CAPÍTULO II



— Por favor... não - disse Hermione com fraqueza.
— Não devo ser honesto?
Não era a honestidade de Harry que a preocupava. Era a sua própria.
Ela dissera-lhe para que não se preocupasse quanto ao fato de engravidá-la, que aquilo não era um problema! Garantira que poderiam aproveitar aquele momento sem se incomodar em usarem proteção. O congresso prosseguira por mais três dias e a tática dela funcionara. Um mês depois, acordara enjoada e contando os dias de atraso de seu ciclo.
Em outras palavras, estava grávida do bebê de um sheik.
Seu filho teria todas as esplêndidas vantagens genéticas de Harry sem que ela tivesse de lidar com o pai. Hermione apenas se esquecera de que o mundo era pequeno demais e que o homem poderia descobrir tudo, afinal.
— Talvez Neville estivesse certo. Você não me parece bem — murmurou Harry, preocupado com a palidez dela. — Sente-se, Hermione.
— Não preciso de babá — falou ela, lançando-lhe um olhar indiferente. Mas fez o que ele sugeriu, sentando-se na cadeira com um suspiro. — Você é a última pessoa que eu esperava ver hoje.
— Neville optou por mim para o cargo muito rapidamente. Hermione bateu as mãos sobre a mesa.
— Como você pôde mudar-se para Chicago assim tão de repente? Não tem compromissos familiares?
Harry comprimiu os lábios.
De acordo com sua família, ele deveria casar-se e ter filhos. Seu pai não era tão intolerante sobre o assunto quanto sua mãe, mas nenhum dos dois estava satisfeito com a demora. Eles haviam se apaixonado e se casado jovens e não conseguiam entender por que o filho resistia a um destino tão feliz como o deles.
— Minha ausência não é importante. Tenho três irmãos que ajudam meu pai e meu avô a governar Hasan — disse ele.
— Oh. — Hermione parecia concentrada no assunto. — E irmãs? Você tem alguma?
Um sorriso aliviou o semblante tenso de Harry.
— Duas. São um grande tesouro para todos nós.
— Mas não para ajudar a governar o país, certo? Suponho que elas têm que usar túnicas e véus cobrindo o rosto e não opinar sobre nada, exceto quando são solicitadas a falar?
Harry franziu o cenho.
— Há muitas ideias erróneas sobre meu país. As mulheres em Hasan não usam burcas! — exclamou ele. — São tão livres quanto as mulheres do Ocidente. Talvez até mais, porque nossos homens não tem a mesma visão limitada sobre a beleza feminina.
Hermione não parecia convencida.
— Suas irmãs...
— Não têm o menor interesse em governar Hasan — completou ele, uma vez que tivera aquela discussão com mais de uma mulher americana. — Jasmine é artista plástica e deseja dedicar-se a seu trabalho. Não quer nem mesmo atuar como nossa Ministra da Cultura. E Fátima é médica.
— Entendo.
Harry deu uma olhada no relógio. Preferiria ficar conversando com Hermione, mas Neville o esperava para uma reunião.
— Vejo você mais tarde — afirmou ele. — Talvez Neville mude de idéia sobre jantar conosco, então poderemos ficar sozinhos.
A cor voltou às faces de Hermione e os olhos faiscaram de irritação.
— Ah, sim — resmungou ela. — Meu convite para ajudá-lo a experimentar a culinária de Chicago.
— Você comentou sobre as pizzas e os sanduíches italianos quando nos conhecemos em Washington. Falou...
— Isso já não tem mais importância — ela o cortou. Ele riu.
— Ora, Hermione! Você não teria concordado se eu a tivesse simplesmente convidado para jantar...
— Isso é verdade.
— Então me assegurei de que você não pudesse recusar. Os olhos dela tornaram-se frios.
— Já tive homens suficientes achando que sabiam o que era melhor para todo mundo — disse Hermione. — Não permitirei que ninguém me controle.
Harry lhe fez um gesto cortês com a cabeça e abriu a porta.
