A Nova Casa do Fanlipwa



O que aconteceu? Vocês disseram, no ano passado, que tudo voltaria ao normal, fizeram toda aquela encenação, jogaram um feitiço no Harrycliffe e na Hemmaione, falaram que a escola estava protegida e tudo mais! De fato tudo parecia normal durante as férias, mas na véspera do nosso regresso a Hogwarner, eu recebi este bilhete que estou enviando para vocês junto com a minha carta. Vocês têm que fazer algo imediatamente, por favor, entrem em contato comigo o mais rápido possível!

Ass.: Runpert

Carol concluiu a leitura da carta e abriu novamente o envelope em que ela havia chegado, de onde tirou nervosa uma segunda folha de papel. Esta era rosa choque e perfumada, escrita com grandes letras douradas.


Runpert, miguxo amado, como vai você? Eu e a Hemmaione passamos essa última semana em Paris! Ela já renovou todo o guarda-roupa, nunca a vi tão empolgada assim. Ah! Lançaram uma nova linha de make-up que é um arraso, estou comprando tudo que vejo pela frente. É isso, migo, espero que você esteja bem. Nos vemos em Hogwarner!

P.S.: Hemmaione está mandando muitos beijinhos com gloss pra você!

Quando a última palavra do bilhete foi pronunciada, a sala mergulhou em um silêncio absoluto que durou por longos minutos. Onze dos integrantes da FANLIPWA se entreolhavam, mas ninguém parecia ter coragem de dizer alguma coisa. Na verdade, nem mesmo sabiam o que deveriam falar. Como a magia protetora poderia ter simplesmente evaporado de uma hora pra outra? Como a Warner se apoderara novamente de tudo?
– Alguém pode me dizer – murmurou Carol lentamente, quebrando o silêncio – como é possível que isso tenha acontecido? Quero dizer, nós fizemos tudo direito, certo?
Não houve resposta.
– Certo? – repetiu Carol procurando por apoio.
– Talvez o ritual de transfusão de magia de Mãe Dinah tenha falhado – sugeriu Pedro.
– Não – falou Teté decidida – Não pode ter sido isso, a carta diz que tudo estava normal até pouco tempo. Mãe Dinah falou que uma vez que a transfusão tenha sido feita, não há meios para revertê-la, nossos poderes durarão para sempre. Nossos feitiços não perderam as forças sozinhos, eles foram derrotados por algo mais poderoso.
Sim, disso ele sabia muito bem. Só não queria acreditar. Mãe Dinah, a famosa vidente, meses atrás havia transferido um pouco de sua magia para cada um dos integrantes do FANLIPWA. “Um trabalho limpo e rápido”, disse ela, “sem falhas, sem arrependimentos e sem retorno”. Conheciam as regras – todos eles – e ainda assim aceitaram passar pelo ritual da transfusão. Foi uma tarde exaustiva para Mãe Dinah, que no final do dia anunciou animada que a transfusão havia sido um sucesso e que eles estavam prontos para testar seus novos poderes.
E assim o fizeram. Dia após dia treinaram até não poder mais; até acharem que estavam prontos para lutar...
Pandora olhava fixamente para algum ponto entre as pessoas à sua frente e a parede, ainda estava absorvendo aquelas informações. Embora uma ou duas vezes o seu rosto tenha se iluminado com o que pareceu uma súbita compreensão de todos os mistérios que pairavam sobre a sala aquela noite, continuava sem pronunciar uma palavra.
– Então, meu povo, o que está acontecendo afinal? – perguntou Valdirene.
A pergunta surtiu o efeito de uma bomba, e todos os presentes começaram a falar quase que ao mesmo tempo.
– Acho que não temos como descobrir agora – Érika se entristeceu.
– Mas deve haver sim um modo de descobrir – falou Lídia convencida.
– Sim, Lídia, e nós vamos descobrir – Yana tentou animar a amiga.
– É isso aí! – disse Krika sacudindo os punhos fechados no ar.
– Afinal, nós somos o FANLIPWA! – gritou Teté.
– É! – todos fizeram coro.
– Juntos nós podemos tudo! – gritou Lalá.
– É! – responderam todos mais uma vez.
– Bem, quase tudo, né? – perguntou Valdirene com irritação na voz.
– Como assim? Não entendi – disse Krika.
– Ah, nada demais. Eu só estava me perguntando se nós, os super-poderosos, já conseguimos juntar o dinheiro que precisávamos para pagar as nossas contas do mês.
