Volta às Aulas



Harrycliffe, Hemmaione e Runpert chegaram aos portões de ferro ladeados por pavões de mármore na entrada dos terrenos Hogwarner. A limusine rosa de Harrycliffe que estava sendo dirigida por Dobby produziu um pequeno ruído ao estacionar. O elfo desceu do carro em um pulo e correu para abrir a porta para seus passageiros.
– Agora, Dobby, leve a minha limusine para o meu estacionamento privativo lá perto da floresta. Depois leve as nossas malas lá para cima.
– Como Harrycliffe quiser, meu senhor – gemeu Dobby curvando-se e correndo de volta ao volante.
Os três caminharam para a escadaria de pedra que dava acesso aos portões de carvalho recoberto de fitinhas douradas da entrada do castelo. A maioria dos alunos já havia se acomodado nas mesas das casas no Grande Salão.
– Mas que di...? – Runpert se espantou ao entrar no Grande Salão com os amigos.
Era mais do que óbvio que grandes mudanças haviam ocorrido por ali. No lugar das milhares de velas que costumavam iluminar o aposento flutuando sobre as mesas estavam agora duas dúzias de lustres de ouro e cristal e os archotes foram substituídos por grandes estátuas de bronze em forma de mulheres nuas em posições inimagináveis. As três mesinhas de plástico que restaram do ano anterior haviam agora desaparecido; quatro longas mesas de prata maciça cuidadosamente decoradas com florais em alto-relevo agora se estendiam ao longo do Salão.
– Ah... – Hemmaione sorriu – Adorei o novo décor! Finalmente resolveram fazer uma reforma nessa escola. Aquele visual sou-uma-relíquia-bruxa-e-mereço-ser-preservada não estava com nada! Harrycliffe olhou surpreso à sua volta; se Hemmaione não tivesse feito o comentário talvez ele nunca tivesse percebido as mudanças.

– É, ficou legalzinho – concordou para não magoar a amiga.
Eles vão fazer alguma coisa. Eles vão fazer alguma coisa. Repetia Runpert mentalmente como se aquilo fosse um mantra. Os três amigos se juntaram aos colegas na mesa da Grifinória e quase instantaneamente Gambondore levantou da sua cadeira e deu passos violentos em direção ao púlpito de ouro de onde arrancou um microfone com brutalidade.

– Eu sei que vocês todos estão loucos para enfiar seus dentes podres em algum pedaço de carne mas antes, querendo ou não, vão ouvir alguns avisos que eu tenho para dar – Gambondore empurrou o ar com as duas mãos e as portas do Salão se fecharam com um estrondo – Em primeiro lugar, eu preciso dizer que o professor Severino Esneipe sumiu e...
Mas Gambondore não pôde prosseguir; uma onda de comemoração e gritos de alegria encheu o Salão repentinamente. Aquela decididamente não era uma má notícia. Pelo contrário, a grande maioria dos alunos esperava por algo parecido há muito tempo.
Gambondore porém não partilhava de tal excitação e reunindo todo o fôlego que conseguiu, berrou no microfone:
– SILÊNCIO, BANDO DE ANIMAIS NOJENTOS!
Como ninguém parecia disposto a obedecer, Gambondore sacou a varinha e explodiu uma das estátuas de bronze que se desintegrou em dezenas de pedaços – o maior deles caiu sobre um grupo de alunos do primeiro ano que aguardavam pela cerimônia da seleção, esmagando uma ou duas crianças contra o chão. Imediatamente o silêncio se fez.
Gambondore respirou fundo e ajeitou a sua toquinha, um presente que havia ganho de Jorge Aragão quando visitou o Brasil e que nunca havia tirado desde aquele dia nem para lavar.
– Assim está melhor! Como eu dizia, o professor Esneipe sumiu. A professora Ace...
– Minerva – corrigiu alguém de algum ponto do Salão.
– Que seja! A professora Minerva, contra a minha vontade, pois para mim tanto faz se vocês, porcos imundos, estão sendo instruídos ou não desde que eu receba meu maldito salário no fim do mês... Bem, ela me obrigou a contratar alguém para substituir Esneipe! Então, é sem prazer algum que eu lhes apresento a sua nova professora de poções, a senhora Leila Lopes!