— Posso ter dado a impressão de que estava fazendo isso, mas não estava. Conversaremos mais tarde, quando você estiver se sentindo... melhor.
Ouviu o som da porta sendo fechada atrás de si e Harry se perguntou se Hermione jogara algo contra a porta. Nada muito perigoso, decidiu com um pequeno sorriso.
Gostava daquela Hermione, até mesmo mais do que da mulher sedutora que conhecera em Washington. Ela estava tão sedutora quanto, mas havia algo diferente nela que não sabia explicar.
Mas era algo que queria explorar.

Conversaremos depois, quando você estiver se sentindo... melhor.
Melhor.
Hermione procurou acalmar-se, certa de que tanta emoção não poderia fazer bem nem para ela, nem para o bebê.
Recostando-se na cadeira, pousou a mão sobre o ventre.
Sua vida mudara demais desde a consulta em junho com o ginecologista. Estremecera quando ouvira o resultado do teste, mas o médico apenas continuara explicando. Dizendo que uma gravidez podia aliviar os sintomas da endometriose ou até mesmo eliminá-los. Mas, com o passar do tempo, sua chance de conceber um filho diminuiria mais e mais. Aquilo era provavelmente uma doença que ela tinha desde o início da menstruação.
Hermione tremeu, pensando em sua infância.
Tivera pavor do pai, um oficial dominador e austero das Forças Armadas, que controlava a própria casa com o mesmo pulso de ferro que usava com os homens sob seu comando. Ela tentara contar-lhe quão doloridos eram seus períodos menstruais, mas ele lhe dizia para não se queixar. A dor era uma ilusão.
— Uma ilusão — murmurou ela.
O pior era que ela finalmente aceitara a filosofia do pai, decidindo que tinha de agüentar a dor pélvica e não reclamar. Talvez não tivesse mudado nada se soubesse da verdade antes, mas ao menos estaria preparada.
O telefone tocou, fazendo-a assustar-se. Hermione o atendeu, feliz por poder pensar em outra coisa além da bagunça que se transformara sua vida.
— Sim?
— Como foi o tour? — perguntou Ginny, calmamente.
— Abominável — admitiu ela. — Fiz uma grande tolice. Algo insensível e insano.
— Esta tarde?
— Não. Sete meses atrás.
— Então o sheik Potter é o... — A voz da amiga titubeou. — Certo. Vamos jantar hoje, assim poderemos conversar.
— Não posso. — Hermione pegou a caneta de cima da agenda. — Harry anunciou que eu o convidei para jantar, bem na frente de Neville. Antes que eu pudesse desmentir, Neville interveio e disse que vai conosco.
— Jura?
— Verdade. O que há com seu chefe ultimamente? Ele anda muito estranho.
— Ele é seu chefe também. — O tom de Ginny era delicado, o mesmo tom que usava algumas vezes quando estava protegendo Neville, o que fazia com freqüência.
— Ele não é meu chefe. É o chefe do meu chefe — disse Hermione.
— E isso faz alguma diferença?
— Imagino que não.
Apesar do estresse das últimas horas, Hermione sorriu. Ginny era apenas poucos anos mais velha que ela, mas certamente sabia como pôr um funcionário impertinente no devido lugar.
— Olhe, Ginny, preciso desligar. Mas obrigada pelo apoio.
— Você vai ficar bem?
— Pode apostar que sim. — Hermione desligou o telefone.
Sua imagem de um sheik do Oriente Médio fora absurdamente vaga. Nunca teria imaginado que Harry Potter era o filho do rei, porém um primo distante ou algo assim. Agora sabia e isso complicava ainda mais a situação.
Logo teria que repensar sobre contar a Harry que estava grávida... e que o bebê era dele.
Já podia até imaginar quão bem a notícia seria recebida.

— Tudo bem, Hermione?
— Bem — murmurou ela, sentando-se à mesa do restaurante. Tanto Neville quanto Harry estavam terrivelmente cuidadosos com ela desde que saíram da empresa.
