" quase normal..."



Seus olhos o estavam enganando... Não podia ser... Ele... Não... E ainda sim, ali estava ele, parado, em pé. A menos de três metros de Harry... Piscando os olhos novamente ele o encarou... Ele não mudara nada... Absolutamente nada, era quase como se fosse ontem que... – então um súbito pensamento ocorreu na mente de Harry. Hermione. Fora ela, ela conseguira... Ela trouxera Sirius de volta...

Logo um barulho vindo das escadas se fez ouvir na cozinha. Sr. Weasley acabara de entrar pela porta alarmado, com a varinha em punho:

- Harry ! O qu... – mas seus olhos logo seguiram para o local que o próprio Harry observava agora atentamente.

- Minha nossa! – seguido logo pela mulher que entrara na cozinha em seu encalço, e congelara a visão do homem ali em pé:

- Merlin!! – quase um minuto de silêncio se fez no local. Tempo durante o qual, aparentemente todos esperavam que aquilo fosse uma miragem e que fosse desaparecer em pouco tempo, tudo que deveriam fazer era esperar...

Mas logo tão silêncio foi quebrado, quando Sirius ao observar ao redor murmurou algo seguido logo de uma pergunta:

- Quanto tempo... – retrucou ele. Até sua voz era a mesma... Pensou Harry completamente exasperado, sentindo sua garganta fechar e seus olhos lacrimejarem, exceto, que parecia que não havia sido usada a muito tempo...

- Seis meses. E quinze dias , hoje... – Harry se surpreendeu ao ouvir a si mesmo respondendo – Só ... Bom, hoje não conta, né? – com a respiração cortada, Harry pôde sentir uma lágrima descer pelo rosto agora. E num ato de impulso e desespero, ele caminhou até o homem e simplesmente o abraçou. Aparentemente ainda um pouco desligado do mundo à sua volta, Sirius demorou um pouco para de fato reagir ao ocorrido, mas em pouco menos de três segundos, ele logo retribuiu o abraço do afilhado em silêncio...

- O qu... – o barulho de mais alguém entrando na cozinha se fez ouvir, e dessa vez, era Lupin que estancava na porta da cozinha, seguido logo atrás por Tonks:

- Minha nossa! - ela parou no vão da porta, obviamente tão chocada quanto ele...

- Sirius...? – este, agora em pé ao lado de Harry simplesmente o encarou... Parecendo claramente ainda muito confuso.

- O qu... – começou Sr. Weasley, mas aparentemente ele próprio não sabia o que dizer – Você... Você, quer... Bom, algo? – tentou ele, inseguro –Comida... Er, água... Quero dizer...

Por um momento, todos pararam e olharam para ele... A pergunta era tão comu e simples, que parecia completamente avessa à situação... Quero dizer... Ele não estava com sede estava? Ou fome? Sendo de onde quer que ele tivesse vindo... O que na realidade era uma boa pergunta, pensou Harry alguns segundos depois...

A primeira reação concreta na realidade veio de Tonks, que se virou saindo da cozinha, falando algo como: “Chamar Dumbledore...” O que de fato acabou por desencadear uma série de ações por arte de todos ali que pareciam aparentemente sérios e até preocupados demais na opinião de Harry, considerando que Sirius estava aparentemente bem... Pelo menos na sua concepção... Quero dizer... Seus membros estavam no lugar certo... Ele parecia lembrar de tudo não? Então não havia muito motivo para desespero ou preocupação... Exceto pelo fato de que ele estava, até pouco tempo, literalmente morto...

- Alguém pode ir chamar Hermione aqui? – perguntou Lupin exasperado, seguindo agora em direção ao amigo e fazendo-o sentar.

- E-eu vou... – retrucou a Sra. Weasley. Se virando e seguindo pelas escadas. Não demorou muito para que Tonks voltasse com Rony em seu encalço. Aparentemente ela usara o quadro de Fineus no quarto dos garotos, e o garoto provavelmente acordara...