Uma mulher se levantou da mesa dos professores. Usava um belo vestido vermelho de alcinhas finíssimas e luvas negras que iam até seus cotovelos. Um chapéu vermelho enfeitado com uma fita preta ocultava parte dos seus cabelos lisos e castanhos. Trazia no pescoço uma gargantilha de pérolas e por cima de uma das luvas uma pulseira do mesmo material. Leila Lopes sorriu; abriu os braços em um movimento amplo e se curvou na direção das mesas deixando seus fartos seios à mostra e sendo ovacionada como nenhum professor fora em toda história de Hogwarner.
– Já chega! – bradou Gambondore – Tenho mais um aviso para o pessoal da Grifinória e não pretendo falar mais de uma vez, portanto ouçam! Vocês irão receber três alunos novos que vieram do Equador e se mudaram para cá há pouco...
Gambondore fez silêncio por alguns segundos; a professora Minerva havia levantado discretamente de sua cadeira e andado até o púlpito, agora cochichava alguma coisa no ouvido do diretor.
– Uma pequena correção, os alunos vieram do Brasil. Mas que diabo, como se isso fizesse alguma diferença, esses países miseráveis de terceiro mundo são todos iguais! Os três vieram do Instituto de Macumba e Catimbó de Itaquera e vão fazer uma pequena apresentação para vocês. DJ, lasca! – ordenou Gambondore apontando o indicador para um aluno da Lufa-Lufa.
O garoto conjurou uma caixa de som de quatro metros de altura e a voz de Carmen Miranda cantando “O Que é Que a Baiana Tem?” ecoou pelo Salão. As portas se abriram novamente e três garotos visivelmente constrangidos entraram dançando. Lissa vestida de baiana de acarajé e equilibrando um tabuleiro cheio de cocadas fazia movimentos circulares cada vez mais rápidos enquanto Ademilton e Pedro faziam malabarismos com sombrinha de frevo.

Os alunos estavam reunidos para o café da manhã. Desde a patética apresentação da noite anterior ninguém parecia interessado na companhia dos três novatos. Até mesmo os nerds esquisitos e as gordas fracassadas procuravam sentar o mais longe possível do trio. O único que parecia ansioso para fazer contato com eles era Runpert, que logo foi impedido por Hemmaione que o agarrou pela gravata quando este tentou levantar do banco.
– Está louco? – perguntou ela – Não ouviu Gambondore dizer que eles vieram do Brasil? Você pode pegar alguma doença, Rup!
Meia hora depois, professora Minerva apareceu distribuindo os novos horários para todos. A primeira aula da Grifinória seria dali a dez minutos com a professora Leila Lopes. Estranhamente, apesar daquele aviso de última hora nenhum aluno se atrasou para a aula de poções.
Acomodados em suas carteiras, os grifinorianos aguardavam ansiosamente pelo início da primeira aula daquele ano. Leila Lopes estava sentada atrás de sua escrivaninha e observava todos com certa afeição no olhar. Usava a mesma roupa da noite anterior. O sinal que indicava o início da aula tocou e a bruxa levantou e começou a falar.
– Bom dia, meus queridos – saudou com uma voz doce e ao mesmo tempo firme – O sinal – apontou com o indicador para o ar – É bom que todos nós saibamos aguardar o momento certo para agir. Muitas vezes não é bom apressar as coisas.
Leila Lopes abafou um risinho com as pontas dos dedos, seu olhar percorrendo a sala enquanto todos os olhos estavam fixos nela.
– Então, queridos, como vocês já devem saber, eu substituirei o professor Severino Esneipe este ano. Ficarei aqui até o dia dezenóuve de dezêimbro! Assim como vocês, eu estou profundamente triste com o sumiço de Severino. Eu o conheci, nós éramos amigos.
Todos pareciam surpresos com aquela revelação, uma garota da primeira fila deixou escapar uma exclamação de espanto.
– Oh, sim. Amigos íntimos – Leila fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás – Bem íntimos.

