Capítulo 6




  - Alunos, prestem atenção, vão ter a primeira vista total do castelo logo depois daquela curva... E... – ouviu-se um longo ‘Ohhhhhh...’ quando o castelo pôde ser visto. Hagrid sorriu.


  Lorraine, Brian, Keytlin e Leonardo haviam ficado no mesmo barquinho. Keytlin arregalou os olhos e quase caiu da borda do barquinho, sendo segurada por Brian, que sorria abertamente, feliz. Leonardo, no entanto, encarava Lorraine, que fitava o castelo maravilhada, os olhos brilhando, a boca aberta sem que ela percebesse. ‘Não é possível, ela já viu fotos do castelo antes, já sabe tudo de Hogwarts... E no entanto...’


  - Brian! Brian! É mais bonito do que eu imaginava! – ela cutucou o irmão, ainda olhando o castelo.


  - Eu sei, eu sei! – o irmão respondeu, ainda sorrindo contente. Keytlin corava, e Léo apontou uma caverna mais ou menos próxima.


  - Deve ser ali que vamos entrar, fiquem atentos. – ele avisou. Não deu outra, Hagrid direcionou os barquinhos para a abertura, gritando um aviso para protegerem as cabeças, para que elas não batessem na abertura.


  - Hum... Gente... – Keytlin começou, corando, mas visivelmente preocupada. - Tio Jorge disse que o chapéu faz um teste pra você, e você tem que responder tudo. Se acertar tudo, você vai pra Corvinal, se errar tudo, pra Lufa-lufa, se tentar responder, mesmo sem saber, pra Grifinória, e se tentar colar ou inventar respostas, pra Sonserina... – ela hesitou ao ver a cara dos três. Os gêmeos imediatamente caíram na risada, dizendo algo como ‘típico do Tio Jorge, disseram pro seu pai que ele tinha de enfrentar um trasgo...’ e Leonardo a olhou, paciente.


  - Não é nada disso. Ele vai simplesmente olhar suas emoções e qualidades, e verificar em qual casa seus atributos se encaixam melhor. Alguns dizem que ele consegue prever seu futuro de acordo com suas habilidades, e te colocar na casa que te ajudaria a desenvolver mais seu potencial.


  - O que significa que eu posso ir pra qualquer uma! – Brian piscou, fazendo pose de convencido. Logo recebeu um cascudo da irmã. – Ai, Lorraine!


  - O que significa que você pode ser mandado de volta pra casa a viver como trouxa - ela sorriu, puxando o irmão para baixo para passarem pela caverna. Saíram em um porto subterrâneo, e seguiram Hagrid subindo trocentos degraus infinitos, que levavam ao magnífico portão de entrada do castelo. Hagrid ergueu sua manzorra e bateu três vezes.


  - Ah, eles chegaram, que bom, que bom! – um homem já de idade avançada, com uma curta barba branca e extravagantes trajes verdes, e que tinha uma considerável barriguinha, abriu a porta, sorrindo para os alunos. Léo teve a impressão de que ele não só ‘olhava’ para os alunos. Procurava alguma coisa. Não se enganou. Assim que seus olhos pousaram em Brian, ele reconheceu algo, e piscou animadamente para ele. Depois, viu Keytlin, e piscou também para ela. Para Leonardo, quando o viu, deu um breve aceno de cabeça. – Entrem, entrem, estão todos esperando!


  Ele entrou no Saguão de Entrada, seguido por todos os alunos. Hagrid ficou para trás. Eles puderam ouvir a conversa animada da porta à esquerda, vinda dos alunos que aguardavam o banquete. O estômago de Brian roncou alto. Lorraine riu. Mas eles viraram à direita, e chegaram a uma sala vazia ligeiramente menor que o Saguão de Entrada. Ficaram ali, agrupados, esperando alguma ordem.


  - Sou o Prof. Slughorn, vice-diretor, professor de Poções e também diretor da Sonserina. Bem-vindos, bem-vindos! Agora, eu vou lá ver se está tudo pronto, e então volto aqui para chamar vocês, ok? Mas primeiro... Ah, sim, mas é claro, as casas... Bom, as casas são Sonserina, Grifinória, Corvinal, e Lufa-lufa. Vocês vão ser selecionados pra essas quatro casas, e as casas serão como suas famílias, porque serão seus companheiros pela maior parte dos próximos sete anos. Vocês vão se sentar com a sua casa, assistir aulas com sua casa, e passar o tempo livre no Salão Comunal de sua casa. Tudo o que vocês fizerem de bom, nós, os professores, McGonagall também, e, ah sim, os monitores-chefes, vão poder conceder pontos. Se se comportarem mal, vamos tirar pontos. Quem ficar com o maior número de pontos no fim do ano letivo, ganha a Taça das Casas, é uma grande honra, ouviram, meninos? Portanto espero que quem estiver na Sonserina não me desaponte! – ele piscou, divertido. Depois saiu. Os alunos de primeiro-ano se entreolharam, nervosos, comentando as coisas mais absurdas.


  - Brian... Será que eu entendi bem? – Lorraine olhou para o irmão, a boca aberta.


  - Eles nos deixaram... Sozinhos? – Os olhos de Brian brilharam. Leonardo, ouvindo, puxou Keytlin discretamente para longe do alcance dos dois, observando.


  Em poucos instantes, os dois sumiram no meio do montinho de alunos. Leonardo fechou os olhos e começou a murmurar algo como ‘Isso não vai prestar... É o primeiro dia... O ano letivo nem começou... ’, levando as mãos às têmporas. Então, subitamente, os dois gêmeos voltaram às suas posições iniciais, ambos com enormes sorrisos idênticos no rosto. Lorraine se virou para Leonardo, ainda sorrindo, e deu uma piscadela, levando o dedo à boca, pedindo para que ele não dissesse nada. Então, dali a alguns segundos, ela e o irmão subitamente se abaixaram, protegendo o rosto. Por instinto, os olhos arregalados, ele puxou Keytlin para baixo e também se protegeu. Dois segundos depois, ouviu-se a explosão.


  Leonardo ouviu o barulho e se encolheu ainda mais, ainda segurando o braço de Keytlin, enquanto os alunos gritavam e corriam em círculos, assustados. Logo em seguida sentiu algo bater com força e escorrer pelas suas costas e braços. Alguma coisa líquida manchava toda a parte de trás de suas vestes. Levantou-se para olhar o estrago. Os alunos mais nervosos ainda corriam e gritavam, outros suspiravam de alívio, alguns até mesmo riam do que estava acontecendo. Léo então olhou para os alunos em si e as paredes. Uma enorme mancha – sim, mancha – de tinta roxa estava agora jogada sobre tudo. As vestes dos alunos, as paredes, tudo estava colorido em roxo. Aparentemente, os gêmeos haviam detonado uma bomba de tinta no meio da sala.