- Harry! O qu... – ele parou também, e como num dejá vu Harry observou o choque do amigo assim como o dos outros presentes.

- Ele vai chegar a qualquer momento... – informou Tonks agora se sentando ao lado do Sr. Weasley à mesa.

Silêncio... A cozinha inteira se encontrava no mais completo silêncio possível, que felizmente não durou mais que um minuto... O tempo que Sra. Weasley levou para trazer Hermione, seguida de Giny para o local...

Esperando a mesma reação que Giny obteve, vir da amiga, Harry se enganou ao ver a garota abrir os olhos antes sonolentos e encarar Sirius do outro lado da mesa, ao invés de simplesmente congelar na porta da cozinha...

Sem pensar duas vezes, ela seguiu em direção a mesa parando subitamente, como se lembrasse de algo importante no meio do caminho:

- Oh... Tão burra... – murmurou ela.- Claro... Faz sentido agora...

- Hermione... – começou Luipn, mas logo foi interrompido, tamanha era a excitação da garota:

- E eu achei que não tinha dado certo... Mas óbvio que isso ia acontecer certo? Não foi na escola... Foi no ministério... Foi lá que voc... – agora parando, e olhando para Sirius novamente – Você veio sozinho...? – agora com uma expressão mais amena, quase que de desculpa.- E-eu deveria ter pensado nisso...

- Existem várias coisas nas quais você deveria ter pensado Hermione. – retrucou Lupin novamente de forma mais seca do que todos ali esperavam. De modo que ela própria apesar de surpresa, pareceu preparada para revidar, mas não foi logo após a garota abrir a boca que mais uma pessoa entrou no aposento de forma imponente... Era Dumbledore.

E ao contrário de todos ali, seus olhos se voltaram para Sirius mais como uma confirmação que qualquer outra coisa, e respirando profunda e pesadamente, ele se voltou para Hermione:

- Srta. Granger... Eu agradeceria se a senhorita não fizesse isso... – se referindo claramente ao que quer que a menina fosse responder a Lupin ali, ele se voltou agora para Harry – Harry, eu entendo que você queira passar o máximo de tempo possível com Sirius agora... Mas eu peço a vocês que nos dêem licença por um momento... – obviamente ele não se referia só a Harry, mas a Hermione, Giny e Rony, que também se encontravam ali...

Seguindo escada acima, os garotos entraram no quart dos meninos, agora completamente despertos...

- O que foi aquilo? – começou Rony, assim que a porta se fechou.

-Eu sei... Sirius... – comentou Giny.

- Não! Lupin! – corrigiu ele agora se voltando para Harry – Por que aquilo tudo? Quero dizer... Ele deveria estar feliz não? – perguntou ele agora se virando para a amiga que se mantinha completamente calada todo o tempo...

- Hermione... – começou Harry. Mas não completou. Na verdade ele não sabia o que dizer... E de fato concordava com Rony, e não sabia o motivo pelo qual ele estava agindo assim. De fato, eles sempre foram muito amigáveis um com o outro... E Harry sabia que essa revolta de Lupin contra ela a estava afetando muito mais do que ela deixava transparecer...

Ela não disse nada... Apenas se levantou e saiu porta fora. Meio sem ação, ele demorou por volta de dois segundos antes de tomar impulso para ir atrás da amiga. E assim o fez, a tempo suficiente para vê-la seguir pelo corredor... Olhando para trás em busca do amigo, ele se surpreendeu ao ver que ele não o seguira...

Harry pode ver a amiga entrar na última porta do corredor... Seguindo logo atrás da amiga segurou a porta antes mesmo que esta se fechasse.

- Hermione... – ele tentou ao ver a amiga observar Bicuço se sobressaltar no canto do quarto, aparentemente ele, assim como todos na casa minutos atrás, estava dormindo...

- O que?

