Epifania



Ao ver Gina sair do carro, Harry sentiu um tipo de puxão no estômago e sua respiração foi pesada. Coçou a cabeça, precisava encontrar um lugar para deixar o carro. Encontrou um estacionamento apinhado de carros, como não havia mais lugares resolveu deixar ali.


A primeira parte foi fácil, a parte difícil seria aparatar sem ser notado. A toda volta havia pessoas animadas e com suas câmeras de todos os estilos. Harry se deparou com uma mulher vestida grotescamente numa espécie de junção de roupas que com toda a certeza não combinavam uma com as outras. “Uma bruxa”, Harry pensou. Ele não tinha ideia que Toby Scott fizesse tanto sucesso com trouxas como com bruxos. Passou por um prédio onde uma multidão se apertava. Não dava para ver muita coisa à frente, exceto um homem que tentava em vão acalmar as pessoas. Harry escutou o nome de Gina e viu um pontinho com cabelos vermelhos entrar no prédio, sorriu e prosseguiu. Harry entrou em um restaurante cheio de gente, todos muito eufóricos, conseguiu, com muito esforço, se aproximar de um garçom.


- Onde fica o banheiro?


- É a segunda porta ali virando à esquerda. – falou um homem atrapalhado com toda aquela confusão. 


- Obrigado. 


Harry tentou dificilmente passar pelas pessoas, quando estava perto da entrada do banheiro uma mão o puxou. 


- O senhor gostaria de comprar o CD original do Toby Scott por um preço que não encontrará em nenhum lugar? - perguntou uma voz engraçada. 


Harry se virou e por coincidência se deparou com um homem usando um turbante. O sorriso ganancioso de Elius desapareceu na mesma hora ao ver Harry. 


- Não é meu dia de sorte. 


- Ora essa, olha só o que temos aqui, um farsante tentando me empurrar coisas roubadas. – Harry o segurou pelo braço antes que fugisse – O que você tem aí na mão? 


- É somente um CD. - Harry puxou o CD para examiná-lo.


- Engraçado, parece o CD que Gina perdeu misteriosamente. 


- Não pode me acusar, existem muitos desses por aí. – ele tentava se desvencilhar. 


- E todos os Cd’s tem o nome Gina no encarte? 


- Como? 


- Você esqueceu de apagar o nome seu gatuninho. – Harry apertava mais o braço de Elius. 


- Que mancada. – Elius falou desapontado.


- Concordo, e eu fico com isso. 


Ele soltou o braço de Elius e se dirigiu ao banheiro. Por um milagre o banheiro não se encontrava cheio, Harry riu com a ideia de que as pessoas pareciam estar mais preocupadas na esperança de ver Toby do que satisfazer suas necessidades básicas. Entrou no Box e aparatou em Licie. 


 


 


 


Ao contrário de Monty, Licie estava mais calma e pareceu um tanto remota. As mesmas coisas que se poderia encontrar em qualquer lugar, o que parecia característica do lugar eram as pessoas apressadas e com ar arrogante. Harry procurou em seu bolso o papel que indicava o endereço de Cho. Foi perguntando a algumas pessoas como chegar lá até achar um prédio com apartamentos luxuosos. Harry perguntou na entrada por Cho Chang, o homem pegou o microfone e discou. 


- Senhorita Chang, um senhor chamado Harry Potter deseja vê-la, devo mandá-lo entrar? - o homem esperou – Sim, um bom dia. – em seguida desligou o telefone – Apartamento 12, terceiro andar. 


- Obrigado. 


Harry foi até o elevador. Chegou até a porta do apartamento, e um pouco relutante bateu. Cho apareceu na porta, continuava linda e até mais do que na escola. Ela abriu um largo sorriso e uma lágrima caiu dos seus olhos, o que incomodou um pouco Harry, a mania de Cho chorar por tudo fora um dos motivos para o término do relacionamento deles e essa lágrima o fez voltar ao passado. 


- Harry! Achei que você não viria nunca, faz tanto tempo que lhe enviei a carta que pensei... Sabe? – ela o abraçou chorando mais. 


- Eu tive que resolver umas coisas antes, mas... 


- Shiiii, não precisa explicar, o que importa é que você veio. Entre. - ela o conduziu até a sala. Harry se acomodou em um sofá. 


- Então convivendo com trouxas? Eu não imaginei que você gostasse. – Harry puxou uma conversa. 


- É, só que meu apartamento é quase todo bruxo, eu utilizo alguns objetos trouxas para não dar na cara. Gosto muito desse lugar é bem tranquilo. – ela sorriu – E você? Gostou de Licie? 


- Um pouco. – a garota pareceu ofendida – Na verdade é que me acostumei a lugares mais amigáveis. – ele não sabia se tinha melhorado a situação. 


- As pessoas aqui só são mais reservadas. – ela acrescentou, porém seu humor pareceu o mesmo. 


- E como você está? O que anda fazendo? - ele achou melhor mudar de assunto. 


- Estou bem. Abri uma loja de artigos esportivos. E você?


- Eu estou terminando o curso para ser auror. 


- Legal, você comentou uma vez que queria seguir esse caminho. 


- Pois é. 


Eles estavam muito tímidos, a conversa não fluía e por muitas vezes havia pausas bem longas. Harry não conseguia encontrar o que conversar com ela. Esse pouco papo durou praticamente a tarde inteira, eles pareciam adiar a conversa principal, o motivo por Harry estar ali. Foi Cho quem tomou a iniciativa. 


