presente natalino



Harry pode ouvir o barulho da porta se abrindo e fechando lenta e suavemente por trás de si, quebrando o silêncio e o transe no qual todo o local se encontrava. Ele se mantinha sentado entre as duas camas ocupadas agora por Rony e Hermione... E apesar de ter Giny sentada logo ao seu lado, a ausência de diálogo entre os dois era tamanha que o silêncio já começava a afetar a percepção de espaço de Harry... Ele próprio já havia se desligado do momento atual enquanto observava a luz da lua que atravessava os janelões da enfermaria, sentindo sua mente tomada novamente pela visão da cena pela qual ele próprio passara minutos atrás...

O local, antes ocupado apenas por ele e Giny, subitamente se iluminou ofuscando ambos os garotos que ali se encontravam... E num relance mais claro agora da sala, Harry pode ver os dois leitos escondidos por trásde biombos que se encontravam no canto oposto do local... Um ocupado por Rabicho, outro por Neville... Sentindo uma náusea extrema no estômago, Harry se virou para o local de onde o barulho surgira e pode ver Prof. McGonnagal caminhar até sua direção:

-O diretor deseja lhe ver Potter... – dito isso, ela lançou um olhar de esguelha para Giny – Srta. Weasley... Eu aconselho que volte para sua sala comunal, eu lhe aviso quando Molly e Arthur chegarem... – e relutantemente, vendo que a mulher não mudaria de idéia, Giny seguiu porta à fora...

Agora olhando para Harry , obviamente esperando uma reação do garoto, ele nada pensou exceto em responder murmurante:

- Certo... – era como se sua garganta estivesse fechada mais uma vez, exceto que dessa vez, por falta de uso... E com isso ele se virou lentamente para a porta e seguiu até a sala do diretor.

Os corredores da escola se encontravam completamente desertos, e Harry não podia ouvir nada exceto o ecoar de seus passos em seus ouvidos. O que o diretor iria dizer? Provavelmente ele seria expulso... Hermione com certeza não suportaria tal conseqüência...

Hermione... Sua memória ainda estava horrivelmente fresca, com relação ao ocorrido... Ao que ela fizera... Não que Rabicho significasse algo para ele... Mas, vê-la fazer tal atrocidade... Foi... Ela nunca faria tal coisa... De fato, o que quer que fosse aquela coisa, não era sua amiga... Não era...

Mal Harry chegara de fato à gárgula que guardava a porta do escritório de Dumbledore, se lembrou de que não tinha a senha... Pronto para dar meia volta e ir atrás da professora, ouviu a própria chamar seu nome no fim do corredor:

-Potter! – gritou ela desconecta – A senha! - e então, chegando ao lado de Harry , murmurou a senha para a gárgula que se abriu revelando as escadas que davam para a porta do escritório – Eu estarei na enfermaria, a avó de Neville acaba de chegar... – explicou ela, e em meio a culpa que lhe sufocava, pela primeira vez Harry pode sentir a voz da mulher falhar... E se virando, ela deixou mais uma vez Harry sozinho, prestes a encarar o diretor...

-Snape... Seja razoável... – era Tonks. Aparentemente, Harry não teria que enfrenta-lo sozinho... Pronto à bater à porta, Harry se conteve com o que ouviu em seguida:

-Isso é completamente incabível! E ainda sim vocês se recusam a acreditar que deveriam ser expulsos! – exclamou ele fervorosamente.

-Dumbledore... Ela está... – Harry reconheceu nitidamente a voz de Lupin.

-Não. – ele pode ouvir pela primeira vez a voz do diretor totalmente indecifrável.

-Então ela está em coma?- perguntou Tonks visivelmente preocupada. – O qu... Ela está dormindo?? – aparentemente não só ela como todos na sala estavam perplexos, devido ao silencio que se seguiu. E após o que pareceu um minuto, Lupin recomeçou:

-Eu ainda não consigo acreditar que eles fariam tal coisa... É verdade que Rabicho... Ela...? Merlin!- exclamou ele em voz baixa...

