Weasley



“O olhar de quem odeia é mais penetrante que o olhar de quem ama”
(Leonardo Da Vinci)


Não sei por quanto tempo fiquei trancado no meu quarto. Não esperava que nenhuma resposta fosse revelada naquele momento, só queria não estar sentindo a dor que eu sentia.

Estive eu, durante todo esse tempo, cego da realidade ou apenas não queria acreditar que meu herói havia caído?

Meu pai não poderia ter sido assim.

Eu deveria encontrar algum jeito de me imobilizar contra isso. Eu estava desejando, aos doze anos, não sentir a dor da decepção. Não sentir absolutamente nada. A culpa era toda de meu pai, mas eu era uma criança que precisava de seu protetor naquela época. Eu precisava de meu pai, era inevitável culpá-lo.

Devia saber o quanto é fraco, Scorpius.

Sim, eu sei o quanto sou fraco. Pensara. E, de repente, sem motivo algum, sem nenhuma permissão, uma lembrança reatou das minhas memórias mais supérfluas como que quase sorrateiramente. Com minha fraqueza, deixei-a que vagasse nos meus pensamentos.

Eu descobri que minha história não havia começado onde eu tentava, de todas as maneiras, transformar-me num verdadeiro sangue-puro. A história havia começado quando eu estava no primeiro ano, quando eu a vi pela primeira vez.

É claro que já conhecia seu nome. Um nome que, ainda por muito tempo, trouxera-me danos, controvérsias entre meus desejos e minha racionalidade, um nome que devastava meus sonhos, inundava meus pesadelos. Um nome, acima de tudo, ridiculamente assustador.

– Então aqueles são os Weasley – dissera meu pai, em voz baixa, ao ver uma família de ruivos e morenos se revelarem da plataforma e se juntarem aos Potter.

Weasley.

Eles não eram desconhecidos. Nem de longe. Os Weasley e os Potter, os gloriosos heróis que salvara o mundo da guerra contra Lord Voldemort, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.

A garota que estava com as vestes novas de Hogwarts olhava para mim. Eu sabia que aqueles olhinhos, tão destrutíveis quanto seu nome foi para mim, estavam me observando. Porém, eu estava longe demais para pretender ver sua expressão. Seu pai lhe dizia alguma coisa, eu havia reparado nisso.

E ela olhava para mim. Todos eles olhavam para mim.

No momento em que meu pai acenara fracamente para as duas famílias, eu não dei atenção. Para mim, é claro que não fariam diferença na minha vida. E eu, legitimo sangue-puro, estava disposto a evitar traidores de sangues no meu caminho. Como meu pai dissera calorosamente segundos depois ao me deixar no expresso de Hogwarts:

– Seu avô jamais o perdoará se você for amigável com a neta de seu maior inimigo. Eu, de fato, não o perdoarei.

Ao meu lado, minha mãe me dera um breve abraço e dissera, sorrindo, baixinho só para que eu escutasse:

– Contanto que tenha amigos leais jamais o deserdaremos.

Leiais significava “sangue-puro” ou “bruxos como nós”.

Sabia perfeitamente que, mesmo sendo os maiores bruxos do mundo, os Weasley e os Potter não eram totais sangue puros.

Na realidade, não havia muitos iguais a mim no meu primeiro ano. Mas Travis Zabini, ao entrar para Sonserina, tornou-se meu melhor amigo. Havia uma garota que também estava na casa e, desde o momento em que a vi, senti desgosto pela sua presença. Não me preocupei encontrar vestígio de lealdade, embora, por sua família ser os Parkinson, eu tinha certeza de que era sangue puro de corpo e alma.

Mas não importa. Havia outra pessoa que eu não me preocupava em encontrar lealdade. Nem queria perder meu tempo com tal bobagem.

Ela era metida. Uma sabe-tudo. Ou pensa que sabe tudo.

