Reencontros



Capítulo 02 – Reencontros


Aquela era, sem sombra de dúvida, a pior época do ano naquelas terras. Pelo menos para quem já vivia ali antes da invasão. Afinal, todos adovam a jovem lady Hermione e a família Weasley. E ver estas famílias destruidas em tão pouco tempo atingia a todos.


Além da perda de Percy, que perecera defendendo o castelo naquela fatídica noite de agosto, seis anos atrás, ainda havia o desaparecimento de Rony e Harry. No dia seguinte ao ataque iniciaram buscas por toda a região, que se estenderam por mais de uma semana, à procura dos meninos. Mas nenhum sinal deles foi encontrado. Nesta mesma manhã, finalmente conseguiram extrair de uma ainda assustada Gina sua versão do que ocorrera. Mas o fato era tão inacreditável, que todos julgaram que a menina estava inventando uma estória fantasiosa para poder lidar com sua dor. Desacreditada, esta desistiu de tentar convencer as pessoas, e a partir de então, começou a perceber a diferença no tratamento que recebia, como se fosse uma pessoa com alguma deficiência mental ou coisa parecida. O que resultou em seu ostracismo. Aos poucos, a alegre e sorridente menina desapareceu, surgindo em seu lugar uma jovem amarga e reclusa.


Guilherme e Carlinhos haviam sido localizados no dia seguinte. Carlinhos nada sofrera, apenas fora feito prisioneiro pelos homens de Malfoy durante a invasão. Já Gui havia sofrido um sério ferimento em sua face, e necessitou de várias semanas para se recuperar, restando uma profunda cicatriz que lhe marcaria o rosto para o resto da vida. Ambos, inconformados com o ocorrido – Atribuiam aos invasores as mortes dos três rapazes, além do casal Granger – Alimentavam criar uma revolta entre os criados e vassalos, expulsando os Malfoys e devolvendo as terras a sua legítima dona, a pequena lady Granger. Mas, devido um descuido ao se comentar o fato, a idéia acabou chegando aos ouvidos de Lucius Malfoy, que resolveu desmantelar a revolução mandando seus líderes, incluindo os dois jovens Weasleys, para as cruzadas.


Isto ocorrera a quatro anos. Todos sabiam que o período de serviço militar na Terra Santa não ultrapassava dois anos, mas com a notícia da quade de Jerusalém aos exércitos comandados por saladino e uma vez que nunca haviam recebido qualquer notícia dos filhos, nem estes haviam retornado, Arthur e Molly consideravam que ambos haviam perecido em combate. Assim, dos sete filhos que tinham posto no mundo, só lhes restavam três. Os gêmeos, Fred e Jorge, pelos quais temiam a maior parte do tempo, já que estes tinham um sério problema com a autoridade e bradavam ao vento seus desejos de vingança pelos irmãos mortos e a pequena Gina, que crescia arredia e cada vez mais revoltada. Assim, era muito comum nestas noites de agosto, ouvir lamentos e soluços dentro da humilde casa dos Weasleys. Quer fossem do quarto do casal, quer fosse do quarto das meninas, o qual Gina dividia com Hermione. Sim, pois desde a tomada de suas terras a jovem vivia com a família Weasley. E trabalhava como eles.


Logo após a queda do castelo, Arthur e Molly tentaram, a todo custo, esconder a menina, mas a sua semelhança com os pais acabaram por denunciá-la. Temendo que esta fosse assassinada também, e ainda chorando a morte dos filhos, Arthur prostou-se aos pés de Lucius Malfoy, implorando por sua vida. No que, para surpresa da grande maioria, foi atendido. A partir de então Mione passou a morar com a família e a trabalhar na manutenção da casa, como Molly e Gina.


Com o passar do tempo, as mãos finas e delicadas de Hermione deixaram de existir, devido ao trabalho braçal que executava. Porém, ainda era poss;ivel entrever em seus delicados modos e toda a sua gentileza para com os outros empregados, toda a sua cultura e classe de uma verdadeira dama da corte.


Ao contrário do que se imaginaram no início da ocupação, os Malfoys não se mudaram para o castelo Granger. Eles continuavam em suas terras, ao sul dali, e só visitavam em época de partilha da colheita ou quando fosse extritamente necessário. Malfoy nomeara um de seus asseclas, Goyle, como administrador. Dificilmente trazia sua esposa, Narcisa, para passar alguns dias ali, e quando o fazia era um verdadeiro inferno na terra. A petulante mulher adorava humilhar os serviçais, e por mais de uma vez Gina e Mione foram obrigadas a literalmente segurar Molly, para que esta não agredisse a mulher. Já o filho do casal, um jovem da mesma idade de Hermione, louro como os pais e com ar extremamente afetado, chamado Draco, vinha todas as vezes.


As meninas julgaram errado o rapaz, devido seus modos e a contínua impressão de que ele estava enjoado. Vivia o tempo inteiro com caretas e nariz empinado, o que não era comum para jovens na idade dele, que já deveriam estar se preparando para tornarem-se cavaleiros. Mas aos poucos elas perceberam que tudo não passava de empafia, pois Draco era sim um menino e extremamente repugnante. No inicio, sempre com a companhia do filho do administrador Goyle e de outro capitão de seu pai, Crabble, eles se contentavam em atormentar e humilhar as duas, atrapalhando ao máximo suas tarefas. Pisavam com as botas cheias de lama no piso recém limpo, rasgavam as cortinas, obrigando-as a cerzí-las, coisas do gênero. Mas, conforme todos cresciam, mudavam os interesses e tipos de peças que eles tentavam pregar. De forma que ambas tomavam o máximo de cuidado para não serem encurraladas sozinhas pelos cômodos do castelo. Por precaução, começaram a usar pequenos punhais escondidos sob a roupa, o que foi a salvação de Gina, numa tarde, quando esta foi pega sozinha na biblioteca. Depois da estocada recebida da ruiva, Goyle passou a respeitar um pouco mais as duas.