-Eu odeio pensar metodicamente aqui, mas... – Moody falava pela primeira vez – Obviamente teremos que arranjar uma maneira de esconder tal fato do ministério... Quero dizer... Isso os mandaria diretamente para Azkaban... Não que eu não ache que tenha sido um favor o fim dado aquele verme...

-Oh Moody ! Por Merlin! Ela só tem dezesseis anos! – retrucou Tonks chocada, mas logo foi cortada por Snape:

-Aparentemente, idade suficiente para matar um homem não?

-Severus... – era Dumbledore mais uma vez, e todos pareceram se calar – Eu agradeceria se todos vocês se abstivessem de julgar qualquer dos quatro envolvidos, pelo menos até que a situação seja devidamente esclarecida... Harry, pode entrar.

Sentindo o choque de ouvir o diretor se dirigir a ele, mesmo que atravez de uma porta extremamente maciça, respirando fundo, Harry abriu a mesma para encontrar o diretor sentado a sua mesa com as mãos cruzadas, numa expressão que Harry não conseguia definir. Ao seu lado se encontrava Snape seguido por Moody, visivelmente aborrecido. E no lado oposto da sala, se encontrava Lupin, ladeado por Tonks, e diferente do resto dos presentes na sala, ao invés de observar Harry, ele se absteve a encarar a janela em completo breu, e nada disse.

- Sente-se Harry... – sem cogitar Harry obedeceu. Não sabia como agir ou o que fazia ali. O que ele iria dizer? Me desculpe? Não, não daria muito certo... Não que agora fizesse muita diferença para ele mesmo, afinal... Fora sua culpa, e disso ele tinha certeza... Neville estava morto, e sua melhor amiga acabara de matar um homem, e Nada daquilo teria acontecido se eles não houvessem tentado trazer Sirius de volta, o que no final das contas acabou por ir água abaixo...

-E então?- interrogou Snape impaciente.

- Severus... – era Lupin, apesar de ainda manter os olhos fixos no seu reflexo na janela. - Deixe o garoto se explicar... Eu suponho que haja uma boa explicação para o ocorrido... – e agora se virando para Harry, o encarou. Este, descobriu que não podia sustentar o olhar do seu ex-professor, tamanha a culpa que sentia, não podia agüentar o desapontamento que havia no rosto dele...

-E-eu... O qu... – Harry não sabia como começar... Pelo que entendeu, eles já sabiam o que havia ocorrido... Como se lesse seus pensamentos, Tonks especificou:

-Harry, nós precisamos saber exatamente o que aconteceu na floresta... Do momento no qual vocês entraram, até o momento que Dumbledore chegou.

-Nós sabemos o que aconteceu, nos conte precisamente como. – encorajou Dumbledore. Harry não sabia se deveria se sentir aliviado, ou preocupado com a reação do diretor à sua frente. Na realidade ele estava começando até a pensar se não seria melhor se o mesmo estivesse gritando e ralhando com ele, dizendo o quão absurdo fora o que ele e os amigos fizeram... À indecifrável expressão no rosto do homem.

Logo em não menos de meia hora Harry explicou detalhe por detalhe sobre o ocorrido, desde o início, quando recebera a visita da amiga durante as férias até o momento no qual Dumbledore a nocauteou na floresta, por volta de uma hora atrás...

-Bem... Parece que ela planejou muito bem... – resmungou Moody.

- B-bem, ela não faria nada se eu não tivesse concordado! Quero dizer... Se ela for expulsa, todos nós seremos certo?

-Ninguém vai ser expulso. – recomeçou Dumbledore – Entretanto, isso não significa que nenhum de vocês o mereça... Apenas significa que a segurança, tanto sua quantos dos três vêm em primeiro lugar neste caso...

No momento seguinte as portas se abriram e McGonagall entrou no escritório:

- O corpo de Neville acabou de ser levado pela sua vó... – e aqui pela primeira vez, Harry percebeu uma conotação mais triste na voz do diretor. – O enterro será amanhã... Vocês todos vão ser mandados para a sede da ordem uma semana antes do feriado...