Repentinamente, todos seguiram o exemplo de Pandora e começaram a contemplar as paredes. Novamente a sala mergulhou em total silêncio, mas desta vez não durou muito tempo, sendo quebrado pelo barulho de um gigantesco ábaco de madeira conjurado por Valdirene batendo sobre a mesa.
– Pelos meus cálculos – Valdirene começou a trabalhar com as bolinhas do ábaco – já estamos devendo pelo menos o dobro do que conseguimos produzir em um mês. É claro que se todos nós trabalhássemos não estaríamos nesta situação, mas como a maioria aqui ainda é menor de idade, o jeito é economizar. E parece que isto nós não estamos conseguindo fazer muito bem!
– Ai, mas que fim de carreira – murmurou Yana largando seu peso sobre as costas da cadeira.
– Eu não fazia idéia de que estávamos assim – lamentou Krika – Como chegamos a este ponto?
– Eu sei – comentou Lídia mais para si mesma do que para os outros.
– Sabe? – perguntaram todos ao mesmo tempo, e Lidia se assustou.
– É... Bem, pode não parecer mas a Val não é a única que tem se preocupado com as nossas contas. Eu fiz uma planilha com todos os nossos gastos deste último mês. Sabem o que eu descobri?
Todos a fitavam com visível interesse. Lídia acenou com a varinha para a estante próxima à mesa e um classificador preto saiu flutuando de lá, indo pousar entre as mãos da garota. Ela remexeu nos papéis por um instante e depois retirou cuidadosamente uma folha que foi passada de mão em mão. Na folha estava estampado um gráfico multicolorido que representava os gastos de uma pessoa ao longo dos dias. No alto da folha, um nome. Ademilton.
– Adê?! – exclamou Érika.
– Uhum, ele está conseguindo gastar mais do que todos nós juntos. Podem confirmar se quiserem – e empurrou o classificador mais à frente, porém ninguém sentiu necessidade de confirmar coisa alguma.
– Por falar nisso, onde está ele?
Na mesma hora, todos ouviram a porta da frente bater com violência.
– Lissa, eu ainda não consigo acreditar que você não comprou o leite de cabra senegalês que eu mandei!
– Mas, senhor Ademilton, no Senegal não existem cabras!
– Isso não é desculpa! É má vontade! Quando você implorou de joelhos para vir conosco para Londres, jurou que faria qualquer coisa por nós! E agora, fica colocando empecilhos em tudo e... – Ademilton emudeceu ao perceber que todos ao redor da mesa assistiam perplexos à cena.
Os joelhos de Lissa tremiam sob o peso das dezenas de sacolas que fora obrigada a carregar por seis quadras sem parar nem por um minuto.
– Oi, gente! Perdi alguma coisa?
– Imagina – sorriu Valdirene estalando os dedos e fazendo o ábaco desaparecer.
– Hum. Certo. Eu vou na cozinha comer alguma coisa, estou morrendo de fome. Lissa, leva minhas coisas lá pra cima e depois volta e prepara um lanche pra mim. Já vi que vou ter que me virar com leite de vaca mesmo. E vê se não demora!
– Ele está me deixando louca – choramingou Lissa se arrastando escada acima.
– Então, voltemos às contas! Eu acho que todos nós deveríamos falar com o Adê sobre... – mas a voz de Lídia foi abafada pelo grito que veio da cozinha.
– Não pode ser verdade! A minha Geléia Real produzida pelas abelhas da Nova Zelândia do Sul acabou!
– Gente, vamos combinar que este não é o melhor momento pra falar com o Adê sobre contas, o máximo que vamos conseguir é sermos atingidos por uma maldição. O que acham de começarmos a bolar um plano para Hogwarner? – sugeriu Carol.
Mas ninguém sabia ainda o que fazer, e pela terceira vez o silêncio tomou conta da sala. Após algum tempo, uma coruja cinza entrou voando pela sala carregando um jornal trouxa com as patas e largando-o sobre a mesa. Pandora, que brincava de enrolar os cabelos na varinha, arrastou o jornal para perto e começando a ler. Chegando na terceira página, seu susto foi tão grande que a varinha soltou fagulhas que deixaram seus cabelos roxos.
– Algum problema?
– Vejam isso! – disse fazendo o jornal escorregar pela mesa até Carol, que o pegou e leu para todos.


