Férias sem descanso



Cap. 31_

Thiago chegou aos portões da propriedade arrastando seu pesado malão com uma mão e Lilly com a outra. Ela estava exausta, reclamando da brilhantíssima ideia que o namorado tivera de ir andando para a casa, para que ela pudesse conhecer toda a cidade.


Lilly podia muito bem conhecer a cidade durante o feriado, mas Thiago parecia achar que Godric’s Hollow ia erguer seus tijolinhos e sair correndo dali no próximo dia. Jurara para si mesma que não ia reclamar. Ele estava tão animado, apontando a igrejinha, a feirinha de artesanato, a praça, o poço desativado que explodira com Sírius quando tinham 12 anos...


Ela não ia reclamar, em especial porque Godric’s Hollow nem era tão grande. Ela podia tranquilamente dar a volta na cidade inteira, sem se cansar. Mas quando perguntou para Thiago de qual lado da praça era a casa dele, ele riu e respondeu, sem se perturbar:


_Eu não moro na cidade, Lírio.


Lílian não entendeu o que ele quis dizer a princípio. Mas quando o viu passar pelo limite da cidade e a avançar por uma estrada, compreendeu que a propriedade dos Potter deveria ser rural!


Rural! Lílian nunca, nem com a cabeça entupida de uísque, pensaria em Potter como fazendeiro!


_O velho McDonald tinha uma fazenda. Ei ei eo! E em sua fazenda tinha algumas vacas... Ei ei eo! _ela começou a cantar, já imaginando-o com uma camisa xadrez meio aberta e calças surradas, carregando lenha. Tinha que admitir não era uma imagem nem um pouco desagradável. Mordeu o lábio.


_O quê?


_Não, nada. _ela riu baixinho _Então, você faz queijo? Quero dizer, ordenha a vaca, dá milho para as galinhas, essas coisas?


_O quê? _ele perguntou de novo sem entender _Do que está falando? Não temos galinhas.


_Nem vacas?


Ele revirou os olhos. _Nem vacas.


_Então... _ela hesitou, um pouco decepcionada enquanto a imagem com camisa xadrez se desvanecia _Então por quê... Por que uma fazenda?


_Meu pai trabalha no departamento de feitiços experimentais. Ele optou por um sítio, para poder construir um galpão longe da casa e longe dos vizinhos, onde pudesse trabalhar.


_Ah. _ela desanimou.


E depois desanimou mais, mais e mais, conforme ia passando por vastas e vastas fazendas de plantação de arroz, tomate e cevada. Estava cansada. Chegou a dizer isso a ele. Que não aguentava mais andar. Mas tudo o que ele respondeu foi que, naquele momento, não havia nada que ele pudesse fazer. No meio do nada, quem é que ia dar uma carona para eles? A não ser que ela aceitasse uma carona na sua vassoura...


Não, ela não aceitava uma carona na vassoura. Ela não subiria com ele naquela droga daquela vassoura nem que sua vida dependesse disso.


Quando finalmente pararam, ela já estava prestes a dizer que reconsiderava. Felizmente, não foi necessário, e ela agradecia mentalmente enquanto Thiago empurrava um grande portão de ferro e mantinha-o aberto para ela passar.


_Só tome cuidado com o degrau.


_Ok. _ela respondeu, começando a segui-lo por uma trilha de terra batida, entre um vasto gramado esverdeado.


Olhou ao redor dos pés, enquanto avançava e puxava o malão. Mas não tinha degrau ali.


_O que... _ela ia perguntar, mas antes que pudesse, um enorme canzarrão castanho surgiu trotando de trás de umas árvores e pulou sobre ela, empurrando-a com as patas dianteiras e derrubando-a no chão, enquanto tentava lamber seu rosto e a banhava com saliva.


_Eca! Thiago! Socorro! _ela conseguiu berrar, rolando no chão. Quando ele se virou para a namorada, ela estava deitada de barriga no chão, tentando se arrastar para longe do cachorro.


_Ah, Lílian, eu falei para tomar cuidado com o degrau! _ele voltou para ajudá-la.


_Ah, não, eu não caí no degrau! Foi esse cachorro louco que me derrubou. _ela retrucou se contorcendo, enquanto Thiago puxava o cachorro que ainda pulava, latia e abanava o rabo com força.


_Então, esse é o Degrau! Vem, Degrau! Aqui, menino!