-Er... Profes... –se interrompendo ao perceber que o diretor levantara a cabeça quase que instantaneamente.

-Sim. – respondeu ele.

-E s-sobre Rabicho? – perguntou ele, mas se arrependendo logo em seguida ao ver a dureza que se formou no rosto do diretor:

-A Ordem vai cuidar disso. Pode ir agora... – e com essa simples ordem, Harry nada pode fazer exceto se retirar do local, não antes sem dar uma olhada de esguelha em Lupin, que ainda se encontrava à janela, com Tonks logo ao lado murmurando-lhe algo...

Harry sabia que deveria ir para o seu dormitório, sabia que depois do que acontecera deveria evitar o máximo de problemas possíveis... Mas ainda sim, não pode conter a ânsia de voltar para perto dos amigos de novo e ver como os dois estavam... Talvez até passar a noite lá... E assim o fez. A enfermaria se encontrava completamente deserta... Se os pais de Rony foram ali eles com certeza haviam partido já a algum tempo, visto que até Madame Pince já estava aparentemente dormindo, o que era ótimo, visto que se fosse pego Harry seria expulso dali num piscar de olhos.

Seguindo diretamente para a mesma cadeira na qual se encontrava antes, Harry sentou-se entre os dois leitos novamente em silêncio. Ambos se encontravam imóveis, entretanto, Rony aparentava muito mais gravidade, graças a enorme bandagem com a qual a enfermeira cobrira praticamente toda a sua cabeça. Enquanto que Hermione se encontrava apenas adormecida, sem bandagem alguma, exceto pelo curativo feito na mão que ela própria cortara durante o ritual...

Observando mais calmamente a garota agora, ele não pode deixar de lembrar do ocorrido... Da sensação que tivera, de que ela... E logo o desespero foi tomado por indignação... Por que ela não contara? Por que ela ficara calada todo esse tempo? Ela mentira pra ele... Ela poderia ter morrido e ainda sim mentira pra ele...

Mas sua linha de pensamento foi quebrada. Ela se mexera. Sim, de fato a garota estava acordando... E o primeiro pensamento de Harry foi se afastar dali o mais rápido possível... Entretanto, logo após abrir os olhos ela fitou o amigo logo ao lado, e Harry olhou de volta. Rapidamente a sensação foi logo substituída por alívio... E se aproximando mais da amiga ele sussurrou:

-Hei... – ele sentiu um pequeno sorriso se formar em seu próprio rosto.

-Hei... – respondeu ela de volta numa voz quase que inaudível.

-Como você ta?- era estupidez perguntar aquilo... Mas a verdade era que ele não sabia o que dizer... De fato a única coisa que passava pela sua cabeça agora era puxar a garota pra perto de si e abraça-la...

-Eu... Bem... – obviamente ela ainda estava muito sonolenta. – Harry... – chamou ela enquanto buscava a mão de Harry agora apoiada ao seu lado. Segurando-a, ela continuou, e Harry sentiu o rosto corar ao segurar a mão da garota contra a sua, e agradeceu pelos dois se encontrarem no escuro – Me desculpe...

- Porque você não me disse?- ele não queria brigar com ela, entretanto, a indignação e frustração e não poder ter feito nada, ainda o corroia por dentro.

-Eu sabia que você não iria me deixar fazer...

-Caro que não! – exclamou ele agora mais exasperado que qualquer outra coisa.

-Eu não trouxe ele de volta... Eu sint... – mas Harry a cortou logo em seguida:

-Não importa... E se eu soubesse o qu... Eu já perdi Sirius... E se eu tivesse que escolher entre a chance de ter ele de volta e você ou Rony... Só... E-eu... – ele estava sentindo novamente a garganta fechar e os olhos esquentarem. E se interrompeu com a sensação morna da mão da garota que agora lhe encostara o rosto, e mesmo no turbilhão de sensações que ele se encontrava agora, não pode deixar de notar o quão macia era a mão da amiga... Estavam próximos... Sua cabeça estava começando a ficar zonza e ele sabia que se não se afastasse rápido ia acabar por fazer algo que ele sabia lá no fundo que não deveria.. E ainda sim, no meio de tudo que ele estava sentindo, não se encontrava nenhum resquício de vontade de sair dali, pelo contrário... Ele...

