, não queria ver novamente a raiva e mágoa em seus olhos – A magia normalmente desperta quando entramos na adolescencia. Mas não há uma data exata, Dumbledore não tinha como saber quando isto aconteceria. Comigo aconteceu exatamente no dia de meu décimo primeiro aniversário. Claro que eu não sabia o que estava acontecendo, mas o fato não passou despercebido de algumas pessoas. Dumbledore, mesmo estando muito longe, sentiu. E o homem que desejava minha morte também. Ele enviou Malfoy para me encontrar e matar. E a todos que estivessem me escondendo. Foi por isso que Percy e Lorde e Lady Granger foram sumariamente assassinados. Só desistiram de matar a todos quando não me encontraram, quando não havia mais sinal algum de magia no local. Acharam que eu já estava morto e então não havia mais motivo para eliminarem todos. Mas, como Malfoy sempre foi ganancioso, aproveitou a oportunidade para se apropriar das terras de Mione.


- Então... Na verdade, ao partir naquela noite, vocês acabaram salvando nossas vidas? – Foi mais uma afirmação do que uma pergunta feita por Arthur – Se é assim, como pode se sentir culpado pelo que aconteceu?


- Harry, você não passava de uma criança inocente, que sequer sabia quem era. Como poderia ter evitado algo? – Emendou Molly.


- E não importaria que soubéssemos desta estória antes, Harry. Meus pais e Percy teriam agido da mesma forma, apenas pelo fato de fazerem o que era certo. – Concluiu Mione, olhando significativamente para Gina, sentada mais adiante na mesa.


- Obrigado, Mione. – Agradeceu ele, comovido.


- Harry, você ainda não disse o nome deste homem vil, responsável por tanta desgraça em nossas vidas. – Perguntou Arthur. Apesar do semblante sereno, era claro o ar pesado e preocupado que carregava.


- Quase ninguém o trata por seu nome de batismo. Há muitos anos, ele resolveu mudar de nome. Criou um que acreditava imbuir na população bruxa, medo e respeito. E ele conseguiu. A maioria tem medo dele e acabam submetendo-se a sua vontade com receio de retaliações. – Harry suspirou e concluiu – Seu nome é Lorde Voldemort.


 


 


Novo momento de suspence na sala, enquanto a nova revelação era assimilada. Foi novamente Arthur quem tomou a palavra.


 


 


            - Já ouvi falar deste nome. E nunca coisas boas.


- Mas Harry... E agora? – Mione finalmente fez a pergunta que todos queriam fazer – O que pretende fazer? O que nós podemos fazer?


- Agora, Mione? – E um sorriso maroto brotou no canto de sua boca – Agora, a situação é a seguinte; Não sou mais uma criança. Não sou mais indefeso. Passei os últimos anos com Dumbledore, aprendendo tudo que podia sobre magia, me tornando um cavaleiro. Me preparando para o que está por vir. Sei que ainda tenho muito a aprender, mas já chega de ficar escondido.


- Como assim? O que pretende fazer? – Gina voltara à conversa, depois de muito tempo calada e pensativa.


- Sirius e Remus estão na côrte, para uma audiência com o rei. Vão contar que estou vivo. Logo, todo o reino saberá que o herdeiro de Thiago Potter está vivo. Será uma questão de tempo até as pessoas se lembrarem da antiga profecia e começarem a juntar as peças.


- Mas isto o colocará novamente sob mira de Voldemort, Harry. Ele virá atrás de você imediatamente. – Conjecturou Hermione.


- É uma possibilidade, mas não acreditamos que aconteça. – Disse Rony – Dumbledore conhece bem o lorde, e acha que ele não atacará. Pelo menos não por enquanto.


- E por que não? – Fred estava curioso.


- Por que ele não ousaria declarar uma guerra aberta contra nós, logo de cara. Não sem antes conhecer realmente quem é seu inimigo. Ele não sabe nada sobre o Harry e seus poderes. – Foi a vez de Neville.


- Isto sem falar que, assim que for revelado que Harry escapou com vida de seus ataques por duas vezes, ele não poderá correr o risco de falhar novamente.  – Emendou Rony.


- Mas isto tudo são suposições. E se não acontecer como planejaram? – Mione parecia cada instante mais preocupada.


- Ainda assim, estaremos dando esperança ao povo, Mione. Se uma criança conseguiu sobreviver aos atentados e está de volta para lutar contra o mau que Voldemort representa, por que não os outros? Por que todos devem se curvar perante as vontades dele ?