Lílian se ergueu estarrecida, coberta de terra e baba. _Seu cachorro chama Degrau? _Thiago corria, em volta dela, estimulando Degrau a correr e pular atrás dele.


_É! Não é engraçado?


_Não. _ela retrucou indignada _Você me fez de palhaça.


_Não fiz, Lilly. Você que não entendeu o que eu queria dizer.


Ela ergueu uma sobrancelha. _Por que será? Mais algum animal de estimação que eu deveria conhecer?


_Tem o Gatinho da minha mãe. Quer conhecer o Gatinho? _e jogou um graveto que achara para Degrau buscar.


Lílian suspirou aliviada. Podia lidar com um Gatinho depois do desengonçado e gordo Degrau. _Sim, por favor.


_Gatinho! _Thiago gritou e assobiou _Vem, Gatinho!


_Ele atende quando você chama? Deve ser um gato muito int... _mas não terminou de falar. Pelo descampado, ela viu um enorme cachorro negro, que parecia um cavalo, vir correndo na direção deles. Ela berrou, e lançou-se para trás de Thiago _Thiago, o que é isso?!


Quando o cão os alcançou, ficou em pé sobre duas patas e pulou sobre eles. Ele era maior que Thiago! O garoto cambaleou e riu, mas conseguiu ficar em pé, enquanto Gatinho lambia seu rosto e abanava o rabo. 


_É um dinamarquês _o cachorro voltou para o chão e avançou para ela. Lílian estendeu a mão e passou-a sobre sua cabeça. Sobre as quatro patas, ele passava de sua cintura.


_E você o chama de Gatinho? _ela estava, de fato, estarrecida _Vocês são loucos? Que tipo de nomes são esses?


_Nomes criativos.


_Tem mais algum nome criativo por aí? _Thiago apanhou outro graveto e jogou para o cão. O dinamarquês ignorou-o totalmente.


_Ah, Lírio... _ele riu _Assim você estraga a piada. _ela fechou a cara, indicando que não queria ser alvo de mais nenhuma piada _Ok, tem o Pum.


_Pum?! _ela ofegou, sem saber se ria ou chorava.


_Pum. E sempre que chega alguém em casa, eu pergunto em voz alta para o meu pai se ele já soltou o Pum, se eu posso soltar o Pum ou se a visita não gosta, essas coisas.


_Pum?! _ela repetiu o nome, com uma risada escandalizada _Pum! Por Merlin, Thiago, eu estou quase indo embora. Juro.


_Que isso, Lírio? A visita nem começou ainda. _ele voltou a puxá-la pelo gramado, para além de um celeiro, até uma grade casa de tijolinhos no fundo da propriedade.


Para o profundo constrangimento da ruiva, o Sr. e a Sra. Potter estavam sentados na varanda, lendo, com uma jarra de chá gelado entre eles. O Sr. Potter lia jornal, usava chinelos e tinha as pernas estendidas por cima da balaustrada. A Sra. Potter tinha os tornozelos elegantemente cruzados e fazia palavras cruzadas, os cabelos negros como os do filho presos em um coque frouxo na nuca.


Lílian, mortificada, tentou esfregar as roupas cobertas de barro. _Thiago, _ela murmurou _eles não podem me ver assim. Estou imunda.


_Imagine, amor. Você está ótima. Pai, mãe! _ele gritou, acenando. Imediatamente, os dois se ergueram de um salto. A Sra. Potter ultrapassou o marido e desceu os degraus da varanda aos saltos, puxando o filho para um abraço.


_Ah, filho! Estava com tanta saudade!


_Bom vê-lo por aqui com autorização para estar aqui, Thiago _o pai dele comentou, rindo. Thiago riu também.


_Então, esta é a linda Lílian.


_A famosa Lílian. _Sr. Potter completou.


Ela corou.


_Mãe, pai, esta é, de fato, a linda, famosa, Lílian Evans.


_É um prazer, Sra. Potter. _ela estendeu a mão para ela, ainda violentamente vermelha.


_Pode me chamar de Ellen, querida. _a mãe de Thiago respondeu, puxando-a para um abraço.


_O prazer é nosso em conhecê-la, filha. _o pai de Thiago se adiantou e Lilly apertou sua mão _Me chame de Robb.


_Mas o que aconteceu com vocês? _Ellen perguntou, franzindo as sobrancelhas _Achei que vocês iam chegar há horas!