-Potter! – as luzes do local se acenderam subitamente iluminando o local completamente. O choque fora tão grande que ele próprio pulara imediatamente da cadeira na qual se encontrava e esse mantinha de pé encarando uma Madame Ponfrey irada à sua frente:

-É quase manhã! O que o senhor está fazendo aqui?

-E-eu... Er... - era óbvio que ela não vira nada, se não ele já estaria a meio quilômetro de distância do local... Porque ele estava tão nervoso? Ele não ia fazer nada..

-Sem desculpas! Volte já por seu dormitório! E você Srta. Granger! Você deveria estar dormindo!

Não demorou muito para que Harry saísse da enfermaria sob ameaças de vassouradas de Madame Ponfrey... Entretanto, após quinze minutos, deitado em sua cama, Harry não conseguia dormir... Sua cabeça estava a mil... O enterro de Neville seria amanhã... E à menção do amigo ele sentiu um mal estar subir-lhe à garganta... Era culpa... Não só pelo que havia ocorrido, mas principalmente pelo fato de que aquele não era o principal pensamento em sua cabeça no momento...

Era quase manhã no momento em que Harry subiu para o seu dormitório, o que significou que de fato, não pareceu que um intervalo muito grande de tempo havia se sucedido até o momento no qual Giny entrou em seu quarto para dar-lhe as notícias de que Rony e Hermione já estavam em Grimauld Place, e que eles deveriam se aprontar para o enterro... Harry não tinha completamente assimilado o fato de que um de seus amigos , por mais que não fosse muito próximo morrera, de fato, ele só compreendera totalmente a realidade crua da situação no momento em que se estendia ao lado de Giny e Hermione no cemitério... Enquanto todos ali, assim como ele observavam a lápide do garoto. Rony ainda se encontrava de cama na sede da Ordem, desacordado, apesar de Madame Ponfrey garantir-lhes que ele acordaria até no máximo o dia seguinte... O enterro fora surpreendentemente íntimo e reservado... Aparentemente o pessoal da Ordem fora eficaz o suficiente para esconder o fato de que um aluno fora assassinado junto com um comensal nos terrenos da escola. O que segundo Giny, deveria ser encarado como um ponto positivo.

Harry foi arrancado de seus pensamentos pela ligeira fungada dada por Sra. Weasley ao seu lado... Enquanto Giny chorara prontamente a manhã toda e o velório inteiro, Hermione permanecera completamente calada e apática com relação a todos à sua volta desde que saíra da enfermaria. E mesmo ali, seus olhos estavam fixos e distantes, como se ela , assim como Harry, se mantivesse ainda um tanto distante da realidade, talvez por esta ser difícil demais de aceitar...

Ninguém pareceu disposto a se demorar no local, a situação parecia ser tão dolorosa para os presentes ali quanto era para Harry, e por ele já teriam saído dali a muito tempo.

O grupo se encontrava em total e pesado silêncio no momento em que chegaram à Grimauld Place. Um rápido clique na porta se fez ouvir no hall quando Lupin, último a entrar a trancou.

A atmosfera certamente não parecia promissora... Harry foi acometido por tal pensamento ao sentir Lupin passar por ele, e logo após, Giny e Hermione em total silencio sem nem ao menos olha-los, indo diretamente para a cozinha.

Harry não ouvira nenhuma palavra sequer do mesmo desde o ocorrido. E como se não bastasse o fato de Harry ter sido, e continuar sendo completamente ignorado por ele, que antes era tão atencioso, a sensação que Harry tinha era de que havia uma certa amargura e até mesmo desapontamento no jeito com o qual Lupin agia agora. Ele odiava saber que o tivera desapontado, e dentre todos os outros, a idéia de ter que confronta-lo no que diz respeito a Sirius era muito mais desconfortável...