Tal atitude assustou Mione, que sempre fora passiva com a sua situação. Mas ela não pode negar que adorou o fato, e este acabou incentivando-a a tomar uma posição mais efetiva quando um fato lhe aconteceu.

Um dia, enquanto ela tirava a mesa do jantar, ouviu Goyle propondo a Malfoy transformar a biblioteca em uma nova sala de armas. Imediatamente se rebelou, dizendo aquela ser a única herança deixada por seu pai. Os homens riram dela, mas esta manteve seu nariz empinado e exigiu que os livros fossem poupados. Divertido com a situação, Malfoy permitiu que ela salvasse os livros, desde que o fizesse até a manhã seguinte. Qualquer livro ou pergaminho que ainda estivesse nas prateleiras pela manhã, seria queimado. Ela, com o auxilio de Gina e dos gêmeos, ficaram até alta madrugada carregando os volumes para um cômodo vazio na casa dos Weasleys.


O mês de agosto já estava terminando, e Lucius Malfoy viera para discutir quanto recolheria dos lavradores e quanto exigiria deles para a próxima colheita. Estavam na sala de audiência, num belo final de tarde, enquanto Gina e Mione limpavam o local. Como sempre, a ignoravam completamente, até que Lucius olhou para Mione e estreitou seus olhos, mandando Goyle calar-se com um gesto rude.


- Quantos anos você tem, Granger? – Perguntou ele, de chofre.


Pega de surpresa e assustada com o olhar que recebia, Hermione ficou muda. Olhou para a amiga, desesperada, e esta tinha o mesmo olhar, obviamente pensara a mesma coisa. Ela e Gina conseguiram, até então, manter os jovens afastados, mas caso Malfoy ou algum outro tivese a intenção de lhes fazer mal, seria muito difícil impedir. E Narcisa não os acompanhara naquela viagem, o que tornava a situação ainda mais perigosa.


- Ela tem a mesma idade que eu, pai. Dezessete. – Respondeu Draco, com um sorriso malicioso. Certamente pensara no mesmo que as meninas.
- Já? Dezessete? – Murmurou seu pai – Já está mais do que na hora de se casar, menina.
- Não penso nisto, senhor. – Finalmente ela conseguiu se manifestar – Meu pai não teve tempo de procurar um pretendente para mim, e hoje não creio que alguém deseje se casar comigo. Nada tenho a orefecer como dote.
- Dote? – Gargalhou o homem, satisfeito – Você não precisa de dote para se casar com quem eu escolhi para você. Se casará com meu filho, Draco.
- O que? – Perguntaram os dois, aos gritos.
- Pai, não pode estar falando sério. Não posso me casar com a Granger. Olhe para ela... É uma desclassificada, não passa de uma serviçal.
- E eu prefiro viver a vida inteira sozinha a me casar com este ser repugnante que é seu filho, lorde Malfoy. – Gritou Mione, indignada.
- Eu não me lembro de ter perguntado a opinião de nenhum dos dois. – Cortou o homem, friamente, e continuou – Draco, não importa o que ela pareça. Ela ainda é a única e legítima herdeira destas terras. Se quisermos legalizar nossa posse, esta é a maneira. Quanto a você, menina... Por que acha que está viva até hoje? Por eu ser uma pessoa caridosa? Magnânima? Ora, francamente. Vocês se casarão antes do próximo inverno, e isto é definitivo.


Hermione saiu correndo e se escondeu no quarto que dividia com Gina, onde chorou até cair a noite. Só então Gina apareceu, pois fora obrigada a compensar a falta da amiga na casa. Entrou no quarto, sentou-se ao lado da amiga, abraçando-a e começou a falar.


- Sinto muito, Mione. O que vamos fazer?
- Como assim o que vamos fazer? Eu não vou me casar com Malfoy, já disse. Prefiro a morte.
- Provavelmente é o que vai acontecer, caso não case. Ou mesmo que se case. Você ouviu muito bem, este casamento é o único motivo de a terem poupado até hoje.
- Eu sei. Não me resta alternativa, Gina. Vou ter que fugir daqui.
- Certo. – Anuiu a ruiva – E quando partimos?
- Como assim? Você não vai, está segura aqui com sua família.
- Não vou deixar que saia sozinha por este mundo, Mione. Vou com você. – Respondeu ela, com tranquilidade.
- De jeito algum, Gina. Já não basta todos os filhos que Arthur e Molly perderam? Não quero ser responsável pela morte da única filha deles.
- Hermione, isto não está em discussão. Não vou ficar aqui sozinha, esperando para ser atacada por algum daqueles depravados. Prefiro arriscar minha sorte no mundo, com você. Meus pais vão entender. Precisam entender.


Derrotada, Mione parou de argumentar. Não podia negar que estava muito feliz pela companhia de Gina, mas a idéia de fugir a deixava completamente apavorada. Desde pequena, sempre vivera no castelo. Pouquíssimas vezes saíra, e sempre que o fizera fora na companhia dos pais. Não conhecia nada do mundo, ninguém a quem pedir guarida. Não suportava a idéia de viver nas ruas, dependendo da bondade alheia. E muito menos, de ter que trabalhar em uma taberna imunda, vendendo seu corpo para sobreviver. Depois de mais alguns minutos de silêncio, Gina perguntou.


- Quando vamos?
- Precisamos nos organizar. Conseguir roupas e mantimentos para a viagem. E algum dinheiro, se possível.
- Isto não vai ser fácil. – Observou a ruiva.
- Sei que não. Mas não podemos esperar muito. Quero partir em no máximo uma semana.
- Certo. Acho que vamos conseguir, você verá.