_Viemos andando.


_Ou rolando? _o pai de Thiago perguntou com leveza, e a esposa lhe deu uma cotovelada. Thiago riu abertamente.


_Ah, isso, eu... caí. Na entrada... O... Adorável cãozinho... O Degrau... Me derrubou... _ela gaguejou, torcendo a ponta da blusa _Eu... eu juro que normalmente sou limpinha.


_Que isso, filha, estou brincando. _Robb riu, mas o riso da ruiva foi fraco e forçado.


_Thiago, por que você não mostra a ela o quarto onde ela vai ficar? _Ellen perguntou. _Mas, antes, onde estão Sírius e Remo? Eles não vinham com vocês?


_Remo recebeu autorização para ver os pais antes de vir. _Thiago respondeu _ E Sírius... Sírius precisava resolver uma coisa antes.


O Sr. e a Sra. Potter ergueram as sobrancelhas ao mesmo tempo. Sírius resolver algo era quase sempre sinônimo de encrenca.


Quando Lílian entrou na casa e se viu em um grande espelho da sala de estar, sentiu vontade de chorar. Não só suas roupas estavam amassadas e sujas, mas sua maquiagem estava borrada e seu cabelo cheio de terra, espigado e amarfanhado.


_Ah, Thiago... _ela gemeu _É cada coisa que você me faz passar...


 


***


 


Sírius viu Thiago e Lílian se afastarem, mas ficou para trás, na plataforma, olhando por cima da cabeça dos estudantes que se apressavam para voltar para casa.


Ela era mais alta que a média das meninas. E mesmo que não fosse, ele seria capaz de distingui-la em qualquer multidão.


Sempre seria.


No entanto, naquele dia ele não estava tendo sucesso. Trombou com diversos alunos enquanto abria caminho na multidão, mas não se preocupou com isso. Não se preocuparia normalmente, e naquele dia menos ainda. Só uma coisa martelava em sua cabeça.


Grávida.


Belatriz Black podia estar grávida. Podia estar esperando um filho seu!


E isso o tirava de sintonia de tal forma que ele não era sequer capaz de distinguir que caminho estava fazendo em meio a horda de alunos.


Só precisava encontrar Bella.


Ele entendia por que Thiago não falara com ele antes. Sabia que o amigo só estava tentando protege-lo, mas ele jamais teria feito o que fizera, jamais teria ignorado Bella daquele jeito, se soubesse do que se tratava.


Não. Não era culpa de Thiago, de maneira nenhuma. Ele devia ter percebido. Conhecia a prima há anos, como não se dera conta de que aquilo era sério, de que ela... ela precisava dele.


Não, tinha que ficar calmo. Ele nem sabia se existia mesmo um bebê. Era uma hipótese.


Riu sozinho! Um riso nervoso. Céus, como tinha se enfiado nessa encrenca? Pai? Ele? Como diabos ele ia ser pai? Ele não tinha um tostão furado, e embora os Black fossem querer embalar o filho de Bella em berço de ouro, tinha certeza de que ele mesmo não ia ver nem a cor nem de um galeão da família.


Mas afinal, ele nem queria! Ele ia arrumar um emprego! Ia sustentar o filho, ele mesmo, era capaz disso, sabia. Era um homem, pelo amor de Merlin! Mas o que ia fazer com Bella? Ele não ia negar, não deixara de amar a prima. Mas seria capaz de perdoar todas aquelas traições e mentiras? Aliás, ela queria perdão? Ela estava disposta a largar de vez o lado das trevas?


De fato, ele tinha que pensar que sim. Ela o procurara, não é mesmo? Mas... Talvez ela quisesse apenas contar para ele. Não voltar para ele. Mas ele não ia deixar! Não ia deixar que ela envolvesse o bebê deles nessa...


Sírius passou a mão pelos cabelos, nervoso. Tinha que parar com isso, parar com as hipóteses. Ele não. Sabia. Se ela estava. Grávida.


Não adiantava se preocupar com tudo isso antes de ter certeza.


Então a viu, do outro lado da plataforma, passando pelo arco do relógio, em direção à saída. Precipitou-se nessa direção, derrubando dois alunos do primeiro ano que estavam tentando descobrir como puxar um malão daquele tamanho sozinhos, mas, quando alcançou o arco, ela tinha desaparecido.


