Encontro em Londres



O relógio da torre já marcava onze da noite quando um forte estalo ecoou na fria noite de uma rua de Londres. Onde antes nada havia, uma mulher de cabelos pretos e armados usando uma capa de veludo se materializou. Ela ficou parada por alguns segundos, parecia estar tentando identificar o lugar onde aparatara. Deu um longo suspiro e começou a caminhar pela rua deserta.
– Não acredito que tive que interromper meu chá com Bia Falcão para vir até aqui – murmurou irritada Bellatrix Lestrange enquanto caminhava – É bom ele ter uma boa razão para me fazer interromper essa reunião importantíssima! Se eu perder o cargo de editora chefa da revista Rostos eu nem sei o que fazer...
Ela continuou andando até parar em frente a um prédio antigo. Ele era muito bem conservado e sua fachada de mármore era exageradamente adornada.
– Não é possível que o Lord tenha se mudado pra esse circo – Bellatrix pegou a bolsa e começou a revirá-la a procura de algo – Achei! – exclamou pegando um papelzinho lilás e lendo em voz alta – Rua do Flamboyant, Ed. Cauda do Pavão n° 24. Meu Merlin, é aqui mesmo!
A bruxa soltou um gemido estranho e subiu os degraus de pedra que levavam à entrada. Tocou a campainha. De dentro do prédio veio o som de uma gargalhada seguido de vozes bastante familiares.
–... pois é! E olha que eu ainda nem falei nada dos sapatos que ela estava usando e das... – Bryan congelou ao ver Bellatrix parada à porta. Seus olhos brilhavam de cólera.
– Você! – gritaram os dois ao mesmo tempo.
– Eu vim porque o Lord me mandou uma mensagem urgente – disse Bellatrix num tom de quem encerra um diálogo. Mas Bryan não se intimidou.
– E você, onde estava? Catando lixo na rua? Sim, querida, porque com esses farrapos pendurados em você, é o que está parecendo. E os seus cabelos! Você já deve ter dado cabo do seu cabeleireiro, né? Minha filha, realiza! Você, criatura, é um atentado à estética! – Olha aqui, seu... sua... coisa! – Bellatrix empunhou a varinha – Eu já aturei demais as suas gracinhas, agora chega! Avada Keda...aaaaiii!
A mão de Bellatrix parecia ter sido entortada por algo invisível e a varinha caiu no chão.
– Bella! Bryan! O que está acontecendo no meu hall?
Voldemort apareceu por uma porta usando um terno preto muito elegante. Ele olhou de um para outro com uma expressão de descontentamento no rosto.
– Nada, Lord! A sua amiga só estava me contando que quando recebeu o chamado estava em uma favela doando comida para as criancinhas catarrentas e desabrigadas.
– Foi isso mesmo, Bella?
Bellatrix não respondeu. Com a boca entreaberta, ela encarava um Bryan ironicamente sorridente. Voldemort interpretou seu silêncio como uma confirmação.
– Vamos, Bella, entre. Temos muito que falar. Nós só estávamos esperando por você.
– Olhe, Lord! – disse Bryan quando Bellatrix tirou a capa para pendurar no cabide – Ela se vestiu igual aos menininhos da favela! Que pessoa adorável!
– Ela precisa manter o disfarce, Bryan. Bella, antes de mais nada, venha conhecer o nosso novo apartamento!
– “Nosso”?
– Sim, meu e do Bryan. Siga-me.
Voldemort conduziu a bruxa por uma porta à direita do hall e os dois saíram em uma gigantesca sala de estar acompanhados por Bryan. Ela era completamente revestida de granito branco e havia estátuas gregas representando deuses nus por toda a parte. No centro do aposento, uma enorme escadaria dourada levava a um andar superior.
Bellatrix observava tudo perplexa.
– Devo supor que isso tudo foi idéia do...
– Bryan! – disse Voldemort sorridente – Oh, sim. E ele tem sido uma companhia maravilhosa para mim nesses últimos tempos.
O jovem Bryan sacudiu a cabeça para afastar seus longos cabelos loiros dos olhos e observar melhor a expressão de Bellatrix.
– Então! – Bellatrix sentou-se em um dos sofás cor-de-rosa com formato de boca tentando parecer estar à vontade – O que exatamente eu faço aqui?
– Ah, mas é claro! Só um momento, querida. Saboo? Saboo! Um jovem moreno e musculoso desceu a escadaria trazendo uma bandeja dourada com quatro taças de cristal e uma garrafa de champanhe.
– Voldy... – Bellatrix parecia cada vez mais assustada – Eu sei que eu vou me arrepender por perguntar isso, mas a quem pertence esta quarta taça?
– Ao Severino. Ele já vai voltar, só foi ao toalete.