Finalmente foram dormir. E a partir do dia seguinte colocaram o plano em prática. Começaram a roubar pequenas quantidades de alimento da cozinha. Coisas que não faziam muita falta e que não se estragassem rapidamente, como queijo e carne defumada. Frutas desidratadas, que normalmente eram utilizadas durante o inverno ou entressafras, também foram parar nos alforjes que estavam escondidos no quarto. Assim como duas garrafas de vinho.



Seis dias depois, já estava tudo pronto. Não haviam conseguido muito dinheiro, na verdade só conseguiram alguns trocados. Mas não tentariam arrumar mais, para não levantar suspeitas. A fuga seria na noite seguinte, durante a madrugada, pouco antes do amanhecer. Neste horário, segundo imaginavam, a noite era mais fria e os guardas estavam mais cansados e sonolentos e portanto, mais distraídos. Ficaram discutindo os detalhes até tarde. Mione ainda insistia para que Gina deixasse algum tipo de mensagem para os pais, mas esta lhe lembrara que estes não sabiam ler, portanto de nada adiantaria. E também não poderia se despedir com antecedência, já que isto as denunciaria e provavelmente, seriam impedidas de fugir. Assim, acabaram dormindo tarde novamente.


Não deveria fazer muito tempo que estavam dormindo, quando Gina acordou com uma terrível sensação. Abriu os olhos e quase deu um grito, quando reconheceu a lumiscência que banhava o quarto. Sentou-se de imediato, virando-se e encarando a bolha de luz, que mais uma vez flutuava no meio do quarto, expandindo-se rapidamente. Paralisada de medo, a jovem não se mexeu, apenas arregalou os olhos, sua respiração ficando irregular, o que chamou a atenção de Hermione, que finalmente acordou e se virou para ela. Antes porém, de perguntar qualquer coisa, nortou os olhos enormes da amiga e o brilho azulado onde deveria haver apenas o tom castanho. Só então percebeu a claridade no quarto e olhou ao redor, deparando-se também com a esfera. Deu um gritinho baixo, também se sentando na cama e perguntando.


- O qu...que é... isso?
- De novo não, por Deus. – Murmurou Gina em resposta, lágrimas começando a brotar dos belos olhos castanhos.
- Gina... Isto é o que eu acho que é? – Perguntou Mione, olhando para a amiga, que meneou afirmativamente a cabeça.
- É sim, Mione. Foi isso que pegou Rony e Harry e depois explodiu. – Respondeu a jovem, e ao perceber que a amiga tinha a intenção de se levantar para examinar o fenômeno, apressou-se em continuar – Não se atreva a chegar perto desta coisa, Mione. Não vou aguentar passar por tudo aquilo outra vez. Precisamos sair, isto pode explodir a qualquer momento.
- Tudo bem. – Concordou a outra – Vamos nos levantar bem devagar e sair do quarto, e então chamamos seu pai.


A esta altura, a esfera já atingira o que parecia ser o máximo de seu tamanho. As moças começavam a se levantar, lentamente, quando no interior da bolha algo surgiu, distorcendo a visão interna.


- Gina! – Chamou Mione, percebendo isto – Veja, tem alguma coisa lá dentro.
- Tem razão. – Disse Gina, olhando curiosa – Parece uma pessoa.
- Sim, e está ficando mais nítida... – E Mione postou-se ao lado da amiga, ambas esquecendo-se do medo que tinham a um minuto.
- E parece alguém conhecido... – Constatou Gina, enquanto uma mão escapava da bolha, tateando a esmo, e então ela o reconheceu – RONY!


Como que atendendo ao chamado, o jovem ruivo terminou de atravessar. Olhou para trás, onde a mesma parecia intacta, depois olhou para as jovens, sorrindo, e disse.


- Odeio esse negócio, sabem? Mas tenho que admitir que é bem útil às vezes. Oi maninha. Sentiu saudades?


Gina não respondeu, jogou-se nos braços do irmão e começou a chorar, enquanto o cobria de beijos. Ele a abraçou com força por um instante, então olhou para Mione, que tinha os olhos rasos d’água e disse, um tanto constrangido.


- Perdo-me, lady Hermione. Não sabia que estaria aqui. Não quis ser indiscreto. – E seu rosto ficou tão rubro quanto seus cabelos.


Só então Mione percebeu que estava em seus trajes de dormir. Pulou imediatamente de volta em sua cama, cobrindo-se até o pescoço e ficando tão envergonhada quanto ele. Ignorando o embaraço dos dois, Gina perguntou.


