Décimo Segundo Capítulo.



~~> Décimo Segundo Capítulo.


“Nem tudo é o que parece ser...”


 


  O pouco da madrugada que ainda restava se passou. Todos dormiram bem. Não passava de seis da manhã quando Liu acordou com alguém a chamando, uma voz masculina, como sabia que o único “elemento masculino” que estava naquela casa era o Eduzinho, simplesmente ignorou o chamado e voltou a dormir.


  Para Liu o dia pareceu correr. Talvez fosse por causa de sua ansiedade para encontrar – se com Sirius na praça à noite. Tudo que fez durante o dia, ou melhor, à tarde, já que havia acordado um pouco mais tarde do que normalmente, foi ajudar Mary Kate com os afazeres domésticos enquanto conversavam sobre tudo.


  Para Sirius não foi muito diferente. Contava os minutos para ver Liu. Cada vez em que eles se viam parecia que haviam passado uma eternidade sem se ver.


  Já fazia algum tempo que o dia havia ficado escuro quando Mary Kate, Liu e Eduzinho saíram de casa para encontrar Sirius.


  Mary Kate e Liu caminhavam enquanto riam de coisas banais, sem nem ao menos perceber que a noite estava um pouco mais escura do que o normal, e que o vento soprava de uma maneira diferente, como se algo estivesse dando errado em algum lugar.


  Entre risos e tropeços os três chegaram à praça. O cachecol que estava amarrado no pescoço de Liu, devido ao frio anormal que estava fazendo por causa dos ventos repentinos, foi levado pelo vento, alçando vôo pela praça, cuja lâmpada do poste principal piscava como se fosse queimar em breve.


  - E o vento levou! – Brincou Liu enquanto ia até o lugar onde o seu cachecol havia parado.


  - Cadê o Sirius?! – Questionou Mary Kate de uma maneira preocupada.


  - Deve estar chegando já... – Respondeu Liu que estava abaixada com o cachecol já em mãos.


  Ao se levantar Liu sentiu uma sensação ruim, uma angústia inexplicável. Seu coração acelerou, sua respiração tornou – se descompassada. Quase que por instinto ela voltou para o seu lugar ao lado de Mary Kate e Eduzinho.


  - “Respira Liu... Respira...” – Repetia Liu mentalmente enquanto olhava para todos os lugares à procura de Sirius.


  - Que coisinha mais linda... Um encontro em uma praça deserta... – Uma voz aguda ecoou pela praça. Um arrepio percorreu o corpo de Liu. Eduzinho estava preparado para atacar fosse quem fosse... Suas unhas afiadas estavam à amostra. Mary Kate assustou – se ao ouvir aquela voz. Liu, assim como Mary Kate, pegou sua varinha. – Bem romântico... – Completou a voz finalmente saindo da escuridão total e entrando na escuridão parcial da lâmpada que insistia em piscar.


  - Você! – Gritou Liu ao ver a quem pertencia à voz. Um sentimento de medo invadiu sua alma.


  Era ela, a sua tia. Marta. Tão aterrorizante e esnobe quanto sempre fora. Seus cabelos negros pareciam ainda mais negros devido à quase falta de luz. Todo o ambiente parecia colaborar para que tudo aquilo parecesse ainda pior do que era.


  O vento soprou forte, os cabelos de Marta balançaram, ela esboçou um sorriso irônico.


  - Olá minha querida sobrinha... – Murmurou Marta com sua varinha em mãos. – Mary Kate... – Adicionou em seguida com um tom de decepção.


  - Marta... – Retrucou Mary Kate com um tom quase inaudível de voz. Não conseguia mais chamar aquela mulher de “mãe”.


  - Onde está o Sirius?! – Liu perguntou desconfiando que talvez Marta estivesse envolvida com o atraso do maroto.


  - O frangote?! – Retrucou Marta. - Eu diria no inferno... Mas seria mentira, ele ainda não está no inferno. Seria muito pouco apenas mandar ele para o inferno sem você presente aqui para ver o sofrimento dele. – Adicionou.


  - ONDE ESTÁ O SIRIUS?! – Gritou Liu em desespero.


  - Olá defuntinha... – Disse uma voz masculina que adentrava aos poucos das sombras para a luz.


  - SIRIUS! – Exclamou Liu.


  Nosferato, que já se tornava visível por causa da luz, trazia junto consigo uma “surpresinha”. Era Sirius, que estava em uma posição vulnerável já que estava sem sua varinha, e a varinha de Nosferato estava apontada para a sua jugular, enquanto uma de suas mãos, a que não estava com a varinha, segurava o braço do maroto.


  - Sentiu minha falta?! – Perguntou Nosferato com um tom de provocação.


  - Liu, não faça nenhuma besteira... – Murmurou Sirius com lágrimas nos olhos. Mary Kate estava paralisada por uma força invisível, o medo, apenas olhava fixamente para os olhos azuis de Nosferato. Por mais estranho que parecesse, aqueles olhos azuis lhe traziam conforto e paz.


  - Solte – o! – Pediu Liu enquanto finas lágrimas lhe caiam da face. Não agüentaria perder mais ninguém, ainda mais Sirius.


  - NUNCA! – Exclamou Marta num tom alto de voz. Nosferato e Mary Kate olhavam fixamente um nos olhos do outro. Eduzinho parecia estar tramando algo.


  - SOLTE – O! – Voltou a dizer Liu, dessa vez como se fosse uma ordem.


  - Ele, assim como você, merece morrer! – Pontuou Marta. – A única diferença é que você merece sofrer muito antes de morrer. E não existe sofrimento maior do que a perda de um grande Amor. – Acrescentou com um sorriso vitorioso. – A culpa da morte dele vai ser toda sua. Somente sua. Assim como foi com o seu querido irmão. Se você não tivesse se deixado envolver com esse frangote, eu não teria de ser obrigada a matar ele de uma maneira lenta e dolorosa. Tudo sua culpa. – Continuou em uma tentativa de torturar Liu psicologicamente.


  - “Minha culpa...” – Pensou Liu baixando a cabeça por alguns milésimos de segundo.


  - Você ainda não me matou para ficar comemorando! – Liu ouviu Sirius dizer de uma maneira corajosa.


  - Isso é só uma questão de tempo frangote. Pouco tempo. – Pontuou Marta. – Você não tem o que fazer minha querida sobrinha, de qualquer forma ele vai morrer. Você pode fugir para não ver a morte dele, mas eu sei que mesmo distante você vai puder ouvir os gritos de agonia e dor que seu Amado vai soltar antes de dar o último suspiro. – Falou com convicção.


  - Vá embora Liu... – Pediu Sirius. – Não fique aqui se arriscando por mim... – Adicionou. Nosferato apertou o braço de Sirius.


  - Não posso Si... – Murmurou Liu. – Eu vou lutar até o meu último suspiro para ter certeza de que nada vai te acontecer... – Acrescentou.


  - DESGRAÇA! – Todos ouviram Nosferato gritar enquanto soltava Sirius por um breve momento. Sirius aproveitou o momento de distração e correu para o lado de Liu.


  - Si... – Disse Liu com a voz falhando enquanto abraçava Sirius.


  - Eduzinho... – Liu ouviu Mary Kate murmurar, logo em seguida olhou novamente para o lugar onde Nosferato estava.


  Tudo pareceu ficar em câmera lenta. Os movimentos eram lentos e torturantes. Liu viu o seu pequeno gato atacando Nosferato como se fosse o maior dos felinos. A coragem daquele pequeno gato branco não cabia em seu corpo, era maior do que a coragem de qualquer um ali presente.


  Ainda em câmera lenta, como uma tortura digna dos piores ditadores, Liu viu Nosferato apontar sua varinha para Eduzinho. “Não”, foi tudo que a garota conseguiu pensar no momento, logo após viu uma luz verde sair da varinha de um dos seus piores inimigos. Uma luz verde que acertou o pequeno gato, que caiu frio ao chão.


  - NÃO! – Liu gritou pouco antes de largar sua varinha, que caía lentamente no chão.


  - Não faça isso Liu! – Pediu Sirius tentando segurar Liu pelo braço. Mary Kate chorava, não tanto quanto Liu, mas chorava.


  O desespero de Liu fora tão grande que ela correu em direção ao pequeno corpo de seu gato mesmo Sirius tendo tentado impedir ela.


  - Tolinha... – Murmurou Nosferato pouco antes de soltar um feitiço que amarrou Liu com cordas em uma árvore que estava próxima ao corpo de Eduzinho, fazendo com que ela não pudesse se movimentar nem ao menos para chorar ao lado do corpo de seu gato.


  - LIU! – Gritou Sirius desesperado.


  - Agora você vai ficar aí quietinha assistindo o seu namoradinho morrer... – Avisou Marta com um sorriso vitorioso. Sirius rapidamente se abaixou e pegou a varinha que Liu havia deixado cair no chão.


  - Se depender de mim ela vai assistir você morrer! – Retrucou Sirius de uma maneira atrevida.


  - Mary, por você ser minha filha eu te darei uma última chance. – Começou Marta. – Escolha ao lado de quem você quer lutar. – Disse esperando que Mary Kate dissesse que lutaria ao lado dela, assim seria três contra um, e não dois contra dois.


  - Você ainda tem a audácia de me perguntar de que lado eu quero lutar?! – Questionou Mary Kate. – Depois de tudo que você fez você ainda me pergunta de que lado eu estou?! – Perguntou em seguida. – Pode ter certeza de que do seu lado eu nunca, NUNCA, mais estarei... – Pontuou. – Tudo que eu consigo sentir por você é desprezo, Marta. – Adicionou tirando coragem de algum lugar. Talvez dos olhos azuis de Nosferato.


  - Se essa é a sua escolha... Saiba que eu não sentirei receio algum em fazer com você o que eu faria com qualquer outro dos meus inimigos. – Disse Marta apontando sua varinha para Mary Kate na medida em que Nosferato apontava a varinha dele para Sirius.


  - Saiba que eu também não terei pena de você. – Retrucou Mary Kate.


  - Vá embora Si! – Gritou Liu com medo do que poderia acontecer. – Você também Mary! – Adicionou em desespero. – Chega de mortes por hoje... – Murmurou.


  - Não posso Liu. Eu vou lutar até o meu último suspiro para ter certeza de que nada vai te acontecer... – Disse Sirius fazendo das palavras de Liu as palavras dele.


  - Eu simplesmente não posso abandonar a minha prima desse jeito... – Pontuou Mary Kate sorrindo para Liu.


  Um duelo então se iniciou. Sirius, um maroto de olhos azuis – cinzentos e cabelos negros. Cuja maior paixão se encontrava amarrada a uma árvore, enfrentava seu oponente. Nosferato, esse era o oponente de Sirius, um homem alto cujos olhos azuis eram penetrantes, e cujo Amor havia lhe cegado, fazendo dele apenas um capacho para Marta.


  Marta, que duelava contra sua própria filha, era fria e incapaz de sentir qualquer tipo de sentimento bom por alguém, o único que havia Amado pertencia à outra mulher, e essa mulher era sua irmã. Mary Kate, que não era muito boa em duelos, travava uma batalha épica contra aquela que um dia havia chamado de “mãe” e que para quem contou seus maiores segredos.


  Liu sentia – se impotente diante de tudo aquilo. Sabia que aquela situação não acabaria bem. Sem dúvidas alguém sairia ferido, ou morto, daqueles dois duelos. Ela queria duelar, aquela batalha era dela, não de Sirius e muito menos ainda de Mary Kate.


  - AVADA KEDAVRA! – Nosferato gritou apontando a varinha para Sirius. Liu fechou os olhos.


  - Precisa usar óculos para ver se melhora a sua mira... – Provocou Sirius que havia conseguido desviar da maldição lançada por Nosferato sem muito esforço.


  - Garoto insolente. Vai morrer antes que o primeiro dos raios de sol toque o chão dessa praça. – Avisou Nosferato em um tom de ameaça.


  - EXPELLIARMUS! – Gritou Mary Kate em uma tentativa falha de desarmar a sua mãe.


  - Esse é o seu melhor?! – Provocou Marta. – Acho que a qualidade do ensino de Hogwarts está pior do que antes... – Disse com um tom ainda mais provocante.


  - CRUCIUS! – Disse Nosferato com convicção enquanto apontava sua varinha para Sirius, que caiu no chão se contorcendo de dor.


  - DEIXA - O EM PAZ SEU FILHO DA MÃE! – Gritou Liu ao ver Sirius se contorcendo de dor. Nosferato retirou o feitiço e respirou fundo.


  - Você vai me deixar totalmente sem paciência defuntinha... – Pontuou Nosferato com um sorriso irônico nos lábios.


  - Ótimo! Porque a minha paciência com você já se esgotou! – Retrucou Liu, que disfarçadamente tentava se soltar das cordas.


  Enquanto Liu discutia com Nosferato, Sirius apontou sua varinha para seu oponente, e sem dizer nada o fez voar para longe e tombar de vez no chão.


  - Maldito! – Exclamou Nosferato enfurecido.


  - CRUCIUS! – Gritou Sirius apontando para Nosferato e deixando sua fúria tomar conta de si.


  - Sempre precisando de mim... Incrível isso... – Reclamou Marta pouco antes de desfazer o efeito que a maldição estava provocando em Nosferato, sem se desconcentrar de sua luta com Mary Kate.


  - O corno precisou de ajuda... Que coisa mais emocionante! – Provocou Liu com um tom de voz alto.


  - Não te ensinaram que não é prudente provocar seu inimigo quando você está em uma situação vulnerável?! – Perguntou Nosferato enfurecido enquanto ficava atento para não levar outro feitiço.


  - Vulnerável eu?! Acho que você é que está vulnerável... Emocionalmente vulnerável. – Retrucou Liu que tinha como objetivo distrair Nosferato.


  - Pare de conversar Nosferato! – Gritou Marta enquanto continuava duelando com Mary Kate.


  - Você vai ver o seu queridinho sofrer muito. – Disse Nosferato por fim.


  Os duelos continuavam. Liu ainda tentava se soltar daquelas cordas que a prendiam em uma árvore. Não dava para saber quem ganharia no duelo entre Sirius e Nosferato, já que ele estava bastante equilibrado. No entanto, no duelo entre Mary Kate e Marta, estava mais do que claro quem provavelmente sairia ganhando.


  O vento fazia barulhos fantasmagóricos quando entrava em contato com as folhas e galhos das árvores, e fazia com que os brinquedos, do pequeno parque para crianças que tinha perto, se movessem sozinhos.


  - AVADA KEDAVRA! – Um grito ecoou pelo local no momento em que Liu estava distraída, pois tinha acabado de conseguir se soltar das cordas.


  Liu olhou para frente assustada. Seus olhos não conseguiam lhe dizer exatamente o que havia acontecido. Haviam dois corpos “desacordados”. O primeiro corpo era de Sirius, que estava “encostado” em uma árvore como se tivesse acabado de se bater em tal lugar. O segundo era de Mary Kate, que estava caído no chão.


  Sem nem parar para pensar nas conseqüências de seu ato, Liu correu até Sirius para checar se ele ainda estava vivo. Dos olhos da garota lágrimas caíam.


  Sentou ao lado do corpo de Sirius, botou sua mão no lugar onde o coração do maroto supostamente estaria batendo, fechou os olhos brevemente para tentar se concentrar e quem sabe sentir a batida do coração de Sirius. Sorriu levemente ao sentir que o coração de seu Amado ainda batia.