Mal as palavras saíram da boca de Voldemort e alguém entrou na sala de estar. Os cabelos negros e oleosos caiam sobre o seu rosto de pele macilenta. Seus olhos frios observavam a cena silenciosamente.
– Snape! – gritou Bellatrix.
– Não, Bella – disse Voldemort – Este é o Severino!
– Mas você não se chamava Severus Snape?!
– Até o ano passado, sim – respondeu o homem – Mas a pessoa irrespons... digo, responsável pelas traduções achou que seria melhor trocar o meu nome para Severino Esneipe. Segundo ela, é mais prático para as crianças, além de ser politicamente correto usar nomes nacionais para personagens de outro país.
Bellatrix virou a sua taça de champanhe de uma só vez.
– Vamos começar então! – disse Voldemort empolgado – Saboo, pode ir, muito obrigado.
O indiano musculoso retirou-se enquanto todos se acomodavam nos sofás e Bellatrix enchia a sua taça com as mãos trêmulas.
– Muito bem – começou Voldemort – Eu estou certo de que todos vocês aqui presentes ainda se lembram do episódio da revendedora Avon, Hilary Watson.
– Eu nunca cheguei a saber exatamente o que aconteceu – disse Bellatrix – O Snape, quero dizer, o Severino me contou alguma coisa sobre um seqüestro, eu não entendi muito bem. Só sei que agora, a Hilary resolveu se aposentar, o que é realmente uma pena, porque ela era muito eficiente, e...
– Bella – interrompeu Voldemort – Não estamos aqui hoje para falar disso.
– Ah... Ta bom, desculpa.
Bryan abafou uma risadinha com uma almofada.
– O fato é que o meu maravilhoso plano de destruir a escolinha daquele velho tarado e incompetente acabou falhando, graças a um grupinho que se auto-intitula FANLIPWA. – Falhando? Como assim? – perguntou Bellatrix – Eu não entendi.
– Cof! Cof! Burra! Cof! – Bryan tomou um golinho de champanhe para disfarçar.
– Há alguns anos, eu criei uma empresa chamada Warner, e...
– Voldy! Minha nossa! Eu não sabia que você tinha talento para essa coisa de empresário! – disse Bellatrix animada.
– Ah... Obrigado, Bella – respondeu Voldemort sem graça.
– Cof! Idiota! Cof! Cof! Cof!
– Como eu dizia, eu criei a Warner com o objetivo de acabar de vez com Hogwarts, transformando-a em Hogwarner e descaracterizando todos os seus habitantes. Inclusive aquele pirralhinho nojento que vive me perseguindo!
– O Harrycliffe?
– Ele mesmo!
– Ha ha ha! O Harrycliffe! – Bellatrix tomou mais um gole de sua taça.
– Bella, você está bem? – perguntou Voldemort.
– Perfeitamente! Prossiga, Voldy.
– Certo. Mas justo quando a minha maldição parecia funcionar exatamente como eu planejei, surgiu o FANLIPWA.
– Fani o quê? – perguntou Bellatrix enfezada – E vê se fala mais alto, eu não estou te ouvindo muito bem...
– Bella, você tem certeza que está se sentindo bem?
– Eu já disse que sim! Talvez um pouco tonta, mas vai passar. Aproveita e enche a minha taça...?
Voldemort fez o que a bruxa pediu. Bryan apertava a almofada contra o rosto abafando mais risadinhas. Severino continuava em silêncio.
– Como eu dizia antes de ser interrompido, o FANLIPWA invadiu Hogwarner e acabou com tudo que eu planejei. O castelo voltou ao normal – Voldemort abaixou a cabeça com uma expressão séria.
– Nossa... – murmurou Bellatrix – Que coisa mais triste!
– Cof! Cof! Cof! Cof! Anta!
– Você falou comigo? – perguntou Bellatrix.
– Eu não! Ai! Que idéia!
– Falou sim! Eu ouvi! Você me cha... cha... mo... chamou... de... de... – POF!
Bellatrix caiu no chão e Severino se abaixou rapidamente sobre ela.
– Ela dormiu! – disse Severino incrédulo.
– Estava bêbada, percebi há séculos! – Bryan sorriu.
– Bella, acorde! – chamou Voldemort – Bella! BELLA!
– Nha?! Voldy... Quanto tempo! –Sente-se! Bellatrix se sentou. Seus olhos giravam alucinadamente nas órbitas, e sua boca estava escancarada em um sorriso meio infantil. Ela parecia estar sonhando.
– Continuando, meu plano foi destruído, e...
– Ei, Voldy! – chamou Bellatrix – Posso ir ao banheiro?
– Vá! – respondeu com raiva – Mas não demore!
– Falou! Obrigadinha, ta? – e foi.