– Seja como for, srta. Weasley, você ganhou dez pontos para a Grifinória por essa brilhante resposta – disse o professor Neville, na aula de herbologia.

À minha frente, Alvo Severo Potter sorriu para ela, sentada ao lado dele. Zabini, meu parceiro, fingiu felicidade batendo palmas forçadamente. Potter girou sua cabeça gigante para ele. A Weasley, no entanto, continuava ouvindo atenciosamente as explicações da professora, sem perceber que estava sendo caçoada. Poderia ser mais ingênua?

Ele não parecia capaz de ler pensamentos, mas quando pensei naquelas palavras, o olhar de Potter recaiu sobre mim enquanto eu ria com Zabini.

– Perdeu alguma coisa, Potter? – perguntei friamente. Ignorando-me, como se tivesse aprendido com a própria prima, voltou para frente.

No dia seguinte estava chovendo. Lembrava-me desse fato por dois motivos: naquele dia fomos cogitados a permanecer na biblioteca pela chuva, pelo vento, pelo trovão, que estavam violentos.

O segundo motivo, bem, eu explicarei.

Minhas opiniões nunca foram habituadas ao que penso. Naquele dia eu poderia não ter percebido, mas muita coisa mudara.

A biblioteca estava lotada, todas as mesas ocupadas e as estantes de livros praticamente quase vazias. Dos alunos do primeiro ao sétimo ano, eu fui justamente prender-me ao olhar dela.

Procurava um livro sobre cobras, artes das Trevas e poções, e fui pego de surpresa ao encontrar os olhos dela no outro lado da mesma estante. Bastou ela retribuir o olhar, sem dizer nada, que fui incapaz de desprezá-la. Com o perfil de uma inocência límpida e imperceptível, éramos apenas duas crianças sem objeto algum.

Reparei, que entre sua ligeira imagem, estavam dois livros. “O Sangue de uma Flor” e “A Imperceptível ira do Veneno”. Ignorei-os, quase que ironicamente, pois a curiosidade era mais forte que a razão, então voltei a olhar para ela.

Surpreso, ergui as sobrancelhas quando ela ainda olhava para mim com seus olhos azuis, o que impediu que eu quebrasse a pureza do silêncio que nos cercava. À medida que caminhávamos, os únicos momentos em que não a via era onde estavam os livros aglomerados uns do lado dos outros. Nos momentos raros e imperceptíveis que a via, eram quando havia uma breve abertura entre os livros.

– Rose!

Ao ouvir seu nome foi como se um balaço atingisse minha cabeça em cheio. Finalmente dei importância ao fato de quem ela era e me desloquei para um outro setor antes que visse algum de seus primos ali.

Assim que despertei dessa lembrança no meu quarto, meus pensamentos se calaram. Aquela vez foi a primeira e simplesmente a última vez que nos encaramos em silêncio.

Decidi, a mim mesmo, que, se eu havia encontrado algum inimigo em Hogwarts, esse inimigo era ela. A Weasley. Talvez seus primos, também, mas eles, eu sabia, não era um fator perigoso, um sinal de ameaça.

Pois ela era. Desprezava a mim tanto quanto eu a desprezava, mas a única diferença era que somente eu quem demonstrava de forma evidente. Até nisso ela se mostrava superior, ignorando e agindo com indiferença, ou apenas fingindo que minha presença era insignificante. Eu não podia esquecer quem eu era. E eu, de jeito algum, deixaria ela ser o fator da minha invulnerabilidade.

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Comentários (3)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.*#MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI AQUI :)

    2013-02-05
  • Lana Silva

    Awwww *-* Amei a lembrança também, poxa o capitulo foi maravilhoso mesmo *-----------------*

    2012-02-15
  • Keriane

    OMG!Adorei essa lembrança,eu imagino ela direitinha na minha cabeça. Você escreve super bem,devia ser escritora.Bjos*-*

    2011-09-06
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