  Agora Léo podia ouvir umas meninas berrando que iam aparecer perante toda a escola pintadas de roxo. Os outros alunos começaram a se preocupar com isso também, e a confusão ameaçava voltar, mas então, alguém riu. Uma risada simples, de quem estava se divertindo com tudo aquilo. Foi contagiante. Logo, todos estavam rindo também. Leonardo ouviu algo e olhou para o lado. Keytlin também ria, as mãos cobrindo a boca. Ele também se deixou levar, e riu, junto com Keytlin, junto com Brian, junto com Lorraine. E sentiu que, talvez, uma confusão de vez em quando fizesse bem. Mas aí, Slughorn voltou à sala.


  - Pelas barbas de Merlin, que bagunça é essa! – ele olhou em volta, os olhos arregalados. – Por quanto tempo eu saí? Cinco minutos? O que houve aqui? – os alunos fizeram silêncio imediatamente. – Meu Merlin, que bagunça, que bagunça! Vamos ver... Limpar, limpar... Ah sim, é mesmo! Tergeo! – ele apontou a varinha para o aluno mais próximo. Nada aconteceu. – O quê? Skurge! – ele apontou dessa vez para uma parede. A mancha continuou lá. – Mas não é possível! Tergeo! – ainda nada. – Essa tinta não sai! Quem foi o responsável por isso?


  Leonardo poderia ter rido da cara de santa que Lorraine fez, desfeita por dois segundos ao dar uma cotovelada no irmão, que ameaçava rir, mas logo ambos estavam novamente com caras de inocentes. Ninguém falou nada, mas também, não poderiam. Ninguém além de Leonardo e os próprios gêmeos fazia idéia do que acontecera. E Keytlin, que talvez tivesse tido uma idéia.


  – Bom... Bom, talvez, McGonnagal pudesse... – ele passara a mão livre pelos cabelos, nervoso. – Mas não, não há tempo, já estão todos esperando, está tudo pronto... Bom, sinto muito, mas vocês terão de vir assim mesmo para a seleção. Mas nunca... Em toda minha história de Hogwarts, ‘nunca’... – ele resmungava, enquanto saía da sala. Os alunos o seguiram.


  Eles saíram da sala e atravessaram o Saguão de Entrada até as grandes portas duplas diretamente em frente. Então, Slughorn as abriu. Os quatro amigos, mesmo já conhecendo por fotos e pela descrição dos pais, não puderam deixar de boquiabrir-se com a magnificência do Salão Principal. Quatro enormes mesas estavam dispostas paralelamente, e, voltada para elas, a comprida mesa dos professores, com uma cadeira de espaldar alto no centro, aonde McGonnagal se sentava.


  - Muito bem, agora podemos começar a seleção... – ela começou, se virando para os alunos recém-chegados, e se interrompendo. – Mas o que houve com esses alunos, Horácio? – ela perguntou, escandalizada. – Foi Pirraça?


  - Sinto muito, diretora, mas eu não faço idéia do que houve! Deixei-os sozinhos por um minuto ou dois, quando vim preparar o Chapéu, como faço todo ano, e algo aconteceu nesse tempo! – Slughorn tentou explicar, se enrolando.


  - Mas... Porque eles ainda estão... Bem... Roxos? – McGonnagal perguntou.


  - Já tentei os feitiços de limpeza simples, então isso não pode ser coisa do Pirraça! Parece que nenhum funciona!


  - Bom, acho que isso é um assunto a ser resolvido depois... Os alunos estão com fome, e os de primeiro ano precisam ser selecionados. Comece com a seleção! – ela ordenou. Slughorn imediatamente pegou um rolo de pergaminho e apontou para um chapéu de bruxo muito velho, surrado e remendado em cima de um banquinho. Mas, antes que ele pudesse dizer algo, o rasgo junto à aba do chapéu se abriu, e ele começou a cantar:


 


“Ah, a paz que reina


Em nada lembra os perigos de outrora.


Fiquem alerta, não esqueçam o que aprenderam,


Ou o inimigo os levará embora.


 


Mas não há porque se estressar,


Estamos em paz, aqui mais uma vez!


E novamente devo quarteá-los,


Ignorar os alertas que o tempo fez.


 


Ah, não me agrada em nada


Separá-los, dividi-los


Mas ora, pra isso fui feito


São estes meus deveres, e até o fim irei cumpri-los.


 


Devo escolher para onde irão


Onde passarão mais sete anos


Então venham, me experimentem, ou não saberão


Pois não há outro igual que lhes possa dizer.


 


Irão para Grifinória, casa dos corações nobres


E dos de grande ousadia e coragem?


Ou para Corvinal, casa dos de mente arguta


Aguçados e rápidos de raciocínio?


Talvez Lufa-lufa, casa dos justos


Dos pacientes, leais, e bondosos?


Será Sonserina, casa dos astutos


Espertos e que fazem as próprias regras?


 


Não temam, pois eu não sou


Um chapéu qualquer, que pode falar


Vejo o fundo de suas mentes, vejo o que podem fazer


Pois sou o Chapéu Seletor, e vim para selecionar.”


 


  Fez-se silêncio por um momento, onde os primeiranistas olharam chocados para o chapéu. Então, as mesas começaram a aplaudir. Slughorn fez um gesto com a mão, e lentamente, o Salão foi silenciando. Ele tornou a apontar o Chapéu.


  - Quando eu chamar por seus nomes, venham até aqui, sentem-se no banquinho e coloquem o chapéu na cabeça. – Slughorn explicou, abrindo o rolo. – Abe, Gregory.


  Um garoto magricela andou, trêmulo, pintado de roxo em quase todo o lado esquerdo, e sentou-se, colocando o chapéu, que afundou até tampar seus olhos. O Chapéu fez silêncio por um instante, e depois...


  - Lufa-lufa! – ele anunciou, e a mesa de alunos sob a bandeira preta e amarela com a estampa de um texugo aplaudiu o novo companheiro.


  - Andrews, Geórgia. – Uma garota loira, gordinha e baixinha, com uma mancha roxa na barriga, foi aos tropeços até o banquinho.


  - Lufa-lufa! – o chapéu falou, quase imediatamente.


  - Bell, Sarah. – Slughorn anunciou, e um burburinho começou a correr pelo Salão. “Bell?” “Ele disse Bell?” “Como em Kátia Bell, do União de Puddlemere?” “O quê, a artilheira?” “Soube que ela tinha casado com o goleiro, Olívio Wood!” “O que joga na seleção da Inglaterra?”


  Uma menina de cabelos negros trançados andou até o banquinho, com a cara muito zangada, encarando todos que cochichavam, os olhos castanhos brilhando de raiva. Metade de seu rosto estava pintado de roxo, assim como dois terços da parte de cima de suas vestes. Leonardo arregalou os olhos imediatamente.