- Rony! Por Deus, o que aconteceu? Por onde você andou estes anos todos? Pensamos que estavam mortos... E Harry? Ele está bem?
- Calma, Gina. Respire, antes que fique sem ar. – Respondeu ele, divertido – Estamos bem sim. Harry está comigo. Mas agora não tenho tempo para explicar, estou com pressa. Preciso voltar logo, ele não aguentará manter o portal aberto por muito mais tempo.
- Portal? Isto é um portal? – Perguntou Mione, apontando para suas costas.
- Sim. Mas explico mais tarde. – Disse ele, e mudando um pouco o semblante, que demonstrava certa urgência, continuou – Como vocês estão? Nossos pais? Fred e Jorge?
- Como acha que eles estão, Rony? – Perguntou Gina, a euforia do reencontro passando e sendo substituida pela sensação de abandono – Vocês desapareceram durante seis anos. Seis anos! Como acha que foi a vida de nossos pais neste tempo? Ou a minha, quando contei que vocês explodiram no ar, dentro desta coisa?
- Gina, calma. – Tentou apaziguar Mione – Acho melhor chamar seus pais, vocês têm muito a conversar. E onde está Harry? Ele não deveria estar aqui com você?
- Escutem, vocês duas. Nós não temos tempo para discutir agora. Preciso voltar para o acampamento. E nem pensar em chamar nossos pais, não posso explicar nada agora. Mas saiba, Gina, que não foi opção nossa ficar sem mandar notícias este tempo todo. Não tivemos escolha. – Ele respirou fundo e então continuou, ainda com mais urgência, ao perceber a bolha atrás dele mudar do tom azul para um verde claro – Nós estamos vindo buscar vocês. Avisem o resto da família e preparem suas coisas. Logo chegaremos para resgatar vocês deste lugar.
- Vocês estão vindo? Nós duas estaremos fugindo daqui amanhã a noite. – Disse Mione, sorrindo, esperançosa – Diga-nos onde estão e nos encontraremos com vocês.
- Vocês estão fugindo? São loucas? Não sabem o perigo que vão enfrentar? – Assustou-se ele.
- É melhor do que ficar aqui, tenho certeza. – Respondeu Mione.
- Querem obrigá-la a se casar com Draco Malfoy. - Justificou Gina.
- Casar? Isso é um absurdo! – Rony calou-se por um momento, observando Mione, que tinha os olhos baixos, fitando o lençol que a cobria – Isto não vai acontecer, Mione. Eu prometo. Nem que eu tenha que matar este Malfoy com minhas próprias mãos.
- Mas o que você pode fazer Rony? – Lamentou-se ela, erguendo seu olha para ele, um olhar triste e desesperado.
- Muito. Pode acreditar. – E Mione acreditou, ao ver o olhar sério e decidido do rapaz, que continuou – Mas é importante que não façam nenhuma besteira. Esperem por nós. Não estamos longe, chegaremos ao amanhecer do segundo dia. Vocês só terão amanhã para organizar a partida. Devem levar apenas o essencial, que puder ser levado facilmente nos cavalos.
- Você está mesmo falando sério, não está? – Perguntou Gina, uma mistura de medo e euforia em sua voz – Não está mentindo para nós, só para nos impedir de fugir, não é?
- Eu juro que estamos chegando. – Disse Rony, sorrindo – E um cavaleiro nunca jura em vão, lady Weasley.


E ainda sorrindo, Rony jogou um beijo no ar para a irmã e entrou de costas na bolha, que explodiu no ar, desaparecendo sem deixar rastros.


- Foi impressão minha ou ele disse a palavra “cavaleiro”? – Perguntou Mione, ainda olhando para o local onde Rony desaparecera.
- Disse. Disse sim. – Respondeu a outra, olhando para a amiga e Mione viu um brilho diferente nos grandes olhos castanhos – Preciso avisar os outros. Você vem?


Sem esperar resposta, Gina saiu correndo do quarto, com Mione logo atrás. Ninguém mais dormiria na casa aquela noite. Apesar da euforia da jovem, sua família só acreditou na estória após Mione confirmá-la, o que magoou muito Gina. No dia seguinte, todos se empenharam em arrumar suas coisas da melhor maneira possível, sem levantar suspeitas sobre o que estavam fazendo. Ao final da tarde, tinham praticamente tudo arrumado. A única que parecia um tanto perdida era Mione, que finalmente se apercebera de que teria que deixar sua biblioteca, e ela procurava uma forma de transportar seu último tesouro.


Finalmente amanheceu, e ninguém mais conseguia esconder a ansiedade sobre o que estava por acontecer. Já passava das dez da manhã quando Goyle foi até a cozinha, procurando pelas mulheres.


- Mulher! – Chamou ele, dirigindo-se a Molly – Mande chamar seu marido e aqueles imprestáveis de seus filhos, e mande-os para a sala de audiência. Lorde Malfoy recebeu visitas, que por algum motivo, pede a presença de todos vocês. E de você também, Granger.


Sem sequer esperar o homem sair do ambiente, Gina saiu correndo à procura do resto de sua família. Poucos minutos depois, os cinco Weasleys e Hermione entravam na sala de audiência. Antes porém que falassem algo ou sequer entendessem o que estava acontecendo, ouviram a voz arrastada de Lucios Malfoy.


- Ei-los, sir Longbotton. Como pediu. Os Weasleys. Ou pelo menos, o que sobrou deles.
- Obrigado por atender meu pedido, Lorde Malfoy. – Agradeceu uma voz, que apesar dos anos de ausência, todos reconheceram. Era Harry.



Gina olhou para os dois homens, sentados em poltronas próximas, ao fundo da sala, num pequeno patamar. Entre eles, uma pequena mesa, onde repousava um tabuleiro de xadrez. O rapaz olhou rapidamente para os recém-chegados, seus olhos cruzaram rapidamente com os dela, e ela percebeu um brilho de reconhecimento. Mas foi algo tão fugaz, que ela não conseguiu entender o significado daquele olhar. Ela aproveitou que Harry desviou novamente sua atenção para Malfoy e o observou atentamente. Ele estava alto, mais do que ela imaginara que ficaria enquanto era um menino. Estava bem mais forte também. Era possível notar, por sob suas belas e caras roupas, músculos bem delineados. Os cabelos, negros e revoltos, estavam ainda mais longos, e uma franja caia sobre seus olhos, ocultando totalmente a cicatriz em sua testa. Em suma, estava estonteantemente lindo. Mas havia algo de diferente nele. Sua pose, seus modos... Ele mais se parecia com Draco do que com o Harry que ela conhecera. Desviou o olhar em volta, e viu Rony em pé, do lado direito de Harry, com semblante extremamente sério. Usava roupas tão imponentes quanto este, e quando Molly soltou um gemido baixo e ameaçou correr em seu encontro, este fez um sinal para que ela parasse e esperasse. Então também desviou sua atenção novamente para a conversa.