_Bella! _ele chamou, em pânico. Ela não podia ter ido tão longe _Bella! _ele começou a marchar para fora _Bella!


_O que está fazendo? _ele ouviu uma voz cortante perguntar. Uma voz que ele conhecia.


_Lestrange! _ele se virou, desesperado. Estava disposto a pedir ajuda a ele. Estava disposto a qualquer coisa para encontra-la. Precisava fazer isso antes que ela fosse para casa! Tinha medo de que ela achasse que ele não aceitara o filho, de que ele não queria mais nada com ela, de que ele rechaçaria a ela e ao bebê. Tinha medo de que ela decidisse não ter a criança por isso. _Lestrange, onde está Bella?


_Belatriz. _ele corrigiu, empinando o nariz.


_Belatriz, Srta. Black, o diabo que o carregue. Onde ela está?


_Ela está comigo, Black.


_Você quer dizer no seu bolso? Porque ela não está em nenhum lugar que eu possa ver.


_Você entendeu.


_Olha, _Sírius passou as mãos pelo rosto, cansado _eu não estou com tempo para brincar, nem para brigar. É muito urgente, eu preciso muito falar com ela. Ela mesma queria falar comigo! Pergunte para ela, ela vai dizer que precisava falar comigo!


_E você não quis ouvir. _ele retrucou sem emoção.


_Mas agora eu quero! _Rodolfo não respondeu. Sírius suspirou e virou-se _Não adianta, você não pode me ajudar. Bella! _ele voltou a gritar. Se Rodolfo disse que ela estava com ele, ela devia estar em algum lugar por ali, esperando _Bella!


_Ela está grávida.


Sírius virou-se de súbito. Seu coração batia com força e descompassado.


_Grávida. _ele repetiu, sem acreditar. Ele achava que não podia ser pai, mas agora achava o contrário. Agora que tinha certeza, parecia algo doce, totalmente diferente.


_E eu sou o pai. _Rodolfo completou, ainda com a voz controlada.


_E você é o... O quê?! _ele exclamou, sem entender.


_Isso mesmo, Black, você ouviu. Eu sou o pai.


_Isso não... Não faz sentido! Ela veio até mim! Disse que precisava me contar algo!


_Pois é, por algum motivo que só o bom Merlin entende     , ela disse que queria contar para você pessoalmente, antes que você soubesse por outra pessoa.


Sírius não acreditava. Voou para Rodolfo e agarrou-o pela camisa _Eu quero ouvir dela! Onde ela está, Lestrange?


_Acha que eu vou dizer-lhe? Depois do modo como você a tratou? _Bella lhe contara, aos prantos, como Sírius reagira quando ela tentara lhe contar _Você a agrediu! Enquanto ela estava frágil, carregando um bebê na barriga! Acha que eu vou deixar que você sequer chegue perto dela de novo?


Sírius se arrependia, mas isso não importava naquele momento. Ele explicaria a ela quando pudesse, imploraria por perdão. _De quanto tempo? _ele perguntou, pensando nisso de repente. Não podia ser muito recente, senão ela ainda não teria descoberto, certo? Então tinha que ser dele, porque eles não tinham terminado há tanto tempo assim!


Rodolfo riu. _Você acha que Bella foi exclusividade sua enquanto namorou com você? _Sírius não se conteve. Tomou impulso e enfiou um soco no nariz empinado de Lestrange, que escorregou de suas mãos e desmontou-se no chão.


_ENTÃO COMO VOCÊ PODE TER TANTA CERTEZA?! COMO PODE SABER QUE É SEU?!


_Você é algum trouxa, para fazer essa pergunta? Já fizemos um feitiço de teste. É meu bebê, Black. E ela vai ser minha mulher. Vamos anunciar para a sua família esta noite. Ela só queria contar para você antes.


Seus ouvidos zumbiam. Sem pensar no que estava fazendo, Sírius deu um chute em Rodolfo e se afastou, ainda furioso, ainda confuso.


Durante todo aquele tempo... Bella nunca... Não sabia em quem acreditar. Há alguns meses, sequer cogitaria a hipótese. Bella e ele eram perfeitos na cama e fora dela. Não precisavam de mais ninguém para satisfazê-los, ele tinha certeza disso.


Mas nos últimos tempos, ela lhe traíra de maneiras que ele sequer poderia imaginar. Como ele podia ter certeza que essa não era mais uma?