– Professora – chamou Hemmaione, que adorava uma fofoca – Conte para nós como a senhora conheceu o professor Esneipe!
Leila Lopes abriu os olhos e riu com vontade – um riso lânguido, carregado de erotismo.
– Não sei se devo – disse mordendo os lábios – Tudo bem, esta é uma história interessante!
Todos os alunos se esticavam o máximo que conseguiam para ter uma melhor visão da professora, o silêncio tomava conta da sala. Leila Lopes levou o dedo médio à boca e mordeu a ponta da luva; lentamente a tirou do braço usando apenas os dentes e a atirou por cima da cabeça fazendo-a cair sobre sua escrivaninha. Repetiu o processo com a outra luva e pôs as duas mãos na cintura.
– Há muitos anos Severino era meu professor aqui em Hogwarner, meu amigo querido. Hoje meu amigo querido, não mais professor. Quando eu concluí meus estudos e voltei ao meu país, o Brasil... Oh, sim, por que como os seus novos colegas – ela apontou para Lissa, Ademilton e Pedro no fundo da sala – eu também sou brasileira. E Severino estava passando as suas férias no Brasil aquele ano. Assim que eu soube, o convidei para ir até a minha casa. E foi então que Severino me confessou que nunca aprendera a voar de vassoura antes. Ora, eu que sempre fui uma mulher que sabe segurar no cabo, ofereci algumas aulas particulares!
– E como foram essas aulas? – perguntou Harrycliffe com entusiasmo.
– Uma tarde de domingo, linda, maravilhosa, um sol belo, azul, dezessete horas. Eu... ham... ao contrário do que os homens pensam, eu vôo muito bem... e no céu não havia movimento, e era incrível, era domingo, era para estar lotado de vassouras voltando da praia... era verão. Eu vinha muito feliz, eu estava indo muito feliz ensinar o Severino a voar de vassoura. Foi quando tudo começou a girar, girar, girar, girar e eu disse “Severino, segura! Nós vamos bater!”.
– Ohhh! – fizeram todos.
– Foi um dos momentos mais tensos de minha vida. Nós podíamos ter morrido, sabem?
– Mas como vocês se salvaram? – sussurrou Harrycliffe nervoso.

– Oh, meu querido. Nada mais me lembro. Nada... mais... me lembro. É sensação de rodar, rodar, rodar... ham... sem saber exatamente para onde estava indo, como se eu já estivesse no céu... totalmente. E eu literalmente já estava no céu. Eu não sabia o que estava acontecendo, por que não sabia como começou a acontecer. Mas de repente – Leila tirou seu chapéu e o atirou para trás – quando eu menos esperava – soltou os cabelos – Severino dominou completamente aquela vassoura – passou as duas mãos pelos cabelos assanhando-os – e nós dois penetramos juntos naquelas nuvens amarelas! E desde aquele dia eu passei a confiar totalmente em Severino Esneipe. Inclusive, eu costumo dizer que a minha vida é uma antes de Severino... e outra pós-Severino.
– Adoro finais felizes – gemeu Hemmaione.
– Vamos voltar à nossa aula agora, queridos. Quero fazer um pequeno teste para ter noção do que vocês já aprenderam até agora. Nada contra os burros, acho ótimo – acrescentou percebendo o desapontamento de Neville.


No final do dia, Runpert e Hemmaione foram guardar seus materiais no corredor dos armários. Esta era outra mudança ocorrida na escola, agora todos os alunos tinham seu próprio armário no estilo High School americano para colocar livros, penas, varinhas ou o que quer que fosse.
– E aí, Rup? Vamos a Newyorksmead amanhã fazer umas com...?
A voz de Hemmaione foi abafada pelo som de Promiscuous Girl que ecoou pelo castelo. Hemmaione olhou para trás irritada e quase desmaiou com a cena que viu.
Andando em câmera lenta, três garotas se aproximavam de Rupert; a líder do grupo era uma loira que usava o uniforme com cinco botões abertos e uma saia que era no mínimo duas vezes menor do que o normal.
– Oi, gato, eu sou a Lilá – falou decidida para Runpert ignorando completamente a presença de Hemmaione.
– O... o... oi, oi! Eu so... sou o Run... Runpert!
– Eu sei quem você é – disse Lilá jogando seus cabelos ao vento – Você pode me emprestar um lápis?