-Harry... – era Tonks, com a voz mansa e ligeiramente desconcertada, ela pôs a mão direita sobre o ombro de Harry dizendo- Não se preocupe... Ele... Bem, ele só precisa... Er , de tempo... – e como ela própria não conseguia encontrar motivo plausível o suficiente para que Harry não se sentisse culpado, se virou e seguiu atrás dele.

Completamente desolado e, mesmo sabendo que o merecia, um pouco ofendido e indignado com o tratamento que estava recebendo, ele se voltou para Hermine que estava logo ao seu lado no hall. Ela tinha uma expressão particularmente distante no rosto. Seu primeiro impulso foi falar com ela, mas logo mudou de idéia... Até mesmo porque ele simplesmente não sabia o que dizer. De fato , eles não haviam trocado uma palavra sequer desde o ocorrido na noite anterior, na enfermaria... O que fora aquilo de qualquer forma? Harry sentiu seu raciocínio esfumaçar mais uma vez só de pensar no que ocorreu, ou melhor quase...

E ainda sim, com tudo o que aconteceu... Com um pouco de culpa, ele não pôde deixar de admitir que aquele foi sem dúvida um dos momentos mais marcantes da noite anterior... Rendendo alguns minutos nos quais seu sangue esquentava e seu estômago revirava... Tornando o fato de ir até ela e esclarecer o ocorrido ainda mais difícil e embaraçoso...

-Hermione... – chamou ele, sua voz mais baixa e rouca do que pretendia- Eu...

- Eu vou estar lá em cima... – cortou ela- Se alguém perguntar, quero dizer... – e se virando seguiu pelas escadas, sem nem ao menos olha-lo. Harry simplesmente ficou ali. Parado... Pensando... Provavelmente ela nem o ouvira...

O que fora aquilo? Ela não ouvira mesmo? Talvez ela simplesmente se fez de desentendida... Isso... Ela fingira, ela fingira e depois fugira... De fato, agora parecia claro pra Harry que ela o estava evitando... O que só podia significar ou que Harry se enganara tanto com o ocorrido que ela ficara embaraçada demais para esclarecer a confusão, e que aquilo não significara nada... – Harry sentiu como se uma pedra de gelo descesse pelo seu estômago àquela possibilidade. E ainda sim... Algo lhe dizia que ele estava certo quanto a segunda opção... Pelo menos fora o que parecera... Que fora mútuo... Que não só ele, mas ela também sentira algo... E nesse caso...- Pensou Harry sentindo algo completamente diferente dessa vez.

-Harry, querido... – era Sra. Weasley, cuja cabeça acabara de aparecer no vão da porta da cozinha – Você vai querer algo? Pra comer? –como o garoto nem ao menos se moveu- Harry?

-Não Sra. Weasley... – respondeu ele vagamente – Obrigado...

Ok... Então... Alguma coisa acontecera de diferente ontem... Talvez até pudesse acabar em... – Harry jogou outro rato morto para o canto do quarto vendo Bicuço se alimentar da carcaça tirada do balde ao lado de Harry- Bem a verdade era que os dois quase... Bom, pelo menos foi isso que passou pela cabeça dele na hora... – soou uma voz na cabeça de Harry- Ela é sua amiga... – acusou a voz novamente a voz em sua cabeça.

Estendendo a mão mais uma vez para pegar outro rato, e mirando em Bicuço, voltou novamente para a sua analise da situação...

- Harry... – ele pode ouvir alguém chamando do outro lado da porta. Era Giny que agora entrava no quarto, aparentemente alegre demais dadas as circunstâncias...

- O que foi? – perguntou ele agora curioso...

-Rony! Ele está acordado... – não houve muito tempo para explicações por parte da garota, já que Harry simplesmente se levantou e seguiu em direção ao quarto dos dois. A porta estava encostada e ele pode ouvir a voz de Hermione vinda do quarto:

- ... Eu sei... – sussurrou ela. E ao entrar Harry pode ver a garota sentada ao lado do amigo na cama, que aparentava uma palidez absurda. Parecia que Hermione acabara de lhe contar sobre o ocorrido... Sobre Neville...