 


***


 


Dumbledore fora bem claro quando lhe permitira ver os pais no feriado de Páscoa. Uma tarde. Eles teriam somente uma tarde, vigiados por membros da Ordem da Fênix, e depois voltariam para o esconderijo, que nem Remo sabia onde ficava.


Compreendia a preocupação do diretor. Greyback estava atrás dele desde que o mordera, por algum motivo que ele desconhecia. Embora suas notas fossem altas e ele, assim como Tiago e Sírius, tivesse um talento especial para se meter em encrencas, não achava que era de alguma forma excepcional. Não conseguia entender por que Greyback o escolhera, por que o marcara como um igual e por que agora não o deixava em paz para viver sua maldição, como fizera com tantos outros.


Dumbledore dissera também que ele poderia levar Sírius, Thiago ou Pedro se quisesse. Mas não os três, sequer dois, pois isso poderia chamar mais atenção. O diretor recomendava Pedro, se pudesse opinar, já que Thiago e Sírius tinham menos tendência à discrição.


_Obrigado, Rabicho, por ter vindo comigo _Remo disse, abrindo antes de abrir a porta do reservado para ele passar.


Pedro estava se coçando para descobrir tudo que pudesse os pais do amigo.


Encontrou-se com os pais para almoçar em uma cabine reservada de um restaurante trouxa do centro de Londres. Ele achava que a periferia teria sido mais discreta, mas não podia negar que Dumbledore tinha razão ao dizer que a multidão os disfarçaria melhor.


Remo estava feliz por ver os pais, mas se sentia desconfortável e inquieto ao lado deles, embora estivesse se esforçando para não demonstrar. Por algum motivo, sentia que estavam sob ameaça, e muito raramente seus instintos erravam.


_Tudo bem, filho? _a Sra. Lupin esticou a mão por cima da mesa para segurar a sua, na décima vez que ele olhou por sobre o ombro, para a porta. _Você parece preocupado.


Estava. É claro que estava preocupado. Greyback estava atrás de seus pais desde o início do ano letivo, certo de que, se os pegasse, conseguiria trazer Remo para seu lado. Ele não estava errado, obviamente, por isso Dumbledore achara melhor mantê-los escondidos enquanto Remo estava na escola. Por mais que ele estivesse satisfeito por estar ali, sentia que era uma imprudência e que, a despeito de todas as medidas de segurança, alguma coisa estava errada.


_Relaxa, Aluado. _Pedro sussurrou ao seu lado _Desse jeito você não vai aproveitar a oportunidade. São seus pais, converse com ele, pergunte como estão, se estão bem alojados.


Remo olhou-o por alguns segundos. Ele tinha razão. Não via os pais nem falava com eles há meses, e já que estava ali, devia aproveitar a oportunidade, e não ficar verificando de cinco em cinco segundos se alguém estava prestes a explodir o restaurante.


Os pais não estavam nem remotamente tão preocupados quanto ele. Eles não tinham instintos lupinos, Remo pensou, e confiavam cegamente nos seguranças que Dumbledore lhes designara.


_Sim, tudo... _ele esfregou a testa e sorriu para a mãe _Tudo bem.


_Longe disso, não é? _O senhor Lupin comentou, com um meio sorriso triste _Acho que você tem enfrentado coisas difíceis demais para sua idade.


_São tempos difíceis para todo mundo, pai. _ele respondeu tranquilo. _Até para pessoas normais.


_Mas então, _Pedro pigarreou _nesses tempos difíceis, com as pessoas tão ameaçadas, eu fico curioso com como se montam as defesas. Quer dizer, estamos treinando para a Ordem da Fênix, e tudo mais, mas não sabemos muito sobre isso... Como Dumbledore garante a segurança de vocês?


_Mas você está tão pálido! _a Sra. Lupim ignorou Pedro, preocupada demais com o filho _Tão abatido! Deve ter emagrecido mais de seis ou sete quilos desde o último ano!


_São os NIENS. _ele esfregou os olhos, sentindo-se de fato muito cansado _Todos estão esgotados, mas some a isso os treinamentos especiais de Dumbledore e as transformações, e minha aparência estará justificada. _suspirou _Não se preocupe com isso, mãe. Estou bem. Só cansado.


_Talvez você precise sair mais, conhecer pessoas diferentes...


