Verdade e Decisão



Apesar da escuridão, o desenho e cada traço de seu rosto eram visíveis. Sem me mexer, imóvel, petrificado – surpreso ao vê-la ali tão perigosamente perto – eu a contemplei durante alguns segundos na tentativa de receber alguma explicação. Rose piscou várias vezes, e tentou esbarrar um sorriso, mas tudo o que saiu foi um arquejo. Agora o fato de ter perdido a minha varinha não importava mais.

Ela finalmente abriu sua boca para falar, mas foi interrompida.

– ROSE! ROSE! Cadê essa menina? – as vozes estavam mais perto. Eu me levantei rapidamente e assustado. Rose segurou meu braço, como se assim pudesse se acalmar.

– São meus pais! – ela sussurrou desesperada, colocando o cabelo atrás da orelha e se mexendo inquieta no lugar. Eu só fiquei olhando para ela, com aflição.

– Eles estão procurando você, avise que está aqui.

E as vozes se aproximavam junto com seus respectivos donos. Rose me encarou, parecendo confusa, naquela expressão impaciente para saber se deveria ir ou ficar.

– Mas meu pai vai te matar...

– Eles vão achar que você sumiu, Rose!

Há dois metros, o sr. Weasley nos avistou e chamou sua mulher. Eles caminharam rapidamente até Rose. Não pareciam felizes. Prendi a respiração por um momento. Perguntei a Rose para que time eles estavam torcendo, e me decepcionei ao descobrir que era pela Dinamarca. Pobre Dinamarca...

– Ok, então. Me beije – eu ordenei, observando os pais delas se aproximarem cada vez mais.

– Quê? Não! Você quer morrer?

Eles estavam chegando.

– Em seus lábios, talvez, a dor tenha um aspecto imperceptível.

– Ora, ora, ora, ora... – a voz do sr. Weasley ecoou aquela parte da floresta. Ele olhava para mim, sorrindo sarcasticamente. Rosnou ao perguntar: – O que você estava fazendo com a minha filha? – Sem esperar resposta, puxou Rose para ele como se quisesse protegê-la do meu veneno. Depois me olhou novamente e disse com desprezo: – Cadê o seu pai? Fiquei sabendo que ele não pôde ver o resto do jogo.

– Ele teve alguns problemas – eu respondi. Nunca conversei diretamente com o pai de Rose e aquilo me assustou.

– Alguns?

– Pai... – interveio Rose zangada. – Scorpius só queria saber se eu podia emprestar um livro para ele.

A principio achei que aquilo o acalmaria, mas eu estava enganado. Pelo visto, Rose também. Ela ficou surpresa quando ele exclamou:

– Rosie! Desde quando é amigável com ele dessa maneira?

A sra. Weasley girou os olhos e cruzou os braços, mas ficou calada.

– Não se preocupe, senhor – apressei-me a dizer. – Se isso lhe servir de consolo, sua filha me odeia. Acho que se vocês não tivessem aparecido, eu morreria sufocado aqui.

O sr. Weasley bufou, enfatizando: – Eu não acredito nisso. Fique longe dela, ouviu? Não vai ser um garoto com esse rostinho que vai conseguir se aproveitar da minha Rosinha...

– Pai!

– Ronald, vamos embora – sugeriu a sra. Weasley.

O sr. Weasley se afastou reclamando. Rose fez um tchau indiscreto com a mão, enquanto olhava constantemente para trás, para mim. Quando eles desapareceram de vista dei um passo para frente, fazendo menção de sair dali. De repente ouvi um estrépito: tinha pisado numa varinha. Analisei-a nas mãos e meu sangue ferveu aliviado. Não esperei nem mais um segundo, e, com a varinha recuperada, aparatei de volta a mansão.

Eu não acreditava em destino, mas tinha certeza que só perdi a varinha para poder ter a chance de conseguir revê-la naquelas férias insuportáveis. Não tive tempo de apreciá-la como deveria, mas a imagem recente que tinha dela já era o suficiente.

Assim que pisei na mansão eu permaneci calmo e com a cabeça erguida enquanto ouvia atentamente aos berros da minha mãe. Ela gritava, acusando-me de falta de compaixão com o meu pai, dizendo que cada dia eu a decepcionava. Depois me abraçou forte, como toda mãe quando se preocupa com a demora do filho. Assim que tudo se acalmou, Astória anunciou que meu pai não estava nada bem.

A verdade era a seguinte: ele estava ficando cada vez mais velho, na dependência de álcool para conseguir tirar os problemas da cabeça. Ela finalmente me revelou que nós estávamos tendo uma crise, deixando-me zangado ao saber que eles haviam escondido isso de mim durante muitos anos. Mas assim que meu pai voltou a trabalhar as coisas melhoraram na parte financeira. No entanto pioraram para ele; os bruxos o ridicularizavam, alguns até o ameaçavam enquanto ele trabalhava. – Eu não quero que ele desista de tudo – dissera minha mãe – por causa das pessoas que não acreditam na mudança dele.

– Mãe... – eu me sentei ao lado dela no sofá. – Você acha que a culpa é sua, mas não é. Os únicos culpados são os outros que infernizam o coração do meu pai. Mas quem começou com isso foi ele. Eu diria, então, mãe, que a culpa é do passado. Agora está sofrendo.