  Ainda ao lado de Sirius, Liu deu mais uma olhada na cena. Só então percebeu que Nosferato parecia estar em um estado de choque, enquanto Marta sorria um sorriso vitorioso. Parou para pensar, estava óbvio para quem a maldição da morte havia sido direcionada.


  Liu começou a se desesperar e a chorar cada vez mais, pegou a sua varinha que estava caída ao lado de Sirius, agora era ela contra aqueles dois, mas só usaria aquela varinha para se defender, iria tentar acabar com tudo aquilo de outra maneira. Nosferato estava com um olhar vazio, como se estivesse vazio por dentro.


  - E então minha querida sobrinha... Está satisfeita agora?! Ou quer perder esse frangote também?! – Perguntou Marta sorrindo vitoriosa.


  - Como você foi capaz de matar a sua própria filha?! – Liu perguntou num resquício de voz.


  - Ela deixou de ser minha filha no momento em que resolveu ficar sua amiguinha. – Retrucou Marta seriamente. – Para mim ela era somente uma garota qualquer. – Adicionou.


  - Para mim já chega! – Exclamou Liu. – O que você quer que eu faça para você parar com tudo isso?! – Questionou em meio a lágrimas. Nosferato estava de cabeça baixa.


  - Não sei... O que você acha que eu quero?! – Respondeu Marta. – Cuidado... Só tem uma resposta certa para essa pergunta... – Acrescentou com sua varinha apontada para Liu.


  - “Me desculpa mãe...” – Pensou Liu pouco antes de dirigir sua mão até o pescoço de Sirius e tirar a corrente que havia sido de sua mãe e que ela tinha dado de presente para ele. – Se é isso que você quer, tome! – Exclamou com a corrente em mãos, oferecendo – a para Marta. – Se é esse o preço da minha paz e da segurança daqueles que eu Amo, acho que não tenho de pensar duas vezes. – Continuou. – Essa maldita corrente já me trouxe sofrimento o suficiente. – Murmurou por fim.


  - Você realmente acha que é isso que eu quero?! – Questionou Marta rindo de uma maneira maléfica. – Sinceramente, eu esperava mais de você... – Adicionou com uma cara de decepção e um sorriso de provocação.


  - Mas você sempre quis essa corrente! Por isso, por essa corrente, que você me persegue! Eu não entendo... Agora que você finalmente pode ter o que você sempre quis, você diz uma coisa dessas... – Disse Liu confusa.


  - Você é tão idiota quanto a sua mãe! – Gritou Marta em meio a risos. – A corrente era só uma desculpa. Uma desculpa perfeita. – Continuou. – Eu quero ver você sofrer... Você merece sofrer... Você tem de sofrer. - Finalizou.


  - O que eu te fiz para merecer sofrer?! – Questionou Liu enquanto chorava.


  - Nasceu. – Respondeu Marta com simplicidade.


  - Eu não pedi para nascer! – Retrucou Liu nervosa.


  - Você não entende... – Murmurou Marta. – Você é a prova viva, quer dizer, viva por pouco tempo, que sua mãe e seu pai se Amavam. – Disse num tom de tristeza.


  - Óbvio que eles se Amavam. – Reclamou Liu.


  - Mesmo depois daquele bastardinho... – Continuou Marta ignorando Liu. – Minha querida irmã Lila foi capaz de perdoar o seu pai. Mesmo sabendo do bastardo! – Reclamou. – Teria sido a oportunidade perfeita para o Richard descobrir que quem ele realmente Amava era eu. Mas não... Ela o perdoou, não deixando ele livre para mim. – Adicionou.


  - Até parece que meu pai algum dia te Amou. Só nos seus sonhos! – Retrucou Liu irritada.


  - Aí você nasceu. Deixando bem claro que eles dois ainda se Amavam muito. O que não podia ser verdade! Sabe... Eu nem senti pena da sua mãe quando o Richard morreu. Eu sorri sabia?! Ela merecia sofrer! Assim como você merece sofrer. – Disse Marta com uma cara típica de uma pessoa obsessiva. – Se ele tivesse dito que me Amava, e largado sua mãe, talvez ele não tivesse morrido... – Adicionou.


  - Você ma – matou o meu pai?! – Questionou Liu um pouco chocada.


  - Nunca! – Gritou Marta. – Ele morreu de causas naturais mesmo. Eu nunca seria capaz de matar o Richard. Mas a sua mãe o deixava estressado. Tudo que eu falava para ela, sobre ele não Amar ela, ou sobre a mãe do bastardinho, ela ia lá e contava para o seu pai. Não foi minha culpa o coração do Richard ter ficado cansado de tudo aquilo. – Disse nervosa.


  - Pelo Amor que você tinha pelo meu pai, me deixa em paz... – Pediu Liu com a corrente ainda em sua mão, apelando para o “lado bom” de sua Tia.


  - Engraçado... Eu me lembro de sua mãe me dizendo isso no dia em que ela morreu. “Marta, por favor, pelo Amor que você tinha pelo Richard, deixe a minha família em paz...”, só porque eu disse que ia contar para todo mundo sobre o bastardinho, e que não ia sossegar enquanto você não tivesse pagado por tudo. - Confessou Marta.


  - Você é a culpada pela morte da minha mãe! – Exclamou Liu de repente.


  - Eu não queria que ela morresse... Por mais que eu a odiasse, ela era minha irmã... Você que deveria ter morrido já! Mas... Ela me obrigou a fazer aquilo... Contra a minha vontade. Foram as minhas mãos que colocaram o veneno na bebida dela, mas foi ela que “comprou o veneno”. – Disse Marta em desespero.


  - Você é uma louca! – Gritou Liu ainda chorando.


  - Eu?! Louca?! – Questionou Marta. – Acho que você está exagerando... – Murmurou. – Pronta para sofrer por tudo que você me fez?! – Perguntou por fim.


  - Eu não te fiz nada... – Murmurou Liu. Marta soltou um feitiço, fazendo com que a varinha que estava na mão de Liu voasse para longe.


  - Nosferato! Mate o frangote! – Ordenou Marta.


  - NÃO! – Gritou Liu enquanto se debruçava sobre o corpo desacordado de Sirius. – Eu não vou deixar que isso aconteça... – Murmurou entre lágrimas enquanto fechava os olhos.


  - Vá em frente Nosferato... – Disse Marta com um sorriso vitorioso na face.


  - AVADA KEDAVRA! – Gritou Nosferato com raiva.


  Uma luz forte iluminou o local por breves instantes. Em seguida, até mesmo a lâmpada que estava piscando, parou de funcionar. Deixando o local escuro.


  - “Porque está tudo tão escuro?!” – Se perguntou Liu enquanto abria os olhos devagar.


  Um pequeno foco de luz se fez no local. Automaticamente Liu olhou para o foco de luz.


  O foco de luz vinha da ponta da varinha de Nosferato, que estava abaixando para pegar o corpo de Mary Kate que estava no chão. Ao pegar o corpo da filha, Nosferato levou o seu olhar até os olhos de Liu, e de alguma forma lançou um objeto para ela, enquanto abaixava a cabeça como se quisesse pedir desculpas.


  Liu pegou o objeto que Nosferato havia lhe jogado. Era a varinha de Sirius.


  - Lumus... – Disse Liu fazendo com que da ponta de sua varinha se formasse um foco de luz. A garota olhou mais uma vez para aquele outro foco de luz que se tornava cada vez mais distante, até que finalmente o foco de luz sumiu na escuridão.


  - Eu morri e fui para o céu?! – Perguntou uma voz fraca vinda de um local bem próximo à Liu.


  - Si! – Exclamou Liu chorando de felicidade enquanto olhava para Sirius.


  Repentinamente, a luz que havia se apagado acendeu novamente. Agora com força total, deixando o local totalmente iluminado. Liu desfez o feitiço que iluminava a ponta de sua varinha.


  Na praça restavam apenas quatro corpos. Sendo que dois inanimados. O corpo de Eduzinho, morto. Sirius e Liu, vivos. E o quarto corpo, largado no ponto mais escuro da praça já clara, era o corpo sem vida de Marta.


  - Me tira daqui Si... – Pediu Liu. – Eu quero ir embora. – Adicionou.


  - Cadê a Mary?! – Perguntou Sirius confuso enquanto se levantava com dificuldade.


  - Com o pai dela... – Respondeu Liu com uma cara triste enquanto também se levantava e ia em direção à sua varinha que estava no chão.


  - Onde está a minha corrente?! – Sirius perguntou desesperado enquanto procurava a corrente que costumava ficar em seu pescoço.


  - Comigo. – Respondeu Liu que já havia pegado sua varinha, e agora estava do lado de Sirius. – Aqui. – Adicionou entregando a corrente para Sirius, que automaticamente a colocou no pescoço.


  Ambos foram andando até o lugar onde o corpo de Eduzinho estava.


  - Tudo vai ficar melhor de hoje em diante, Liu... – Consolou Sirius. Liu estava de cabeça baixa.


  Liu abraçou Sirius como se estivesse buscando conforto nos braços do maroto. Repentinamente, a cabeça da garota começou a doer bastante, sentia o mundo girado sob os seus pés. Fechou os olhos, pois se sentia tonta. Sua respiração se tornou inconstante, seu coração acelerou.


  - Você está bem Liu?! – Perguntou Sirius ao notar a respiração descompassada da garota. – LIU! - Gritou quando ela desmaiou em seus braços.


  Sem muito pensar, Sirius segurou Liu firmemente, foi até o corpo sem vida de Eduzinho, e aparatou para longe daquele lugar com Liu desmaiada em seus braços, e Eduzinho morto.


  Fez – se então o absoluto silêncio no lugar quase sem vida da praça. A lâmpada, que até pouco tempo havia voltado a funcionar, queimou de vez. Deixando a escuridão tomar conta daquele lugar, para que as sombras dos seres mais ocultos pudessem se alimentar do que havia sobrado do último suspiro vital de uma mulher de cabelos negros como a noite e coração gelado como o vento que por ali passava.


  Ciúmes. Inveja. Ódio. São sentimentos que não são bons de cultivar, ainda mais demasiadamente. Às vezes eles podem levar as pessoas à loucura, ou ao seu túmulo.


  Naquela praça, o corpo de Marta permaneceu sozinho, não tinha ninguém para chorar por ela, nem mesmo uma pedra. Aquilo era tudo que ela tinha. Solidão, silêncio, sombras e parasitas.


  - O que... – Começou uma voz que exaltava surpresa e preocupação.


  - Sem muita conversa, por favor. – Pediu uma segunda voz que havia acabado de entrar no local. – A Liu precisa de nossa ajuda, e eu preciso da sua ajuda. – Adicionou de maneira clara.


  - Sirius! Ai meu Deus! Esse é... – Continuou a voz que antes parecia surpresa, agora com tristeza no tom de voz.


  - Sim Mathews. É o Eduzinho. E eu não tenho tempo para conversar. Preciso que você me leve para um hospital trouxa, a Liu não está bem. – Pontuou Sirius de uma maneira rápida enquanto botava Liu em cima do sofá da sala da casa de Mathews. – Esconde o corpo do Eduzinho por enquanto?! – Perguntou em seguida.


  - Ela sabe que o Eduzinho morreu?! – Questionou Mathews que estava sem saber o que falar ou fazer.


  - Sabe. Dá para andar rápido?! – Disse Sirius enquanto tentava parar para pensar no que faria uma vez que conseguisse chegar ao hospital.


  - Claro. – Respondeu Mathews pegando o corpo de Eduzinho e escondendo em um armário que sua mãe usava para guardar os casacos das visitas quando faziam festas. – Vou só pegar a chave do carro. – Disse com a mente um pouco confusa devido ao fato de ter sido pego de surpresa, nem mesmo chegou a notar que estava trajando apenas pijamas.


  - Seja rápido então. – Murmurou Sirius enquanto andava de um lado para o outro da sala, preocupado com o que poderia acontecer com Liu. – “Merlin, se você está me escutando, por favor, faz com que esse desmaio tenha sido somente um desmaio, e que não tenha nada de errado com a Liu... Por favor.” – Pensou enquanto finas lágrimas escorriam de seus olhos.


  Antes que Sirius pudesse sequer pensar em avisar Douglas sobre o acontecido, Mathews desceu as escadas com as chaves do carro em mãos, e todos partiram para um hospital trouxa, onde, segundo Mathews, fariam com que Liu entrasse pela emergência, já que a garota continuava inconsciente apesar de Sirius ficar chamando seu nome para ver se ela acordava.


  - Até que enfim. Você bem que poderia ter acelerado um pouco mais, não?! – Reclamou Sirius enquanto saía do carro carregando Liu.


  - Se eu tivesse andado mais depressa morreríamos todos em um acidente de carro. – Retrucou Mathews enquanto eles entravam no hospital pela ala de emergência.


  - ALGUÉM AQUI É MÉDICO?! – Gritou Sirius desesperado ao entrar no hospital e ver várias pessoas de branco andando de um lado para o outro.


  - Essa foi uma pergunta totalmente idiota. – Murmurou Mathews. – Hey! A garota aqui está desacordada já faz mais de dez minutos, será que dá para ajudar?! – Disse enquanto parava um dos médicos que estava de plantão na emergência.


  Não demorou muito para que Liu já estivesse em cima de uma maca, com um médico checando seus batimentos cardíacos, e enfermeiras ajudando o médico.


  - O que houve?! – Questionou o médico.


  - Ela desmaiou de repente. – Respondeu Sirius com tristeza no tom de voz.


  - Primeira vez que ela desmaia assim?! – Perguntou o médico.


  - Não. – Respondeu Sirius de uma maneira sincera.


  - Nós vamos fazer alguns exames, em breve voltarei para te dar notícias sobre ela. Aguarde ali na sala de espera, e preencha essa ficha, por favor. – Disse o médico com pressa, antes de entregar a ficha para Sirius e seguir com as enfermeiras para uma sala distante.


  Sirius obedeceu, e partiu para a sala de espera com uma ficha em mãos junto com Mathews.


  A sala de espera não era exatamente o lugar mais agradável do mundo. Muito pelo contrário. Como se já não bastasse estar em um hospital, com alguém “doente” longe de si, ainda tinha várias pessoas chorando isoladamente ou em família, no mesmo ambiente em que Sirius se encontrava.


  - Ela era tão jovem. – Sirius ouviu uma mulher idosa murmurar em meio a lágrimas.


  - Ela vai ficar bem, vovó. – Outra pessoa consolou. Sirius sentiu uma grande vontade de chorar e reclamar da vida.


  - E o Douglas?! – Perguntou Mathews repentinamente. – Cadê ele?!


  - Ele... Ele não sabe de nada. – Respondeu Sirius baixando a cabeça e a afundando em suas próprias mãos.


  - Não acha que seria apropriado avisar a ele do que aconteceu?! – Questionou Mathews que se estava se mantendo equilibrado diante da situação.


  - Eu acho que ele tem de saber sim. Só não sei se vou conseguir avisar. – Murmurou Sirius.


  - Eu faço isso por você, eu sei o telefone da casa dele, e dou um jeito de ligar para lá. – Prontificou – se Mathews se levantando da poltrona em que havia sentado na sala de espera, que ficava ao lado da poltrona em que Sirius estava. – Ela vai ficar bem, relaxe e preencha a ficha. – Adicionou antes de sair da sala de espera em busca de um telefone.


  - Relaxar... Isso me parece difícil... – Murmurou Sirius para si próprio enquanto voltava a analisar a sala de espera.