- B-bom... Olhe... Não é culpa sua. É como Tonks disse... Ele só precisa de um tempo, só... – aqui , ela se virou encarando ele parecendo bastante indignada:

- Quero dizer... Não que eu esperasse uma festa ou algo parecido mas... Pelo menos: Hei! – começou ela num tom irônico – Você trouxe meu melhor amigo de volta dos mortos! Obrigado! – e se virando exasperada, ela se largou na cama, mofada do quarto, o que se mostrou não ser uma boa idéia. A cama mofada e caindo aos pedaços logo fez um barulho enorme ameaçando desabar, fazendo a garota pular e largar um enorme palavrão.

Sem dúvida alguma, o primeiro impulso de Harry foi rir da cara da amiga... Mas tal impulso morreu no segundo seguinte, ao perceber que Hermione chorava. E então a graça foi logo substituída por desconcerto enquanto ele observava a menina sentar no chão ao canto da parede:

- O qu... – Harry não sabia exatamente o que fazer... Certo que não era a primeira vez que a amiga chorava em sua frente, o que não tornava a situação mais confortável...

- Eu não quis... E-eu... – e ela se interrompeu num soluço baixando a cabeça entre os joelhos. Mas não foi preciso que a garota terminasse a frase... Harry sabia do que a menina estava falando...

- Mione... – começou ele se sentando no chão ao lado da garota, mas logo foi interrompido:

- Eu não queria fazer aquilo... E-eu... Eu não sei o que houve de errado... – murmurou ela ainda de cabeça baixa, dificultando o entendimento por parte do garoto.

-Hermione o qu...

- Eu não queria mata-lo! – falou ela agora olhando para Harry, que pode ver o rosto da garota encharcado em lágrimas – Eu tentei pa-parar... Mas eu não sei o qu... Eu não pud... – eles nunca haviam falado sobre o fato da amiga ter matado alguém... Rabicho, mais especificamente.

- Ele matou Neville. – cortou Harry, agora com a voz mais firme. - Você o vingou...

- Como? Fazendo o mesmo pelo qual eu o julguei?! Harry!

- Ele mereceu!

- Não cabe agente decidir isso, cabe?

- Então porque você fez? – soltou Harry, antes mesmo que pudesse se conter, se arrependendo no segundo seguinte ao encarar a garota. – E-eu... Me desculpe...

- Não... Eu não te culpo... Ou nenhum deles na verdade... Eu o matei... – vendo os olhos da garota se encherem de novo de lágrimas, Harry começou a se desesperar... Muito típico, considerando que ele próprio a atacara daquela forma... Na verdade não havia nada a fazer se não consolar a garota. O que seria relativamente simples, se ela própria não tivesse a brilhante idéia de literalmente chorar no ombro dele...

Com uma desconfortável sensação de dejá vu Harry sentiu o peso da menina no seu ombro enquanto ela chorava em silêncio em cima dele. Subitamente Harry teve uma total e avassaladora noção de que a amiga estava de roupão e camisola, encostada nele.

Sentindo o quarto estranhamente quente, foi inevitável que viesse à mente de Harry, cenas do episódio ocorrido na enfermaria. E mesmo sabendo que a situação estava se tornando agora tão perigosa quanto antes, a primeira idéia que surgiu em sua cabeça, foi passar o braço em volta da garota e puxa-la para si... E antes mesmo que pudesse controlar a si mesmo, quase que num ato reflexo, ele o fez, amaldiçoando a si mesmo logo em seguida. Esperando uma reação da menina, algo como empurra-lo, ou se afastar dele... Quase que com um certo alívio ele pode notar que ela não o fez...

Harry não sabia ao certo quanto tempo eles ficaram ali. Entretanto, ao voltar para o quarto, a sensação que tinha era de que não importando o quanto demorara, não fora o suficiente... Pelo menos não...

- Como ela está? – ele pode ouvir a voz do amigo assim que entrou no quarto.

- Er... Melhor... Eu acho. – e agora com a atenção voltada para outra coisa – Onde está Giny?