  - Ela! – ele deixou escapar. Keytlin ouviu. Os gêmeos estavam muito ocupados pra notar.


  - Você a conhece, Leonardo? – Keytlin perguntou.


  - Foi a menina que pegou o livro que eu queria na minha frente! Logo antes da prateleira cair em você, Keytlin, lembra? Ela tinha acabado de sair correndo com o meu livro! – ele comentou.


  - Então foi por isso que ela tinha saído correndo? Ela pegou seu livro? – Keytlin perguntou.


  - Deixa ver se entendi... Léozito conhece aquela menina? Mas ele não acabou de mudar pra Inglaterra? – Lorraine intrometeu, ao ouvir Keytlin. Brian abriu um largo sorriso, mas imediatamente foi impedido de falar pela mão de Lorraine que tapou sua boca. – Já sei o que você vai falar. Nem tente começar. – ela avisou.


  - Não conheço não. Ela pegou o livro que eu queria e correu com ele. Fiquei sem. – Leonardo deu de ombros, calmo, como se dissesse que não estava nem aí.


  - Interessante... Arrogante, poderia se dar bem na Sonserina... Um tanto explosiva também... – ela fechou ainda mais a cara. - Vejo que tem coragem... E uma vontade enorme de provar seu valor. Acho que se daria melhor na Grifinória! – ele anunciou a última palavra bem alto, pro Salão todo ouvir. A mesa da Grifinória aplaudiu entusiasmada sua primeira escolhida.


  - Bach, Clayd! – Slughorn chamou. O próximo aluno, alto e de andar elegante, milagrosamente com apenas um braço roxo, sentou-se ao banquinho. O chapéu nem mesmo caiu-lhe até os olhos, ficou jogado com uma elegância displicente na cabeça.


  - Corvinal! – a mesa da Corvinal cumprimentou o primeiranista quando ele se sentou.


  - Bulstrode, Julie! – Slughorn tornou a chamar. Dessa vez, uma menina grandalhona, que não era feia, mas bem forte, foi quase marchando até o banquinho, quase roxa por completo. Imediatamente o chapéu anunciou.


  - Sonserina!


  Leonardo reparou que o Chapéu nem sempre escolhia na hora. Algumas vezes escolhia imediatamente, em outras se demorava por minutos. Enquanto isso, Brian e Lorraine discutiam baixinho.


  - Lorraine, temos aquele problema pra resolver ainda.


  - É mesmo. Aparentemente, é verdade...


  - Hum... Então só precisamos NÃO pensar nisso com tudo o que pudermos usar pra nos distrair...


  - Mas assim ele vai achar que nossa cabeça é oca.


  - Só NÃO pense naquilo, ok? De resto, pode pensar em qualquer outra coisa. – Brian alertou.


  - Diamond, Alana. – Slughorn chamou. Uma menina de cabelos lisos e compridos, pretos como seus olhos, andou até o banquinho. Ela se virou pra trás, pro meio do grupo de primeiranistas, deu uma piscadela, e ‘subiu’ no banquinho, literalmente. Ficou ali de pé, com o chapéu na cabeça, que por sinal estava bastante roxa, em toda a parte de trás.


  - Bastante ousada, vejo... Gosta de planejar as coisas. Talvez na Corvinal... Não. Você ficará melhor na Grifinória! – ela foi aplaudida, e pulou do banquinho até o degrau inferior, jogando o chapéu com pontaria certeira em cima do banquinho. Foi saltitando até a mesa da Grifinória.


  - Hum... Essa daí me parece ser outra que vai dar problemas. Espero que, caso vá pra Grifinória, ela não fique por muito tempo perto de mim. De louca, já me basta essa aqui. – Leonardo comentou, observando a nova Grifinória.


  - Tá falando de mim? – Lorraine perguntou, enfezada.


  - Claro que estou. De quem mais estaria? – ele respondeu, calmo.


  - Eu até te levaria a sério, Léozito querido, mas você está completamente roxo nas costas. – Lorraine zombou.


  - E você não tem nem idéia de quem causou isso, não é? – ele a encarou, irônico. Ela o deu as costas, emburrada. Ele a olhou por uns instantes, surpreso com a reação, e então virou o rosto também, levemente irritado. Entrementes, a Seleção ainda ocorria.


  - Grantaine, Fréderic! – Slughorn anunciou. Ninguém se mexeu. Slughorn, visivelmente espantado, tornou a chamar: - Fréderic de Grantaine!


  Alguém se levantou na mesa da Grifinória. Era um belo garoto, de seus treze, quatorze anos, com aparência de terceiranista. Parecia um príncipe dos contos de fada, com os cabelos castanhos caindo sobre os olhos, cor de mel, e a pele morena típica do sul da Europa. Aparentemente, as meninas já o conheciam, pois imediatamente se viraram para ele, enquanto os meninos faziam muxoxos de descontentamento. Mas o rapaz simplesmente pegou a primeira coisa em que pusera as mãos – no caso, uma colher de ouro da mesa de banquete ainda vazia – e atirara pela mesa, até cair do outro lado. Ouviu-se um sonoro baque, um ‘ai!’ e repentinamente uma cabeça de um primeiranista ergueu-se da multidão.


  - Fred! O que você pensa que está fazendo? Você está no meio da seleção! – o garoto mais velho berrou. Metade do Salão estourou em gargalhadas. – Você não pode ficar dormindo por aí no meio de uma seleção, você precisa manter sua classe, o brilho, todo o charme de nossa família, não vê que está sendo deselegante? – ele ralhou, mas de um jeito tão engraçado, que as gargalhadas só aumentaram. O terceiranista pareceu não perceber.


  - Sim... A seleção. O banquinho... – o menor disse, mas ainda estava tão tonto de sono, que simplesmente rolara para o lado da cadeira e caíra no chão. Keytlin, reconhecendo antes mesmo que ele caísse que uma queda viria, por experiência própria, correu a ajudá-lo. Sabia como era ser ridicularizada ao cair perante todos. Estendeu a mão. O menino, ainda trôpego de sono, a aceitou, mas não se levantou. Ficou encarando Keytlin por um bom tempo. As risadas aumentaram ainda mais, e ele, finalmente olhando ao redor, com um pequeno sobressalto de compreensão, captou que devia se levantar. Murmurou um ‘obrigado’ a Keytlin antes de ir se sentar no banquinho e Slughorn, cada vez mais apreensivo com a nova turma, colocar o chapéu sobre sua cabeça.