  - Moça... Posso fazer uma ligação?! – Perguntou Mathews ao chegar à recepção do hospital, onde havia um telefone em cima de uma bancada, perto da recepcionista.


  - Fique à vontade garoto. – Respondeu a recepcionista que aparentava ter pouco mais que cinqüenta anos.


  Mathews pegou o telefone e discou o número, logo em seguida esperando Douglas atender. “Olá! Você ligou para a casa de Douglas Wolfgrand e Isabel Wolfgrand. No momento nós estamos em lua de mel e não pretendemos atender ao telefone. Se o assunto for urgente deixe o recado após o bip.”, disse uma voz que era, sem dúvidas, a voz de Douglas, que provavelmente já havia ajeitado a secretária eletrônica. Mathews esperou o barulho do “bip”. 


  - Douglas... Espero que você receba esse recado logo. Aconteceu algo com a Liu... – Começou Mathews.


  - Merlin! Eu me caso e ela já vai me arrumando problema! - Respondeu uma voz do outro lado da linha. Mathews se surpreendeu. – O que houve dessa vez?! – Perguntou a voz.


  - Douglas! – Exclamou Mathews. – É urgente. A Liu está no hospital. – Disse rapidamente.


  - No... No... Hospital?! – Questionou Douglas com um tom de surpresa.


  - Eu não sei bem o que aconteceu. Só sei que o Sirius chegou lá em casa daquele jeito que vocês costumam chegar, sabe?! E trazia o Eduzinho morto e a Liu desmaiada. Agora ela está aqui no hospital. – Respondeu Mathews.


  - Qual hospital?! – Perguntou Douglas com um tom de preocupação.


  Não demorou muito para que Mathews dissesse qual era o hospital e voltasse para a sala de espera, onde Sirius o esperava com a ficha em branco nas mãos e lágrimas nos olhos.


  - Sirius, você não preencheu a ficha... – Pontuou Mathews como se aquilo já não fosse óbvio.


  - Eu não estou conseguindo me concentrar, dá para entender?! Você tem alguma noção do que eu estou sentido agora?! Você sabe como é sentir que você pode perder a mesma pessoa pela segunda vez?! – Retrucou Sirius jogando a ficha no chão e afundando a cabeça em suas mãos.


  - A coisa mais sensata para fazer agora sem dúvidas não é entrar em pânico. – Disse Mathews com calma enquanto pegava a ficha no chão. – E você mesmo sabe que pode ter sido apenas mais um desmaio... – Acrescentou sorrindo otimista.


  - Tomara que tenha sido só isso. – Murmurou Sirius desanimado. Mathews começou a preencher os dados que sabia da ficha.


  - Elisa Weiss! Eu já falei que esse é o nome dela. Ela está aqui, eu tenho certeza! - Alguém gritava na recepção.


  - Desculpa, mas até agora nenhuma “Elisa Weiss” deu entrada aqui. A menos que a ficha dela ainda não tenha sido preenchida. – Uma voz meiga explicou.


  - Douglas! – Sirius exclamou levantando – se de imediato e correndo até a recepção.


  - Sirius! – Gritou Douglas ao ver o maroto. – Cadê ela?! Porque a moça diz que ela não deu entrada no hospital?! Cadê o Mathews?! O que é que houve com a Liu?! Porque você está chorando?! – Perguntou rapidamente.


  - Ela não deu entrada porque eu ainda não terminei de preencher a ficha. Quer dizer... O Mathews está preenchendo com o que ele sabe. A Liu desmaiou de novo. – Respondeu Sirius parando para respirar fundo.


  - Moça, aqui está a ficha. – Disse Mathews chegando à recepção e entregando a ficha.


  - Sirius, o que aconteceu?! – Perguntou Douglas com um tom sério. – Quero dizer, pelo visto você nem deu tempo para o Mathews botar outra roupa, já que ele está de pijama.


  - Meu Deus! Eu estou de pijama em pleno hospital e nem sequer percebi! – Exclamou Mathews só então se dando conta do que trajava.


  - O que aconteceu?! Esbarramos com pessoas com quem não queríamos esbarrar. – Respondeu Sirius. Os três estavam na frente do balcão da recepção. A recepcionista estava ao telefone falando com alguém.


  - Porque a Liu desmaiou? – Questionou Douglas.


  - Isso é o que eu quero descobrir. Quando tudo ficou bem, quando finalmente a gente se viu livre do pesadelo, ela desmaiou. – Disse Sirius parando para respirar fundo.


  - Era para a gente ter insistido para ela voltar para o hospital naquele dia. – Murmurou Douglas.


  - Ela já acordou. – Disse a recepcionista repentinamente. – O Doutor está pedindo para que alguém vá até o quarto trezentos e noventa e quatro o mais rápido possível. Ela está lá. – Completou.


  - E esse quarto é...?! – Começou Sirius afobado.


  - Terceiro andar. – Respondeu a recepcionista. Em uma fração de segundos, Sirius e Douglas já estavam correndo pelo hospital.


  - Eu me recuso a fazer esse exame. Eu estou bem. Não estou nem com dor de cabeça. – Liu dizia para o médico, que insistia que ela não estava muito bem e que teria de fazer uma tomografia cerebral.


  - Quanto mais cedo descobrirmos o que você tem, mais cedo você vai sair daqui. – Pontuou o médico calmamente.


  - MAS EU NÃO TENHO NADA! – Gritou Liu. Logo após sentiu sua cabeça doer e soltou um leve grito de agonia. – Por sua culpa a dor de cabeça voltou. – Murmurou enquanto fechava os olhos.


  - Liu! – Exclamou uma voz ofegante enquanto a porta do quarto se abria de uma maneira bruta.


  - Sirius... Tira-me daqui. – Pediu Liu ao reconhecer a voz. Seus olhos permaneceram fechados.


  - Doutor. – Cumprimentou Douglas enquanto entrava no quarto logo após Sirius, que já estava na beirada da cama onde Liu estava deitada.


  - Eu chamei vocês aqui porque preciso que a convençam a fazer um exame. – Pontuou o médico indo direto ao assunto importante. – Se for algo grave é melhor descobrir logo. – Adicionou seriamente.


  - Mas eu já expliquei que estou me sentindo bem. – Murmurou Liu abrindo os olhos. – Muito bem. – Completou piscando os olhos demoradamente.


  - Se eu provar para vocês que ela precisa fazer o exame, vocês convencem ela?! – Perguntou o médico à Douglas e Sirius que pareciam estar confusos.


  - Vá em frente. Mas eu já adianto que vou fazer de tudo para convencer ela. – Pontuou Douglas.


  - Quantos dedos eu tenho aqui?! – Questionou o médico mostrando dois dedos para Liu.


  Liu hesitou ao responder. Demorou quase um minuto para decidir se ela estava ou não vendo o número certo.


  - Quatro. – Respondeu Liu por fim. Ela parecia estar certa do que estava dizendo.


  - Você vai fazer a merda do exame Elisa Weiss. Ou eu não me chamo Douglas Wolfgrand! – Falou Douglas com uma cara séria.


  - Isso é pura frescura. – Começou Liu. – Eu errei de propósito... Eu sabia que eram apenas dois dedos... – Murmurou como se quisesse se convencer daquilo.


  Sirius olhou para Douglas e depois para o médico como se pedisse para ficar sozinho com Liu no quarto. Ambos pareceram entender, e saíram do quarto esbarrando com Mathews do lado de fora.


  - Acho que você me deve isso... – Murmurou Sirius sentando – se na beirada da cama.


  - Isso o quê?! – Perguntou Liu confusa.


  - Liu, eu não quero correr o risco de perder você, entendeu?! – Disse Sirius de uma maneira lenta.


  - Você não vai me perder seu bobo. – Retrucou Liu sorrindo.


  - Se você está se sentindo tão bem, faz a droga do exame. – Pontuou Sirius olhando nos olhos de Liu.


  - Você sabe que eu detesto lugares fechados e pequenos. – Murmurou Liu. – Então não tente me convencer a fazer esse exame, por favor. – Adicionou.


  - Você entrou pelo buraco do Salgueiro Lutador, lembra?! – Disse Sirius.


  - Mas você estava do meu lado. – Retrucou Liu.


  - Faz assim, você faz o exame, eu fico de consciência tranqüila, e você ganha... Você ganha... Beijos ilimitados. – Propôs Sirius tentando sorrir.


  - Isso eu já tenho. – Pontuou Liu sorrindo. – Logo, não preciso do exame. – Completou.


  - Você não tem noção do quão difícil vai ser para mim se acontecer algo com você. – Murmurou Sirius triste com a possibilidade de algo acontecer com Liu.


  A garota sentiu um peso na consciência. Ela já tinha o feito sofrer tanto quando fingiu estar morta... Ele não merecia sofrer, mas... Ele estava sofrendo, dava para ver isso em seus olhos azuis – acinzentados, eles não estavam brilhando como antes.


  Liu pensou. Era só um exame, certo?! O que de mal aquilo poderia trazer para ela?! Tudo bem que ela tinha medo de lugares pequenos e fechados, mas o real problema era que ela tinha mais medo ainda de descobrir algo. Porém, aquele a quem ela devia tudo, inclusive a própria vida talvez, estava lá pedindo para ela fazer aquele maldito exame, por mais difícil que pudesse ser para ela encarar seus medos, ela “devia” isso a Sirius.


  - Tudo bem Si, eu faço esse maldito exame. – Murmurou Liu se dando por vencida.


  - Obrigado. – Agradeceu Sirius sorrindo. – Vou chamar o médico então. – Disse ainda sorrindo enquanto se levantava.


  - Espera. Fica mais um pouquinho aqui. – Pediu Liu com um tom de voz meigo.


  Sirius se abaixou um pouco e beijou os lábios da garota de uma maneira demorada, como se estivesse com medo que aquela pudesse ser a última vez.


  - Não temos tempo para perder, temos?! – Disse Sirius após o beijo enquanto sorria marotamente embora não sorrisse por dentro.


  - Depois a gente acha o tempo se ele se perder, Si. – Brincou Liu. Sirius piscou para a garota e saiu do quarto.


  - Ela vai fazer o exame. – Avisou Sirius ao sair do quarto e dar de cara com Douglas, Mathews e o médico.


  - Obrigado por ter convencido ela, Sirius. – Agradeceu Douglas. Sirius apenas abaixou a cabeça, voltando a ficar com um semblante desanimado.


  Depois de em média uma hora o exame já havia sido feito, e Liu estava de volta no quarto, dormindo de tão cansada que estava. Em uma poltrona que havia no quarto, Sirius acabou pegando no sono também, afinal, já era muito tarde.


  Douglas, após ligar para Bel para dar notícias, acabou dormindo em plena sala de espera, já que só tinha lugar para um acompanhante dormir no quarto.


  Mathews acabou voltando para casa a pedido de Douglas.


  De vez em quando enfermeiras entravam no quarto para monitorar Liu.


  Já era meio dia quando Sirius acordou atordoado.


  - Sirius, o médico está nos chamando para uma conversa... – Douglas murmurou ao entrar no quarto. Liu ainda estava dormindo.


  Sirius se levantou e seguiu com Douglas até uma sala cujo nome do médico estava escrito em uma plaquinha dourada pendurada na porta.


  - Diga doutor. – Disse Sirius ao entrar na sala. – Não é grave, certo?! – Questionou em seguida, enquanto ele e Douglas sentavam – se nas duas cadeiras que estavam em frente à mesa do médico.


  - Eu pensei em várias maneiras de dizer isso para vocês, mas eu prefiro ir direto ao ponto. Em todos os meus anos de carreira, eu nunca vi algo assim. – Murmurou o médico com um tom de voz nada agradável.


  - “É grave.” – Pensou Sirius deixando lágrimas escorrerem de seus olhos. Douglas parecia ter pensado na mesma coisa.


  - Me admira muito ela ainda estar viva. – Pontuou o médico.


  - O que ela tem?! – Perguntou Douglas com a voz falha.


  - Eu posso estar errado, embora eu tenha noventa e nove por cento de chances de estar certo, sem a biópsia não dá para ter certeza absoluta. – Começou o doutor. – Sem dúvidas é um tumor, quer dizer, vários em locais diferentes do cérebro. Se são malignos ou benignos só dá para saber com a biópsia, mas eu não acho que seria apropriado um exame invasivo no estado que ela está. Ela poderia ter problemas durante o exame. – Disse tentando deixar claro o que Liu tinha.


  - Isso me parece muito grave. – Murmurou Sirius.


  - É muito grave. Do jeito que está é inoperável. – Continuou o médico.


  Sirius abaixou a cabeça e a afundou em suas mãos. Aquilo era tudo que ele não queria ouvir.


  - Mas ela vai ficar boa se não operar?! – Questionou Douglas com algum tipo de esperança esquisita.


  - Se você acredita em milagre, ou magia, eu diria que sim. – Murmurou o médico com um tom de tristeza a voz, como se ele estivesse se culpando por não ter o que fazer.


  - Eu acredito em magia. – Murmurou Sirius. – E acredito que milagres podem acontecer... – Adicionou.


  - Vou ser ainda mais sincero com vocês. – Pontuou o médico. – Eu não sei se ela sobrevive por mais de uma semana. Os sintomas estão cada vez mais acentuados, e em breve outros sintomas devem estar surgindo. Febre, arritmia cardíaca... Ela pode ter uma parada cardíaca a qualquer momento, e eu não sei se ela voltaria. – Disse com calma.


  - Isso não é justo. – Resmungou Sirius.


  - Nem sempre a vida é justa. – Pontuou o médico.


  Douglas estava em um estado de choque já, não conseguia acreditar em seus ouvidos.


  - Eu mesmo irei dar a notícia para ela, só estou esperando ela acordar. – O médico disse respirando fundo.


  - Não! – Exclamou Douglas voltando do estado de choque em que estava. – Eu não quero que ela saiba disso. Eu quero que ela seja feliz. – Murmurou. Sirius olhou para ele assustado.


  - Mas é um direito dela. – Pontuou o doutor.


  - Eu não acho que ela gostaria de saber disso. Diga para ela que vai dar tudo certo, que ela ficará boa em breve. Deixe-a pensar que não tem nada de errado acontecendo. Dê a explicação mais idiota possível para as dores de cabeça dela e os desmaios. – Retrucou Douglas. Sirius abria e fechava os olhos esperando acordar daquele pesadelo.


  - Você é quem sabe. Quando você estiver pronto para dizer, e precisar de ajuda, é só me chamar. – Murmurou o médico.


  Sirius saiu da sala chorando silenciosamente. Passou por vários corredores até chegar à porta do quarto de Liu, ela parecia estar sonhando com algo bom, pois estava sorrindo enquanto dormia.


  - Isso não pode estar acontecendo... – Murmurou Sirius enquanto olhava para Liu.


  - Sirius, você vai ter que ser forte. – Douglas, que tinha acabado de chegar ao lugar onde Sirius estava, disse seriamente.


  - Eu não quero ser forte. – Retrucou Sirius pouco antes de sair de lá e ir se isolar, sentando em uma cadeira que havia no corredor.


  - Eu queria puder te ajudar minha irmãzinha. – Disse Douglas em forma de murmúrio.


  - Doug! – Alguém gritou do corredor.


  - Belzinha... – Saudou Douglas de uma maneira ainda triste se virando e olhando para sua esposa.


  - Porque você está com essa cara triste?! A Liu vai ficara bem, eu já te disse isso. – Disse Bel enquanto abraçava Douglas.


  - Bel, a Liu está morrendo. – Douglas disse enquanto chorava. Bel o abraçou ainda mais apertado.


