What are friends for.



O tédio da casa de meu pai somado à total ausência de vontade de me socializar me levaram à ler livros em uma grande voracidade. Meu padrinho trazia sempre novos livros para que eu pudesse ter mais quando acabasse, e não ficasse desesperada lendo rótulos de embalagens de comida na cozinha, enquanto os gêmeos ruivos me pentelhavam. Aquelas foram as férias mais produtivas da minha vida, intelectualmente falando. Por outro lado, consegui me tornar a pessoa mais fria e seca que consegui, mal chegava perto de outra pessoas e, quando me perguntavam algo respondia apenas o necessário. Ouvia dizê-los “É normal isso acontecer quando se perde alguém” quando ficava parada olhando para um ponto fixo, procurando uma razão para viver ou um sinal para que pudesse desistir de tudo e, sei lá, cometer suicídio. Tá, eu me prometi que não ia pensar mais em suicídio. Eu não podia, mesmo que não tivesse minha mãe por quem zelar eu tinha agora um pai, que estava t]ão arrasado com a morte de minha mãe quanto eu, mas que tentava se manter forte por ser pai e líder.


Eu estava no meu quarto, lendo o quarto livro da semana, quando alguém bateu à porta.


- Pode entrar. – Eu disse.


Era a menina ruiva.


- Oi, seu pai pediu para eu vir te avisar que amanhã´nós vamos para Hogwarts. – Ela disse.


- Ok. – Eu disse.


“Mas já?” – Eu pensei. O tempo havia passado rápido.


Arrumei algumas coisas que gostaria de levar. Pela primeira vez haviam mais livros que roupas na minha mala. Me contentei em levar apenas cinco livros dos dezenove que ganhado do meu padrinho. No meio das minhas coisas encontrei um maço de cigarro de minha mãe.


Era estranho eu ter aquilo. O cheiro dela nunca fora de cigarro, mas ela sempre estava com um cigarro na mão. Ela dizia que quando eu não estava o cigarro a fazia companhia, deixava a casa menos silenciosa.


A casa de Sirius era silenciosa para mim. E vazia. Eu sentia falta dela e só dela. Ela era minha mãe, amiga, melhor amiga. Então eu me sentei na varanda, peguei um cigarro e o acendi com o isqueiro que estava dentro dele.


No primeiro trago tossi muito, como qualquer principiante faria. Mas depois fui me acostumando e consegui imitá-la  em seus trejeitos ao fumar. Foi como vê-la na minha frente.


- Não acho que seu pai gostaria de te ver fumando. – O ruivo-não-gêmeo me disse.


Ele estava na janela do quarto ao lado.


- Por isso que ele não precisa ficar sabendo, não é mesmo? – Eu disse tentando persuadi-lo.


- Eu não conto se você não contar. – Ele disse.


Eu tentei sorrir.


-Então, animada com Hogwarts? – Ele me perguntou.


- Não muito. Prefiro ficar lendo livros no meu quarto. – Respondi. – E você?


- Sim. Lá é um bom lugar. Você vbai gostar. Todos gostam. – Ele me disse. – Como você faz isso?


- Isso o que? Fumar? – Perguntei. – Não tenho nem idéia, eu comecei hoje. – Lhe respondi.


- Posso tentar? – Ele me perguntou.


- Claro. – Eu lhe passei o cigarro.


Ele também tossiu no primeiro trago. Muito, até mais que eu.


- Como se faz isso? – Ele me perguntou em um tom engraçado.


Eu ri. Pela primeira vez de verdade em muito tempo. Eu peguei outro cigarro e acendi. Traguei para que ele visse.


- Você meio que segura a fumaça no céu da boca por um tempo e depois solta. – Eu disse. – Acho que é assim. Tente de novo.


Ele tentou. Com sucesso dessa vez, mesmo que pouco sucesso.


- Tomara que eu não esteja te viciando. – Eu disse.


- Tomara que você não esteja se viciando também. – Ele me respondeu. – Acho que está na hora do jantar. Vamos?


- Acho que lavar as mãos seria uma boa idéia. – Eu disse saindo da janela.


Fomos os dois para o banheiro para que nossos pais não percebessem o cheiro do cigarro.


Ele me deixou ir primeiro com a desculpa de “Primeiro as damas”. Depois nós descemos, nos sentamos e esperamos a mãe dele colocar a comida na mesa.


Depois de um certo tempo fui descobrir que o nome dele era Ron. Eu sou péssima com nomes.


Agora finalmente eu tinha alguém com quem conversar, alguém que me fizesse rir, me ajudasse a seguir em frente. Eu tinha um amigo. Meu primeiro amigo desde que minha mãe havia morrido. Era bom.


Apesar do nosso vício.

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