- Então, você está querendo ser algum tipo de herói? De mártir? Quer se sacrificar para que o povo tome alguma atitude contra a tirania? – Mione estava revoltada com a idéia e não escondia isso em sua voz – Harry, isso é um absurdo.


- Não vou me sacrificar, Mione. Pode ter certeza de que pretendo continuar bem vivo. Só achamos que o povo bruxo necessita de alguma inspiração. Algo que os motive. Eles precisam ver que podem escolher, que não são obrigados a seguir Voldemort. Apenas isso.


- Então, afinal, o que pretende? E por que nos trouxe para cá? – Gina insistiu na pergunta de Mione e acrescentou o que mais a deixava curiosa no momento.


- Eu os trouxe, pois assim que for revelado quem sou, deve acabar vindo à tona minha relação com vocês. E não poderia deixá-los a mercê de um dos homens de Voldemort. Aqui estarão seguros. Quanto ao que vou fazer... Bem, digamos que a partir de agora vou me tornar exatamente o que a tal profecia determina que eu seja. Aquele que vai impedir Voldemort de alcançar seu objetivo.


- É isso aí, Harry. E você não estará sozinho. Estaremos com você. – Disse Neville, com a concordância dos outros três amigos.


- E para começar, vamos arrancar o Malfoy das terras da Mione. – Rony esfregava as mãos, satisfeito, como se antevendo algo que lhe desse imenso prazer.


- Sério? Quando? – Perguntaram os gêmeos, em uníssono, tão eufóricos quanto o irmão mais novo com a idéia.


- Em breve. – Respondeu Harry – Assim que Sirius der o sinal verde.


- Não! Harry, por favor não. Não quero que ninguém aqui se arrisque por mim. Não me importa mais as terras, o título, nada disto. – Apressou-se a pedir Hermione – Não quero mais sangue derramado, não vale a pena.


- Como pode dizer isto, Mione? São suas posses. A herança que seu pai deixaria para você. Seu nome, seu título. Tudo isso vale sim, qualquer sangue que seja derramado, para que você tenha de volta. – Rony disse, de maneira tão convicta, que emocionou a garota.


- E não se preocupe, Mione. Se tudo correr como planejamos, não haverá uma gota de sangue derramado. – Garantiu Harry – Mas tudo a seu tempo, no momento precisamos aguardar. Quando chegar a hora, Malfoy não poderá fazer nada para nos impedir.


 


 Harry então se levantou e continou a falar.


 


 - Mas agora, acho que está na hora de descansarmos. O dia foi longo, vocês têm muitas novidades com as quais lidar. Já é tarde e acho que uma boa noite de sono é o que mereçemos. – Todos começaram a se levantar, prontos para sair, mas Harry pareceu se lembrar de algo – Ah! Só mais uma coisa. Srª Weasley, gostaria de lhe pedir um favor.


- Claro Harry! O que quiser, querido. – Concordou ela, imediatamente.


- Bom, como a senhora deve ter percebido, desde que minha mãe morreu este castelo tem sido administrado apenas por homens. E francamente, nem Sirius, Remus e muito menos eu, temos jeito para isto. – O rapaz parecia um tanto sem graça ao falar, mas não concluiu pois foi interrompido por Gina.


- Eu sabia! Sabia que teríamos que pagar de alguma forma por tanta “generosidade”.


- Gina! – Molly praticamente gritou, fazendo a jovem se calar – Harry, pedoe-a. Minha filha é um tanto impulsiva e extremamente ingrata.


- Eu só acho que ela está equivocada, Srª Weasley. – Passado o impacto inicial das palavras, Harry retomou. E encarando Gina – Eu pensei que já estava claro, mas deixe-me frizar bem. Vocês não vieram para esta casa, para me servir. Vocês são hóspedes aqui, Gina. O tempo de serviçal acabou. A partir de hoje, serão tratados com o devido respeito. Como minha família. Pois é assim que eu me sinto, vocês me adotaram como membro desta família desde o dia em que apareci naquela porta. Por isso estou fazendo este pedido à sua mãe. Gostaria que ela assumisse a responsabilidade pela administração desta casa. Que assumisse o lugar que está vago, desde que minha mãe verdadeira partiu. O de castelã. Se ela quiser, é claro.