  - É mentira do médico. – Murmurou Bel com uma espécie de falsa esperança.


  - Ele não parecia estar mentindo. – Pontuou Douglas.


  - Eu me recuso a acreditar nisso. – Confessou Bel. – É algo inaceitável. – Acrescentou.


  - É importante para mim que ela não saiba disso, eu não quero que ela fique triste, quero que ela pense que vai ficar tudo bem. – Disse Douglas respirando fundo.


  - Como assim eu não posso almoçar batatas – fritas?! – Douglas ouviu alguém reclamar dentro do quarto.


  - Bel, entra lá e convença-a a almoçar algo. Eu vou falar com o Sirius. – Pediu Douglas. Bel concordou com a cabeça e logo em seguida entrou no quarto.


  - Você reclama demais cunhadinha. – Disse Bel com um tom engraçado.


  - Bel! – Exclamou Liu feliz com a presença da amiga.


  - Me disseram que você estava aqui... Sabe quem me disse?! Um fofoqueiro chamado Douglas. – Bel falou sorrindo. Não poderia deixar Liu perceber o clima pesado.


  - Por falar nele... Cadê ele?! E cadê o Si?! – Perguntou Liu sorrindo.


  - Eles disseram que só vão aparecer quando você almoçar. – Respondeu Bel com uma cara séria.


  - Isso é uma chantagem?! – Questionou Liu com a sobrancelha esquerda erguida.


  - Humm. Talvez. – Murmurou Bel se esforçando para sorrir.


  - Sirius... – Começou Douglas sentando no chão ao lado da cadeira onde Sirius estava sentado.


  - Eu não vou ficar aqui. – Disse Sirius repentinamente enquanto se levantava da cadeira com uma expressão de indignação, deixando Douglas surpreso.


  - Co – como não?! – Questionou Douglas. Sirius nem sequer se deu ao trabalho de responder a pergunta feita por Douglas, simplesmente saiu daquele local apressadamente enquanto apertava o pequeno pingente em formato de coração que andava sempre pendurado na corrente que ele levava no pescoço.


  Douglas se levantou com calma, quando já estava em pé limpou as lágrimas que estavam em sua face, respirou fundo e seguiu para o quarto onde sua meia – irmã estava.


  - ATENDE A PORTA! – Gritava Sirius enquanto batia insistentemente em uma porta de madeira.


  Enquanto ninguém atendia, ou respondia aos seus gritos, Sirius se limitou a andar de um lado para o outro em frente à porta.


  - Atende, por favor... – Murmurou o maroto enquanto apoiava o rosto na porta e deixava mais algumas lágrimas escorrerem de seus belos olhos azuis – acinzentados.


  - Almofadas, será que eu nunca vou me ver li... – Começou uma voz enquanto a porta se abria devagar. – Você está bem?! – Questionou a mesma voz quando a porta já estava aberta. Sirius estava de cabeça baixa do lado de fora da casa.


  - Posso entrar Pontas?! – Perguntou Sirius num murmúrio.


  - Não sei o que você ainda está fazendo aí do lado de fora. – Retrucou James enquanto Sirius entrava na casa e ele fechava a porta.


  Sem nada dizer Sirius abraçou James, seu melhor amigo.


  - Me diz que isso tudo é um pesadelo Pontas... - Disse Sirius enquanto abraçava o amigo.


  - Almofadas?! O que aconteceu?! – Perguntou James assustado. Sirius se afastou um pouco do amigo, seus olhos estavam vermelhos devido ao fato dele estar chorando ainda. – Cara, você está com uma cara péssima... – Pontuou.


  - Eu estou péssimo. Acho que nunca me senti tão triste em toda a minha vida. – Murmurou Sirius.


  - Não fale besteiras... – Começou James. - Lembre que você sempre vai ter a... – O maroto interrompeu sua própria fala ao olhar nos olhos de Sirius. – Ela não está bem?! – Questionou por fim.


  Incapaz de dizer algo, Sirius apenas balançou a cabeça positivamente, deixando claro assim que o pensamento de James estava certo.


  - Se eu encontro aquela mulher infernal da tia da Liu pela minha frente eu juro que eu a mato com minhas próprias mãos por tudo que ela já fez. Ela não pode simplesmente chegar e fazer algo que machuque o meu melhor amigo, ou quem for. Eu detesto aquela mulher. – James disse sem parar. Sirius, que já estava sentado no sofá apenas balançava a cabeça negativamente.


  - Você não vai precisar matar ela com suas próprias mãos... Ela já está morta. – Pontuou Sirius com um tom baixo de voz.


  - Têm algo que você queira me dizer Almofadas?! – Perguntou James confuso.


  - A Liu... Ela... Eu... Eu vou perder ela de novo. – Murmurou Sirius em meio a lágrimas.


  James olhou para Sirius em choque, esperando que ele dissesse algo como “Primeiro de Abril, passou e você não viu”, ou “Te peguei Bambi otário”, entretanto, ao parar para pensar, e notar o desespero do amigo, viu que ele não diria nada desse tipo. Sentiu – se então um inútil, o que ele poderia dizer para alguém que estava sentindo a dor de estar perdendo a pessoa amada pela segunda vez? Pelo tamanho da dor que Sirius parecia estar sentindo, James estava mais do que certo de que seu amigo tinha certeza do que estava falando, que aquilo não era uma hipótese somente.


  - Almofadas... – James murmurou sem saber o que dizer.


  - Parece que ela tem um tumor no cérebro, ou algo assim... O médico trouxa disse que não acha que ela vai sobreviver por mais de uma semana. – Pontuou Sirius. – Pontas, eu não quero perder a minha pequena de novo... O que eu fiz de errado para estar sendo castigado desse jeito?! Ela é a minha vida... Pode parecer um exagero, mas eu não sei se dessa vez eu vou conseguir seguir adiante. – Adicionou.


  - Se é exatamente desse jeito que você está me dizendo... – Começou James com uma cara aparentemente séria. – O que você está fazendo aqui?! – Perguntou olhando para Sirius. – Você quer passar o pouco tempo, que o médico disse que ela tem, longe dela?! – Questionou.


  - Pontas! Você não entende... Eu não quero que ela me veja chorando, eu não quero que ela fique triste. Ela nem sabe de nada... – Murmurou Sirius.


  - Então você vai ficar longe dela para proteger ela de te ver triste?! Inverta a situação, o que você iria preferir? Que ela te “poupasse” ou que ficasse ao seu lado?! – Perguntou James.


  - É diferente... – Disse Sirius se levantando.


  - Não. – Retrucou James. – Almofadas, volte lá e fique ao lado dela... Brevemente eu também estarei lá para oferecer o meu ombro amigo. – Acrescentou puxando Sirius para um abraço.


  - Brevemente? – Sirius perguntou enquanto se separava do abraço do amigo.


  - Amanhã, quando eu já tiver avisado a todos que necessitam saber disso. – Respondeu James. Sirius suspirou.


  - Tomara que o médico esteja errado. – Sirius murmurou enquanto respirava fundo e tentava por a cabeça no lugar.


  - Dizem que milagres acontecem, não é?! – Lembrou James.


  - É... E às vezes as coisas não são aquilo que aparentam ser... – Adicionou Sirius.


  - Você ainda não me disse onde está o Si, Douglas... – Reclamava Liu, que já havia almoçado após muita insistência de Douglas e Bel.


  - Ele foi dar uma volta... Só isso... – Disse Douglas evitando olhar nos olhos de Liu.


  - Uma volta?! E porque ele não voltou ainda?! – Perguntou Liu desconfiada de algo.


  - Não sei. – Respondeu Douglas olhando para Bel.


  - Ah. – Murmurou Liu. – Ele não agüentou ficar aqui não é?! – Questionou um pouco triste. Douglas não disse nada. – Não é culpa dele... Ninguém gosta de hospitais. – Adicionou tentando sorrir.


  - Não Liu, ele foi dar uma volta. – Insistiu Bel, seu tom de voz não era muito convincente.


  - Bel, nem você está acreditando no que você está dizendo. Ele não agüentou e saiu, simples assim. – Retrucou Liu olhando para o teto do quarto.


  - Você consegue ficar ainda mais chata estando aqui no hospital. – Pontuou uma voz vinda da porta.


  Escorado na porta recém aberta do quarto estava um garoto de cabelos negros e olhos azuis – acinzentados, com um sorriso nos lábios e uma caixa de chocolates em mãos.


  - Então o meu cachorrinho resolveu voltar... Ficou com medo da carrocinha foi Si?! - Perguntou Liu com um sorriso divertido estampado em sua face.


  - Não. Se a carrocinha me pegasse eu daria meu jeitinho de escapar. – Começou Sirius ainda escorado na porta. – Sabe como é... Ninguém resiste ao charme desse cachorrão aqui. – Completou piscando para Liu.


  - Sirius Black, se chegou a passar por essa sua cabeça de vento algo como seduzir alguma cachorra da carrocinha para conseguir sair de lá, acho melhor você contratar um segurança para te ajudar a se defender da minha ira. – Disse Liu com uma cara aparentemente séria.


  - Já tenho três seguranças com apelidos fofinhos. – Brincou Sirius saindo de perto da porta e chegando mais perto da cama onde Liu estava deitada. – Sabe... Eu estava passando por uma loja que vende chocolates e pensei: “Será que a minha pequena vai brigar comigo se eu levar uma caixa inteirinha de chocolates para ela?!”. Bom, agora ela não está realmente inteira, no caminho acabei comendo um chocolate, mas ainda sobraram uns nove. O que me diz?! Estou perdoado por ter saído para dar uma volta?! – Perguntou com um sorriso maroto.


  - Depende. Os nove chocolates são meus, ou eu vou ter que dividir?! – Questionou Liu seriamente.


  - Todos seus. – Respondeu Sirius. – Só seus, e se o Douglas tentar pegar um que seja... Humm... Eu mesmo bato nele. – Completou botando a caixa de chocolates em cima da mesa que ficava ao lado da cama.


  Douglas e Bel rapidamente saíram do quarto, deixando Liu e Sirius a sós.


  - Pensei que você tivesse me abandonado. – Murmurou Liu dando espaço para Sirius se sentar na beirada da cama.


  - Nunca. – Pontuou Sirius passando sua mão delicadamente pela face da garota num gesto de carinho. – Me diga como eu poderia abandonar a garota mais chata desse mundo inteirinho. – Acrescentou com um sorriso doce.


  - Promete que não vai sair do meu lado até eu sair daqui?! – Pediu Liu olhando nos olhos azuis – cinzentos de seu maroto.


  - Não. – Respondeu Sirius. Liu olhou para ele surpresa com a resposta. – Eu prometo que nunca mais vou sair do seu lado, não importa onde você esteja. – Completou beijando os lábios da garota de uma maneira romântica.


  - Isso me parece bom o suficiente. – Disse Liu após o beijo. – Você já viu como é bonitinho aquele aparelho que monitora meus batimentos cardíacos?! – Perguntou apontando para um aparelho.


  - Você é muito boba, sabia?! – Pontuou Sirius olhando para Liu. – Não consigo mais imaginar a minha vida sem você... – Acrescentou num tom baixo de voz.


  Ao dizer isso Sirius sentiu algo lhe corroer por dentro, um sentimento que o deixava vazio, algo extremamente angustiante.


  O maroto começou a imaginar o que faria quando acontecesse o que o médico havia dito que provavelmente aconteceria. Não conseguiu enxergar nem ao menos um futuro sem ter Liu ao seu lado, e aquilo lhe deixou nervoso.


  Sirius se esforçou ao máximo para não deixar que Liu percebesse a aflição que tomava conta dele aos poucos.


  - Si?! Perdeu-se nos seus pensamentos foi?! – Questionou Liu olhando para a expressão indecifrável de Sirius.


  - Sabe... Acho que você é a minha vida. Que sem dúvidas o meu coração e o seu viraram um só. Ou seja, é você quem mantém o meu coração pulsando. – Sirius murmurou enquanto sua mão esquerda brincava com o pingente de sua corrente.


  - Desde quando você é autista Si?! – Perguntou Liu sorrindo. – Eu pergunto uma coisa e você me responde outra. – Completou.


  - Eu não respondi outra coisa. – Retrucou Sirius. – Eu só respondi de uma maneira diferente. E sim, eu me perdi nos meus pensamentos, e é tudo culpa sua. – Acrescentou.


  - O que eu fiz dessa vez?! – Indagou Liu curiosa.


  - Nasceu. – Respondeu Sirius sorrindo. – O que foi uma coisa muito boa. Se você não tivesse nascido eu não teria te conhecido, e minha vida não teria sentido nenhum provavelmente. – Concluiu.


  - Uau! Você está romântico hoje, Si. – Observou Liu rindo. – Está parecendo galã de novela. – Completou.


  - Galãs de novelas não têm um terço do meu charme. – Retrucou Sirius.


  - Realmente. – concordou Liu com um sorriso.


  Se tinha uma coisa que sempre a fazia esquecer seus problemas, eram os olhos azuis – acinzentados que ela tanto gostava de ver. Era como olhar para as ondas do mar, impossível de se cansar. Mas tinha algo diferente naquele olhar dessa vez, algo escondido... Algo que ela não sabia o que era, e que estava deixando ele inquieto, preocupado.


  - Si... Você está triste. – Afirmou Liu com um tom sério.


  - Impressão sua. – Murmurou Sirius olhando fixamente para o chão.


  - Me diga o que está te deixando assim... – Pediu a garota tentando olhar nos olhos de Sirius.


  - Nada. Eu juro.


  - Quem jura mente. – Retrucou Liu.


  - Você acha que eu mentiria para você?! – Questionou Sirius olhando rapidamente para Liu.


  - Eu acho que você já está mentindo. – Respondeu Liu em forma de murmúrio.


  Sirius nada disse, apenas abaixou a cabeça sentindo – se derrotado.


  - Me desculpa. – Murmurou Sirius. Seus olhos estavam marejados.


  - Te desculpar pelo quê?! – Perguntou Liu.


  - Por estar mentindo para você.


  - Você sempre tem a opção de não mentir. – Pontuou Liu. – Eu prometo que não vou ficar zangada com você. Nem decepcionada.


  - Eu não vou te falar. – Disse Sirius. – Eu nem estou mentindo na verdade, estou omitindo. – Adicionou sem olhar nos olhos de Liu.


  - Omitindo? – Indagou Liu. – Omitindo o quê?


  - Algo que eu não posso e não quero te dizer, e que o Douglas também sabe, e que o seu médico nos contou. – Respondeu Sirius automaticamente.


  - Meu médico contou... – Começou Liu. Só então Sirius se deu conta que tinha oferecido informação demais. – Isso está te deixando triste, e você, e o Doug, não querem me contar o que é. Você saiu de repente e voltou com chocolates e um papo de que não consegue mais imaginar sua vida sem mim.


  - Hey hey! Pare com isso... Não vá por essa linha de raciocínio... – Pediu Sirius já nervoso.


  - Eu... Eu... Eu estou morrendo, não é? – Perguntou Liu com lágrimas nos olhos.


  - Nã... Não. – Respondeu Sirius com dificuldade.


  - SIRIUS BLACK! NÃO SE ATREVA A MENTIR PARA MIM SOBRE UMA COISA SÉRIA COMO ESSA! – Gritou Liu, sentindo sua respiração descompassar e seu coração acelerar, deixando isso bem claro na máquina que mostrava seus batimentos.