Ela notou que eles não estavam sozinhos. Havia mais três jovens espalhados pela sala, e dois deles se aproximaram dos Weasleys. Um alto, com olhar dócil e confiante e outro, moreno e de cabelos crespos. O último permanecia em seu lugar, mais próximo de Goyle.


- Então, você é o jovem filho do casal Longbotton. Não o vejo há muitos anos, mas eu tinha a impressão de que não iria ficar assim tão... Atlético. – Continuou Lucius.
- E eu não era mesmo, senhor. Só perdi o excesso de peso e adquiri um pouco de músculos após começar o treinamento para cavaleiro. – Respondeu Harry, de pronto.
- Já te consagrastes? – Lucius fingiu interesse, e continuou após Harry concordar com um aceno – E suponho que pretendes partir para a Terra Santa, em nome de nosso rei?
- Certamente senhor. Eu e meus amigos devemos partir na primavera. Ficaremos lá, levando a palavra de nosso senhor aos infiéis pelos próximos anos. – Afirmou o rapaz, sorrindo orgulhoso e mostrando com um gesto largo os outros rapazes.
- Que assim seja! – Sentenciou Lucius, fazendo o sinal da cruz – Se eu fosse alguns anos mais jovem, os acompanharia. Mas diga-me, meu rapaz. O que o traz a minhas terras?
- Seria uma hora tê-lo conosco, senhor. Tenho certeza de que teria muito a nos ensinar. – Disse Rony.
- Concordo! – Anuiu Harry, então se ajeitou em sua cadeira e arranhou a garganta, prestes a começar a falar, mas foi interrompido por um sinal de Lucius.
- Ora mas que falta de educação a minha. – E ele se virou para onde estavam os Weasleys e gritou – Você não vê que as visitas estão com sede, menina? Sirva-nos vinho. Agora!



Gina deu um pulo, correu até uma mesa onde havia uma série de garrafas e copos, ajeitou-os numa bandeija e, ainda muito envergonhada, começou a servir as pessoas. Quando serviu seu irmão, percebeu que este segurava com muita força o cabo de sua espada, e suas orelhas estavam cor de sangue, sinal de que estava muito nervoso. Quando passou a servir Harry, este estava tremendo levemente e respirando com certa dificuldade. Mas sussurrou, ao pegar a taça.


- Obrigado! – E então, num tom mais alto, enquanto Lucius era servido, continuou – Como eu estava dizendo, logo estaremos de partida. E meu pai, generoso como é, perguntou aos meus companheiros, o que eles gostariam de ganhar como prêmio antecipado, por estarem me acompanhando nesta empreitada.
- Verdade? – Perguntou Lucius, um olhar frio e de repugnância brilhando rapidamente em seus olhos, mas ele disfarçou rapidamente – Realmente, uma decisão muito... Generosa... Da parte dele. Não acha, Draco?
- Concordo plenamente, meu pai. Nunca vi ninguém presentear cavaleiros que não sabe se voltarão vivos da Cruzada. – Disse o jovem Malfoy, que como Rony, estava postado em pé ao lado do pai e permanecera calado até aquele momento.
- Como eu disse, meu pai é muito generoso. E ao perguntar ao meu amigo Ronald, o que ele desejava, este disse que gostaria de rever a família reunida antes de partir. – Continuou Harry, fingindo indiferença aos comentários maldosos.
- Ora, quer dizer que seu amigo é um Weasley? Deveria ter imaginado desde o início. Mas com essas roupas, tão limpas e bonitas, não imaginei que fosse. – E Lucius soltou mais um de seus sorrisos, que normalmente eram humilhantes.
- Sim, lorde Malfoy. Sou um Weasley, e com muito orgulho. Infelizmente me separei de minha família há alguns anos, e fui muito bem recebido por lorde Longbotton, que me ajudou a me tornar cavaleiro. – Respondeu Rony, esforçando-se para manter a calma.
- E com louvor, diga-se de passagem. – Acrescentou Harry – Por isto estamos aqui, meu caro lorde Malfoy.
- Claro! Bom, se o que desejam é permissão para que o jovem cavaleiro permaneça com sua família até o dia de partir, está dada. Ele será muito bem vindo em minhas terras, desde que respeite minha autoridade e não questione minha honra. – E Malfoy pareceu, imediatamente, desinteressado pela conversa, tamanho enfado com o qual dise essas palavras.
- Nós agradecemos a gentileza, caro senhor. – Disse Harry, ajeitando-se novamente em sua cadeira e bebendo mais um gole de vinho antes de continuar – Mas nossa intenção é levar os Weasleys daqui, para nossas terras.


Lucius fitou Harry com olhos estreitos, depois olhou para o filho e então soltou uma longa gargalhada de deboche, a qual foi acompanhada por Draco e Goyle. Harry, Rony e seus amigos permaneceram impassíveis, aguardando o fim do acesso de riso. Arthur e Molly trocaram um olhar triste. A reação de Malfoy era mais do que esperada, então olharam para Rony, que devolveu um leve sinal, pedindo para ficarem calmos. Assim que a gargalhada cessou, Lucius conseguiu falar.


- Lamento, mas isto é impossível. Os Weasleys possuem dívidas para comigo que não poderão saldar em um curto espaço de tempo. Creio que me servirão pela vida inteira e talvez um pouco mais. – E riu mais um pouco.
- Estamos cientes de tal “dívida”, lorde Malfoy. Apesar de não concordarmos totalmente quanto à sua legitimidade, não vamos questioná-la. – Harry respondeu, assim que conseguiu. Remexeu nos bolsos de sua túnica, tirou um pequeno saco de couro, que tilintava indicando seu conteúdo e o lançou para seu interluctor – Acreditamos que esta quantia quite as dívidas que a família porventura ainda tenha com o senhor. Trata-se do saldo de cavaleiro de Ronaldo Weasley pelos próximos anos, além de uma pequena contrinuição de meu pai.