_Vocês têm saído? _Pedro cortou o restante da frase _Têm conhecido outras pessoas? Mas quando saem, têm que ir com seguranças para todos os lados?


Remo repentinamente sentiu que a conversa estava sendo propositalmente guiada pelos pais, para algum tópico sobre o qual eles certamente já haviam conversado. Ficou impaciente.


_Tenho ótimos amigos. E estudo em um colégio interno, não posso sair mais.


_Não temos dúvidas quanto a isso, seus amigos são fantásticos. _o pai retrucou, enfático _Só achamos que... Talvez você se sentisse melhor se não estivesse passando por todas essas coisas sozinho... Se conhecesse alguém que passa pelo mesmo que você.


Pedro riu, o que não parecia se encaixar de forma alguma no contexto. Os pais não sabiam que seus amigos fantásticos haviam aprendido a se transformar em animais para fazer-lhe companhia em suas próprias transformações.


Mas ele limitou-se a piscar confuso.


_O quê?


_Nós encontramos com uma pessoa que...


_Espera, vocês não deviam “encontrar” pessoas! _Remo explodiu.


_Onde vocês a encontraram? _Pedro perguntou, curioso.


Remo ignorou-o e continuou: _Vocês supostamente deviam ser cuidadosos e não encontrar com estranhos por aí!


_Nós não encontramos um estranho, Remo Lupin, veja lá como fala conosco! Ainda somos seus pais, somos adultos, responsáveis, e também somos mágicos! Já sabíamos nos defender enquanto você usava fraldas! _a mãe retrucou, enérgica _Estamos preocupados com você. Você tem dezoito anos e enquanto todos os seus amigos estão conhecendo e namorando garotas que os completam...


_Eu não estou. _Pedro resmungou.


_... Você está se isolando!


_Não estou me isolando! _ele retrucou, estupefato _Eu... Eu... _Como? Como um adolescente de dezoito anos explicaria para os pais a confusão em que se metera com Tonks? Como dizer que se apaixonara por uma garotinha de onze anos sem que isso parecesse inadequado? Merlin, isso era inadequado. _Qual é a ideia de vocês, então? _ele perguntou resignado.


_Embora não estejamos em condições de sair muito e conhecer novas pessoas, _a mãe começou a explicar, ainda magoada _nós não ficamos presos vinte e quatro horas por dia, e ainda lemos jornal. Sou repórter, como você sabe.


_Verônica, filha de um dos jornalistas que trabalhavam com sua mãe no Profeta Diário, foi mordida. Foi ideia dela fazer uma reportagem a respeito, para alertar outros pais.


Remo sentiu um solavanco no estômago. Uma menina. Uma brava menina, que aceitara se expor dessa forma para o bem dos outros, enquanto ele ainda tentava esconder sua própria condição. Ainda assim, ele se sentia mal por ela.


_Quantos anos?


_Você deve se lembrar dela. Esteve comigo em algumas festas de Natal no Profeta. Ela é um pouco mais velha que você, cabelos pretos e curtos.


_Ronnie? Ronnie Cassel? _a mãe fez que sim. Mas Ronnie não era um pouco mais velha do que ele. Ronnie era cinco anos mais velha! Isso lhe parecia uma eternidade, especialmente ao lembrar que ele já tivera uma queda por ela.


Mas ele não tinha onze anos e ela dezoito, forçou-se a lembrar. Mesmo assim, dezesseis e vinte e um ainda eram idades muito distantes uma da outra.


_Mandamos uma coruja para ela. Temos conversado bastante. _o pai completou lentamente e empurrou-lhe um papel por cima da mesa _Talvez você queira fazer isso também.


Remo contraiu os lábios, pegou o papel dobrado com o endereço de Ronnie, encarou-o por alguns instantes e guardou-o no bolso.


*** 


Lílian guardava suas roupas em um armário simples no quarto de hóspedes quando ouviu uma leve batida na porta.


_Oi. _a mãe de Tiago abriu colocou a cabeça por uma fresta aberta _Posso entrar?


Lílian, para seu mais profundo alívio, já tivera a oportunidade de tomar banho e trocar as roupas sujas de barro por um leve vestido azul. Já se sentia capaz de sorrir para a sogra.


_Claro. _a Sra. Potter entrou _Estou só guardando algumas roupas que amassam com mais facilidade.