- Harry, na escola você me disse que a razão por nós terminarmos antes era que tinha todos aqueles problemas com você-sabe-quem e não estava conseguindo dedicar o tempo necessário pra mim e... Bom faz uns dois anos que ele foi derrotado e o que eu queria saber é o porquê você não me procurou?- ela se sentou ao lado de Harry e o olhou apreensiva. 


- Cho, essa é uma pergunta que eu venho me fazendo há muito tempo, e sinceramente eu não consigo encontrar uma resposta coerente. Eu passei por muita coisa e simplesmente me fechei não só para você, mas para o mundo inteiro. 


- Eu senti sua falta. Quando a gente terminou eu sofri também Harry. – ela choramingou. 


- Eu sei disso Cho porque eu também sofri, mas tinha muita coisa em jogo. – ele estava ficando mais incomodado do que comovido com o choro de Cho.


- Que tipo de coisas? 


- Eu já lhe disse: Voldemort, meu padrinho, eu tinha que resolver esses assuntos antes de prosseguir em um relacionamento assim, você sabe perfeitamente bem como era. Cho nós passávamos mais tempo discutindo um com o outro do que em harmonia. Eu não conseguia te dar a atenção que você desejava... – ela chorava mais e mais – Cho, por favor, para de chorar, isso não vai ajudar em nada.


- Você está vendo, tudo te incomoda. Eu só estou chorando porque não concordo com o que você diz. A gente tinha tudo pra dar certo. 


- Cho o que eu estou te pedindo é, por favor, não chora assim. – ele se desesperava. - ela fez um grande esforço para se controlar. 


- É que foi muito difícil para mim. – ela se justificou. 


- Eu imagino, pensa só o quanto foi pra mim. 


Parecia impossível, mas ela conseguiu sorrir. O telefone tocou. 


- Alô... Em que canal... Ta bom, tchau. – ela se virou para Harry – Se importa se eu ver só uma matéria? 


- Não, pode ver. 


O telefone não era a única coisa trouxa que possuía, havia uma televisão de muito luxo no centro da sala. Ela ligou a TV e sentou-se novamente ao lado de Harry. 


 


 


“Está um verdadeiro alvoroço aqui em Monty. Toby Scott fará um show


mais a noite e os fãs não se aguentam de tanta expectativa. E para quem


não viu transmitiremos novamente a cena que está


torturando a curiosidade de muitos.” 



       


A cena chocou tanto Harry quanto Cho. Gina e Toby estavam em uma sacada e pareciam muito íntimos, principalmente o beijo que a garota ganhou na bochecha. Foi como se uma estaca atravessasse o peito de Harry, ele permanecia em transe com as palavras da repórter, “Será que a jovem conquistou o coração do desejado Toby? Parece que sim”. 


- Espera aí!Essa não é aquela irmã de seu amigo? – Cho perguntou abobada. 


- É ela mesma. O nome dela é Gina. – Harry falou carrancudo. 


- Parece que ela se deu bem. Quem diria, gosto é uma coisa indiscutível. – falou em tom debochado.


- Como assim? – Harry tirou os olhos da TV e virou-se para Cho. 


- Ah Harry, qualquer consegue ver o tipinho estranho dela. Lembra na escola? Ela é completamente maluca e sem um pingo de classe. Se fosse defini-la em uma palavra eu diria abusada. - Harry sentiu uma repentina raiva de Cho. 


- Eu não concordo com você. Gina é uma garota e tanto, você só fala isso porque não a conhece direto. 


- Eu não acredito que você está defendendo ela. – a garota começou a se enraivecer. 


- Pois é bom que comece a acreditar. Gina é minha amiga e não vou permitir que você fale assim dela. 


- Engraçado sua relação com suas amigas. Antes era aquela Granger agora é essa menina. 


- Cho não começa, o que eu não preciso agora é de ceninha de ciúmes. – ele olhou o relógio e se levantou – Quer saber? É melhor eu ir, tenho um compromisso. 


- Compromisso? 


- Isso mesmo, fiquei de encontrar a Gina no show. 


- Você só pode estar brincando. Ainda por cima vai me deixar para se encontrar com essa pentelha? – ela estava a ponto de ter um colapso. 


- Quer parar de ofendê-la. - Harry foi até a porta, porém antes de abrir foi impedido. 


- Você vai mesmo? - Cho o encarou com indício de choro. 


- Vou. – falou firmemente. 


- Harry foi mal, eu me descontrolei. – ela disse segurando seu braço pra não sair – Eu não quero mais brigar com você, então vamos tentar nos entender? 


- Cho acha mesmo que ainda existe algo entre nós? 


- Claro que sim, nós somos feitos um para o outro. Sabe do que eu senti mais falta? – Harry fez que não – Disso... 


Cho lhe deu um beijo. Ela se afastou e sorriu esperando uma resposta. Uma epifania. Foi o que abateu Harry, ele não sentiu nada com o beijo, nem uma mera fagulha. Ele sorriu também, mas não por ter concordado com Cho e sim por ter se dado conta de uma coisa tão óbvia. 


- Cho, eu sinto mesmo, mas eu não senti o que era pra sentir. Entende? 


- Quer dizer que você não gosta mais de mim? – ela o olhou incrédula. 


- Eu sinto muito. Eu tenho um show para ir. 


Ele saiu do apartamento, e ao fechar a porta ouviu algo se quebrar nela. Estava tudo claro agora e se sentiu tremendamente idiota por não ter notado antes.

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