Um silêncio sepulcral tomou conta do recinto. Os Malfoys, pai e filho, avaliavam o conteúdo da bolsa. Ouro, muito ouro, muito mais do que valeria a liberdade daquela maldita família, que sempre lhes dava tanta dor de cabeça. Já do lado dos Weasleys, Arthur teve o ímpeto de avançar contra os dois, revoltado e humilhado pela negociação. Não importava o que pensassem, ele ainda era um homem honrado e não aceitaria ser negociado como gado. Gina deveria ter a mesma opinião, pois tentou avançar, como o pai, completamente escarlate. Mas seu ódio e revolta estavam direcionados única e exclusivamente a Harry. Como ele, tendo vivido sob seu teto, tivera a coragem de tal atitude? Ele os estava comprando, como se fossem escravos. Mas ambos foram impedidos pelos dois amigos de Harry, postados próximos a eles. Ambos os seguraram pelos braços e sussurraram em seus ouvidos – “Calma! Não é o que parece!” – Arthur olhou confuso para quem o segurava, e recebeu um sorriso confiante em resposta. Decidiu então, esperar para ver o que aconteceria. Já Gina ignorou a informação e continuou forçando a se libertar do forte braço que a prendia. Só desistiu quando seu pai lhe ordenou.


- Uma oferta impossível de recusar. – Disse Malfoy, deixando de olhar o ouro e voltando a fixar seu olhar em Harry – Muito bem, negócio fechado. Pode levar este monte de extrume com você. Mas já lhe aviso, não vou aceitar desfazer o negócio. Vais descobrir que esta gente só lhe trará dor de cabeça.
- Ótimo! Negócio fechado então. E não se preocupe, se eles me derem algum tipo de trabalho, receberão o tratamento que merecem. – E Harry ouviu um gemido alto de Gina quando disse isto, pois ela fora impedida uma vez mais por seu pai de agredí-lo.
- Que seja! – E Malfoy levantou-se de sua cadeira, dando por encerrada a conversa – Se era este o assunto que lhe trouxe, acho que estamos acertados.
- Na verdade... – Começou Harry, também se levantando, e só então os Weasleys perceberam que sua perna direita não dobrava, estava reta e dura, e ele não conseguia colocar muito peso sobre ela – Queria discutir sobre lady Granger.



Malfoy olhou para Hermione, que tomou um grande susto e encolheu-se ligeiramente em seu lugar.


- Não há o que dicutir sobre esta jovem, meu rapaz. – Respondeu Malfoy, friamente – Ela é noiva de meu filho e se casarão no solstício de inverno.
- Me perdoe, lorde Malfoy, mas acho que cabe certa discussão sobre o assunto. – Retomou Harry, tranquilamente – Segundo consta, tal casamento não cumpre todas as expectativas da dama. Estou correto? – E Harry voltou-se para Mione, que concordou rapidamente com um aceno de cabeça – Diante disto, e uma vez que seus pais não mais se encontram entre nós, ela não pode ser obrigada a se casar contra a vontade, caso haja um cavaleiro disposto a defender seus interesses. É a tradição.
- Estou ciente da tradição, você não precisa explicá-la para mim, fedelho. – E Malfoy avançou sobre Harry, levando sua mão ao cabo de sua espada, gesto imediatamente repetido por todos os presentes, menos por Harry, que permanecia impassível – Mas tal tradição só tem valor, se houver algum cavaleiro a serviço da dama, disposto a tal feito. E todos sabemos que “lady”Granger não possui mais nenhum cavaleiro a seu serviço.
- Mas há! – Disse Rony, dando um passo a frente e fazendo uma reverência, antes de continuar – Eu, sir Ronald Bilius Weasley, sagrado cavaleiro por lady Hermione Jean Granger e consagrado por sua santidade, o bispo de Surrey, peço a honra de defender os interesses de minha senhora neste momento, em nome de seu pai, lorde Phillippe Granger.
- Isto só pode ser piada. – Rugiu Draco – Uma mentira descabida, meu pai.
- Não, não é mentira. – Apressou-se Mione, pegando a idéia dos rapazes imediatamente – Eu sagrei sir Ronald Weasley, anos atrás. E tive testemunhas.
- Isto mesmo. Eu estava lá. – Gina disse, ao receber o olhar da amiga – Assim como lorde Granger.
- E desde quando a sua palavra vale alguma coisa, garota? – Cuspiu Draco, com desprezo – Você não passa de uma serviçal.
- Mas, e o senhor deve ter aprendido isto com seu pai, a palavra de uma donzela é prova irrefutável de honestidade. – Disse Harry, olhando seriamente para Draco – Assim sendo, o desafio é valido e cabe ao senhor, que é o pretendente, aceitar ou declinar, liberando então a dama para seguir seu caminho livremente.
- Desistir sem lutar? – Draco perguntou, parecendo pesar o assunto, mas assim que seu olhar cruzou com o de seu pai e ele viu que não tinha escolha, continuou – Nunca! Se lutar é o que deseja, então vamos lutar.
- Muito bem. – Lucius tomou a palavra – Vamos resolver isto de uma vez, tenho mais o que fazer. Vão lutar, aqui e agora. Sem mortes. A luta se encerra quando a primeira gota de sangue cair no chão.