- Ela foi dormir... – retrucou ele agora se levantando e seguindo para sua própria cama logo acima – Então o que ela disse? –continuou ele.

- Bem... Não muito... Ela só, chorou... – respondeu Harry sentindo um ligeiro corar no rosto a lembrança da cena.

-Ah... – obviamente o amigo não estava arrependido de não ter ido junto com ele... – Ela parece tão...

- Triste? – completou Harry.

- É. Quero dizer... Não que ela fosse alegre e saltitante antes... É só que... Eu não sei...

- Ela acha que eles estão assim por causa de Rabicho... Pelo que ela...

- É eu imaginei... – e aqui ele parou um instante. Harry sabia que ele queria perguntar algo... E de fato, quase meia hora depois, quando o próprio Harry já se encontrava deitado em sua cama, no escuro , ele pode ouvir o amigo chama-lo timidamente de cima do beliche:

- Harry, ela... Bom... Ela fez mesmo o qu... –Harry abriu os olhos e depois de uma pausa retrucou:

- É... Ela fez. – não houve resposta.

A manhã seguinte, foi, segundo Harry, a manhã mais estranha que possivelmente ele já tivera... E já no café da manhã, a impressão que tivera era a de que o dia inteiro não seria muito diferente... De fato, a quantidade de interrupções ocorridas durante a refeição era absurda, várias pessoas, estando, para infortúnio de Harry, Snape incluído nessa lista, vieram até sede, num espaço de tempo relativamente pequeno. Aparentemente, a noticia de que Sirius Black estava, paradoxalmente, vivo, correra como rastro de pólvora por entre os integrantes da Ordem. O resultado era que várias pequenas e irritantes interrupções foram feitas durante aquela manhã, por várias pessoas que vinham, acorbertadas por todo tipo de desculpa para ver Sirius ou então dar uma boa olhada na menina que o trouxera de volta... Entre outras palavras, por volta das dez da manhã, Hermione já não estava num humor lá muito agradável...

Harry por outro lado, não sabia muito bem como agir... Dilacerando-se entre a tristeza que rondava pela casa e o fantasma da morte de Neville, além é claro do crime cometido pela amiga... E a imensa euforia que sentia cada vez que se juntava a Sirius durante o café da manhã em Grimauld Place... E de fato, pelo menos comparado a antes, a situação de seu padrinho começava a se simplificar... Descontando claro o período no qual ele passara, bom, morto. Mais um motivo para a alegria contida de Harry...

- Então... Ele vai ser inocentado? -perguntou Rony depois da ligeira explicação dada por Harry.

-Bem... Ele não sabe ainda... Quero dizer... Ele disse que eu não devia criar muitas esperanças...

A tarde já estava se encerrando quando os três decidiram se juntar a Bicuço em um dos aposentos... Na verdade aquela era a primeira tarde na qual eles se encontravam completamente livres, não havia nada a fazer...

- Ele está certo... – concordou Hermione – Bem... Com toda essa bagunça que o ministério está agora... Por causa de Voldemort e tal... – e ignorando o resmungo de Rony ela continuou - Um processo como esse pode demorar meses para ser concluído não?

De fato. A notícia do andamento do processo foi recebida com certo alívio por parte de todos, algumas horas depois, durante o jantar, quando Sr. Weasley chegou com a notícia de que o andamento do processo já havia começado.

- Harry querido... Você se importa em ir ajudar Hemione a trazer o resto das garrafas de cerveja amanteigada na despensa?

- Claro, Sra. Weasley... – mentira... Ele não queria ir. Definitivamente, não queria ir... E ainda sim, fez seu melhor pra disfarçar o incomôdo que sentia, visto que Rony se encontrava logo ao seu lado, apesar de não prestar muita atenção no momento. Entretanto Harry pôde sentir os olhos de seu padrinho nele, observando...

- Harry, querido? – era Sra. Weasley.

- Certo. Ok, eu já vou... – se levantando ele seguiu para a despensa...