– As coisas eram piores antes de você nascer – explicou minha mãe. – Lembro-me até hoje quando ele soube que eu estava grávida. Um brilho no olhar que eu jamais vi incrustados naquele par de olhos cinzas. Havia amor, compaixão, tudo o que um Malfoy raramente demonstrava ter. Ele sorria, sorria... sorria... imaginando o futuro de ser um pai... Todas as vezes que me via e todos os meses que minha barriga aumentava de tamanho ele a acariciava, desejando o nascimento, jurando que o amaria, que o tornaria invulnerável... que o transformaria no sangue-puro que essa família nunca teve.

Eu não conseguia pensar direito. Minha mãe chorando ao meu lado, naquela situação conhecida. Eu não parava de pensar em Rose, nela e nos seus pais. Eu sentia como se estivesse traindo minha família obtendo pensamentos constantes na filha dos Weasley, família pela qual meu avô durante muitos anos constatou o quanto era traidora, diferente da nossa. Mas pensar em Rose, desejá-la para mim, abominar os dias sem a presença dela... era algum sinal de traição? Pelo visto era.

– Mas o destino é caprichoso – a voz de Astória saiu muito alta. – E o que aconteceu a seguir o abalou tanto que aquele deve ter sido o pior dia da vida dele. – Ela assoou o nariz no pano que segurava. – A verdade é que você é, biologicamente, o nosso segundo filho. O primeiro, o que seria o primogênito, não teve seu tempo para vir ao mundo. Eu o perdi. Ele morreu... com cinco meses na minha barriga. – Minha mãe olhou para mim para analisar minha reação. Eu pisquei. – Seu pai estava passando por tantas coisas na época, e o que o animava era quando voltava para casa sabendo que eu e o bebê estaríamos esperando por ele. Mas quando o médico disse que não tinha chances...

Ela desabou no choro, como se essa fosse a resposta do que havia acontecido depois. Pulando do sofá, deu as costas para mim, envergonhada. Tentei dizer alguma coisa, mas eu estava surpreso demais para falar. Será que havia mais alguma coisa que eu deveria saber? O que mais eles poderiam esconder de mim?

– Scorpius, eu sinto muito.

Não pude deixar de rir ao ouvir aquilo. Eu estava inconformado.

– Eu vou embora. Não posso mais ficar aqui.

Minha mãe virou-se bruscamente, olhou-me com os olhos arregalados e vermelhos, assustados.

– Como assim? – ela perguntou rispidamente. Fiquei calado, e corri para o meu quarto. Ela me seguiu. – Não seja ridículo, Scorpius Malfoy – exclamou ao me ver arrumando as malas. – Você ainda é uma criança, praticamente. Não consegue se virar sozinho! Você não pode ir embora!

Arremessei a mala na cama.

– Você está cometendo um grande erro, filho – ela me disse. Eu dei de ombro.

– Quem se importa em cometer mais um?

– Vou chamar o seu pai. Ele não pode deixar isso acontecer.

Rindo, eu avisei que não ia adiantar nada. Quando ela voltou com meu pai no quarto, soltei mais uma gargalhada. Minha mãe apontou o dedo para mim e disse:

– Você está chorando. Veja, está chorando.

Sentia o sangue ferver dentro de mim. Eu estava ficando com raiva e disse com desprezo:

– Eu nunca choro.

Enquanto isso, Draco cruzou os braços.

– Eu duvido que consiga sobreviver um dia sem a mansão, sem mim.

– Não duvide.

– Então deixo-o ir, Astória. Nessa época da minha vida eu poderia ter fugido como você está fazendo – ele disse olhando para mim. – Continue arrumando as malas, pelo menos saberei que não está se aliando ao lorde das Trevas.

– O único lorde das Trevas aqui é você. Eu estou apenas fugindo dele.

Nem Dumbledore saberia o quanto me arrependi de ter dito aquilo. Nem mesmo eu tinha consciência de como estava arrependido assim que disse aquilo. Eu tentei reverter à situação, mas viver é escrever sem borracha. Desse modo, meu pai gritou: – Vá! E eu não vou aceitá-lo novamente! Se vire, Scorpius! O mundo vai cair contra você de qualquer maneira...

Olhei para minha mãe, que, no entanto, preferiu desviar o olhar. Ela sabia que não podia fazer mais nada. Estava tudo acabado. Se meu pai não tivesse demonstrado o quanto não me desejava naquela casa, eu teria ficado e a poupado da infelicidade e vergonha que ela teve de passar depois que eu aparatei do meu quarto e fui embora.

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N/A: HAHA, sinceramente esse capitulo não é feliz o_O pra onde, meu Deus, esse Scorpius pensa que vai?!

comentem, nao descriminem: ngm é perfeito; nem mesmo os personagens!

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Comentários (2)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    TADINHOOOOOOOOOOOOOO DO SCORPIUS :(((((((((((((((((((((((SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.*#MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI AQUI :) 

    2013-02-05
  • Lana Silva

    Nossa como as coisas evoluiram :/ coitado do Scorpius...Situação drastica essa. Amando a fic *-*

    2012-02-16
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