- O enterro... – continuou ela, de cabeça baixa – Foi... Brutal... – e mesmo parecendo tão abalado quanto ela, ele a consolou, coisa que só agora, com um desconfortável mal-estar arry percebeu que ele próprio não o fizera:

- Eu sinto muito... Não estar lá com você... – e aqui, nada pode lhe preparar para o que o amigo fez em seguida, e pior ainda para a horrível sensação que ele teve ao ver a forma com a qual Rony simplesmente passou os braços em volta da garota e a abraçou...

Seu primeiro impulso foi ir lá imediatamente... Entretanto ele simplesmente fez o máximo de barulho possível ao entrar no quarto, com a esperança de que ele a largasse de vez...

- Hei... – começou ele, por falta de algo melhor pra dizer.

- Como você ta se sentindo? – perguntou Harry agora se sentando na cadeira ao lado, olhando de esguelha para Hermione que se levantara e seguira para a cadeira ao lado.

-Melhor... Meio tonto ainda... – retrucou ele meio confuso – Eu não me lembro muito bem do que aconteceu na verdade... Exceto... – e aqui ele deu uma olhada para Hermione, que virou o rosto. Estava claro para Harry que o amigo se encontrava tão indignado quanto ele próprio com relação ao fato de ter sido enganado pela garota sobre as reais circunstâncias do ritual que fizeram... Entretanto, ele sabia que a pior parte da noite não fora presenciada por Rony, e não seria ele quem se encarregaria de contar-los...

Não demorou muito para que Rony se recuperasse totalmente da sua pancada na cabeça, o que inconvenientemente, se encaixava com a batalha da Sra. Weasley contra a casa em prol de deixa-la menos parecida com uma cova e mais parecida com uma casa propriamente dita. E a verdade era que o trabalho era tamanho que nenhum deles tinha mais que cinco minutos de completo ócio na casa. O que, pensava Harry, (apesar de se encarregar de não compartilhar tal idéia com ninguém) era um ponto positivo, já que evitava que idéias absurdas povoassem sua cabeça. Além do mais raras eram as vezes nas quais não havia ninguém da ordem convidada para jantar ou até mesmo almoçar na sede, e apesar de não poderem de fato ser informados sobre os afazeres dos mesmos, era sempre bom ver um rosto novo sentado à mesa.. Exceto é claro quando esse era um rosto tão sisudo quanto o de Tonks naquele momento...

- O que houve? – sussurrou Giny para o irmão ao lado, Jorge, que parecia estar assistindo com imenso prazer a rixa entre Lupin e Tonks ali simplesmente respondeu:

- Eles discutiram ontem à noite... – agora se virando para ela que o observava tão curiosa quanto Harry, Hermione e Rony ao seu lado – Vocês não viram? Ah claro... Foi na reunião... – e ignorando a careta feita por Rony continuou – Foi algo sobre... Bom eu não sei muito bem... Na verdade ela puxou ele pra um canto, pareceu muito pessoal... – concluiu ele agora com um meio sorriso no rosto.

Harry se virou para o amigo que parecia tão confuso quanto ele.

- O que você acha que está acontecendo?- perguntou ele para Hermione que se encontrava encostada ao lado de Giny na parede. A garota simplesmente observava Tonks sentada na cadeira com um Lupin ao lado e visivelmente constrangido com um ar desconfiado.

- Bem... Eu... Eu não tenho certeza... – desconversou ela.

Aquela manhã veio, como sempre, cheia de trabalho para ser feito, e o fato de ser véspera de natal não pareceu afrouxar as rédeas com as quais a Sra. Weasley puxava os garotos, pelo contrário, tendo as comemorações de Natal naquela noite, não foi com tão grande surpresa que os garotos descobriram que aquele dia seria ainda mais cheio que os anteriores, visto que ela fazia questão de uma decoração temática no local. O que segundo Rony, era uma total perda de tempo além de falta de consideração...