  Ele possuía os cabelos negros ondulados, que mantiveram o Chapéu mais ou menos no lugar, permitindo ver seus olhos azuis, ainda meio colados de sono. Tinha a mesma pele moreno-clara do terceiranista que ralhara com ele. Imaculada e miraculosamente, não havia ficado roxo. Como se saberia mais tarde, estava deitado no chão quando a bomba estourou, portanto toda a tinta foi parada por todos os corpos de pé acima dele. Ainda com o Chapéu na cabeça, olhou vagamente ao redor, sem demonstrar a menor expressão, enquanto algumas meninas de segundo e terceiro anos o avaliavam e cochichavam entre si. Entrementes, o Chapéu Seletor murmurava em sua cabeça.


  - Ah, o que temos aqui! Com certeza tem audácia, rapaz, muita coragem! Quem sabe a Grifinória? É bem inteligente quando quer... Mas sua falta de interesse em tudo e seu, digamos, desprezo pelas regras sem dúvidas fazem de você um aluno da... Sonserina! – ele anunciou a última palavra, e a mesa da Sonserina aplaudiu. Entrementes, o garoto da mesa da Grifinória tornara a se levantar.


  - Fred! Ficamos separados, meu primo camarada, meu irmão de alma! A longa distância entre nossos Salões Comunais e a rivalidade entre nossas casas não serão o bastante para derrubar nossa camaradagem! – ele já estava quase com lágrimas nos olhos. Então, começou a sorrir como se não tivesse acabado de protagonizar um drama mexicano. – Mas isso é bom, Fred! Podemos unir as casas, e mostrar de vez o quanto essa separação não significa nada para verdadeiros amigos! – ele se preparava para outro discurso. Subitamente, algo veio voando da mesa da Lufa-lufa e o acertou no meio da testa, derrubando-o para trás.


  - Cala a boca, o Prof. Slughorn já continuou com a seleção, idiota. – censurou-lhe uma garota de aparência rebelde, que voltara a prestar atenção aos nomes sendo chamados.


  - Goyle, Charles! – Slughorn chamou. Novos burburinhos começaram a correr. Goyle era, conhecida e comprovadamente, um ex-Comensal por vontade própria. Esse fato ficou ainda mais conhecido depois que Hermione publicara os sete volumes que contavam a história de Harry, porque o próprio Harry viu o pai de Gregory Goyle voltar para atender ao chamado de Voldemort, quando este ressurgiu de um caldeirão, a tantos anos atrás. Alguns anos depois, Harry presenciara o próprio Gregory, junto com Vincent Crabbe e Draco Malfoy, assumirem suas Marcas Negras, na ocasião em que Crabbe morrera. Atualmente, Goyle estava em Azkaban.


  Sem ouvir, ou sem ligar para o cochicho que se seguiu ao seu nome, Charles, que foi atingido em cheio de frente pela tinta roxa, foi até o banquinho, colocou o chapéu e esperou. Ele era bem grande, tinha uma constituição que os gêmeos classificariam como ‘corpo Tio Duda’, o corpo de Duda aos onze anos, muito gordo. Mas dava pra ver que ele não era só gordo, ele podia muito bem arremessar aquele banquinho do outro lado do Salão sem problemas. Todos já estavam esperando, com certeza absoluta, um ‘Sonserina’. Mas...


  - Nossa, você tem um raciocínio muito bom, quando quer. Acho que a casa que mais te ajudará a desenvolver esse potencial é a... Corvinal! – ele anunciou para o salão. Seguiu-se um silêncio quase total. Apenas quase um minuto depois que Charles tirou o chapéu que a mesa da Corvinal lembrou-se de aplaudir o novo companheiro. Por essa, realmente, ninguém esperava.


  - Brian... – Lorraine virou-se para o irmão. – Não quero fazer um pré-julgamento, mas...


  - É... Eu sei. Faríamos bem em manter um olho sobre esse sujeito. Alguns outros, pelo que eu soube, também já estudam aqui. Precisamos tomar cuidado. Como o pai disse, não só ele, como toda a nossa família, é bem odiada pelos antigos bruxos das trevas, temos que manter sempre a vigilância constante... – Brian comentou.


  - Como Olho-Tonto ensinou.


  - Como Olho-Tonto ensinou. – Brian concordou. Os dois voltaram a prestar atenção na seleção.


  - Lerry, Peter. – Slughorn tornou a chamar. Um menino trêmulo, de cabelos louro-palha, adiantou-se. O Chapéu desceu direto por seus olhos. Seus braços definidos, pelo que definitivamente era trabalho braçal, seguraram o banquinho com força, as mãos e os antebraços roxos, o medo visível em sua expressão. Suas vestes bruxas não eram exatamente novas, aparentavam ser de segunda mão, e o jeito com que olhara tudo em volta enquanto andava mostrava que definitivamente não havia nascido entre bruxos.


  - Lufa-lufa! – o Chapéu Seletor anunciou. Então, dando um leve sorrisinho e lançando um olhar de interesse à fila de alunos, agora pela metade, Slughorn chamou o próximo nome.


  - Malfoy, Leonardo! – imediatamente, a conversa se alastrou como fogo de rastilho. Os que já nasceram em família de bruxos contavam aos outros as mais variadas versões da estranha e misteriosa participação de Draco na Segunda Grande Guerra Bruxa Britânica. Havia histórias desde estranhas até completamente malucas, e Leonardo podia apostar que muitos deles já estavam pensando em quando poderiam perguntar tudo em primeira mão. Por isso, houve uma grande tensão enquanto Leonardo se dirigia até o banquinho, porque a casa em que ele ficasse teria informações muito antes das outras. Leonardo, girando os olhos, sem se abalar com uma reação que já esperava, sentou-se ao banquinho e colocou o Chapéu. Ele afundou-lhe direto até os olhos.


  - Ah, sim... Um Malfoy, hein? Você é bem interessante, garoto... Você gosta de seguir as regras, e não perde a calma com facilidade. Gosta de planejar antes de fazer algo, e consegue se adaptar à situação com rapidez. Apesar de ter coragem o bastante para a Grifinória, e conseguir contornar as regras quando lhe convém, como um sonserino, sua inteligência e frieza de raciocínio superam as expectativas. Com certeza, você se desenvolverá melhor na... Corvinal! – o Chapéu falou a última palavra para todo o Salão ouvir. Houve estrondosos aplausos na mesa da Corvinal, que berrava, já mexendo com seus amigos de outras casas pela vitória. Leonardo retirou o Chapéu e, calmamente, andou até a sua nova mesa, desaparecendo sob uma estrondosa avalanche de pessoas que se amontoavam em volta dele.


  - Isso é bom, acho. – ele comentou para si mesmo. – Assim evitarei brigas entre o pai e a mãe. Desse jeito não tomo partido de nenhum dos dois, nem tenho de lidar com aquela louca, que eu já tenho certeza de pra onde vai... Apesar de não saber quanto ao irmão dela... – ele disse, pensativo, mal ouvindo as muitas perguntas que deslanchavam em cima dele.