Os dois rapazes começaram a se preparar. Enquanto Draco era auxiliado por Goyle, que lhe prendia as placas de uma leve armadura prateada. Rony, por sua vez, se aproximara de um de seus amigos, e este lhe passou um escudo. Ele o mostrou para Hermione, que não conteve a emoção. O escudo trazia o brasão de sua família, uma lontra segurando um pergaminho. Rony lutaria como um cavaleiro a seu serviço, realmente. Aproveitando o momento, Molly correu até ele e o abraçou, perguntando o que ele estava pretendendo. O rapaz beijou-lhe e pediu para ter calma, pois tudo estava sob controle. Mas não vestiu nenhuma armadura.


Minutos depois, os dois rapazes estavam prontos. Cumprimentaram-se e desembainharam suas espadas. Sem aviso, Draco soltou um grito e avançou, erguendo a espada e golpenado Rony, que se defendeu sem dificuldade. Draco insistiu com golpes fortes, os quais Rony continuou defendendo, afastando-se lentamente de costas, até que aparou um golpe e empurrou Draco de costas, tomado a ofensiva. E seus golpes eram muito mais poderosos do que o de seu oponente, que literalmente foi lançado para trás, mal contendo as investidas do ruivo. Começaram a trocar golpes, e logo a certeza que Draco estampava no rosto, de que seria uma luta fácil, foi substituida pela dúvida.

Pararam para recuperar o folego, e passaram a se estudar. Então, desta vez, Rony tomou a iniciativa de atacar, desferindo um golpe horizontal, visando a cabeça de seu oponente, que abaixou-se, girou o corpo para o lado e desferiu um golpe igual, buscando atingir-lhe o tórax. Mas Rony estava atento e aparou o golpe com o escudo. Ele devolveu outro forte golpe por cima, e agora foi a vez de Draco recorrer ao seu escudo para se defender. O loiro tentou se abaixar e golpear as pernas de Rony, mas este saltou agilmente sobre sua lamina, atingindo novamente o escudo de Draco, com extrema violência. Tanto, que este, desequilibrado pela manobra, deixou o escudo escapar de suas mãos, caindo com estrépido no chão de pedra. Draco afastou-se um pouco, tentando recuperar seu escudo, mas Rony não permitiu. Empurrou-o violentamente com seu escudo, e quando Draco tentou revidar seus golpes, aparou sua espada, travando-a, e golpeou-lhe a face usando o escudo, com dois golpes rápidos e certeiros. Draco foi ao chão, urrando de dor e soltando a espada, para levar suas mãos ao nariz, que sangrava abundantemente, visivelmente quebrado. Buscou o olhar do pai, e apenas encontrou uma expressão de desapontamento.


Rony foi ovacionado por todos, e abraçado por uma sorridente e emocionada Hermione, que lhe beijou a face.


- Obrigada, Rony. No começo tive medo que lhe acontecesse algo. Draco é um dos melhores duelistas que já vi. – Disse ela, ainda o abraçando.
- Ele ERA o melhor. E se quer saber, ele ainda teve sorte de não ter sido o Harry. Aí sim ele teria levado uma bela surra. – Disse o ruivo, sorrindo – Mas vamos terminar logo com isso, precisamos ir embora.


Rony se virou, ainda sendo cumprimentado pelos familiares e fez um movimento com a cabeça para Harry, que olhava sorrindo para a cena. Imediatamente o rapaz mudou sua expressão, e sério falou.


- Muito bem. Já que o campeão de lady Granger venceu, ela está livre para tomar sua decisão. – E olhando para Mione, perguntou – Minha senhora, qual é o seu desejo?


Hermione afastou-se de Rony e também assumiu um ar sério, quando disse.


- Apesar desta ainda ser minha casa e estas as minhas terras, não considero mais este o meu lar. Nada nem ninguém aqui me prendem, portanto decido partir com vocês, cavaleiro. E agradeço a oferta.
- Se sair por aquela porta, nunca mais poderá retornar, Granger. – Cuspiu Lucius, esforçando-se para não perder a paciência e matá-la.
- Pode ter certeza de que não voltarei, Malfoy. Pelo menos, não para ser humilhada e maltratada por você e sua família. Muito menos para me casar com este ser desprezível que você chama de filho. – Respondeu ela, empertigada e erguendo o queixo.
- Como se atreve, sua... – Começou Lucius, dando um passo em direção à jovem, mas foi interrompido quando Harry entrou em sua frente.
- Não cometa esta idiotice, lorde Malfoy. O assunto está encerrado, deixe-os partir. Todos eles. – Lucius pensou em ignorar o aviso do rapaz, mas percebeu que este segurava firmemente o cabo de sua espada, pronto para enfrentá-lo. Olhou em volta e percebeu que todos os seus acompanhantes estavam prontos para luta.
- Que seja. – Sibilou ele – Partam. Vocês têm uma hora para deixar meus domínios. Se ao final deste prazo, algum de vocês não tiver partido, será considerado invasor e mandarei executá-los. Fui claro?
- Claro como água. – Respondeu Harry, soltando o cabo da espada e voltando-se para os demais – Ajudem-nos a preparar a partida. Logo me encontrarei com vocês, ainda tenho um último assunto a tratar com lorde Malfoy.


Seus quatro companheiros concordaram, e Rony indicou a saída para Mione. Mas ao passar por um dos rapazes, sussurrou.


- Você não, Neville. Fique, não quero que ele fique sozinho com esses três. – O jovem chamado Neville concordou com um aceno e seguiu para ocupar o lugar que Rony ocupara até pouco tempo, ao lado de Harry. O ruivo olhou para os outros dois e disse – Dino! Simas! Vamos logo, temos pouco tempo.