- Por que você está fazendo isso? – era a voz de Hermione. Parecendo estremamente irritada.

- Você acha que fez muito trazendo ele de volta não? – Harry se surpreendeu ao ouvir logo em seguida a voz de Lupin. Ele nunca o vira agir tão duro com ela quanto agora, e vice-versa, era quase como se fossem duas pessoas completamente diferentes das que ele conhecia... – Dentre todos vocês Hermione... Você era a única de quem eu esperava o mínimo de maturidade e responsabil...

- Oh , não seja tão hipócrita! – desdenhou ela, quase irreconhecível – não diga que você não ficou feliz também... Que você não ficou alegre ao ter o seu melhor amigo de volta!

- Você não sabe do que está falando. Feliz? Você teve sorte de que nada saiu errado com ele... Você faz idéia do trauma que... – Harry podia ver a hora na qual Lupin iria atacar a garota – Você teve sorte de não estar morta. – ele desprezou.

- Você está enganado.

- Estou? – continuou ele. – Você acha que fez um bem pra Harry... Você poderia ter morrido. Pior, pôs em risco a vida de todos, incluindo ele! – fez-se uma pausa, onde Harry pode ouvir um soluço de Hermione. Ela estava chorando, de novo... – Você nem ao menos contou a ele a verdade, contou?

- E-eu...

- Claro que não... Você sabia que se ele soubesse a verdade nunca concordaria! – a conversa agora se tornava cada vez mais estranha... E a sensação que Harry tinha era de que quanto mais sussurrada a conversa ficava, paradoxalmente, ela se tornava mais e mais inflamada - O que você acha que iria acontecer se você tivesse morrido? Como você acha que ele iria se sentir? O que? Você achou que deu tudo certo por sua causa? Você não passa de uma garotinha boba que acabou com mais do que pode agüentar nas mãos Hermione. Você teve sorte.

- Sorte? – ela retrucou, agora mais fria do que nunca. De uma forma tão seca, que Harry só lembrava ter ouvido uma vez, não muito tempo atrás... – Você não faz idéia do que está falando... Sabe... A única diferença entre agente Lupin,é que eu tive coragem suficiente de fazer isso... E diferente de você, eu consegui. – aqui, pela primeira vez Harry pode perceber uma esitação na voz dele:

- Como você...

- Sei? – completou ela. Agora a conversa parecia ter tomado rumos completamente desconhecidos para Harry... – Não cometa o erro de pensar que me conhece Lupin...

- Você está me ameaçando? – cortou ele perplexo.

- Eu estou te avisando. Eu sei exatamente o que eu fiz e dos riscos que eu tomei. E se fosse preciso, eu faria tudo de novo. Com ou sem a sua aprovação.

Harry pode ouvir o barulho da garota pegando as garrafas no balcão, e se apressou em sair dali voltando para a cozinha, de mãos vazias...

- Harry, cadê as garrafas? – era Rony.

-Aqui! – respondeu Hermione, chegando segundos depois, logo atrás de Harry, seguida alguns segundos mais por Lupin, aparentando no máximo um ligeiro aborrecimento...

E se ele demonstrava pelo menos um mínimo resquício da briga que tivera instantes atrás, Hermione por outro lado, não parecia de forma alguma irritada, de fato, qualquer pessoa, exceto quem presenciara a degladiação dos dois, não imaginaria que tal episódio acabara de ocorrer ali...

Não que fizesse muita deferença no momento para Harry, que tinha a cabeça em outra coisa, num certo ponto da conversa, que ele próprio não havia entendido muito bem... Sabendo que deveria se contentar em não descobrir do que eles estavam falando, por correr o risco de ser pego ouvindo conversas por trás de portas... Harry decidiu a duras custas que não queria se envolver diretamente no assunto dos dois, pelo menos por enquanto...