  - Montgomery, Elisabeth! – uma garota de rosto confiante quase marchou, decidida, até o banquinho. Quando colocou o Chapéu sobre a cabeça, cruzou os braços e as pernas e esperou. Sua perna esquerda e parte do quadril estavam roxos. Quando o Chapéu se demorou um pouco, pôde ser ouvido o estalar de sua língua, impaciente. Finalmente, o Chapéu anunciou.


  - Grifinória!


  - Naian, Drigo! – um garoto de aparência mal-humorada andou lentamente até o banquinho, as mãos dentro do bolso das vestes, o cabelo castanho arrepiado com as pontas pintadas de loiro, e um pequeno brinco prateado na orelha direita, à qual, junto com o lado direito do rosto e boa parte do lado direito do tronco, estavam totalmente roxos. E ele não parecia nada feliz com isso. Menos feliz ainda quando o Chapéu anunciou:


  - Sonserina!


  - Natus, Seymour! – Slughorn chamou. Um garoto se destacou da multidão, e um silêncio foi descendo até cobrir todo o Salão Principal. Não era o fato de ele ser bem alto que o chamava atenção. Não era seu andar firme e tranqüilo nem seu ar superior, arrogante, de quem não está acreditando que tem de passar por aquilo. Eram sim, dois aspectos curiosos na sua aparência: veias salientes no rosto, que formavam uma intrincada tribal, e seu cabelo um pouco comprido, que era totalmente azul. Isso mesmo, azul.


  Brian não viu quando Seymour passou por ele. Mas naquele momento, quando ele se virou para sentar no banquinho, os olhos dos dois se cruzaram. Os olhos castanhos encararam os azuis gélidos, e Brian involuntariamente estremeceu. Instintivamente levou a mão até o ombro, aonde três leves saliências esbranquiçadas indicavam as cicatrizes daquela noite. Mas Brian teve um sentimento inexplicável de que aqueles cortes não eram apenas sinais de que dormira com gatos loucos. Por um instante, sentiu que era um aviso.


  E então, Seymour piscou e olhou para outro lado. Tudo não havia durado mais que alguns segundos, e, no entanto, Brian ainda tinha a mão sobre seu ombro. O Chapéu levou algum tempo, mas finalmente selecionou.


  - Corvinal! – Seymour fechou os olhos e assentiu, como se já esperasse por aquilo. Então, retirou o Chapéu, colocou-o delicadamente sobre o banquinho e andou até a mesa da Corvinal, que o aplaudiu educadamente, enquanto o resto do salão fazia silêncio. Slughorn pigarreou, tornando a chamar a atenção dos alunos.


  - Nyan, Kate! – uma menina que parecia estar brilhando por conta própria, saída do mundo da Barbie, andou saltitante até o banquinho. Na gola de suas vestes havia bordados em rosa, assim como em vários acessórios. Pena que fora atingida de frente pela tinta roxa. Todos os bordados e acessórios próximos ao coração estavam completamente roxos, até a extensão dos ombros e barriga. Ela sentou-se e cruzou as pernas, sem se importar com os cochichos e risadinhas, e deu um grande sorriso a todos.


  - Grifinória! – ainda sorrindo, ela colocou o Chapéu de volta no banquinho e saltitou até a mesa da Grifinória. Lorraine enfiou a mão na boca para abafar risadinhas, e uma menina de aparência rebelde da Lufa-lufa, a mesma que jogara algo pesado (porque o coitado do terceiranista ainda estava apagado) no garoto escandaloso da Grifinória, ria abertamente.


  - Omen, Beck – Slughorn chamou. Uma garota avançou até o banquinho, a cabeça baixa. Usava lápis e delineador e toda uma maquiagem pesada, os cabelos lisos e negros pareciam escorrer como cortinas pelo rosto, escondendo-o parcialmente. Tinha uma aura visivelmente depressiva, e se sentou ao banquinho, quase se arrastando até lá. Seu queixo, pescoço e torso estavam pintados de roxo, o que poderia explicar toda aquela depressão.


  - Corvinal! – o Chapéu anunciou. Então, Slughorn tornou a olhar o pergaminho, e quase deu um gritinho de animação. Contentou-se em sorrir, animado, na direção dos calouros, e chamar, a excitação podendo ser ouvida em sua voz.


  - Potter, Brian! – A algazarra no Salão começou imediatamente, as conversas explodiram pra todo canto, nem mesmo se controlavam para apenas sussurrar. A história de Harry, como contada por Hermione, pareceu surgir em todas as bocas, reverberar em todos os ouvidos, e uma atmosfera de excitação se tornou perceptível pairando no ar. McGonnagal precisou chamar a atenção de todos para que o barulho diminuísse, mas mesmo assim, zumbidos de conversas permaneceram.


  Brian, que se abaixara com sua irmã para se proteger da explosão, não estava tão pintado quanto os outros. Apenas parte das suas costas e a parte de trás do braço esquerdo estava pintada. Ao ouvir a algazarra que causara, virou-se para Lorraine, deu uma piscadela, e cumprimentou-a como fazia há mais de cinco anos, uma breve seqüência de toques com a mão. Então, com um ar confiante, andou até o banquinho, sob os olhares e cochichos de todos, que nem se preocupavam em disfarçar. Deu um breve aceno para os alunos, e então, subitamente, um gritinho pôde ser ouvido, imediatamente seguido de uma salva de palmas. Logo depois, todo o Salão o aplaudia, alguns quintanistas assoviavam. Apenas uma parte da Sonserina não o aplaudia. Dando um sorriso convencido, Brian sentou-se ao banquinho. O Chapéu foi colocado em sua cabeça, caindo-lhe até os olhos.


  - Ah! Um Potter! Há muitos anos não vejo um Potter. Seu pai foi particularmente difícil de classificar, sabe... Não quis ir pra onde eu o mandei. Vejo que você puxou muito dele. Tem coragem, bastante. Uma mente nada má. Uma vontade de se provar. Assim como ele, você pode ser grande. E ainda mantenho minha opinião. Acho que Sonserina poderia ajudá-lo a alcançar essa glória. – Brian deu de ombros, como se já esperasse por aquilo, e, ao contrário de seu pai, para ele não fizesse diferença. – Está tudo bem? Eu vejo... Então, que assim seja! Sonserina! – o Chapéu anunciou. Imediatamente as outras mesas fizeram silêncio, olhando abismadas. A mesa da Sonserina, no entanto, fazia um estardalhaço, gritando ‘Dessa vez ganhamos Potter!’ e olhando triunfalmente para a Grifinória, que aparentava estar extremamente chocada. Slughorn, então, não conseguia parar de sorrir. Afinal, o diamante da coleção estava em sua casa. Nem prestou atenção quando anunciou o próximo nome, depois de um Brian sorridente ter desaparecido sob os alunos da Sonserina.