_Não ligue para as brincadeiras de Robb _a mulher mais velha sentou-se na ponta da cama. _Bom, você conhece Tiago. O pai é uma versão mais velha dele. Sangue Potter, sabe como é... Mas não se sinta constrangida, estamos muito felizes por você estar aqui.


Lílian sorriu novamente, fechando o armário e voltando à mala que estava sobre a cama. _Não tem problema. _fechou-a e puxou-a para o chão _Acho que imaginei que o senhor Potter era muito brincalhão quando Tiago começou a listar os nomes dos cachorros.


Ellen riu. _Sim, ideia deles, claro. Bom, agora que você sabe as coisas que uma senhora Potter precisa enfrentar, espero que não desista de ser uma.


Lílian corou violentamente, e os olhos claros da sogra brilharam de simpatia. _Desculpe, querida, não estou querendo pressioná-la. É só que Tiago gosta muito de você.


_Ele... _Lílian gaguejou, sentando-se também na cama _Ele falava sobre mim? Com vocês?


_Se falava sobre você? _ela riu _Ele falava sobre você o tempo todo! Sobre como era bonita, como era inteligente. _ela franziu um pouco o nariz, de um modo provocativo _Sobre como não ia com a cara dele...


Lilly olhou para baixo, sem graça, e ficou mexendo na barra do vestido _É, não ia muito mesmo. Nós éramos muito diferentes. Mas _ela ergueu o rosto e sorriu orgulhosa _peças iguais não completam um quebra-cabeça, não é mesmo?


_Com certeza, querida, não completam.


_Ele... _Lílian encheu-se de coragem antes de completar a pergunta _Teve muitas namoradas? Por aqui, quero dizer? Trouxe muitas namoradas para casa? Porque mesmo dizendo que me amava em todas as oportunidades que tinha, ele não era o tipo mais recatado da escola.


_Não o julgue muito por isso, querida. _ela estendeu a mão e apertou a sua _Tiago não tem um tipo clássico de beleza, mas é atraente, tem muita personalidade e um magnetismo e um carisma muito fortes _Lílian suspirou. Sabia disso melhor do que ninguém _Ele sempre teve a convicção de que... _ela interrompeu-se _Veja, bem não estou mesmo querendo pressioná-la. Mas ele sempre teve a convicção de que se casaria com você um dia. Ele se referia a você como se fosse sua futura esposa, mas pelas coisas que contava sobre vocês, sobre como vocês brigavam, eu não compreendia bem como isso poderia acontecer. O pai dele costumava dizer que amor e ódio andam juntos, e acho que Tiago acreditava muito nisso também. No entanto, vou ser sincera com você, ele é um adolescente. E embora você seja a primeira namorada que ele traz para casa, perdemos as contas do número de festinhas impróprias que ele e Sírius promoveram no sítio enquanto estávamos fora e sempre tivemos consciência da horda de meninas da cidade que andavam atrás deles. _Lílian não pôde evitar uma careta de desgosto e baixou o rosto novamente para disfarçá-la _Mas você o mudou. _Ellen falou com tanta ternura e sinceridade, que a ruiva ergueu os olhos novamente _Ele é uma pessoa muito diferente agora. Só de não receber mais cartas da escola a respeito de brigas semanais e excursões pela floresta proibida e fogos de artifício dentro das salas de aula, já poderíamos notar, mas é algo mais do que isso. Você o transformou em uma pessoa melhor. Obrigada, por isso, querida.


Lílian não sabia o que responder. Queria contar, queria dizer como o filho dela era uma pessoa maravilhosa, leal e corajosa, embora com certeza ela já soubesse disso.


_Eu o amo. _ela falou por fim, porque a emoção a deixara sem voz, e isso parecia tudo que ela era capaz dizer.


_Eu sei. _a senhora Potter falou com leveza, e puxou-a para um abraço, mas um barulho alto de portas batendo as fez se separar.


_ Brilhante perspicácia, Pontas! _Sírius Black. _Bella está grávida! Mas não é de mim! E eu podia muito bem dormir sem saber disso!


_ Ei, não é culpa minha! Mas posso dar-lhe meu apelido como um pedido de desculpas. Pontas lhe serviria bem melhor agora.


Lílian e Ellen levantaram-se e correram para a porta. Quando saíram para a sala, Tiago dava voltas no sofá, rindo, enquanto Sírius o perseguia com uma expressão assassina.


_Isso não tem graça, seu duende de olho verde!