De fato, seus pensamentos estavam tão distantes, que ele próprio levou por volta de dois minutos para perceber que seus olhos se recaíram mais uma vez sobre Hermione... Ela estava sentada bem à sua frente na realidade, não era tão difícil mantê-la no seu campo de visão... Entretanto, só porque ela estava ali tão perto não significava que ela deveria falar com ele... Até mesmo porque ela não estava. E ele tinha uma vaga idéia do porque. A verdade era que a atitude dos dois pelo menos na presença de outros havia mudado muito, não só da parte dele, mas dela também. O que, pensou Harry, não fazia muito sentido, já que quando estavam sozinhos, ambos se tratavam muito bem... Até demais... Quando na realidade deveria ser o contrário... Não fazia sentido, como muita coisa ultimamente...

- Ok! Quem vai lavar os pratos? – perguntou Sra. Weasley, na mesma hora em que Fred e Jorge escapuliam escadas acima para os quartos.

- Giny?

- Ah não! Eu lavei os de ontem! – protestou ela. – Na verdade eu já estava até subindo... Hermione?

- Hãn? O que?- respondeu ela parecendo um pouco aérea. – Oh! Claro... Vamos.

- Eu lavo... – respondeu Sirius – Harry? – chamou ele visto que o garoto começava a seguir as meninas. – Ajuda?

– Oh... Ok. – e dando uma última olhada nas meninas subindo as escadas, Harry foi pra junto do padrinho.

-Então... – começou Rony, obviamente apressado para se juntar as duas – Eu te vejo lá em cima... Se divirta! – e se virando subiu também atrás delas.

Não demorou muito para que Harry ficasse sozinho com o padrinho na cozinha, visto que o mesmo parecia querer alongar o serviço que podia ser feito em meia hora, pelo máximo de tempo possível...

- Então... – começou ele. Harry apenas parou com o prato que enchugava no ar. Com uma ligeira sensação de que a conversa não ia ser muito agradável:

- Sim...? – estranhou Harry.

- Isto é estranho, eu imagino... – murmurou ele antes de perguntar de fato- Você precisa conversar? Sobre... Sei lá, eu só... Bem, eu não pude deixar de notar... Algumas diferenças, em vocês, quero dizer... – ele parecia um tanto cuidadoso demais, medindo as palavras. Na realidade ele estava tão cuidadoso, que quase não fazia sentido nenhum... Entretanto, Harry sabia perfeitamente do que o padrinho estava falando, e com certeza não seria uma conversa agradável...

- Er... Eu não sei do que você está falando... – desconversou Harry, pondo o prato que estava na mão na mesa e pegando outro nas mãos do padrinho. Que pra sua surpresa, riu:

- Você não sabe... Você precisa de um desenho? – zombou ele ainda sorrindo, de forma irritantemente cúmplice. – Olhe... – recomeçou ele agora um pouco mais sério ao ver a expressão no rosto do afilhado.

-Sirius eu estou bem. Sério, você ta pensando demais... Eu to bem, eu to ótimo na realidade. Eu to bem! Nós estamos todos bem!

- Mais um “bem” e eu não acreditaria em você... –respondeu ele simplesmente.

Ele sabia. E Harry sabia que ele sabia... Levara quanto tempo para ele notar? Quatro, cinco dias? Estava tão óbvio assim?

- Olhe... Não é nada... – falou ele , se virando agora para o padrinho. Não adiantou muito... – É só, as coisas estão... Diferentes, ultimamente... Do que costumavam ser, eu quero dizer... Eu não sei porque. Elas só... Mudaram...

- Num bom sentido? – perguntou ele agora se sentando na cadeira à esquerda de Harry.

- E-eu... Eu não sei... Eu acho que sim... Quero dizer, eu não tenho certeza... Ainda...

- Olhe... Você não deveria se sentir culpado. Não é o tipo de coisa eu você escolhe...

- O que você quer dizer?

- Bem... Vocês se conhecem faz um tempo certo? É normal qu...