  - PÁRA DE GRITAR! – Interrompeu Sirius. – Cada vez que você grita e respira desse jeito meu coração fica ainda mais agoniado! – Completou em meio a lágrimas.


  - Saia daqui Sirius. – Murmurou Liu tentando estabilizar seus batimentos cardíacos para que ninguém invadisse o quarto.


  - Por quê? – Perguntou Sirius triste. – Eu não quero te deixar aqui sozinha.


  - Eu quero que você saia e chame o Doug. Só isso. – Respondeu Liu parecendo um pouco mais calma, mas ainda com dificuldades para respirar.


  - Mas eu não quero sair. – Retrucou Sirius olhando para Liu.


  - Eu te prometo que eu não vou morrer enquanto estiver falando com o Doug. – Murmurou Liu com um meio sorriso.


  - Você está falando como se tivesse controle sobre a sua vida, ou morte. – Resmungou Sirius balançando a cabeça em sinal de desaprovação.


  - Por favor...


  Sem dizer mais nada Sirius saiu do quarto um pouco irritado por ter sido praticamente expulso do local.


  - Ela quer falar com você. E ela já sacou tudo. Quando você acabar de falar com ela, se ela ainda quiser falar comigo, você me chama que eu vou estar aqui sentado. – Disse Sirius rapidamente ao encontrar com Douglas do lado de fora do quarto. Douglas deu um breve beijo em Bel e entrou no quarto.


  - Sua idéia, não foi? – Questionou Liu ao ouvir os passos de Douglas já dentro do quarto.


  - Eu não queria que você soubesse para você não ficar apavorada, ou triste... Ou as duas coisas. – Explicou – se Douglas.


  - O que eu tenho Doug?


  - Algo no cérebro. – Respondeu Douglas.


  - Eu tenho muito tempo, ou pouco tempo de vida? – Questionou Liu com certa frieza em relação ao assunto.


  - Muito pouco? – Respondeu Douglas. Liu abaixou a cabeça.


  - Porque isso tinha que acontecer comigo justo agora que tudo ia se acertar? – Indagou Liu entristecida.


  - Hey... Eu não quero ver a minha irmã triste. – Pontuou Douglas.


  - Como se fosse fácil eu não ficar triste, sabendo que eu vou morrer.


  - Eu também sei que vou morrer, nem por isso estou triste. – Retrucou Douglas.  


  - Você sabe muito bem que não é bem assim. – Murmurou Liu.


  - Todos nós sabemos que vamos morrer um dia, certo? – Começou Douglas. Liu concordou com a cabeça. – Então, o que mudou para você?


  - Não sei... O tempo? – Respondeu Liu com ironia no tom de voz.


  - Tempo é uma coisa relativa. – Pontuou Douglas.


  - Quando se tem tempo ele é relativo. – Retrucou Liu.


  - Não vou perder o meu tempo discutindo com você sobre o tempo. – Disse Douglas seriamente. – Você reagiu melhor do que eu esperava ao descobrir.


  - Eu gosto de surpreender as pessoas. – Brincou Liu sorrindo um pouco.


  - Já é para eu sair e chamar o Sirius?


  - Não. Eu quero que você fique aqui.


  - Então eu chamo o Sirius para ficar aqui também?


  - Não. Eu quero ficar só com o meu irmão.


  - Mas...


  - Eu quero só você aqui comigo... – Murmurou Liu olhando para o teto do quarto. – Não quero que o Si fique triste cada vez que olhar para mim. – Adicionou pensativa.


  - Ele vai ficar ainda mais triste se não olhar... – Argumentou Douglas com uma cara séria.


  - Amanhã de manhã eu chamo o Si.


  - E se... Vamos supor...


  - Não tem nenhum “e se”. Amanhã de manhã.


  - Está bem. Não vou discutir com você. Até porque é sempre inútil discutir algo com você. Da mesma maneira que sempre foi inútil discutir algo com o Edu.


  - Deve ser um tipo de característica genética herdada de minha mãe. Porque com você sempre dá para discutir, o que prova que não é coisa herdada do papai. – Pontuou Liu sorrindo.


  - Deve ser... – Concordou Douglas.


  Não demorou muito para que Liu começasse a dormir, seu corpo se sentia cansado, o que era extremamente normal devido ao seu estado de saúde.


  Do lado fora, Sirius não conseguiu dormir, mal acreditava na notícia que havia dado para a sua amada, e acreditava menos ainda que mesmo ela sabendo daquilo ela havia o expulsado do quarto, deixando – o longe dela quando o fator “tempo” parecia estar se esgotando.


  Douglas acabou dormindo na cadeira que tinha ao lado da cama de Liu, enquanto Bel tentava do lado de fora, inutilmente, convencer Sirius que ele deveria dormir, passando a noite em claro junto com o maroto.


  - Promete que não vai me deixar minha pequena. – Liu escutava alguém dizer em seu ouvido, já era possível sentir os primeiros raios de sol tocando sua pele. Manteve seus olhos fechados para escutar tudo que a pessoa tinha para lhe dizer sem que ela soubesse. – Você sabe que você é o mundo inteiro para mim. Você sempre estará comigo, esteja onde eu estiver. – A cada palavra a voz ficava mais baixa, tornando difícil entender o que estava sendo dito. – Se ao menos você pudesse me escutar.


  - “Mas eu posso.” – Pensou Liu um pouco confusa devido à última frase. Era óbvio que ela podia escutar, ela não era surda e nem estava dormindo. E mesmo se estivesse dormindo, ela provavelmente acordaria com o som daquela voz, era uma voz tão conhecida.


  - Me diz, você consegue sentir minha mão encostar sua mão? – Perguntou a voz. De fato Liu conseguia sentir alguém tocando sua mão direita. Abriu os olhos devagar, sorrindo docemente para a pessoa que estava conversando com ela sem mesmo saber quem era.


  Olhou para os lados confusa com o que estava vendo, ou melhor, com o que não estava vendo. Como assim ninguém?! E a voz?! E a mão que ainda estava sentindo em sua mão?!


  Gritou. Um grito de pura agonia e pânico. Douglas, que havia saído há alguns minutos para falar com Bel, entrou no quarto correndo, acompanhado de Sirius, e de Bel.


  Liu suava frio, suas mãos estavam em seus ouvidos, como se quisesse parar de ouvir algo, repetia algo em voz baixa, o quadro que estava monitorando seus batimentos cardíacos começou a enlouquecer.


  - OLHA PARA MIM LIU! – Gritou Sirius correndo para o lado da cama, segurando as mãos de Liu, e fazendo ela o encarar. O monitor cardíaco pareceu voltar aos poucos ao normal.


  - Faz isso parar Si. – Pediu Liu com lágrimas nos olhos. – Manda parar.


  - Isso o quê? – Perguntou Douglas confuso. O médico adentrou o quarto.


  - A voz Si, manda a voz parar. Por favor. Você está escutando também, não é?


  - A voz. – Murmurou Sirius confuso. – Claro que estou ouvindo. – Mentiu para acalmar Liu. – Ela vai parar, eu prometo. – Finalizou deixando uma lágrima escapar de seus olhos. Bel e Douglas se entreolhavam confusos. O médico parecia estar pensativo.


  - Si, eu não quero te deixar de novo. – Murmurou Liu em meio a lágrimas.


  Foi o que bastou para que mais lágrimas teimosas brotassem dos olhos de Sirius.


  - Hey... – Disse Sirius num tom baixo de voz. – Quem disse que eu vou deixar você me deixar de novo? – Perguntou tentando sorrir.


  - Não deixe, por favor. – Suplicou Liu olhando nos olhos azuis – acinzentados do maroto. Douglas já havia se retirado do quarto chorando, sendo acompanhado por Bel que tentava o consolar.


  - Sinto muito informar, mas creio que o estado dela tenha piorado muito de ontem para hoje. – Informou o doutor à Douglas do lado de fora do quarto.


  - Piorou? – Indagou Douglas mais para si.


  - Já está até tendo alucinações, fora, é claro, a febre. – Respondeu o médico seriamente.


  - Alucinações... – Murmurou Douglas entristecido enquanto chorava.


  - Quanto tempo? – Bel questionou olhando fixamente para o doutor.


  - Eu diria, sendo otimista, que dois dias no máximo. Mas, nunca se sabe. – Respondeu o doutor.


  - Dias... – Repetiu Douglas. – Isso não é justo. Bel, diz que eu estou tendo um pesadelo, por favor. – Pediu em seguida.


  - Doug, você sabe que não é um pesadelo, infelizmente. – Pontuou Bel. – Pensei que você já tivesse aceitado que dessa vez estamos todos de mãos atadas.


  - Tinha, até ver o medo nos olhos dela. – Disse Douglas em um tom baixo de voz. – Ah Belzinha, se pudesse eu trocaria de lugar com ela. – Acrescentou enquanto abraçava Bel.


  - Si. – Começou Liu ainda com febre. – Me desculpe por ter te expulsado daqui. É que eu precisava conversar com o Doug.


  - Tudo bem. – Murmurou Sirius. – Passou já.


  - Então você ficou com raiva de mim por eu ter te expulsado? – Perguntou Liu olhando para Sirius.


  - Raiva de você? – Sirius questionou. – E isso é possível? – Completou sorrindo docemente.


  - Esse é o ponto positivo de estar morrendo. Ninguém discorda, ou discute, ou fala nada que te deixe zangada. Eu deveria ter começado a morrer há mais tempo. – Pontuou Liu aparentemente séria.


  - Fique falando besteiras. Merlin castiga sabia? – Retrucou Sirius.


  - Você me acalma, Sirius Black. – Disse Liu sorrindo.


  - Hum. Bom saber. Assim quem sabe você não fica mais tempo aqui? Só para eu te acalmar mais e mais. – Começou Sirius. – Me diz. Qual seu maior sonho no momento?


  - No momento? – Indagou Liu. – Acordar no dia antes do meu aniversário, e perceber que isso tudo é só um pesadelo, e que o Edu ainda está vivo. Ou algo do gênero.


  - Fora isso... – Continuou Sirius talvez querendo ouvir outra resposta.


  - Ficar bem conta? – Questionou Liu.


  - Fora isso também.


  - Ah. Não sei. – Murmurou Liu olhando para o teto. – Eu queria me vingar da Tia Marta, certo, pontos para mim porque eu consegui. Mas agora estou em um hospital morrendo, então, menos alguns pontos para mim. E não sei o que eu quero mais. Além do que eu já respondi.


  - Nada envolvendo eu e você? – Perguntou Sirius.


  - Você está aqui, ao meu lado, o que mais eu posso querer antes de morrer? – Pontuou Liu.


  - Casar comigo, por exemplo. – Respondeu Sirius automaticamente.


  - E te largar viúvo? – Retrucou Liu. – Nem quero isso para você.


  - Então isso é um “não” para o meu pedido de casamento indireto? – Perguntou Sirius surpreso.


  - Você não me pediu em casamento Si, larga de ser maluco. Você exemplificou o que eu te perguntei. – Respondeu Liu olhando para o maroto.


  - Então não é um não. – Pontuou Sirius sorrindo marotamente.


  - Você não pediu, então não tem como ter sido um “não”. – Retrucou Liu.


  - E se eu... – Começou Sirius sendo interrompido por um barulho de porta se abrindo.


  - Falamos sobre isso depois. – Murmurou Liu olhando para a porta.


  - Doutor. – Sirius disse ao ver que quem estava entrando, de costas, era uma pessoa de jaleco branco.


  Quando o “Doutor” em questão se virou de frente Sirius quase perdeu a cabeça, metaforicamente, claro. A única coisa que o impediu de ir até o “Doutor”, e talvez matar ele, foi a mão de Liu que segurava seu braço.


  - Como você ousa vir até aqui? – Disse Sirius olhando para o homem de olhos azuis que estava em pé já dentro do quarto. - Alias. Liu, ele não morreu? – Questionou em seguida.


  - Quieto Si. – Repreendeu Liu. – Olá Tio Nosferato. – Acrescentou sorrindo.


  - Soube do que está acontecendo com você e achei apropriado passar aqui para fazer uma visita. Não se preocupe, eu já tranquei a porta por via das dúvidas. Assim ninguém vai me ver conversando com você.  – Pontuou Nosferato com uma cara séria. – E você, garoto, pode se acalmar. Não vim aqui matar nem você nem ela. – Adicionou olhando para Sirius.


  - Não confio em ratos. – Retrucou Sirius.


  - SIRIUS! Você deve a sua vida a ele. Ou você acha que eu duelei contra ele e a minha tia e consegui matar a minha tia e afugentar ele enquanto você estava desacordado? – Disse Liu olhando seriamente para Sirius.


  - Então... – Começou Sirius.


  - Sim, sim. Eu matei a Marta quando ela me mandou matar você. Mas não foi porque eu acho você um garoto que merece isso. Foi porque ela matou alguém por quem eu morreria, e nem se importou. E depois ia matar vocês dois, talvez por inveja do Amor de vocês, inclusive. E você, minha sobrinha, estava realmente disposta a morrer por esse garoto. Estava disposta a fazer de tudo para que aquilo acabasse. – Nosferato falou com os olhos marejados. – E eu sei que você e a Mary eram amigas. – Adicionou apontando para Liu. – Sei que a Mary não gostaria que você sofresse. E é por isso que eu estou aqui.


  - Para matar ela antes que ela morra sofrendo? – Questionou Sirius com um tom de voz acusatório, ainda sem acreditar muito no que Nosferato estava dizendo.


  - Sirius! – Exclamou Liu beliscando o braço de Sirius.


  - Não. Para pedir perdão por tudo que eu fiz. – Murmurou Nosferato de cabeça baixa. – Acho que às vezes o Amor nos deixa um pouco... Cegos.


  - Você realmente vai acreditar nele, Liu? – Questionou Sirius aborrecido com o fato de não puder partir para cima de Nosferato.


  - Si, entenda, eu devo a minha vida, e ainda mais importante, eu devo a sua vida a ele. – Começou Liu tentando convencer Sirius que Nosferato estava sendo sincero. – Você estava desacordado, mas eu não. Eu sei o que aconteceu. Eu vi... Eu senti o medo de te perder. E ele impediu que isso acontecesse. – Continuou. – Então, Nosferato... – Disse passando a olhar para o pai de sua prima. – Eu só posso te dizer uma coisa, Obrigada.


  - Argh. – Resmungou Sirius.


  - Si, um pouco mais de confiança. – Murmurou Liu.


  - Bom. Se isso tudo é verdade. – Começou Sirius ainda desconfiado. – Obrigado, eu acho. – Murmurou.


  - Espero que você saia dessa. – Disse Nosferato sorrindo.


  - Acho que vai ser impossível dessa vez. – Pontuou Liu.


  - Eu não duvido de mais nada vindo de você. Quer dizer, eu te vi voltar dos mortos, acho que isso era impossível antes, não? – Falou Nosferato com um sorriso confiante.


  - Espero que ela consiga então. – Disse Sirius com uma cara séria.


  - Adeus. – Despediu – se Nosferato destrancando a porta e aparatando para algum lugar.


  - PORQUE DIABOS A PORTA ESTAVA TRANCADA E VOCÊS NÃO ABRIRAM? – Questionou Douglas gritando ao entrar, quase de imediato, pela porta recém destrancada.


  - A porta estava trancada? – Indagou Liu parecendo surpresa. – Você notou isso Si? – Adicionou olhando para Sirius.


  - Eu não.  Mas quem trancou? – Respondeu Sirius olhando confuso para Douglas.