- Oh, meu querido menino! – Exclamou Molly, não se contendo e abraçando-o num abraço que só Molly Weasley sabia dar. Um daqueles abraços quebra-costelas, que era dolorido, sufocante e gostoso ao mesmo tempo – Claro que eu aceito. Será uma verdadeira honra, com toda certeza.


- Solte-o, Molly querida. Você o está sufocando. – Arthur se adiantou e começou a puxá-la carinhosamente.


- Obrigado! – Harry agradeceu, emocionado. Tentando secar discretamente os olhos, que começavam a nublar. Olhou em volta, envergonhado, e quando fitou Mione viu que esta também estava emocionada. Quando os olhares se cruzaram, inconscientemente ela deu dois passos em sua direção. Então percebeu o que estava fazendo e parou, envergonhada.


- Desculpe! Eu...Eu... – Hermione não sabia o que dizer, temendo que sua atitude impensada pudesse ser mal interpretada.


- Acho que podemos deixar as conveniências de lado, não podemos? – Perguntou Harry, abrindo os braços para recebê-la. Hermione começou a chorar, então correu e se jogou nos braços de Harry, abraçando-o com força.


 


 


Os presentes aguardaram, surpresos pela falta de decoro do casal. Rony estava extremamente vermelho e sem que percebessem, deu um passo em direção aos dois. Não sabia o que poderia acontecer a seguir, mas não deixaria Harry fazer nada que manchasse a reputação de Hermione. Passado um momento, durante o qual Mione apertava Harry tanto quanto Molly apertara a pouco, soluçando e molhando sua túnica enquanto ele alisava seus cabelos, ela acabou se afastando, ainda mais envergonhada.


 


 


-  Desculpe, Harry. Mas eu estava com tanta saudade... Senti tanto a sua falta e queria tanto te abraçar... Para ter certeza de que você é real, sabe? Não resisti. Desculpe. Por favor, não pense mal de mim, sei que parece loucura, mas sinto como se você fosse meu irmão. Um irmão muito querido, que pensei estar perdido e agora voltou para casa. – E ela tentava, com a manga do vestido, conter as lágrimas que continuavam escorrendo.


- Shiii! – Fez ele, ajudando-a secar as lágrimas, sorrindo e também com os olhos vermelhos – Não chore, Mione. E não se preocupe, claro que não pensei nenhuma besteira. Pois é assim que eu a vejo também. Como a irmã que eu nunca tive.


 


 Ele a abraçou novamente, depositando um beijo em sua testa e então, dirijindo-se para todos novamente.


 


             - Agora é melhor irem dormir. Amanhã é um novo dia e temos muito a fazer.


- Você não vem? – Perguntou Mione, ao perceber que ele não os acompanhava rumo à porta.


- Daqui a pouco. Preciso enviar uma carta a Sirius, informando que chegamos bem e outra a Dumbledore. Tenho ótimas notícias para ele, algo que o deixará exultante. Mas logo irei, fique tranquila.


  


Hermione não questionou. Apesar de ter ficado curiosa quanto a tal notícia que ele daria a seu mestre. Mas estava cansada e passara muitas emoções durante aquele dia e resolveu ir descansar. Por sua vez, Harry acompanhava a saída de todos. Rony, ao passar por ele, deu um tapa de leve em seu ombro, nitidamente satisfeito com o amigo. Gina porém, ao passar, apenas murmurou um “boa noite”, sem sequer encará-lo. Harry suspirou. Claro que ele não esperava por parte de Gina uma reação tão emotiva quanto a de Mione, que apesar de extremamente racional, quando deixava aflorar seu lado emocional era exatamente daquele jeito. Gina era diferente. E estava com muita raiva dele. Mas esperava alguma reação, qualquer que fosse. E não podia negar que ficara decepcionado. Não sabia por que, mas gostaria de ter recebido ao menos mais um sorriso da ruiva. Ao menos isso.


 


Suspirando, Harry saiu da sala de jantar, dirigindo-se para a biblioteca. Precisava escrever as cartas, o quanto antes. Se estivesse certo, Dumbledore realmente ficaria contente.


 


 N/A: Bom gente, eis aí algumas explicações. Sei que não dei todas ainda, que ainda há muitas brechas. Mas ficaria ainda mais maçante o capítulo se eu tentasse explicar tudo aqui, de uma vez. Assim, vou revelando aos poucos, no decorrer da fic. Mas cabe alguns esclarecimentos:


 


Não houve nenhum eclipse lunar no período em que ocorre a história. Mas, como sou péssimo para elaborar profecias, foi o melhor que consegui.