– Cla... claro! – Runpert abriu seu armário e tirou um lápis que entregou para Lilá.
– Oh, minha nossa! Ele é tão grande e roliço! Acho que eu nem vou conseguir encaixá-lo no meu apontador tão apertadinho e pequeno.
Runpert parecia um tomate de tão vermelho enquanto Hemmaione estava mais para uma berinjela, suas sobrancelhas se mexiam mais rápido do que nunca.
– Oi, eu sou Hemmaione – falou depressa e asperamente se posicionando entre os dois.
– Jura? Que bom pra você – Lilá descreveu um círculo em torno de Hemmaione e foi parar ao lado de Runpert – Então, Runpert, nos vemos por aí! Opa! O lápis caiu – Lilá se abaixou para pegar o lápis e o último botão de seu uniforme apertado rompeu – Isso é que dá não colocarem bolsos nos nossos uniformes, não temos onde guardar nossas coisas e terminamos derrubando tudo por aí. Pelo menos agora eu tenho um lugar para guardar esse seu lápis enorme – Lilá piscou um olho para Runpert e espremeu o lápis entre seus seios, estalou os dedos e foi embora seguida pelas suas duas amigas, ainda ao dom de Promiscuous Girl.
Hemmaione parecia prestes a explodir e Rupert estava mais vermelho do que nunca em sua vida.
– Que menina mais vulgar, não acha, Rup?
– É, acho que vão servir torradas no café sim – respondeu sem conseguir tirar os olhos da bunda de Lilá.
– Isso não vai ficar assim, não vai mesmo! Esse é o meu...
– Oi? O que você disse, Hemmaione?
– Nada – respondeu seca.
Hemmaione foi embora correndo pelo corredor, mas não sem antes lançar um feitiço que amarrou os cadarços do All Star de Runpert, que caiu no primeiro passo que deu.

Meia hora mais tarde Harrycliffe, Hemmaione e Runpert se encontraram em frente à entrada do Salão Comunal da Grifinória.
– E aí, Harrycliffe, como foram as aulas do clube de pólo aquático? – quis saber Hemmaione.
– Normal. Um monte de homens musculosos e depilados usando sungas mínimas e se agarrando por causa de uma bola. Ah, a propósito, vai ter uma festa na piscina amanhã e estão todos convidados.

– Que bom... – Hemmaione olhou para um canto e viu os três alunos novos espremidos atrás de uma pilastra, pareciam estar vigiando alguma coisa – Você vai chamar eles também? – perguntou indicando os brasileiros com a cabeça.
– Tenho que chamar. Por mais estranhos que eles sejam, ainda são alunos. Além do mais, Gambondore me disse que se eu não os chamasse ele seria obrigado a demonstrar mais uma vez o quanto se preocupa comigo.
– Eu os acho legais – Runpert se intrometeu – Não entendo essa implicância com eles!
– Eu sei muito bem o tipinho de gente que você considera legal, Rupert! – disse Hemmaione entre os dentes.
– Mas hein? Do que você está falando?
– De uma va... – mas Hemmaione foi mais uma vez interrompida pelo som de Promiscuous Girl – Meu Merlin! Eu não acredito!
Lilá vinha andando em câmera lenta na direção de Runpert e desta vez estava sozinha.
– Oi de novo, Runpert.
– Oi!
– Você já está sabendo da festa que vai rolar amanhã na piscina?
– É, estou sim, você vai?
– Claro, bobinho. Adoro ficar toda molhadinha.
Harrycliffe e Runpert ficaram de queixo caído enquanto Lilá dizia a senha para Pamela Anderson (insinuação) e passava pela abertura na parede. Hemmaione ia bufando logo atrás, mas parou no meio do caminho ao perceber que os garotos não a seguiam.
– Como é? Vocês vêm ou não?
– Não. Quer dizer, sim! Quer dizer...
– É que precisamos ir ao banheiro antes, Maione – disse Harrycliffe e os dois saíram correndo.
– Essa é das minhas – riu Pamela Anderson quando Hemmaione entrou na sala e o retrato voltou à posição original.

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