  - Está bem! Eu deixo essa para lá. Esqueço que a porta estava trancada, e que vocês ignoraram os meus gritos que pediam claramente para que a porta fosse destrancada. – Pontuou Douglas.


  - Mas a porta foi destrancada não foi? – Questionou Sirius. – E o melhor, eu não tive nem que sair do meu lugar.


  - Os dois só estavam querendo um pouco de privacidade, Doug. – Disse Bel abraçando Douglas.


  - Eu não precisava ouvir isso, Belzinha. – Douglas disse olhando para a esposa.


  - Está bem irmãozinho querido. Eu te conto, com detalhes, o que aconteceu aqui. – Liu falou sorrindo.


  - Não precisa dos detalhes. – Pontuou Douglas.


  - Precisa sim. - Bel disse discordando de Douglas.


  - Uma pessoa, que prefere ficar no anonimato, veio me fazer uma visita e dizer que espera que eu fique melhor. Essa pessoa conseguiu entrar se fingindo de médico. E eu não vou dizer quem é porque eu não quero dizer. E foi essa pessoa que trancou a porta. – Explicou Liu com uma cara séria.


  - Ah. – Murmuraram Bel e Douglas juntos.


  - Isso não é uma mentira, é? – Questionou Douglas.


  - Não. – Responderam Liu e Sirius ao mesmo tempo.


  - Certeza de que não é uma mentira? – Perguntou Douglas novamente.


  - Claro. – Respondeu Liu com uma cara séria.


  - Deixa isso para lá, Doug. – Pontuou Bel piscando para o marido.


  - Aproveitando que você está aqui, Douglas. – Começou Sirius sorrindo. – Eu gostaria de te pedir uma coisa.


  - Tenha medo... – Murmurou Liu com um tom engraçado.


  - O quê? – Questionou Douglas com uma cara desconfiada.


  - Pára tudo! – Um grito invadiu o quarto. – A pessoa chata de lá de fora disse que não podem ficar mais do que três acompanhantes aqui dentro. Então eu estou expulsando você Douglas, e você Bel, porque eu e o Remy queremos falar com a Liu e vocês estão aqui já faz mais tempo e não é justo só vocês ficarem aqui. – Disse rapidamente.


  - Nossa. Perdi-me na parte do “pára tudo”, Lele. – Pontuou Sirius confuso.


  - Douglas e Bel, saiam do quarto, por favor. – Falou Lele sorrindo. – Eu quero ficar um pouco com minha “irmã” também.


  - Porque você não expulsa o Sirius? – Questionou Douglas.


  - Eu me recuso a responder essa sua pergunta, porque a resposta está na cara. – Respondeu Lele.


  - É Douglas, sabe como é... Meus olhos são mais bonitos que os seus. – Brincou Sirius sorrindo.


  - Muito engraçado. – Disse Douglas de maneira irônica.


  - Vai logo Douglas!!! – Exclamou Lele apressada enquanto batia o pé esquerdo no chão.


  - Volto logo, maninha. – Falou Douglas pouco antes de sair do quarto com Bel.


  - Como você se atreve a ficar morrendo sem a minha permissão? – Questionou Lele quando a porta se fechou.


  - Me atrevendo. – Respondeu Liu dando língua para Lele.


  - Isso não se faz, sabia? - Pontuou Lele já ao lado da cama de Liu.


  - Ué, e o que eu posso fazer? – Retrucou Liu com uma cara confusa.


  - Parar de morrer. Dã. – Disse Lele sorrindo. – Você já morreu uma vez, sua cota de “mortes” já acabou.


  - Ou então admita que você só está morrendo de novo para se ver livre do Almofadas. – Falou Remus sorrindo marotamente.


  - Nossa Remy! Como você adivinhou? Está tão óbvio assim? – Começou Liu sorrindo de leve. - Eu confesso que só estou morrendo para me ver livre do Si. Não agüento mais ele toda hora do meu lado falando coisas bonitas.


  - Não tem problema Liu, eu posso começar a falar na sua frente, em vez de ao seu lado, se esse é o trauma. – Pontuou Sirius sorrindo marotamente.


  - Pronto! Resolvemos o problema. – Lele começou com uma cara séria. – Agora levante – se dessa cama, e vamos para casa. Você agora está oficialmente não morrendo mais.


  - Está bem. – Disse Liu começando a se levantar.


  - Era brincadeira! – Exclamou Sirius. – Fique deitada, sem fazer esforço. – Adicionou. Liu voltou à sua posição anterior, deitada na cama.


  - Falando sério agora. Como você está mana? – Questionou Lele com uma cara um pouco triste.


  - Morrendo de medo. – Murmurou Liu.


  - Não. Você está morrendo por outro motivo, na verdade. – Retrucou Lele.


  - Bobona. – Disse Liu sorrindo.


  - Hey! – Interrompeu Douglas abrindo a porta repentinamente. – Tem mais duas pessoas, quer dizer, uma pessoa e um ser, aqui do lado de fora querendo falar com você, Liu.


  - Nossa! Quantas visitas. – Liu falou enquanto olhava para Douglas.


  - Quem vai sair? – Questionou Douglas ainda com a porta aberta.


  - O Si e o Remy. – Respondeu Lele rapidamente.


  - Nem vem que não tem Lele. – Retrucou Sirius. – Daqui eu não saio. Daqui ninguém me tira. – Adicionou.


  - Mas eu acabei de chegar. – Reclamou Lele. – Distraia o médico e as enfermeiras e mande as duas criaturas entrarem, ué Douglas! – Completou olhando para Douglas e sorrindo.


  - Porque eu que tenho que distrair? – Perguntou Douglas.


  - Porque sim. – Respondeu Lele. – Vai, vai.


  - Nem precisa! – Exclamou uma voz vinda do lado de fora. - Se ele entrar no quarto eu mesmo distraio ele!


  Depois de tal fala quatro pessoas entraram no quarto e fecharam a porta.


  Automaticamente, Lele, Remus, Liu e Sirius começaram a rir.


  - O que é isso Pontas? Veio direto de uma festa de crianças foi? – Questionou Sirius olhando para James que estava vestido de palhaço.


  - A minha ruivinha disse que alegria é o melhor remédio para qualquer doença. – Retrucou James. – Quer figura mais alegre do que o palhaço?


  - Você poderia ter vindo de Bambi logo, assim não gastava dinheiro com a fantasia! – Pontuou Sirius rindo.


  - Estou te ignorando a partir de agora, Almofadas. – Murmurou James. – LIU! Como vai você? Quer que eu te conte uma piada? Ou duas? Ou três...?


  - Eu quero ver você imitando um unicórnio. Imita Pontas? – Pediu Remus rindo também.


  - Engraçadinho você, Aluado. Só a Liu que pode pedir imitações ou piadas. – Disse James dando língua para Remus.


  - E aí Liu? Está melhor? – Perguntou Lily que já estava ao lado de Liu.


  - Pior, eu diria. – Respondeu Liu olhando para o teto. – Mas, por outro lado, com vocês aqui eu me sinto feliz. E isso me faz bem. – Adicionou sorrindo.


  - O Peter desejou melhoras, mas disse que não ia vir porque estava muito ocupado com eu sei lá o quê. – Pontuou Lílian. – Aí eu fiz o Jay se fantasiar de palhaço. – Concluiu rindo. – Ele até que ficou um palhaço bem fofinho.


  - Admita Lily, isso era uma espécie de sonho seu. Ver o James vestido de palhaço. – Brincou Lele entre risos.


  - Até parece, Lele. – Murmurou Lily envergonhada.


  - Ih. Acho que você acertou Lele. – Disse Bel, que já estava ao lado das garotas, rindo.


  - Eu sempre acerto, mesmo quando eu erro. – Pontuou Lele sorrindo marotamente.


  - REMUS! Eu não sabia que você era uma má influência também! – Exclamou Bel olhando para o maroto que estava conversando com os amigos.


  - Eu? O que eu fiz? – Questionou Remus confuso.


  - Esquece Remus. A má influência não é você, é a Lele. – Respondeu Liu sorrindo.


  - Eu? Má influência? – Começou Lele. – Se eu sou uma má influência eu aprendi isso com a Lily.


  - Eu aprendi com o Remus. – Retrucou Lily.


  - Porque comigo? – Reclamou Remus. – De qualquer forma, eu aprendi com a Liu.


  - Hey! Se respeite Remus! – Resmungou Liu. – Eu aprendi com o James.


  - E eu com o Almofadas. – Concluiu James. – Que não aprendeu com ninguém, e que é a má influência.


  - Olha Pontas, não dá para te levar a sério, não você vestido desse jeito. – Começou Sirius. – Quem acha que o palhaço tem razão levanta a mão!


  Todos levantaram a mão, menos Sirius, obviamente.


  - Até tu Liu? – Questionou Sirius fazendo drama.


  - Você perguntou. Eu só respondi. – Liu disse sorrindo. – Mas você é uma má influência muito boa.


  - Uma má influência muito boa? – Perguntou Douglas. – Liu, você me deixou confuso. Alias... Você sempre me deixa confuso.


  - Licença.  – Disse alguém entrando no quarto rapidamente.


  - Matt! – Saudou Liu sorrindo.


  - Céus! Quanta gente. Isso pode? – Falou Mathews já dentro do quarto. – Olha! Tem até um palhaço! – Disse apontando para James. – Quem o contratou?


  - Eu! – Respondeu Lily sorrindo. – O melhor palhaço de todos.


  James sorriu marotamente.


  - Está melhor Liu? – Questionou Mathews. – Olha... A Taty não pôde vir por causa de uns problemas lá. Mas ela mandou eu te desejar melhoras.


  - Eu estou melhor e pior. – Respondeu Liu. – Melhor porque vocês estão aqui. Pior porque, bom... Porque não melhorei fisicamente.


  O silêncio se fez por alguns minutos. Só com o silêncio que a garota pôde ouvir uma voz lhe dizendo algo. “Minha coisa pequena, vai ficar dormindo é?”. Fechou os olhos por longos dez segundos. Tempo mais do que suficiente para Sirius notar e correr de volta para o lado dela.


  Liu respirou fundo assim que abriu os olhos. Não gostava nada da idéia de estar alucinando. Pessoas saudáveis não alucinam, não normalmente. Olhou para Sirius com medo transparecendo em seu olhar.


  - Eu estou aqui com você. – Sirius murmurou segurando a mão da garota.


  - O que houve? – Perguntou Lele confusa.


  - Nada. - Mentiu Liu apertando a mão de Sirius.


  - Está com dor de cabeça? Febre? Dor em algum lugar? – Questionou Lílian rapidamente.


  - As pulgas do Almofadas te morderam? – James perguntou sorrindo.


  - Nada não gente, sério. – Respondeu Liu se esforçando para sorrir.


  Então, como se nada tivesse acontecido, todos voltaram a conversar, menos Liu e Sirius. Sirius ficou olhando para sua mão que estava entrelaçada com a da garota, imaginando o que faria quando aquela cena não pudesse mais se repetir. Fechou os olhos discretamente na tentativa de abrir os olhos e acordar em uma época diferente. Uma época que não fosse tarde demais.


  Enquanto isso Liu simplesmente observava todos seus amigos interagindo. Sentiria falta daquilo quando estivesse morta. Pessoas mortas sentem falta das coisas, certo? Pessoas mortas sentem alguma coisa, não é? Ou simplesmente param de existir para sempre? Somem no infinito?


  Foi então que uma lágrima escorreu de seu olho. Uma lágrima bastante discreta. Tão discreta que não fora vista por ninguém. Sabia que ela era o motivo de todos eles estarem naquele local. Sabia também que estavam todos se controlando para não se descontrolarem em sua frente. Tinha noção do que aconteceria por sua culpa.


  Não que ela tivesse escolhido ficar doente, ninguém pede para isso acontecer. Mas... Era ela quem estava doente do mesmo jeito. Era ela que ia acabar “abandonando” os amigos por uma segunda vez. Isso não era justo, os fazer chorar pela morte dela duas vezes.


  Olhou para Sirius que abria e fechava os olhos insistentemente. Ela sabia o que ele estava tentando fazer, afinal, ela própria já tinha tentado fechar os olhos para acordar em outra realidade. Mas aquilo nunca dera certo.


  Será que se lembraria daqueles olhos quando não estivesse mais naquele lugar? Lembraria da maneira que se sentia com um simples contato com a pele do maroto? Conseguiria se lembrar ao menos como era estar na presença dele? Continuaria o Amando como havia prometido uma vez? Mesmo depois de morta?


   Não queria mais pensar naquilo, por mais inevitável que fosse. Mas não conseguia, precisava de alguém para distraí-la. Para salvá-la antes que ela caísse em um poço profundo de pensamentos negativos.


  Sua visão já estava escurecendo, necessitava de uma luz. Fechou os olhos para não entrar em desespero, ou para não piorar seu desespero. Era horrível a sensação que ela estava experimentando. Sentia um vazio dentro de si. Gritava por ajuda, pelo menos por dentro, ninguém parecia ouvir seus gritos.


  - Liu... – Ouviu Sirius murmurar. Já não sabia mais se era somente sua cabeça lhe pregando peças. – Olha para mim. – Sirius pediu preocupado. O monitor que acompanhava os batimentos cardíacos de Liu continuava igual à antes.


  A garota abriu os olhos com medo de encontrar a mesma escuridão, ou uma escuridão ainda pior.


  Para seu alívio, estava tudo claro novamente.


  - Está com sono Liu? – Perguntou Sirius assim que Liu olhou para ele.


  - Não, Si. Só estava testando uma coisa. – Respondeu Liu sorrindo de leve.


  - Acordar em outra época... Acertei? – Questionou Sirius.


  - Algo assim. – A garota respondeu respirando fundo.


  O tempo apenas passou. Como sempre acontece. O quarto, que antes estava cheio, foi se esvaziando. Até sobrarem apenas, de acompanhantes, Sirius, Douglas e Bel.


  - Bom. Nós vamos deixar vocês aqui... Vamos até o refeitório para comer alguma coisa. – Disse Douglas. – E Liu... Hoje quem vai dormir aqui é o Sirius, tudo bem pra você?


  - Está bem meu irmão. – Respondeu Liu. Embora pudessem ter três visitas no quarto, havia lugar apenas para uma pessoa dormir. Seu estado havia piorado um pouco depois da visita dos amigos.


  - Eu tomo conta dela de noite. – Pontuou Sirius.


  - Qualquer coisa é só chamar, vou estar no corredor depois. – Avisou Douglas antes de ir para o refeitório com Bel.


  - É melhor você dormir Liu. Já está tarde e o dia foi cansativo. – Murmurou Sirius.


  - Eu não quero dormir, Si. – Confessou Liu. – Tenho medo de não acordar de novo.


  - Eu não vou deixar isso acontecer, nunca.


  - Acho que nesse caso você não iria puder fazer nada. – Pontuou Liu olhando nos olhos do maroto que já estava deitado de lado, ao seu lado, no pouco espaço que sobrava na cama do hospital.


  - Eu posso tudo. Ou você se esqueceu que eu sou Sirius Black? – Questionou Sirius acariciando delicadamente o rosto da garota.


  - Tem coisas que nem você, Sirius Black, pode evitar que aconteçam. – Retrucou Liu em um tom triste de voz.


  - Quer que eu conte uma história para você dormir? – Perguntou Sirius ainda acariciando o rosto da garota.


  - Eu já disse que eu não quero dormir. Eu quero ficar aqui com você, do seu lado, olhando para você. – Respondeu Liu se virando na cama para ficar cara – a – cara com Sirius. – Eu te Amo muito.