 


No próximo cap, termos mais alguns novos personagens surgindo. Espero que gostem deles.


 


Queria agradecer a todos que estão acompanhando a fic. Que tenham ou não comentado. Mas eu gostaria mesmo de ter uma noção maior de como anda a história, por isso ficaria imensamente grato se mais pessoas comentassem, dessem suas opiniões.


 


Sei que houve um tempo muito grande entre os dois primeiros caps e este. Foi muita coisa que aconteceu este ano, nem vale a pena citar. Mas o importante é que agora tudo está entrando nos eixos. Assim, espero conseguir atualizar com maior frequência, tanto esta fic quanto a Lembranças, que atualizei mês passado e pretendo atualizar novamente até o final do ano. Vou tentar fazer assim, intercalando entre uma e outra, ok?


 


Agora, algumas respostas inididuais.


 


 


Pedro Ivo – Valeu pelo apoio. Espero que a partir de agora, consiga atualizar num prazo de tempo menor entre os caps. Grande abraço.


 


Lamarck – Está aí o novo cap. E pode deixar que eu aviso sim.


 


Kenia – Sei que só vai ler esta resposta daqui a um bom tempo, mas mesmo assim, muito obrigado pelo apoio. Grande beijo.


 


Thamis – Muito obrigado. Espero que goste deste novo cap.


 


Thamis – Muito obrigado. Espero que goste deste novo cap.


 


Remulo – Espero que você mude de idéia sobre comentar. Você não sabe como é importante pra gente saber a opinião de vocês. E fico muito contente que esteja gostando. Como pode perceber neste, realmente o portal é magia. E teremos sim, o grande Dumbledore. Ele deve aparecer no próximo capítulo, pode aguardar.


 


Maria Lucinda – Eu é que agradeço por ler o que escrevo. E pode deixar que sempre que eu atualizar, mando um e-mail sim. E se mais alguém quiser ser avisado, basta me avisar, que incluo na lista, ok? Grande beijo.


 


Ilyatur – Não sei ao certo se o que pretendo escrever se encaixa no que você descreve como magia de Paladino. Mas espero que goste.


 


Filipa – Obrigado. Não foi tão rápido assim, mas está aí a atualização. Beijos!


 


Luc – Vamos ter magia sim. Quem já leu minhas fics anteriores sabe que gosto de descrever cenas de batalha usando espadas e magia. Então, pode esperar que a magia irá aparecer sim. Teve uma amostra bem pequena neste capítulo, tanto da perícia em armas do harry quanto de sua magia. Mas logo aparecerá muito mais. Valeu pelo comentário.


 


Laurenita – Oi linda. Bom ter você aqui também. Vai ter magia sim, com certeza. E quanto às suas perguntas, acho que respondi neste capítulo, não foi? Beijos!


 


Felipe – Fala grande Felipe. Claro que lembro de você. E fico muito contente em ainda tê-lo como leitor de minhas fics. Valeu mesmo. Um abraço.


 


Tonks Butterfly – Oi minha linda. E como está o meu sobrinho virtual? Morde ele pra mim, ok? Grande beijo, pros dois.


 


Gilmara – Obrigado, espero que continue gostando e acompanhando a fic. Beijos.


 


Rômulo – Valeu cara.


 


Prika – Linda, muito obrigado. Espero que tenha gostado deste e aguardo mais comentários, ok? Beijos.


 


Douglas – Fico contente que tenha saído do anonimato. Como já disse pro Remulo, é muito importante a gente saber a opinião de vocês, pra sentir se estamos no caminho certo e tals. Aguardo mais cometários, ok? Grande abraço.


 


Biank -  Eis mais um. Espero que agrade. Bjs.


 


Pedro – Que bom que agradou. Espero conseguir manter a qualidade nos próximos capítulos também.


 


Simone – Pronto, capítulo postado. Agora preciso virar a chave no cérebro pra pensar na outra fic, que devo começar a escrever o novo cap em breve. Bjs, amiga.


 


 


Bom, é isso aí gente. Aguardo realmente mais comentários, pra saber como anda a fic. E vejo vocês em breve na Lembranças e logo depois, aqui novamente.


 


Beijos e abraços.


 


Claudio.

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