Pesadelo



Capítulo 8 – Pesadelo


 


Foi deixada em seus aposentos por Jason, despedindo-se do rapaz com beijos no rosto.


 


-Te vejo amanhã? – perguntou ele na soleira da porta.


 


-Domingo? – ela não sabia o sentido das palavras que saiam da boca do rapaz, não sabia o que ele poderia achar nela que a fizesse uma companhia interessante para um domingo ensolarado.


 


-Sim, a menos é claro que você tenha algum compromisso...– disse ele sem graça


 


-Não – apressou-se em dizer – é só que... bom... eu não acho que eu seja a melhor companhia do mundo sabe...


 


-Ah! Vamos, deixe de bobeira. Você me fez ficar mais à vontade do que tenho me sentido há meses. É como se eu já te conhecesse há anos sabe?!


 


Aquelas palavras pareciam extremamente familiares, talvez ela tenha sentido a mesma coisa do rapaz, que ao contrario de todos não a olhava esquisito, mas se lembrou que ao contrario de todos ele apenas conhecera a Victória dos olhos negros e vazios.


 


-Bom, então quem sabe você não me conte sua história? – respondeu finalmente. De fato não poderia contar a dela, ou poderia?


 


-Com certeza – respondeu ele sorrindo novamente – até logo Vickie.


 


Fechou a porta atrás de si, aquele apelido a deixou surpresa, a última vez que tinha o ouvido fazia longos anos. A voz infantil que lhe torturava há anos invadiu sua mente mais uma vez: “Vickie, Vickie, Vickie”. Ela olhou para Scessi que a observava curiosa.


 


-“Scessi” – suspirou a moça – “Eu não agüento mais!”


 


-“Victoria, pare de se torturar, pare de esconder seu coração no fundo de um baú selado por magia”


 


-“Eu devo isso a ele” – disse com sofreguidão


 


-“Procure ajuda, isso não está certo!” – mas não adiantou, Victoria já estava perdida em seus devaneios.


 


-“Por que você me salvou? Por que eu sobrevivi?” – as lágrimas e soluços se misturavam aos sibilos daquela conversa.


 


-“Porque você me salvou também.” – disse o animal. – “Eu te entendo e estarei ao seu lado na hora da batalha, mas não posso deixar que você se mate antes da hora de lutar. Seria gastar todo seu esforço em vão” – argumentou a cobra.


 


-“Eu preciso de ajuda” – admitiu finalmente


 


-“Jason, esse rapaz, ele te fez bem hoje, posso ver seus olhos menos escuros”


 


Victoria foi até o espelho do banheiro, olhou-se e tudo que viu foi uma figura deprimente, mas era verdade de negros profundos os olhos passaram para roxo escuro. Lembrou-se novamente da voz infantil “Vickie, Vickie, Vickie” e dessa vez pode ver a mudança gradativa, os olhos estavam novamente negros.


 


Ela nem sequer havia percebido que a cobra estava encarapitada em seu ombro quando essa lhe falou:


 


-“Pare agora mesmo de forçar sua dor! Vamos Victoria, reaja, procure Dumbledore, diga que não pode mais...”


 


-“Não! Não vou deixar que uma fraqueza minha deixe Pietro sem vingança”


 


-“Você pode ajudar de outra forma, sem acordar no meio da noite com ferimentos que marca seu corpo todo, sem deixar que todo o resto de felicidade se esvaia de seu coração, sem buscar a morte quase que inconscientemente” -  Scessi estava desesperada, se lágrimas fosse comuns em cobras talvez ela tivesse entregue ao choro.


 


-“Scessi, meu amor, não uma forma melhor de ajudar. Eu... eu só preciso me distrair um pouco, talvez alguns dias sem monitoramento me façam bem”


 


-“Não vou discutir com você, você nunca me ouve mesmo”


 


Victoria ia responder, mas limitou-se a sorrir para a cobrinha. Deitou-se na cama e dormiu uma noite de sonhos aterradores.


 


Estava andando em uma floresta sombria, uma voz a gritava de longe “Vickie, Vickie, Vickie” ela sorria e ia de encontro à voz, mas por mais que corresse nunca chegava ao ponto. De repente uma risada maligna cortava o ar seguida de uma voz assustadora “Sei que você está aqui em algum lugar” seu estomago se embrulhou, continuava correndo mas sentia não sair do lugar “Eu vou descobrir, e quando eu descobrir...” a risada fria e tenebrosa invadiu-lhe os ouvidos e de repente não estava mais na floresta.


 


Era um campo aberto e de longe Victoria podia ver dois vultos brigando. Os feixes de luz que vinham das varinhas atingiam os corpos, correu para ver o que estava acontecendo. Severus Snape estava com sua varinha apontada para Jason Talavera, o rapaz estava jogado ao chão, sorrindo para, ela e da sua boca saiu a voz infantil “Vickie, Vickie, Vickie” ela tornou a olhar Severus, mas ele não estava mais lá, dera lugar a um homem de cabelos pretos e curtos, jovem, “Eu descobri” disse o homem para ela, apontando a varinha para o adversário, ela voltou a olhar para Jason, mas agora quem estava lá era um menino, sorridente, pequeno, frágil, indefeso, de apenas seis anos, cabelos castanhos, olhos lilases. Ela se jogou na frente do corpo do menino quando o homem gritou “Crucio”. Seu corpo se contorcia em dor, a dor mais original que já havia conhecido.


 


Acordou ofegante, a dor muscular no corpo, cansada, quase morta. Seus olhos percorreram o quarto a procura de Scessi, mas sua amiga não estava lá. Tinha o impulso de adormecer novamente, mas sabia que a morte a rondava. A porta se escancarou e dois homens entraram em seu quarto, a visão estava embaçada.


 


-Beba! – disse um deles lhe colocando um frasco perto da boca, a voz era conhecida – Não seja tola, beba – repetiu vendo a recusa do corpo fraco a sua frente.


 


-Vickie, - disse a outra voz também conhecida – beba por favor, somos nos, Snape e Talavera!


 


Victoria engoliu o conteúdo do frasco, tinha um gosto horrível, mas seus músculos relaxaram. A morte se afastava dela, mas agora um real cansaço a dominava.


 


-Durma! – ouviu a voz de Jason afastando-se dizer


 


-Durma bem! – um sussurro em seu ouvido lhe causou arrepios, mas essa voz... imaginou que já estivesse sonhando e se entregou ao torpor. Não houveram mais sonhos aquela noite, sua mente estava livre.


 

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