  - Eu também te Amo muito. – Murmurou Sirius chegando mais perto de Liu agora que, como ela havia se virado de lado, tinha um pouco mais de espaço.


  - Promete para mim que vai ficar bem quando eu for embora. – Pediu Liu acariciando o rosto de Sirius da mesma forma que ele estava acariciando o dela.


  - Só se você prometer que não vai embora. – Sussurrou Sirius. – Eu não quero te perder de novo, minha pequena. Uma vez já foi o suficiente. Dói muito.


  - Si, prometa, por favor.


  - Não vou fazer uma falsa promessa para você. Eu não vou ficar bem, eu sei disso.


  - Eu não vou agüentar te ver triste. – Pontuou Liu sorrindo para Sirius.


  - Então não se atreva a “ir embora”. – Retrucou Sirius.


  - Está bem. – Concordou Liu colando sua testa na de Sirius. – Eu não quero fazer você sofrer de novo, nunca mais.


  Sirius ficou calado, apenas olhando para a face de Liu, assim como ela estava olhando para ele. Ficaram apenas se olhando, até que o maroto tomou uma iniciativa.


  Com toda delicadeza possível ele tomou posse dos lábios de Liu, que correspondeu de imediato ao beijo. As mãos de Sirius traziam o corpo da garota mais para perto dele. Talvez ambos estivessem interpretando aquele beijo como “O último beijo”. Nenhum dos dois queria parar aquele beijo, nem mesmo para respirar. Que respirassem depois!


  - Eu tenho que respirar Si. – Pontuou Liu se separando do beijo.


  - Respira depois. – Murmurou Sirius a beijando novamente.


  - Respirar é importante. – Retrucou Liu separando seus lábios dos lábios do maroto após um tempo. Ambos se olharam e sorriram.


  - Respire então. Eu deixo. – Disse Sirius. A distância entre eles era quase inexistente.


  - Já respirei o suficiente. – Pontuou Liu sorrindo marotamente e beijando os lábios de Sirius bem de leve, somente um toque de lábios. – Você é o motivo de eu ainda estar viva. É a razão do meu corpo, e minha mente ainda não terem desistido. É por você que eu vivo Sirius. E é por você que eu quero viver.


  Mais um beijo rápido.


  - Eu nunca vou te abandonar. – Murmurou Liu. – Você vai sempre me ter perto de você, seja como for, seja onde for.


  Outro beijo rápido.


  - Não é só meu coração que é seu, Sirius. – Pontuou a garota. – Minha alma é sua também.


  - Você é o que eu tenho de mais valioso, minha pequena. – Começou Sirius olhando nos olhos de Liu. – E acredite em mim, eu vou te achar sempre que for necessário, se te tirarem de perto de mim eu não vou descansar até te encontrar.


  - Nada vai me separar de você. – Disseram os dois ao mesmo tempo.


  Novamente Sirius tomou a iniciativa e beijou os lábios da garota de uma maneira delicada, porém apaixonada.


  - Agora vá dormir minha anjinha. – Murmurou após o longo beijo. – Você está cansada, eu consigo ver isso em seus olhos.


  - Mas... – Começou Liu.


  - Prometo que vou estar ao seu lado quando você acordar. – Falou Sirius acariciando o rosto de Liu e se levantando para ir até a cadeira que já estava posicionada ao lado da cama. – Bem aqui. – Disse sentando – se na cadeira.


  - Boa noite meu Amor. – Desejou Liu sorrindo e se ajeitando na cama para dormir.


  - Boa noite e bons sonhos, minha querida. – Respondeu Sirius olhando cuidadosamente para Liu enquanto ela começava a dormir.


 


[i][blue]I could stay awake just to hear you breathing


Watch you smile while you are sleeping


While you´re far away and dreaming


(Eu poderia ficar acordado só para ouvir você respirar


Ver o seu rosto sorrindo enquanto você dorme


Enquanto você está longe e sonhando) [/i][/blue]


 


   Enquanto Liu dormia, Sirius ficou apenas zelando pelo seu sono. Vendo a garota sorrir com os bons sonhos que provavelmente estava tendo. Aquele sorriso era, sem dúvidas, o mais belo dos sorrisos que ele já havia visto. Sentia – se alegre em ouvir a respiração de Liu, pelo menos aquilo significava que ela ainda estava respirando, e que não havia nada para ele temer. Não naquele momento.


 


[i][blue]I could spend my life in this sweet surrender


I could stay lost in this moment forever


Well, every moment spent with you


Is a moment I treasure


(Eu poderia passar minha vida inteira nessa doce entrega


Eu poderia me perder neste momento para sempre


Todo momento que eu passo com você é o máximo) [/i][/blue]


 


  Ele poderia passar o resto de sua vida ao lado dela, e sabia disso. Estivessem onde fosse, qualquer que fosse a situação, só de estar com ela tudo parecia melhor. Todos os momentos com ela eram simplesmente mágicos.


  Queria que aquele momento durasse para sempre, assim não teria a menos chance dela sofrer mais do que já havia sofrido. Não haveria como ela o deixar. Não teria a menor chance de ele a perder para sempre


 


[i][blue]I don´t wanna close my eyes


I don´t wanna fall asleep


´Cause I´d miss you, babe


And I don´t wanna miss a thing


(Não quero fechar meus olhos


Não quero pegar no sono


Porque eu sentiria a sua falta, baby


E eu não quero perder nada) [/i][/blue]


 


  Sirius já estava imaginando como seria sentir a falta de Liu novamente, mesmo ela ainda estando ali ao seu lado. Sabia que ia doer tanto, ou mais, do que da primeira vez em que a perdera. Daquela vez seu subconsciente não havia admitido a morte de sua Amada, mesmo com todas as provas. E seu subconsciente estivera certo daquela vez. Entretanto, dessa vez não era a mesma coisa. Ela estava sofrendo na frente dele, e ele sabia que se ela morresse desta vez não voltaria dizendo que havia sido tudo uma brincadeirinha. Aquilo não era uma brincadeira.


  O maroto já estava lutando contra o sono, não queria correr o risco de dormir e perder Liu. Não poderia dormir enquanto ela não estivesse bem.


 


[i][blue]´Cause even when I dream of you


The sweetest dream will never do


I´d still miss you, babe


And I don´t wanna miss a thing


(Porque mesmo quando eu sonho com você


O sonho mais doce nunca vai ser suficiente


E eu ainda sentiria a sua falta, baby


E eu não quero perder nada) [/i][/blue]


 


  Ele sabia que se ela se fosse os sonhos não seriam o bastante para saciar a falta que ela faria dentro de seu coração. Já havia experimentado isso. Já sabia o que aconteceria depois de um sonho. Apenas acordaria e nada teria mudado. Ele continuaria sem ela.


 


[i][blue]Lying close to you


Feeling your heart beating


And I´m wondering what you´re dreaming


Wondering if it´s me you´re seeing


(Deitado perto de você, sentindo o seu coração bater


E imaginando o que você está sonhando


Imaginando se sou eu quem você está vendo) [/i][/blue]


 


  O maroto então deitou – se novamente ao lado de Liu, naquele pequeno espaço que havia sobrado no canto da cama. De onde ele estava, com o tamanho da proximidade, conseguia sentir o coração da garota batendo. Aquilo o mantinha calmo.


  Olhou para ela. A garota estava sorrindo levemente. Imaginou com o que ela estava sonhando. Talvez fosse com ele, pelo menos assim foi que ele pensou.


  Acariciou de leve os cabelos da garota. Respirou fundo para sentir seu cheiro. Aquele cheiro que o deixava embriagado, que o deixava feliz.


 


[i][blue]Then I kiss your eyes and thank God we´re together


And I just wanna stay with you


In this moment forever, forever and ever


(Então eu beijo seus olhos e agradeço a Deus por estarmos juntos


Eu só quero ficar com você


Neste momento para sempre, para todo o sempre) [/i][/blue]


 


  Beijou os olhos fechados da garota bem de leve antes de se levantar novamente para observar ela.


  Ele queria tanto que tudo aquilo não tivesse um fim. Se soubesse de alguma magia que fizesse aquilo durar para sempre, sem dúvidas faria de tudo para realizar tal magia.


 


[i][blue]I don´t wanna close my eyes


 I don´t wanna fall asleep


´Cause I´d miss you, babe


And I don´t wanna miss a thing


(Não quero fechar meus olhos


Não quero pegar no sono


Porque eu sentiria a sua falta, baby


E eu não quero perder nada) [/i][/blue]


 


[i][blue]´Cause even when I dream of you


The sweetest dream will never do


I´d still miss you, babe


And I don´t wanna miss a thing


(Porque mesmo quando eu sonho com você


O sonho mais doce nunca vai ser suficiente


E eu ainda sentiria a sua falta, baby


E eu não quero perder nada) [/i][/blue]


 


  - “Você não pode dormir agora Sirius Black.” – Sirius repetia mentalmente enquanto lutava pelos anseios de seu próprio corpo. – “A mente domina o corpo”. – Adicionou se controlando para não dormir. Afinal, não era hora de sonhar.


 


[i][blue]I don´t wanna miss one smile


I don´t wanna miss one kiss


Well, I just wanna be with you


Right here with you, just like this


(Não quero perder um sorriso


Não quero perder um beijo


Bom, eu só quero ficar com você


Aqui com você, apenas assim) [/i][/blue]


 


  Ele sabia o que queria. Ou melhor, o que não queria.


  Não suportaria perder nada. Fosse um sorriso, um beijo, uma palavra dita durante o sono mais profundo, um momento.


  Só queria ficar ali com ela, só com ela.


 


[i][blue]I just wanna hold you close


Feel your heart so close to mine


And stay here in this moment


For all the rest of time


(Eu só quero te abraçar forte


Sentir seu coração perto do meu


E ficar aqui neste momento


Por todo o resto dos tempos) [/i][/blue]


 


  Controlou-se para não abraçar Liu. Não queria acordar ela. Ela estava tão tranqüila. Guardaria aquela memória para sempre.


 


[i][blue]I don´t wanna close my eyes


I don´t wanna fall asleep


´Cause I´d miss you, babe


And I don´t wanna miss a thing


(Não quero fechar meus olhos


Não quero pegar no sono


Porque eu sentiria a sua falta, baby


E eu não quero perder nada) [/i][/blue]


 


[i][blue]´Cause even when I dream of you


The sweetest dream will never do


I´d still miss you, babe


And I don´t wanna miss a thing


(Porque mesmo quando eu sonho com você


O sonho mais doce nunca vai ser suficiente


E eu ainda sentiria a sua falta, baby


E eu não quero perder nada) [/i][/blue]


 


[i][blue]I don´t wanna close my eyes


I don´t wanna fall asleep


´Cause I´d miss you, babe


And I don´t wanna miss a thing


(Não quero fechar meus olhos


Não quero pegar no sono


Porque eu sentiria a sua falta, baby


E eu não quero perder nada) [/i][/blue]


 


[i][blue]´Cause even when I dream of you


The sweetest dream will never do


I´d still miss you, babe


And I don´t wanna miss a thing


(Porque mesmo quando eu sonho com você


O sonho mais doce nunca vai ser suficiente


E eu ainda sentiria a sua falta, baby


E eu não quero perder nada) [/i][/blue]


 


  Sentou – se então na cadeira. Respirou fundo para se manter concentrado, e mais importante ainda, acordado. Não iria se deixar levar pelo sono. Mesmo que estivesse cada vez mais intenso. Mesmo se sua própria mente o pedisse para descansar um pouco. Não, ele não descansaria. Ele não podia descansar... Ele não deveria.


 


[i][blue]Don´t wanna close my eyes


Don´t wanna fall asleep, yeah


I don´t wanna miss a thing.


(Não quero fechar meus olhos


Não quero pegar no sono, yeah


Eu não quero perder nada.) [/i][/blue]


 


  Não deveria. Mas se entregou ao sono. E nos primeiros minutos de sonho, um barulho estridente o fez acordar.


  Sirius então abriu os olhos assustado. Seu coração se desesperou no que sua mente traduziu o que estava acontecendo. Médicos e enfermeiras em todos os lugares do quarto.


  Bel abraçando Douglas e chorando desesperada.


  Olhou para os lados, seus olhos inundados de lágrimas.


  - 100... Carregar... Afastem – se! – Gritou o doutor antes de dar um choque no peitoral de Liu com a máquina que estava acostumada a trazer as pessoas de volta à vida. – Nada. – Disse após o primeiro choque.


  - Não. – Murmurou Sirius se levantando. Só então notou que sua cadeira havia sido puxada para trás, já que ele estava mais distante da cama onde Liu estava.


  Tentou, inutilmente, chegar mais perto de onde Liu estava. A barreira da equipe médica não o deixou se aproximar.


  - Peço que se retirem. - Pediu uma enfermeira enquanto tentava tirar Sirius, Douglas e Bel do quarto.


  - 150... Carregar... Afastem – se! – Exclamou o doutor novamente. Sirius não queria sair dali, lutava para tentar enxergar sua Amada. – Nenhuma resposta! – Gritou.


  - LIU! – Disse Sirius desesperado num tom alto de voz.


  - 200... Carregar... Afastem – se! – Disse o médico novamente. A enfermeira desistiu de tentar tirar Sirius, Douglas e Bel do quarto. – Nada!


  - Não faça isso comigo... – Murmurou Sirius enquanto chorava.


  - 250... Carregar... Afastem – se! – Aquilo soava como uma tortura para o coração de Sirius. – Nada!


  - Volta minha Liu. – Pediu Sirius em um sussurro. Douglas já estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Bel abraçava Douglas cada vez mais forte.


  - 300... Carregar... Afastem – se!


  Um ponto preto, nada mais.


  Aos poucos Liu abriu os olhos sentindo – se cansada. Sentindo – se fraca. Não reconhecia aquele lugar. O lugar em que estava naquele momento era muito mais branco e iluminado do que o outro. Fechou e abriu os olhos pelo menos três vezes, não sabia onde estava.


  - Não acredito! – Ouviu uma voz de uma pessoa que parecia estar extremamente emocionada ecoar pelo ambiente. – Minha pequena chata favorita acordou! – Disse a voz aos gritos, logo depois veio o barulho de porta se abrindo. Passos. – DOUGLAS! Ela acordou! ACORDOU! – Gritava a voz masculina em êxtase. – Eu disse que ela não ia nos abandonar!


  Embora tentasse enxergar com clareza, as únicas coisas que Liu via eram dois borrões em meio a tanta claridade. Durante quanto tempo estivera dormindo? Seus olhos simplesmente teriam que se acostumar novamente à claridade.


  Fechou os olhos novamente, durante mais tempo agora.


  - Fique com ela. Eu vou chamar o doutor. – Disse a voz. Logo deu para ouvir os passos apressados da pessoa saindo do local.


  - “Douglas” – Liu pensou em dizer ao ver claramente a figura conhecida olhando para ela do lado da cama. Só então notou que estava incapacitada de falar qualquer coisa. Tinha algo em sua garganta. Uma espécie de aparelho para me ajudar a respirar, ela concluiu. Mas não precisava mais daquele aparelho, ela se lembrava de como era o mecanismo da respiração.


  - Você voltou. - Murmurou Douglas. De seus olhos lágrimas de alegria escorriam. Liu sorriu. – Você voltou! – Repetiu alegre.


  Liu então tentou algo um pouco arriscado. Tentou mover seus dedos da mão. Conseguiu.