– Sem mais interrupções agora! Apesar de tudo isso que aconteceu, nós não fomos completamente vencidos!
Severino Esneipe pareceu surpreso pela primeira vez naquela noite.
– Não? – perguntou.
– Não! E vocês sabem por quê? – perguntou Voldemort em um tom dramático.
– Na verdade eu sei – falou Bryan – Eu ouvi você ensaiando seu discurso ontem à noite. Mas, como o senhor pediu para não estragar a surpresa eu não vou dizer!
Voldemort ficou parado por uns segundos com o queixo tremendo, como se estivesse tomando fôlego.
– Como eu dizia...
– Terminei! – Bellatrix entrou no aposento – Me sinto muito melhor agora.
– Que bom – Voldemort disse entediado – Como eu dizia, o meu plano não foi completamente arruinado, porque eu criei a warncruz!
Bryan começou a bater palminhas. Bellatrix e Severino se entreolharam.
– E o que viria a ser isso? – perguntou Bellatrix.
– Ah! Pensei que não fossem perguntar nunca. A warncruz é um objeto mágico que eu criei. Ela continua warnizando Hogwarner, mesmo depois que o FANLIPWA foi até o castelo. Ela está escondida em algum lugar de Hogwarner, e neste exato momento tudo está mudando novamente!
– Genial! – elogiou Bellatrix – Só não me venha dizer que foi idéia do Bryan!
– Não. Não foi. Foi idéia minha.
– Que bom.
– O que você está insinuando, sua macaca velha?! – gritou Bryan com sua voz aguda levantando-se do sofá.
– Macaca?! – Bellatrix levantou também – Agora chega! Eu não vou mais aturar as ofensas desse bebezinho!
– Antes um bebê lindo e fofo do que uma velha decrépita como você! Você já se olhou no espelho, mona? Ou ele quebra quando você faz isso?
– BRYAN! – gritou Voldemort – Para o nosso... Para o seu quarto! Agora mesmo! – Sim, eu vou! Recuso-me a ficar aqui!
Bryan subiu decidido a escadaria dourada e mostrou a língua para Bellatrix quando chegou ao topo.
– Eu não quero mais brigas entre vocês dois – ralhou Voldemort.
– Mas eu não tive culpa! – disse Bellatrix – Foi ele quem me provocou!
– Bella, você não precisa ficar desse jeito. O Bryan é assim com qualquer pessoa. Eu também não me dava muito bem com ele quando o conheci nas minhas andanças pela África, mas não demorou muito para nos tornarmos grandes amigos – Voldemort pareceu devanear por uns segundos, mas logo voltou a se concentrar.
– O Lord das Trevas ainda teria algo para nos dizer? – perguntou Severino – Eu tenho coisas a fazer esta noite.
– Não, Severino. Eu só queria avisar sobre a warncruz. Você pode ir.
– Ei! – disse Bellatrix – Como assim “ele” pode ir? E eu?
– Você só vai sair desta casa depois de pedir desculpas ao Bryan.
Bellatrix tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu pensar em nada que lhe ajudasse.
Severino saiu pela porta e Voldemort se aproximou da escadaria.
– Bryan! – chamou.
– Ooooooiii! Eu já vou!
Bryan desceu os degraus aos pulinhos.
– Chamou, mest...? Ela ainda está aqui?!
– Sim, Bryan. A Bella quer lhe dizer uma coisa. Já que nós vamos trabalhar juntos contra Hogwarts e o FANLIPWA, nós temos que estar unidos.
– É isso aí – falou Bellatrix olhando para o chão – Se você puder me desculpar, Bryan... É que às vezes eu falo as coisas sem pensar antes.
Bryan parou boquiaberto. Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto.
– Amiga! – berrou ele atirando-se no pescoço de Bellatrix, quase derrubando a bruxa.
– Ugh! – gemeu ela – Eu também gosto de você, Bryan! Mas pode me soltar agora...?!
– Ah, desculpa! Nossa! Que esmalte lindo – ele agarrou a mão de Bellatrix – Você mesma faz as suas unhas?
– Não – respondeu ela com um tom de voz maleficamente doce – Meus elfos domésticos. Por que a pergunta?
– É que estão perfeitas!
– Obrigada. Ei, Bryan! Onde você comprou essas roupas? – Ha ha ha! Tolinha! Eu não as compro, eu mesmo desenho! Você quer que eu faça uma para você? – perguntou esperançoso.
– Ah! Não, não... É que eu queria aproveitar o pano se estivessem à venda. Meus elfos estão precisando de uns aventais novos.
Bellatrix girou nos saltos de sua bota e desaparatou. Bryan soltou um berro que pôde ser ouvido por toda a Rua do Flamboyant.

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