Já se passara meia hora, e só agora Harry deixava o castelo e seguia em direção à casa dos Weasleys, onde a agitação era grande. Ao vê-lo se aproximar, todos pararam com o que estavam fazendo e prestaram mais atenção ao rapaz. Ele vinha o mais rápido que podia, pois arrastava uma das pernas. Ignorando os olhares curiosos, assim que chegou onde estavam, deu uma olhada para trás, certificando-se de que ninguém os observava, abaixou-se e ergueu a barra da calça. Então puxou um pedaço de casca de árvore que estava amarrado em sua perna, jogando-o longe. Esticou a perna, e sorriu.


- Isto estava me matando.
- Mas... Por que esta palhaçada? – Perguntou Gina, furiosa. Quando o vira mancando, ficara com pena dele. Mas agora estava novamente com raiva, ao perceber que era uma farsa. Mais uma farsa elaborada pelo moreno.
- Era um chamariz. Algo para desviar a atenção deles da minha cicatriz. – E Harry finalmente ergueu sua franja, deixando à mostra a cicatriz em forma de raio que possuia na testa – Isto sem falar que Rony estava louco para acertar o Malfoy. Ele me fez prometer que não lutaria, então pediu para eu fingir que estava incapacitado.
- Você sempre se diverte, eu só queria aproveitar a oportuniade desta vez. – Justificou-se o ruivo, envergonhado.
- Mas por que você tinha que esconder sua cicatriz? Por que tantas mentiras e segredos, Harry? Ou devo chamá-lo de lorde Longbotton a partir de hoje? Já que virou nossos donos... – Gina mal conseguia conter a raiva que sentia. Eram anos e anos de humilhações, frustrações e saudade, tudo vindo a tona de uma vez só e ela precisava colocar aquilo tudo para fora antes que explodisse.
- Gina! – Repreendeu a sra Weasley – Não pode se dirigir assim para o nosso... senhor. Ele pode nos punir, se quiser.
- Tudo bem, sra Weasley. – Respondeu Harry, lhando para Gina sem conseguir entender o motivo de tanta raiva – Gina, me desculpe. Mas não posso responder suas dúvidas agora, muito menso aqui. Não é seguro. Mas eu prometo que quando estivermos em casa, seguros, vamos explicar tudo. Mas só para você entender o por que de algumas mentiras... Se Malfoy visse minha cicatriz, ou soubesse meu verdadeiro nome, ele saberia quem eu realmente sou. E todos nós estaríamos mortos agora.
- Nome? Quer dizer que nem o nome que você está usando é verdadeiro? – Perguntou a jovem, incrédula.
- Exato. – Foi Rony quem respondeu, e apontando para Neville, completou – Ele é Longbotton.
- Mas depois discutimos isso. – Harry disse, impaciente – Precisamos partir, tenho certeza de que Malfoy não aceitou tão bem o que aconteceu.
- Estão todos prontos, só falta a Mione. Ela insiste em levar os livros dela. Eu já disse que não temos como levar, mas ela não me ouve. – Disse Rony, apontando para dentro da casa, onde a jovem estava.
- Eu cuido disso. – E Harry entrou, chamando pela jovem. Encontrou-a no cômodo que transformara em biblioteca, desesperada, tentando escolher quais livros levaria – Mione, deixe tudo isso aí. Não temos tempo nem condições de carregar todos estes livros com a gente.
- Não posso. Harry, esta é a única herança de meu pai que eu consegui salvar.Não posso abandoná-la. Eles vão queimá-los, todos eles. – Disse a jovem, desesperada.
- Sinto muito, Mione, mas não temos escolha. Se não partirmos agora, Malfoy vai nos atacar. – E Harry foi até ela, erguendo-a do chão com certa violência e em seguida arrastou-a para fora, onde a jogou nos braços de Rony – Faça com que monte e saiam daqui, agora.
- E você? – Perguntou o ruivo, erguendo uma sobrancelha.
- Vou dar um fim nestes livros. – E Harry retornou para dentro da casa.


Rony ajudou Hermione a montar em seu cavalo, depois ele próprio montou e deu a ordem para partir. Deixaram a galope aquelas terras, com uma chorosa Hermione, que a todo instante olhava para trás, sentida em perder outro de seus preciosos bens. Gina cavalgava a seu lado, tentando lhe dar algum consolo, mas estava muito difícil.Ela mesma ainda estava revoltada com tudo que acontecera. Poucos minutos depois, Harry os alcançou. Emparelhou sua montaria às das jovens, tocando o ombro de Mione e dizendo.


- Sinto muito, Mione. Foi o único jeito.


Esta balançou a cabeça, em sinal de compreensão, mas nada disse. Harry então adiantou-se, cavalgando ao lado de Rony, que liderava a pequena comitiva. Logo os dois estavam conversando alegremente e sorrindo, aparentemente alheios a toda tristeza e confusão que reinava entre os Weasleys. Gina ficou observando-o pelas costas, e chegou a uma conclusão.


Aquele rapaz era o culpado por toda a infelicidade que se abatera sobre sua família. Pela morte de Percy, pelo desaparecimento de Gui e Carlinhos, pelo afastamento de Rony... Pela morte dos pais de Mione, por ela perder sua casa e suas terras. E principalmente, por tudo que ela, Gina, sofrera desde seus dez anos. Ele era culpado por tudo e isto estava tão claro que ela não sabia por que seu pai ou qualquer de seus irmãos ainda não o havia liquidado. Mas ela o faria, se tivesse oportunidade. Ela faria com que pagasse por todo o seu sofrimento, toda a humilhação e dor que passara. A partir daquele momento, ela canalizaria para ele todo o seu desprezo e repulsa. Por que de uma coisa Gina tinha certeza. Ela o odiava.



N:A: Bom, então está aí. Para compensar um pouco o tempo que posso demorar para atualizar, devido outros compromissos, postei dois caps de uma vez.

Mais uma vez, espero que gostem e aguardo cometários. Vou respondendo-os na medida do possível.

Beijos e abraços.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.