Palavras





– Scorpius...

Eu não sabia por que meu sangue fervia toda vez que escutava a voz dela, mas tinha certeza que aquele sussurro um dia salvaria a minha vida. Abri os olhos rapidamente. Demorou um segundo para relembrar o que acontecera. A noite ainda estava iluminada pela luz da lua cheia, não alterara nada desde a última vez que olhei para a paisagem entre as árvores do jardim de Hogwarts e adormeci. Era impossível constatar por quanto tempo eu dormira. Sentada na grama de frente para mim, Rose disse ainda sussurrando em tom de alarme:

– Precisamos voltar para o castelo antes que percebam nossa falta.

Eu concordei, um pouco desnorteado. Estremeci só de lembrar que ela dormira abraçada comigo. Por tudo o que fiz para ela nessa vida, eu definitivamente não merecia a sensação que ela transmitia. Rose se levantou, mas eu continuei imóvel, sem me mexer.

– Tudo bem? – ela perguntou, percebendo a minha demora.

Devagar, fiquei de pé, esperando que ela começasse a andar. Mas ficou apenas contemplando o meu silêncio. Estava escuro, mas ainda era possível reparar que havia agonia em sua expressão. Eu dei um passo na direção dela e apenas o luar era testemunha da nossa aproximação. Mas ela não esperou que eu me aproximasse. Levou sua boca até a minha antecipadamente, demonstrando a coragem que ela sempre teve.

Minha única obrigação era mantê-la longe de seus medos. Parecia desafiar a própria razão a aceitar que aquilo estava realmente acontecendo. Aceitar que os braços delas estavam jogados ao redor do meu pescoço; que a cada roçar de lábios a sensação contribuía num ardente desejo de continuarmos sozinhos ali até o último momento que restava. Ela mesma queria aceitar que estava apaixonada, que havia adormecido em meus braços e que não queria perder mais tempo. A sintonia que existia entre a gente era tão surreal que dava falta de ar.

Não demorou e ela logo afastou os lábios e afogou o rosto contra o meu peito, arfando. Eu coloquei meus braços ao redor dela, e esperei até que ela recuperasse o fôlego. Um momento mais tarde, ela saiu do meu aperto gentilmente. Através da escuridão, eu observava a silhueta de seu rosto. Olhava para mim, agora com uma expressão que ainda não conseguia distinguir. E isso me intrigava.

– Você estava sonhando – ela comentou com a voz suave. Eu fiquei vermelho, afinal detestável que as pessoas me observassem enquanto eu dormia. Mas Rose não parecia estar caçoando. Ela parecia... fascinada. – E me apertava com força, de uma maneira que chegou a me assustar. Sei que não gostaria de saber disso, mas eu nunca me senti tão bem confortável, e preciso que você tenha consciência de como me faz sentir. Não é pouca coisa. – Percebeu que eu ainda estava calado, e suplicou com a voz rouca: – Por favor, diga alguma coisa. Às vezes não suporto o seu silêncio.

Na realidade, todas as coisas que eu deveria dizer a ela estavam presas na garganta. Eram tantas, eu não sabia por onde começar. Não tinha certeza se eram essas coisas que ela gostaria de ouvir, não tinha certeza se ela estava preparada para saber tudo o que eu sentia por ela. De qualquer maneira, eu mesmo não sabia dizer o que sentia. Era tudo diferente, estranho e aterrorizante. Sentimentos como o desejo e o amor eram difíceis de se adaptar a um sangue puro e frio como o meu.

– Não vai dizer nada, certo? – ela estava se controlando para não parecer chateada. – Nada?

Desviei meu olhar para o chão. Depois de todas as lutas perdidas que aceitei contra meus pensamentos para permitir que o sentimento se assentasse no meu coração, agora as memórias reatavam na minha mente e eu observei as conseqüências pela primeira vez depois de muito tempo. Eu sonhara com Rose afastando-se de seu pai para ir embora comigo. Eu vira o olhar do meu pai, de decepção e raiva, quando nos viu juntos. Eu não queria ser fraco, mas era isso o que o olhar dele indicara.

Devia saber o quanto é fraco, Scorpius.

A minha única fraqueza era o silêncio. Eu não conseguia dizer o que pensava. Devia entender que precisar de Rose na minha vida nunca seria sinal de fraqueza. Hesitei. Já dissera milhões de vezes que a odiava, que a achava detestável, que ela era insignificante. Por que estava sendo tão difícil admitir uma verdade agora, a verdade que ela devia conhecer?

Rose percebeu o meu esforço. Eu era orgulhoso, mas ela podia mudar isso. Aproximou-se de mim novamente e pousou uma mão no meu rosto, talvez para me incentivar. Meu coração acelerava dramaticamente. Os dedos delas se arrastaram na minha pele devagar e docemente, transmitindo a convicção de que necessitava ouvir aquelas palavras, fosse o que fosse. Sendo assim, de minha voz saíra nada mais além de um som sussurrante:

– Eu preciso de... você.