  - Potter, Lorraine! – então olhou de novo para a lista, um pouco surpreso, e se lembrou de que Luna havia tido gêmeos. Reconhecera Brian imediatamente, porque se parecia com o pai, mas Lorraine, embora tivesse os traços do pai, tinha os cabelos da mãe, e ele não havia prestado atenção. As mesas entraram em um silêncio tenso. Todos sabiam, intimamente, que se outra Potter fosse para a Sonserina a rivalidade entre as casas se tornaria quase insuportável. Lorraine, pressentindo a tensão, parou a meio caminho do banquinho.


  - O que é isso? Porque só o bobão do meu irmão foi aplaudido de pé? Temos a mesma mãe e o mesmo pai, sabe? – ela riu. Os alunos começaram a rir também, um riso que cresceu até todos estarem gargalhando. Todos começaram a aplaudir, os alunos da Grifinória, zombeteiros, realmente ficaram de pé, muitos assoviando. O clima de tensão relaxou, todos se descontraíram. Fazendo reverências, Lorraine terminou seu caminho. Sentou-se, coçando o braço direito roxo, que era a única coisa atingida, afinal, quando se protegeram, Brian havia abraçado-a por cima, ficando mais atingido. Colocou o Chapéu na cabeça, e não viu mais nada quando este lhe caiu sobre os olhos.


  - Outra Potter! Vejo que você e seu irmão têm muito em comum, mas muitas diferenças também. E... – o Chapéu parou, ao perceber que Lorraine não estava dando a mínima, porque seu braço roxo não parava de coçar. Aborrecido, o Chapéu continuou. – E eu vejo que temos muitos alunos pintados aqui hoje, mas nenhum se preocupou tanto com isso quanto você...


  Lorraine paralisou. Engoliu em seco. Agora que o Chapéu havia mencionado, seria impossível não pensar no que Brian pediu para que não pensasse. Tentou empurrar a lembrança para o fundo da mente, concentrar-se em outra coisa. Mas não deu outra...


  - E... O quê? FORAM VOCÊS QUE PINTARAM TODOS OS ALUNOS DO PRIMEIRO ANO DE ROXO? – O Chapéu gritou, para o Salão todo ouvir. Todos olharam por dois segundos, em choque, e então caíram na gargalhada imediatamente. Lorraine levantou a aba do Chapéu um pouco, para que lhe saísse dos olhos.


  - Ferrou! – ela sorriu, olhando para Brian na mesa da Sonserina, que dava um tapa na testa, fechando os olhos e sacudindo a cabeça. McGonnagal, depois de sair do choque, respirou fundo, se acalmando, porque já podia prever que aquela não seria a última, e nem mesmo a pior, das travessuras que ainda estavam por vir. Então se levantou.


  - SILÊNCIO! – ela gritou, a varinha no pescoço, sua voz ecoando pelo Salão. Imediatamente todos fizeram um silêncio assustador. – Senhorita Potter, você e seu irmão irão me encontrar na minha sala após o jantar para resolvermos esse assunto. Por enquanto, devemos prosseguir com a seleção das casas. – ela decidiu. Lorraine deixou que a aba do Chapéu lhe cobrisse novamente os olhos.


  - Caham... – o Chapéu pigarreou, ainda aborrecido. – Vejamos. Também não tem uma mente má, e é teimosa, bem mais que seu irmão ou seu pai. Obviamente encrenqueira... Pavio curto, temperamental, posso ver. E uma coragem que não tem limites, um instinto de proteção enorme. Poderia se dar bem na Sonserina, é claro, mas... – ‘Não me venha com essa história de que eu poderia me dar bem na Sonserina! Brian já foi pra lá, você tem uma tara com a Sonserina? Você devia ser um Chapéu imparcial, sabe? Se me colocar na Sonserina, vai ter um Chapéu a menos nessa festa!’ Lorraine pensou firme, para que o Chapéu ouvisse claramente. Ele se aborreceu ainda mais. – Mas que ousadia! Deixe-me terminar primeiro! Tudo bem, então! Grifinória! – ele anunciou de uma vez.


  A mesa da Grifinória ficou parecendo a torcida da Inglaterra em final de Copa do Mundo, de tanto que pulavam e gritavam. Jogando o Chapéu por cima do ombro, que deu um grito indignado, ela correu até a mesa da Grifinória, um enorme sorriso estampado no rosto. Para zombar, os grifinórios berravam ‘Só metade!’ como resposta para a mesa da Sonserina, que olhavam aborrecidos e em silêncio. Lorraine desapareceu sob uma montanha de braços. Brian, no entanto, fez um sinal de ‘beleza’ com a mão, que Lorraine, quando conseguiu se sentar direito, respondeu, ambos sorrindo. Intimamente, eles sentiram uma pontada incômoda de ressentimento, ao perceberem que, pela primeira vez, passariam a maior parte do tempo separados, e pior, teriam que competir um contra o outro. Mas ora, ainda tinham os tempos livres pra ficarem juntos, e não precisavam ficar todo o tempo grudados. E, afinal de contas, eles já brigavam bastante mesmo. Com esse pensamento, ambos voltaram a prestar atenção na seleção, que já havia continuado, depois de Slughorn apanhar o Chapéu detrás do banquinho.


  - Reis, Sharon! – Slughorn chamara.


  - Cherry, me chame de Cherry! – uma caloura brigou, se afastando com classe até o banquinho. Tinha boa parte do lado esquerdo pintado de roxo, porque aparentemente estava discutindo com Drigo quando a bomba estourou. Era loura, com os cabelos compridos e cacheados, e os olhos claros. E, pelo visto, não gostava do seu nome.


  - Sonserina! – o Chapéu anunciou, e ela andou até sua mesa, sentando-se ao lado de Drigo, que ainda tinha a mesma expressão mal-humorada.


  - Reynolds, Trevor! – Slughorn chamou. Andando com o mesmo ar confiante de Brian, um moreno se adiantou, soprando um beijo para as calouras que ainda restavam. Os cabelos negros arrepiados, os olhos castanhos calorosos e o sorriso encantador conseguiram resultado imediato, apesar da mancha roxa no canto do rosto e no tórax. As garotas começaram a babar.


  - Ai, se ele fosse mais velho! – uma quartanista dizia para sua amiga na mesa da Lufa-lufa.


  - Que gracinha! – uma terceiranista da Grifinória corou.


  - Oh my Merlin! Valeu! Te devo uma! – uma segundanista da Sonserina falou, erguendo as mãos e olhando para cima.