- Do que você está falando? – aqui, ele parou e encarou Harry por um tempo. Abrindo a boca por um momento, ele pareceu mudar de idéia sobre o que quer que ele fosse dizer, apenas respondendo:

- Harry... Eu só quero que você saiba que seja lá sobre o que você precise conversar. Você pode vir falar comigo certo? – ofereceu ele, com um ligeiro sorriso no rosto.

- Certo... - Ainda meio confuso, Harry se levantou e foi se juntar a Rony, no quarto. Não tinha muita certeza se havia feito diferença, o fato de ter tido aquela conversa... Mas era agradável saber que ele poderia tinha a oportunidade de conversar com o padrinho a qualquer hora...

O que não demorou muito para se provar algo muito valioso, após a volta para Horgwarts... Visto que a situação entre os três não mudara muito... E não era de fato muito difícil de notar isso, não só da parte dos três, mas de todos interessados no assunto, que por um ligeiro infortúnio não eram poucos.

Era quase como se um acordo mútuo entre os três houvesse sido feito, para que não se comentasse nada sobre os rumores que corriam pelo colégio sobre o relacionamento deles. E em prol de manter o bem-estar do trio, Harry concordava que pelo menos por enquanto, era com certeza a melhor coisa a se fazer...

- Merda! – murmurou Rony. Seu braço acabara de se encostar no tinteiro de Harry, resultando numa enorme mancha em seu braço esquerdo.

- Rony não chingue. – respondeu Hermione sem nem ao menos tirar os olhos da redação que escrevia. Era sábado, e o dia estava claro e ensolarado. Em outra circunstância, os três poderiam estar na comunal, ou no salão principal adiantando seus deveres, ou segundo Rony, fazendo absolutamente nada em frente a lareira. Mas tal tentativa havia sido falha, devido ao terrível desconforto que era ter uma quantidade relativa de alunos encarando você em cada movimento que você faz. O resultado foi que o trio acabou por optar pelo jardim se acomodando sob uma árvore com sombra o suficiente.

- Merda não é um palavrão... – retrucou ele ainda deitado aos pés a garota, que se encontrava encostada na árvore ao lado de Harry.

-Claro que é. – respondeu ela de forma seca sem nem ao menos levantar os olhos. Uma pausa se fez, onde Harry encarou o amigo, e o observou sentar-se de frente para os dois. Ele estava sorrindo. Harry sabia o que ele iria fazer, e apenas voltou para sua prórpia redação, num tremendo esforço para que ele próprio não risse também.

- Merda. – falou ele simplesmente.

- Rony! – censurou a garota, parando agora de escrever.

-Merda.

- Pare de falar isso! – retrucou ela agora parecendo irritada.

- Merda.

- Harry! – exclamou ela, obviamente em busca de apoio. Aqui ele olhou para a garota surpreso. Entretanto...

- Ele está certo... Merda não é um palavrão. – respondeu ele segurando uma gargalhada.

-Claro que é! – irritou-se ela, divertindo ainda mais os garotos. – Agora dá pra parar? – não demorou muito para Harry irrita-la ainda mais:

- Merda...

- Ok. Já chega! – exclamou ela. Enquanto os garotos rolavam de dar risada. – Quer saber? Aqui! Tome! – exclamou ela jogando o percaminho eo livro em sua mão no colo de Rony.

-Hei! – reclamou ele, ainda entre risos. –Hermione! Espere! – gritou ele enquanto a amiga se afastava dos dois a passos largos. – Hermione essa redação é pra segunda! O que eu vou fazer? – gritou ele indignado. Enquanto Harry encarava o amigo ainda rindo. – Não ria! – mas ele próprio voltou a rir no segundo seguinte.

É de fato, as coisas não eram tão ruins quanto pareciam. Afinal os três eram amigos, e continuariam assim, certas coisas não mudam mesmo, e essa era definitivamente uma delas... Até mesmo porque eles já haviam passado por tanta coisa que não havia nada demais que poderia interferir nisso agora, havia?

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