Rose expirou como se tivesse prendido a respiração por um longo tempo.

Agora explicar isso aos meus pais, eu não tinha a menor idéia de como fazê-lo.

***

Guardei a carta do meu pai no bolso e saí do corujal enquanto outros alunos entravam, acompanhados pelos seus amigos e comentando sobre o que fariam nas férias de verão. Corri até as masmorras, apressado. Acabei esbarrando em algumas pessoas, mas continuei caminhando. Quando entrei na sala comunal encontrei Alvo Severo com várias malas prontas ao seu lado. O rapaz carregava na mão a taça de Quadribol, a qual conquistou com orgulho no último jogo contra a Grifinória, e andava em direção ao fim da sala para ir embora.

Sem encará-lo, eu subi as escadas para o dormitório. Usei magia para guardar todas as roupas na mala, e depois sentei na cama para reler a carta que eu recebera naquela manhã: “É inaceitável a maneira como ignora minhas cartas, Hyperion. No mínimo, mandei trezentas cartas para você desde o terceiro ano, você jamais respondeu uma. Quero deixar claro que, mesmo daqui alguns meses completando a maioridade, você ainda precisará de mim para mantê-lo em custas. Não adianta ignorar-me, serei eternamente seu pai. É a única coisa que você não pode mudar.”

Peguei uma caixa de papelão sobre a minha cama. Nela, estavam as dezenas de cartas que meu pai escreveu. Eu li todas, respondi todas, mas nunca as enviei. Sem hesitar, eu coloquei a última carta no topo da pilha e fechei novamente a caixa. Saí do dormitório para ver se a sala estava vazia. Então, carregando a caixa nos braços, desci as escadas e sentei-me numa poltrona de frente a lareira já acesa.

Com a varinha fui jogando uma por uma nas chamas que cresciam conforme as cartas se transformavam em cinzas e carvão. Eu não as queria intactas, durante a noite embaixo da minha cama. Cada palavra que ele escrevera pareciam sussurrar em meu ouvido e isso me atormentara durante muitos anos. Mas agora não seria mais assim. Eu estava queimando todas elas.

Quando todas estavam acabadas, eu recolhi a caixa. Peguei minhas malas e assim fui embora da sala comunal com a cabeça mais aliviada. Havia uma aglomeração de alunos no saguão de entrada. Todo mundo animado para voltar para casa. Entre vários grupos eu encontrei Rose, sua prima e suas duas amigas conversando e rindo contentes. Rose acabou que me vendo sem querer, mas mesmo assim seu sorriso não se desfez. Disse alguma coisa as suas amigas e se afastou delas, atravessando o caminho para se aproximar. Ela olhou para trás duas vezes, certificar se ninguém estava reparando, então pegou meu braço indiscretamente e me levou atrás de um grande pilar.

– Eu queria poder ver esse sorriso todos os dias nas férias – eu admiti com a voz baixa. Ela deu uma risada e mordeu os lábios. – Tenho inveja de quem consegue.

– Mas é só você que consegue me fazer sorrir desse jeito – ela acusou, franzindo a testa como se tivesse descoberto aquilo naquele momento. – Se não há você, não há sorriso nenhum.

Outra exclusividade. Sorri com satisfação, fazendo esforço para não tocá-la. Zabini estava olhando para nós, ao lado de Beaumont.

– Promete que vai me escrever nesse verão? – ela perguntou, depois de um tempo em silêncio enquanto meu cérebro absorvia as palavras dela. – Nem que seja só para dizer que ainda está vivo.

Afirmei com a cabeça.

– E não importa se meus pais descobrirem que estou me correspondendo com você. Eles só não precisam saber dos detalhes. Agora... – ela parecia preocupada – a Lily está olhando, é melhor voltar. Tchau, Scorpius. Boas férias...

Ela se aproximou mais um pouco, mas depois parou no lugar, e bufou, zangada com o fato de que todo mundo poderia ver o que ela iria cometer.

– Não se preocupe – eu disse, para tranqüilizá-la. – Teremos tempo.

Para facilitar as coisas eu andei em direção às carruagens que começaram a aparecer. Entrei na primeira que avistei e sentei ao lado de Cornan, o artilheiro da Sonserina. Agora era só uma questão de tempo até avistar a plataforma.

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N/A: Continuando, né?!COMENTEM! obrigada :D

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Comentários (4)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.*#MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI AQUI :)ROSE E SCORPIUS: FOFO D+++++++++++++++++++... <3 

    2013-02-05
  • Lana Silva

    AWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW *-* que fofo!

    2012-02-16
  • Keriane

    Acompanhando...XD

    2011-09-06
  • Ana CR

    (; que lindo!!!!!

    2011-08-09
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