Foi liberada hoje pela Warner a lista dos nomes que irão formar a equipe técnica que conduzirá o novo filme de Harrycliffe. A direção ficou a cargo de Joel Schumacher – famoso pelos filmes Batman Eternamente, Batman e Robin, O Fantasma da Ópera e Luxo e Fantasia no País das Purpurinas Brilhosas. A trilha sonora do filme está sendo criada por três grandes nomes da música: Kenny G, Whitney Houston e Celine Dion, e o roteiro continua nas mãos de Steve Kloves. Leia agora a declaração do diretor sobre o novo desafio: “Eu espero fazer um filme mais intenso que os anteriores, colocar também um pouco mais de vida e beleza em Hogwarner e, porque não, deixar tudo mais bonito com mais cores e algumas plumas, sim, porque eu quero um filme barroco e purpurinado, meu amor! HAHAHAHAHA!"


– Digam que não é verdade – Yana se abanava com as mãos.
– Precisamos fazer alguma coisa! – Érika parecia chocada.
– Temos que voltar, é o único jeito – falou Teté.
– Você está louca? – perguntou Carol – Malmente temos um trocado para o ônibus. De quem foi a idéia de alugar aquela carruagem com os unicórnios prateados na viagem para cá? Aquele exagero custou um rim!
– Do Ademilton, claro – respondeu Lídia – Ele achou que não chegaríamos rápido o bastante se viéssemos de navio.
– Teria saído muito mais barato se viéssemos de navio – comentou Pandora estudando seu novo visual num espelho de mão – E talvez ainda sobrasse um dinheirinho para a TV a cabo, acho que os vizinhos já estão desconfiando da nossa gambiarra!
– Não estávamos preparados para mudar ainda – disse Yana triste – O custo de vida aqui em Londres não é exatamente o que se possa chamar de barato.
– Não, mas era uma maneira de ficarmos próximos do castelo caso acontecesse alguma coisa e precisássemos voltar – explicou Pedro – O que, aliás, está acontecendo neste exato momento. O problema é que nós deveríamos ter bolado um plano antes da viagem.
– Pois o faremos agora! – exclamou Valdirene animada.
– Não temos tempo para isso – falou Krika – Precisamos agir depressa. Precisamos de uma solução rápida e fácil de se pôr em prática!
– Querem saber mesmo do que precisamos? – perguntou Pandora deixando o espelhinho de lado.
Todos a olharam esperando por uma explicação. Ela sorria e parecia estar prestes a dizer em que pensara durante toda a reunião.
– Bom – começou Pandora tomando fôlego – Sejamos realistas, não fazemos a mínima idéia do que esteja causando tudo isto, então precisamos investigar de perto.
Todos concordaram em silêncio e ela continuou.
– Então... A minha proposta é a seguinte: enviamos duas pessoas para o castelo e elas ficam vigiando tudo de perto e nos enviando notícias semanais. Quando conseguirmos coletar informações que realmente nos ajudem, atacamos!
– Ah, claro – zombou Valdirene – Realmente, vai ser muito simples mantermos dois espiões durante um ano inteiro dentro do castelo sem que eles sejam notados!
– Mas eles não vão precisar se esconder.
– Como não?
– Para os outros, eles serão alunos estrangeiros. Diremos que a escola de magia brasileira faliu, não vai ser muito difícil fazer o Gambondore acreditar nisso.
– Interessante – disse a outra sorrindo – E você tem alguém em mente?
– Lissa! – gritou uma voz ao longe – Onde está você?! Pegue o cartão de crédito e vá agora mesmo ao mercado comprar a minha geléia!
Pandora simplesmente sorria.
– Você não está pensando...
– Estou sim. É matar dois coelhos de uma cajadada só.







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