  - O doutor já está vindo. – Avisou a mesma voz que estava perto dela quando ela havia acordado. Olhou para o lado para ver o dono da voz. De seus olhos lágrimas brotaram. – Você se lembra de mim, pequena?


  Como ela não se lembraria daquela figura? Não tinha como esquecer ele. Não ele.


  - “Edu...” – Pensou a garota enquanto as lágrimas se tornavam mais constantes.


  Nem por um minuto parou para pensar que seu irmão teoricamente estava morto. Talvez ele nunca tivesse morrido.


  - Minha irmã lerdinha. Você voltou. – Disse o rapaz de cabelos castanhos e olhos castanhos enquanto se aproximava mais de sua irmã até ficar ao lado dela.


  Com um pouco de dificuldade Liu levantou sua mão em direção ao rosto de Edu. Queria sentir que ele era real.


  Eduardo deixou seus olhos se fecharem e lágrimas escorrerem ao sentir a mão de sua irmã tocar seu rosto.


  - Eu pensei que ia te perder para sempre. – Murmurou Edu. Liu enxugou, com sua mão, as lágrimas que estavam caindo dos olhos de seu irmão, balançou a cabeça de maneira negativa com cuidado.


  - Céus! – Exclamou o doutor que havia acabado de entrar no quarto. – Isso é impressionante. Nunca vi nenhuma paciente acordar de um coma tão longo dessa maneira. Quero dizer, restabelecendo as funções motoras, e respiratórias, tão rápido.


  Coma? Como assim? Quanto tempo ela esteve em coma?


  A garota olhou para o médico, estava confusa.


  Coma?


  - Mais de dois anos em coma, e agora parece ter acordado de um simples sono de beleza. – Pontuou o doutor tomando o lugar que antes era de Douglas. A mão de Liu, que antes tocava o rosto de Edu, já estava novamente em cima da cama.


  Devagar Liu apontou para o aparelho que estava impedindo ela de falar.


  - Você quer falar? – Questionou o doutor confuso. – Você acha que consegue?


  A garota assentiu com a cabeça.


  Algum tempo depois o médico já havia retirado o aparelho que impedia Liu de falar, mas que a ajudava a respirar. Ela estava conseguindo respirar sozinha, com um pouco de dificuldade, mas estava.


  - Edu... – Murmurou Liu assim que sentiu que conseguiria falar. Estava sendo cansativo falar, por menos que fosse, mas ela tinha que falar. O médico pareceu ainda mais surpreso. – Você... Não... Tinha... Morrido? – Disse com dificuldade.


  - Eu? – Questionou Edu assustado. – Não que eu me lembre. – Respondeu entre risos. Liu olhou para ele confusa.


  - Eu... Eu... Vi... Você... Morrendo. – Pontuou Liu se esforçando para falar. – “A mente domina o corpo”. – Pensou.


  - Eu nunca morri Liu. Você está fazendo confusão. – Retrucou Edu. – Se eu tivesse morrido eu não estaria aqui.


  - Então eu morri? E o Douglas também? – Perguntou Liu já com mais facilidade para falar, o que impressionou ainda mais o médico.


  - Eu não morri! – Exclamou Douglas. – E nem você.


  - Douglas, cadê o Sirius? – Questionou Liu um pouco desesperada.


  - Sirius? – Indagou Douglas com uma cara de confusão. – Quem é Sirius?


  - Não é hora de brincadeiras Douglas! – Exclamou Liu que embora quisesse gritar só conseguia murmurar.


  - Você não se lembra do que aconteceu? De nada? – Perguntou Edu olhando para irmã com certa preocupação.


  - Algo de errado em meu cérebro. Eu sei. E eu estou morrendo, ou estava. Também sei. Sei também que... – Interrompeu sua própria fala ao procurar algo em seu pescoço e não encontrar nada. – Onde está a corrente que o Sirius me deu?


  - Não existe essa corrente Liu. Não existe um Sirius. Você está confundindo tudo. – Pontuou Douglas com calma.


  - É normal pacientes que acabaram de acordar de um coma se sentirem confusos. – Alertou o doutor.


  - Eu não estou confusa, eu sei o que eu estou falando. – Disse Liu com convicção. – Chamem o Sirius, por favor. - Pediu.


  - Liu, o que você se lembra de toda a sua vida? – Questionou Edu curioso.


  - Me lembro do meu pai morrendo quando eu tinha dez anos de idade. De minha mãe morrendo pouco tempo depois por culpa da tia Marta. De você indo viajar com o Douglas e uma galera e me deixando na casa da tia Marta. Da morte do tio Donnatelo. Eu entrando em Hogwarts com onze anos e conhecendo a Lílian, o James, o Remus, a Letícia, o Sirius, o Peter e a Isabel. De ter dançado com o Sirius no meu aniversário de quinze anos. De ter beijado o Sirius pela primeira vez durante uma detenção no sétimo ano em Hogwarts. Você e o Douglas ensinando Defesa contra as artes das trevas em Hogwarts. – Começou a garota fazendo uma breve pausa para se lembrar de tudo. – De ter começado a namorar o Thomas no mesmo ano. De ter terminado meu namoro com o Thomas. De ter começado a namorar o Sirius. Da festa surpresa de Natal. De ter dado a corrente com o pingente de coração que havia sido de nossa mãe para o Sirius de presente de Natal. Do tio Nosferato me torturando. Ter ganhado o Eduzinho, o meu gato branco de olhos azuis de presente. O Edu, o Thomas e a Júlia morrendo no dia do meu aniversário de dezoito anos. – Continuou.


  - “Incrível” – Pensou o doutor.


  - Me lembro de ter jurado que te vingaria. Depois me lembro de ter fingido minha própria morte, com a ajuda de você, Douglas. Ter ido à minha missa de sétimo dia disfarçada de outra garota com a ajuda de uma poção polissuco. Da morte do padre. Isabel descobrindo que eu estava viva. A morte do namorado da Mary Kate. Eu matando dois comensais da morte por terem ameaçado a Mary Kate e o Sirius. Ter conhecido o Mathews. Ter matado outro comensal e descoberto que a Mary Kate era filha do Nosferato. Sirius ter beijado a Mary Kate no Natal. Eu beijando o Mathews no Natal. De ter ido, com uma capa que me deixava invisível, à festa de ano novo na casa do James, quer dizer, ter ficado do lado de fora vendo tudo por uma janela. Do James descobrindo que eu estava viva. Do Sirius descobrindo a verdade e brigando comigo. Ter sido seqüestrada pelo Silas, e ter sido enterrada viva pelo mesmo. Da Isabel abrindo o caixão a tempo de me salvar. Ter matado o Silas. – Falou Liu analisando fato por fato.


  - “Impossível” – Pensou Eduardo.


  - Também me lembro do Sirius fazendo as pazes comigo. De ter descoberto que o Douglas era meu meio – irmão. De ter entrado com o Douglas no casamento dele com a Isabel, deixando que todos os meus amigos soubessem da verdade. Da luta contra a Marta e o Nosferato, onde a Mary Kate morreu, o Eduzinho morreu, a Marta morreu, e o Nosferato mostrou que era bom por dentro, só era cego de paixão. Lembro-me de ter ido para o hospital por causa dos meus desmaios. De descobrir que eu estava morrendo. De ter ouvido uma voz em meus sonhos. Todos meus amigos menos o Peter, e a Taty que era a namorada do Mathews, no hospital fazendo a maior bagunça. Inclusive, o James estava vestido de palhaço. De o Douglas ter me deixado sozinha no quarto com o Sirius. Do beijo que o Sirius me deu. E de ter dormido. Isso é tudo mais importante que eu me lembro. – Terminou a garota parando para respirar fundo.


  - Isso é tudo impossível. – Pontuaram Douglas e Edu juntos. Lágrimas escorreram dos olhos de Liu.


  - Tem que ser verdade. – Murmurou Liu. – São minhas únicas lembranças.


  - Às vezes pacientes em coma criam toda uma vida nova durante o período de coma. Parece que esse é o seu caso. Já que no seu aniversário de dezoito anos você já estava em coma. E que seu irmão não está morto. – Pontuou o médico. Liu fechou os olhos, não queria acreditar que tudo que se lembrava era mentira.


  - E eu não sou casado. – Disse Douglas mostrando as mãos.


  - Mas... E o Sirius? – Questionou Liu com algum tipo de esperança de algo.


  - Invenção da sua cabeça. – Respondeu Douglas um pouco triste de ter de acabar com o sonho de Liu. – Bom... Você está certa sobre eu ser seu meio – irmão, em compensação. – Adicionou.


  - Invenção da minha cabeça... – Murmurou Liu balançando a cabeça. – Mas era tudo tão real. – Reclamou.


  - Real para você. – Pontuou o médico.


  - Você não se lembra do Silver? – Perguntou Edu repentinamente.


  Liu chorou ainda mais. Era horrível a sensação de não se lembrar de nada sobre sua vida. E era ainda pior saber que Sirius não existia.


  - Não me lembro de nada! – Exclamou Liu frustrada.


  - Não se preocupe, eu te conto tudo. – Disse Edu sorrindo. – Vamos ter bastante tempo para conversar.


  - Depois que vocês terminarem de conversar, avisem - me. Preciso que ela faça alguns exames. – Avisou o doutor enquanto saía do quarto. – Qualquer coisa é só apertar o botão vermelho e alguém virá ajudar. – Adicionou saindo do quarto.


  - Bom. Vou começar te contando como foi que você veio parar nesse hospital. – Pontuou Edu.


  - Está bem. – Concordou Liu de olhos abertos e mente aberta para aceitar seu passado.


  - Seu nome é Elisa Weiss. Você é uma grande atleta. O esporte que você pratica é o hipismo, e você é uma das melhores da sua idade. O nome do seu cavalo branco é “Silver”, e é nele que você sempre montou durante as competições. E foi durante uma competição que algo muito horrível aconteceu... – Começou Edu. Mas ele não precisou seguir em frente, com o simples apertar de gatilho de seu irmão as memórias começaram a surgir.


  Em sua memória mais recente ela estava aguardando o início de uma competição, apenas conversando com seu cavalo.


  “O que me diz Silver? Pronto para detonar geral?”, ela se ouviu dizer para seu cavalo, ele era tão lindo. O cavalo pareceu concordar. Ela saiu de perto para falar com os irmãos que haviam ido até os bastidores para desejar boa sorte para ela.


  Depois se lembrou da competição em si. De estar em cima do cavalo, já pronta para começar o percurso, quando notou que a sela de seu cavalo estava frouxa. Mas já era a hora dela começar seu percurso, e foi isso que ela fez, mesmo sabendo que seria arriscado montar com a sela frouxa.


  Passou do primeiro obstáculo, que era mais baixo do que os outros. Sentiu – se feliz por não ter desabado naquele momento, já que tinha sentido a sela se mexer um pouco.


  Passou do segundo com ainda mais dificuldade. Queria parar, mas não conseguia, não era de desistir no meio de uma competição. Nada a faria parar.


  Foi em direção ao terceiro, e mais alto obstáculo. Seu cavalo saltou, e quando as patas do cavalo estavam alcançando o chão sua sela virou com ela em cima. Foi então que ela caiu. A última coisa que se lembrava era de ter batido sua cabeça com força em uma das barras do obstáculo e de ter desmaiado.


  - A minha sela estava frouxa, eu sabia, mas eu não parei... – Murmurou Liu em choque. Edu olhou para ela assustado, ele ainda não havia chegado nessa parte. – Eu só queria vencer. Não me importei com mais nada. Não pensei nas conseqüências. – Disse em meio a lágrimas.


  - Outra competidora te sabotou. Descobriram isso uma semana após o acidente, e ela foi afastada do esporte. – Falou Douglas com uma cara triste.


  - Mas não adiantou de nada. Você já estava em coma mesmo. Aquilo não faria você acordar. – Pontuou Edu.


  - Marta Corradin. – Murmurou Liu ao se lembrar o nome daquela que tinha como rival.


  - Exatamente. – Disseram Edu e Douglas juntos.


  - Vocês têm certeza que eu não conheço nenhum Sirius? – Questionou Liu.


  - Você não tinha “tempo” para conhecer ninguém. – Respondeu Edu. – Se dedicava quase que totalmente ao esporte. Sua vida era aquilo.


  - O Silver ainda está vivo? – Perguntou Liu repentinamente. Não sabia explicar, mas já sentia falta daquele ser recém descoberto por sua mente. – Mais de dois anos não é pouca coisa.


  - Sim. Ele está vivo, mas com saudades de você. – Respondeu Edu sorrindo.


  - Meus pais? – Questionou Liu querendo saber um pouco mais sobre sua vida. Não queria confiar em sua mente.


  - Mortos por culpa de um acidente de carro. – Respondeu Douglas. – Dois anos antes de você ter entrado em coma.


  - Eu tenho um gato branco de olhos azuis?


  - Não. Mas a gente pode providenciar um assim que você sair daqui. – Respondeu Edu.


  - Vocês podem me providenciar um Sirius também? – Perguntou a garota cabisbaixa.


  - Isso você que vai ter de providenciar. Eu nem sei como ele é. – Disse Edu.


  - E eu vou fazer o quê agora? – Questionou Liu confusa. – Eu mal sei quem eu sou. Não sei se vou me lembrar de como se monta um cavalo. E não tenho meus amigos para me ajudar.


  - Você tem a gente. – Douglas falou seriamente. – Eu, o Edu e o Silver. Fora, claro, seus fãs, sim, você tem fãs. E seus vários cavalos. E mais alguns vários parentes.


  - É. Eu tenho vocês. – Murmurou Liu. – Tenho o Edu novamente... – Disse sorrindo. Sentia falta do irmão. – Por enquanto acho que isso basta.


  - Por enquanto? – Perguntaram Douglas e Edu juntos.


  - Claro. Só Merlin sabe o que a vida vai aprontar comigo daqui por diante. – Respondeu Liu olhando para o teto.


  - Quem é Merlin mesmo? – Indagou Edu de uma maneira engraçada por causa de sua confusão.


  - Coisa de bruxos Edu. Você entenderia se tivesse nos meus sonhos. - Pontuou Liu.


  - Eu entendi está bem? Só me fiz de desentendido para você se sentir mais inteligente. – Retrucou Edu. – Agora... Quem é esse tal desse cara mesmo?


  - Tipo o “Deus” dos bruxos. – Liu falou pensativa.


  - Você era uma bruxa no seu sonho, então... – Começou Edu.


  - Sim.


  - Você saía por aí matando as crianças para ficar mais jovem? – Perguntou Edu curioso.


  - Que absurdo! Julgando todos os bruxos por causa de sei lá... Filmes. – Reclamou Liu.


  Continuaram conversando durante muito tempo. Agora ela teria como matar as saudades do irmão. E se lembraria de dizer sempre o quanto o Amava. Tanto ele quanto todas as outras pessoas que Amava.


  Mas nem tudo estava perfeito. Faltavam algumas pessoas para tudo aquilo ficar melhor. Faltava uma pessoa em especial. Um maroto de olhos azuis – acinzentados e cabelos negros. E todos os pensamentos dela eram voltados para ele. Não queria nunca esquecer aquele rapaz.


  Ele havia sido tão real para ela. Não podia ter sido só uma criação dela. Ele teria de existir. E ele procuraria por ela... Ele havia prometido. Certo?


  - “Bem que eu ouvi falar que nem tudo é o que parece ser...” – Pensou Liu enquanto fazia os exames que o doutor havia mandado. – “Mas eu vou te achar Sirius Black. Esteja onde você estiver.”.


 


FIM.

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