_E você não tem motivo para estar bravo comigo! Eu não estou grávido de outro!


_O que está acontecendo aqui? _Ellen perguntou mais alto, sobrepondo-se aos dois.


Sírius viu Lílian e parou de correr _E você! É culpa sua também! Você enfiou na cabeça do Pontas que Bella ia ter um filho meu.


_Bella está grávida?! _Ellen levou a mão ao peito _Sírius!!


_Não se preocupe, tia, o bebê não é meu.


_Não se preocupe?! _ela estava escandalizada _O filho podia ser seu, e você quer que eu não me preocupe? Isso significa o quê? Que você... Vocês dois não estão... Não estando tomando nenhum tipo de cuidado? Sente-se nesse sofá agora mesmo. Eu e seu tio vamos ter uma conversa muito séria com você sobre responsabilidades, paternidade...


_Tia, tenho certeza de que isso não é necess...


_Você está sob nossa responsabilidade enquanto não decidir voltar para casa. Portanto, sente-se agora mesmo! _ela bradou em um tom que não admitia discussões. Sírius sentou-se.


_Bom, então eu vou lá para fora... _Thiago tentou escapar contornando o sofá.


_Você também. _ela sibilou _Acho que ouvir algumas coisas vai lhe servir muito bem.


_É, especialmente porque sua namorada também achava que estava grávida. _Sírius resmungou, quando Ellen saiu. _Isso é tudo culpa de vocês.


_Minha? _Thiago sentou-se ao seu lado _Tem noção de como essa conversa vai ser desconfortável?


_Sírius... _Lílian ajoelhou-se a sua frente _O que houve? Você falou com a Bella?


_Rodolfo, o pai do bebê, _ele torceu o nariz _não permitiu.


_Mas... Mas então como...


_Ele me disse. Ele me disse que Bella está grávida, mas que ele é o pai. _ele explicou com uma voz desolada.


Se ele esperava alguma piedade de Lílian, não foi o que obteve. A ruiva inclinou-se para trás com uma expressão de surpresa.


_E você acreditou?! _ela levantou-se _Sírius Black, sempre achei que você fosse esperto.


_Ei! Ele me disse que era o pai! Por que mentiria?


_Por quê? Você está mesmo perguntando isso? _Thiago intrometeu-se _Ele sempre quis afastá-lo dela, por que ele falaria a verdade?


_Por que ela teria procurado você se ele fosse o pai? _Lílian perguntou, com uma mão na cintura _Isso não faz sentido.


_E você acha que ele assumiria o bebê se fosse meu?


_Para ficar com ela? _Thiago arqueou as sobrancelhas _Você não assumiria?


Ele não respondeu. Mas não era preciso. Se ela estivesse disposta, se ela estivesse arrependida, aceitaria qualquer coisa.


_Você precisa falar com ela, Sírius... _Lílian completou.


_Ela não vai querer me ver. Não depois do que eu fiz. _ele esfregou o rosto.


_Mas você nunca saberá a verdade se não fizer isso... _Thiago concluiu, e assim que acabou de falar, Ellen e Robb voltaram para a sala.


_Lílian, querida, pode nos deixar sozinhos um pouco, por favor? _Ellen perguntou. Lílian sorriu e saiu da sala, enquanto Thiago afundava no sofá com uma expressão mortificada.


***

Nas:
Ainda tem algm aí, pessoal? Algm lendo?
Deixem coments se ainda estiverem por aí, pleaseeeee....... 

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Comentários (2)

  • Nane Potter

    Sim!! Ainda tem alguem aqui!! \o/Nao paaaaaaraaaa! O que vai acontecer com a pobre Bella e o bebe? Diga, por favor, que Sirius vai criar vergonha na cara e ir atras dela! Tem mais uma coisa: E o Remo? Ele nao vai se apaixonar por outra nao neh? Isso nao seria nd justo, sabe?! Ah, por falar em justiça: como assim ele pode ter uma queda por alguem mais velha, mas a Tonks nao? Muito bonito, Sr. Lupin, muito bonito... ¬¬"PS.: AMEI a criatividade dos nome dos animais! kkkkkkkkkk 

    2013-10-25
  • Nina Granger Potter

    Oi, sou nova aqui, mas estou adorando a fic. É maravilhosa, muito bem escrita. Estou super emplogada. Continue, por favor.beijos 

    2013-10-03
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