- Não! Sério! Que tipo de férias são essas?- recomeçava ele ainda mais inflamado enquanto tirava a poeira dos moveis do que parecia ter sido uma espécie de gabinete. Ele e Harry ficaram responsáveis pelo cômodo enquanto Giny e Hermione se encarregavam de decorar a sala, e Rony não parecia muito contente com a divisão de tarefas...

-... quero dizer... Não é como se alguém fosse passar a festa inteira aqui é? – continuou ele ainda limpando, enquanto Harry sorria da indignação do amigo.

- Eu vou buscar outro balde... – ainda rindo da revolta de Rony, ele saiu pelo corredor... Se não muito se enganara Sra. Weasley deixara alguns produtos junto com os baldes num armário por ali... Só não lembrava muito bem de qual porta era... E se virando para a segunda porta à direita ele entrou.

- Oh! – Harry não vira muito bem... Mas o fato era que infelizmente ele tinha certeza absoluta de que interrompera algo... Ou alguém... Na realidade a ele a primeira impressão foi a de ter encontrado Lupin sozinho na pequena sala... Mas logo percebeu mortificado, que ele não estava sozinho... Tonks estava com ele... Eles estavam...

- Er... Eu... Os baldes... Eu achei... – sentindo o rosto corar violentamente, Harry não pode deixar, apesar de todo o seu choque e completo embaraço, soltar um meio sorriso ao ver a expressão no rosto de Lupin a sua frente, sorriso que foi logo contido quando seu olhar se recaiu sobre Tonks que se encontrava provavelmente mais vermelha que ele prórprio... – Eu acho... Acho que eu devo... Er, ir... – se voltando para a porta ele fechou-a logo atrás de si segurando uma risada motivada por mais choque que qualquer outra coisa...

Estava tão submerso na cena que vira segundos atrás que não vira a amiga subindo as escadas com baldes e escovões à tira-colo...

- Harry! O qu...? – retrucou ela visivelmente indignada enquanto se contorcia para manter os objetos em equilíbrio.

- Hermione!

- O que houve? – falou ela agora pondo os baldes de lado.

- Bem... Eu... – ele estava tão ansioso para compartilhar o que vira e agora já não tinha tanta certeza se deveria... Então num sussurro ele começou – Bom eu estava procurando pelos baldes...

- Oh, é eu tava indo levar agorinha... Giny e eu acabamos e... – mas logo se interrompeu ao ver a expressão do amigo – Certo...

- Bem de qualquer forma... Eu entrei no quarto errado e... Bom Lupin estava lá...

- Por que você está sussurrando? – cortou ela também sussurrando.

- Posso terminar? – retrucou ele impaciente.

- Certo! Ta bom... – respondeu ela ofendida.

- Lupin estava lá... Com Tonks!

- Oh!

- Eu sei! Eles estavam... Você sabe! – como a amiga não parecia compreender muito bem – Se beijando!

- Oh! – gritou ela chocada. Mas logo foi abafada pela mão direita de Harry que puxou-a para um canto alarmado:

- Isso Hermione! Não tá alto o suficiente! – sussurrou ele irônico.

- Desculpe! – falou ela num sussurro abafado pela mão do amigo ainda em sua boca que logo ele retirou- Meu Merlin...

- Eu sei! Quero dizer... Isso não é o tipo de cena que você espera ver todo dia...

- Isso é...

- Harry você tá dem... – a cabeça de Rony surgiu no final do corredor para ver os dois amigos encostados na parede, de forma comprometedora, fazendo-os se afastar rapidamente.

Não demorou muito para o garoto chegar até eles com uma expressão incisiva no rosto:

- O que vocês estão fazendo? – perguntou ele. O clima pesou rapidamente, e como ambos pareciam desnorteados demais para responder o silêncio foi quebrado pela porta ao lado se abrindo para a passagem de Lupin e Tonks, o que não ajudava muito na realidade.

Evitando terminantemente os olhos da amiga, Harry se segurou para não soltar uma risada enquanto ambos, Lupin e Tonks passava por entre eles. Mas foi muito pouco depois dos dois terem decido as escadas que Hermione e ele próprio caíram na gargalhada, para total desconforto do amigo. Pegando então os baldes no chão e estendendo um para a amiga, Harry a seguiu passando por Rony em direção ao gabinete...