  Virando-se para sentar no banquinho, ele deu uma piscadela para a sonserina antes de deixar o Chapéu cair sobre os olhos. Ela abriu um sorriso enorme e começou a cochichar com as amigas imediatamente. Para ele, aquilo não parecia ser uma novidade.


  - Sonserina! – o Chapéu anunciou, com uma voz de ‘vamos ter problemas com você’. A segundanista deu um gritinho, junto com várias outras colegas de casa, ao ver que ele iria para Sonserina. McGonnagal teve de pedir silêncio mais uma vez.


  - Rutherford, Jeremy! – Slughorn chamou. Um garoto negro, de olhos castanhos e ar animado, adiantou-se. Tinha uma marca roxa por todo o tronco, mas parecia não ligar a mínima. Sentou-se no banquinho, sorridente.


  - Grifinória! – o Chapéu anunciou. Ele foi até sua mesa, ainda sorrindo, e sentou-se, enquanto era aplaudido.


  - Schwartz, Kuro! – uma garota de traços orientais, mas olhos azuis, adiantou-se. Era muito bonita, os cabelos negros compridos e sedosos. Aparentemente com receio, sentou-se e aguardou.


  - Lufa-lufa! – sorrindo, ela foi sentar-se à sua mesa.


  - Sunray, Monica! – Slughorn chamou. Uma garota negra, com longas trancinhas caindo pelas costas, manchadas de roxo, sentou-se ao banquinho, o rosto bondoso. O Chapéu anunciou imediatamente.


  - Lufa-lufa!


  - Trent, John! – Slughorn chamou. Um menino calado, de olhar abatido e cabelos ruivos, andou rapidamente até o banquinho, como quem quer acabar com aquilo o mais rápido possível. Seu torso e pernas estavam pintados de roxo. Sentou-se, colocou o Chapéu na cabeça e esperou.


  - Corvinal! – O Chapéu anunciou. Mal acabara de falar, e o garoto tornou a colocá-lo no banquinho, andando rapidamente até a mesa da Corvinal.


  Brian olhou para a fila de calouros, ainda com fome, tentando avaliar quanto faltava. Não faltava muito agora, só mais três alunos, dentre eles Keytlin. Agora que quase todos já haviam sido selecionados, ela parecia muito nervosa. Estava muito vermelha, e ficava brincando com a gola de suas vestes. Brian notou que, por baixo da gravata, Keytlin estava usando o colar que lhe dera de presente. Sorrira com isso. Então, finalmente, só faltava ela pra ser selecionada.


  - Weasley, Keytlin! – Slughorn chamou, fazendo com que os alunos assentissem felizes, murmurando sobre seu pai, um dos melhores goleiros que a Irlanda já teve, e discutissem jogadas de Quadribol espetaculares. Os que não se interessavam por Quadribol também estavam felizes, antevendo o banquete.


  Ainda muito vermelha, ela começou a andar lentamente até o banquinho, olhando para o chão. Percebendo o que ela estava fazendo, Brian começou a torcer para que ela não caísse nem tropeçasse em nada. E, com um suspiro de alívio dos dois, Keytlin, permitindo-se sorrir, sentou-se no banquinho sem tropeçar nenhuma vez.


  - Ah! Outra Weasley. – o Chapéu começou. – Tem coragem, com certeza, toda sua família tem. E uma vontade de se provar, de mostrar do que é capaz. Mas acima de tudo, você tem um bom coração, é justa e leal aos amigos. Sei muito bem o que fazer com você. Lufa-lufa! – ele anunciou, e a mesa da Lufa-lufa aplaudiu animadamente.


  Keytlin, feliz e distraída, se encaminhou até a mesa da Lufa-lufa...


  E caiu.


  Alguns alunos começaram a dar risadinhas, especialmente os da Sonserina, mas Brian, Leonardo e Lorraine se levantaram ao mesmo tempo e foram ajudá-la, estatelada no chão. Ela estava muito vermelha, e agradeceu em um murmúrio.


  - Você tá legal? – Brian perguntou, erguendo-a.


  - Sim. – ela disse, sem encarar ninguém, após se levantar.


  - Tem certeza? Se estiver sentindo algo, é melhor ir para a enfermaria, porque lá eles vão te... – Leonardo começou.


  - Menos, Léozito! Ela já disse que tá bem! E se ela tiver sentindo algo ela já sabe que tem que ir à enfermaria, afinal, é uma enfermaria! – Lorraine interrompeu, achando aquele discurso uma chatice.


  - É LEONARDO! Não é Léozito! E eu só estou tentando ajudar! – ele se irritou. Mentalmente se criticou por ter se deixado irritar mais uma vez, mas não tinha jeito. Ela era irritante demais.


  - Eu te chamo do jeeeeeito que eu quiser, LÉOZITO! E você só tá enchendo lingüiça! – Os dois já haviam esquecido Keytlin por completo, deixando-a para Brian guiar a um lugar na mesa da Lufa-lufa.


  - Enchendo lingüiça? Eu estou dando INFORMAÇÕES, é importante ela saber o que fazer caso se machuque! – Leonardo disse, começando a falar mais alto.


  - VOCÊ É O SENHOR SABE-TUDO!


  - E VOCÊ, A SENHORA DAS CAUSAS PERDIDAS! – É, agora Leonardo decididamente gritava. Lorraine... Bem, Lorraine estava gritando desde o começo.


  - VOCÊ É QUE É O SENHOR DAS CAUSAS PERDIDAS E O SENHOR DO AJUDE OS FRACOS E OPRIMIDOS! – Leonardo abriu e fechou a boca várias vezes, frustrado. Era difícil responder a uma coisa que não fizera sentido. Lorraine, aproveitando-se do silêncio, tornara a abrir a boca, mas McGonnagal finalmente cansara.


  - BASTA! Potter, Potter e Malfoy! Para a minha sala imediatamente! – ela se levantou. Leonardo não conseguia acreditar.


  - Mas, professora...


  - Nada de mas! Senhorita Weasley, venha você também, vou levá-la até a enfermaria. – Keytlin, vermelha como um tomate, tornou a se levantar.


  - Valeu mesmo, Lorraine! Eu DISSE pra você ficar quieta, mas você TINHA que pensar naquilo bem naquela hora e...


  - Vocês três, sem mais um pio! – McGonnagal disse, fazendo Leonardo se indignar em silêncio, a boca aberta em resignação. Mas ele e os outros seguiram McGonnagal até as portas do Salão, em silêncio, sob os olhares dos outros alunos.


  - Sirvam-se! – McGonnagal fez um aceno com a varinha, e o banquete foi servido, recebendo exclamações de aprovação de todos.


  - Professora, será que a gente pode esperar um pouco, pra comer, é que to com fome, sabe? – Brian tentou, seu estômago roncando alto.