- Hei! – retrucou ele logo atrás.

Não demorou muito para que os dois explicassem o ocorrido para Rony, que logo, da mesma forma que os amigos, passou rapidamente, de um momento de choque para um completo surto de riso, que logo foi acompanhado por Harry e Hermione.

Entretanto não demorou muito também, para que Harry se arrependesse de ter de fato compartilhado a experiência que teve com os amigos, visto que pelo horário da festa, o assunto sobre o acontecido ainda não parecia ter se esgotado completamente, pelo contrário... Parecia agora ainda mais fervoroso e inflamado pelos argumentos e análises postas não só por Rony e Hemione mas para Giny que acabou por se juntar aos trÊs na conversa:

- Nah!

- Rony não seja estúpido! Retrucou Giny.

- Eu to dizendo só o que eu acho! Lupin é um cara legal... Mas ainda sim é muito velho pra ela!

- Bem isso não pareceu ser um empecilho... – soltou Harry quase que inconscientemente, causando risadas no grupo.

- De qualquer forma... Eu acho que eles formam um ótimo casal... Na verdade eu acho até que isso não vem rolando de hoje não...

- Será que dá pra falar um pouquinho mais baixo? – comentou Harry. Ele estava de fato receoso que Lupin acabasse se chateando ainda mais com ele se soubesse que ele espalhara por aí o que vira... Seria ótimo considerando o estado da relação entre eles...

Não se podia dizer que a festa de natal foi das melhores... Até mesmo porque a atmosfera da morte de Neville ainda pairava sobre a maioria ali, de fato a festa nem demorou muito para acabar, o que segundo Harry era ótimo, concluiu ele enquanto se dirigia para a sua cama...

Mas ele se enganara ao pensar que pelo menos dessa vez teria de fato uma boa noite de sono... Pois mesmo descontando todo o cansaço que sentia ele não conseguia nem ao menos pregar os olhos, desde aquela noite na floresta... Já acostumado com problemas para dormir, Harry se revirou na cama completamente desperto. Parou para ouvir por um momento os roncos do amigo na cama acima, a confirmação de que ele era o único com tais dificuldades... Conformado com o fato de que não iria dormir durante aquela noite mesmo ele se sentou na beirada da cama em silencio... Talvez ajudasse se descesse para beber um copo d’água... Resoluto, ele seguiu até a porta e logo depois caminhou pelas escadas em completo silêncio. Como não enxergava completamente nada teve de se contentar em caminhar lentamente até chegar ao vão da cozinha, onde parou.

Pronto para erguer a varinha para iluminar o local, ele parou. Tinha a ligeira sensação de... Não... Todos estavam dormindo... E ele estava sozinho... Então com uma fraca luz emitida pela varinha ele se guiou até a bancada de onde se serviu de um copo com água...

Estava direcionando o copo à boca quando a luz de sua varinha atingiu o canto do cômodo...

Um súbito barulho de vidro se quebrando ecoou pela cozinha. Seu copo caíra, tamanho fora seu choque. Tinha alguém ali! Alguém além dele na cozinha... Levantando a varinha rapidamente em alerta ele olhou novamente para o mesmo local. Não havia ninguém... Ótimo... Era tudo que ele precisava, além da insônia alucinações também... – pensou revoltado. Mas seus pensamentos logo foram interrompidos por um barulho vindo do canto oposto da cozinha. Em total alerta de novo, dessa vez ele perguntou:

- Quem está aí? – como não houve resposta, Ele levantou a varinha – Lumus!

O local se iluminou completamente... Os olhos de Harry se ofuscaram com a súbta iluminação do local, mas ainda sim ele pode ver um homem, em pé, no mesmo canto que o vira antes... Sentido suas pernas tremerem e seu sangue gelar completamente, ele o observou atentamente...

Com o coração latejando no peito, não demorou muito mais que dois segundos para que Harry o reconhecesse...

- Sirius?

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