  - Vocês poderão comer depois que eu decidir o castigo de vocês. – McGonnagal avisou, seguindo implacável para as escadarias, os quatro junto. Subiram até o quinto andar, e viraram um corredor até as portas da enfermaria.


  - Acho que a gente se ferrou agora, Lô... – Brian sussurrou.


  - Não diga! – Lorraine cochichou de volta.


  - Isso é tudo culpa sua! – Leonardo cochichou para Lorraine, que ia responder, mas se interrompeu, porque McGonnagal falou.


  - Madame Pomfrey, com licença, poderia fazer a gentileza de examinar a senhorita Weasley? Ela tropeçou em algo e caiu.


  - Claro, claro, sente-se aqui, menina... – Madame Pomfrey apontou uma banquetinha. Keytlin se sentou.


  - Obrigada. – McGonnagal disse, puxando a porta da enfermaria com os três meninos. Eles então foram em silêncio até a gárgula que levava à diretoria. - Gaita de foles! – ela falou, apontando para a gárgula. Ela saltou para o lado, e uma escadaria em espiral começou a se mover. Os quatro subiram nela, e aguardaram até chegar ao topo. McGonnagal entrou, seguida pelos três.


  - Calma agora, Lô, só não fala besteira... – Brian cochichou, quase inaudivelmente.


  - Muito bem! Eu quero saber o que em nome de Merlin pôde ter causado toda aquela gritaria em pleno banquete de Seleção! – McGonnagal disse, a boca contraída numa linha fina, as narinas tremendo. Lorraine levantou a mão. Quase sem acreditar, McGonnagal disse – Sim, senhorita Potter?


  - Olha, tia Mini, foi tudo culpa desse sem noção aqui! – ela disse, apontando por cima do ombro para Leonardo, que abriu a boca em indignação. – Ele tem uma paranóia de...


  - Eu? Fui eu que comecei? – ele protestou.


  - É! – Lorraine desafiou, o encarando.


  - Vocês tem certeza... – McGonnagal começou, estreitando os olhos – que querem começar outra discussão? – ela os encarou firmemente.


  - Não, professora. – Leonardo respondeu, desviando os olhos. ‘Calma... ’ ele pensou. ‘Respira... Não se deixe irritar. Você pode passar por isso sem se estressar. ’ Leonardo tornou a se acalmar. Passaria por aquela detenção, ficaria em seu Salão Comunal a maior parte do tempo possível e ficaria bem longe daquela louca. Esse era o plano.


  - Muito bem. Como punição pela algazarra, senhor Malfoy e senhorita Potter, vocês terão que ajudar Hagrid com a preparação para as aulas desse primeiro trimestre. Podem se encontrar com ele amanhã em seu tempo livre e programar as aulas dessa semana, e assim farão em todos os fins de semana desse trimestre. – Leonardo assentiu, muito sério. Lorraine abriu a boca, como quem fosse reclamar, mas pensou melhor e assentiu também. – Tudo bem, senhor Malfoy, você pode ir. Você fica, senhorita Potter, você tem mais uma punição. – ela tornou a assentir.


  - Com licença, professora. – Leonardo pediu, saindo da sala. Enquanto andava pelos corredores até o Salão Principal, ia resmungando. – Ótimo! Essa maluca já me arrumou encrenca e o ano letivo mal começou, aliás, NEM começou! Preciso ficar longe dela. – Ele reafirmou, abrindo as portas do Salão e voltando à mesa, onde todos já se divertiam devorando um banquete.


  - E quanto à vocês, senhores Potter... – McGonnagal se virou para os dois. – Pintar uma turma inteira de calouros de roxo em dois minutos, e ainda de modo irreversível! Como puderam fazer uma coisa dessas!


  - Ah, tia Mini... – Lorraine começou.


  - Até que foi fácil... – Brian completou, sorrindo. Ela teve de se esforçar um pouco para não sorrir dessa vez. Eles lembravam em muito o avô e os outros gêmeos que já foram o terror daquela escola.


  - Foi uma travessura muito séria, meninos. As casas de vocês... – ela começou. Os dois imediatamente arregalaram os olhos.


  - Mas, tia Mini, quando estouramos a bomba, o ano letivo não tinha começado, então...  – Lorraine começou.


  - Então as casas não devem perder pontos, devem? – Brian terminou. Dessa vez, ela deixou um leve, bem leve, sorriso aparecer. Decididamente já vira aquilo antes.


  - Não, vocês tem razão. Mas ainda assim merecem uma detenção. Retirem a tinta dos alunos antes do fim do jantar, e sua detenção ficará reduzida a uma única missão especial.


  - Missão especial? – Lorraine perguntou.


  - Que missão especial? – Brian repetiu.


  - Creio que não tenham absolutamente nenhuma experiência com magia, visto que seus pais os criaram sem ensinar-lhes magia alguma. Então sua missão será manual, no estilo trouxa. Vocês deverão ajudar a montar a decoração pro Halloween, no fim de outubro. Durante esses dois meses, serão chamados para ajudar com os preparativos, e na última semana de outubro, ajudarão a arrumar tudo. Entendido?


  - Sim, professora! – os dois disseram, sorridentes. Até que não fora tão mal assim.


  - Então voltem para o Salão, tirem aquela mancha dos alunos, e podem comer. – ela os dispensou, saindo pela porta. Eles foram logo atrás. É, não fora tão mal assim.


 


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


Disclaimer: Harry Potter não me pertence. Novidade.


Disclaimer 2: Final Fantasy não me pertence. Outra novidade.


Disclaimer 3: Seymour e os Guado não me pertencem. Quantas novidades hoje...


 


N/A.: Yo! Finalmente T.T


N/N.: Hello! Também acho...


N/A.: Bom, como minha queridíssima irmã já lhes informou, eu tinha dito a ela que não postaria enquanto não atualizasse minha outra fic, Os Guardiões dos Elementos, que estava abandonada há dois anos. Então, umas semanas pra trás, finalmente atualizei! (*música de aleluia ao fundo*) E aí, não tinha mais desculpas... Tive de escrever xD Mas anyways, está aqui, bem grandinho, mas com muita enrolação, eu sei, mas é que é importante, esse é o capítulo introdutório... Pessoas importantes, pessoas secundárias e pessoas que não tem nada a ver foram introduzidas aqui xD


N/N.: Espero que gostem do capítulo! Tchau!


N/A.: Má vontade... u.u Ok, então, Já nee! ~*Aparatei*~


Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

  • Rayana

    Oi adorei a historia, esperando por mais. Ve se nao demora tanto pra atualuzar com o proximo capitulo.

    2011-09-18
  • Rayana

    Oi adorei a historia, esperando por mais. Ve se nao demora tanto pra atualuzar com o proximo capitulo.

    2011-09-18
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.