Você não está com frio?
Estou bem. Ela mostrara o casaco a Harry, mas ele franzira o cenho.
— É janeiro e há neve. Você deveria usar alguma coisa mais pesada.
Quando ela descera do Jaguar, Neville dera a volta no carro e pegara-a pelo braço. — Tenha cuidado. Não vá escorregar na neve, você pode se machucar.
Entre os olhares quentes de Harry e a estranha maneira que Neville estava agindo, Hermione já estava pronta para explodir e eles ainda nem mesmo tinham feito os pedidos ao garçom. Apenas esperava que pudesse atravessar a noite sem náuseas. Quando Harry sugerira que fossem a alguma famosa pizzaria italiana de Chicago, ela engasgara.
Pizza não era a comida ideal para uma grávida ainda lutando contra os enjôos que duravam o dia todo.
Harry e Neville discutiram sobre os méritos do time Chicago Bulis e Dálias Cowboys. Uma conversa que ela ignorou. Após alguns minutos, eles a consultaram sobre o sabor da pizza e ela deu de ombros.
— Qualquer coisa que vocês quiserem — respondeu. Realmente não importava, uma vez que nenhuma lhe cairia bem no estômago.
— Você gostaria de um vinho? — A pergunta foi de Harry, mas por alguma estranha razão, Neville pareceu muito interessado na resposta dela.
— Nada de álcool, certo, Hermione? — intrometeu-se ele. — Não faria bem a você.
— Eu... não, obrigada. Apenas leite — disse ela, ciente de que precisava se alimentar pela saúde do bebê.
Neville lhe deu um outro olhar estranho e ela levantou uma sobrancelha. Nunca tivera grandes contatos com Neville Longbottom, e agora ele estava agindo como se fosse sua babá.
— Você já encontrou um lugar para morar? — ela perguntou a Harry. O garçom havia trazido leite para ela e vinho para os homens.
— Vou ficar temporariamente instalado em um hotel. Harry bebeu um pouco do vinho.
— Você deve comprar uma casa longe do centro, na costa norte — sugeriu Neville. — Há lindas casas por lá. É um bom investimento.
— Não tenho nenhum desejo por uma casa familiar. O amigo riu.
— Algumas vezes, famílias nos são impostas.
Um leve engasgo saiu de Hermione e a mão dela vacilou, deixando cair o copo. O leite esparramou e Neville levantou-se para pedir mais guardanapos ao garçom.
Hermione balbuciou um pedido de desculpas, a face pálida. Harry pousou a mão sobre a dela, numa tentativa de acalmá-la.
— Tudo bem, chérie — disse ele, carinhosamente. — Não foi nada.
Ela meneou a cabeça.
— Foi sim. Reagi de forma exagerada.
— Com o quê?
— Com... — A voz tremeu e ela deu de ombros. — Nada. Neville está certo, não ando me sentindo bem. Melhor eu ir para casa.
— Chamarei um táxi.
— Não. — O protesto de Hermione ficou no ar, porque Harry já tinha desaparecido. Por um instante, a necessidade de afirmar sua independência lutou com o desejo de escapar dali. Poderia chamar o próprio táxi. Era perfeitamente capaz de lidar consigo mesma e não precisava de ninguém bancando o grande e forte salva-vidas.
Mas não havia mais tempo para pensar sobre aquilo, porque Neville retornou com o garçom que começou a secar a bagunça que ela fizera.
— Onde está Harry? — perguntou Neville.
— Fui chamar um táxi — respondeu Harry, aproximando-se da mesa. — Ele está lá fora esperando. Hermione não está bem e vou acompanhá-la até em casa.
— Oh. — Neville franziu o cenho quando a observou. — Do estômago outra vez?
— Algo assim.
— Você precisa de ajuda?
A inquisição era diretamente para Harry e não para Hermione, e ela se irritou.
— Não preciso da ajuda de nenhum de vocês dois. Acreditem ou não, tenho sobrevivido muito bem sozinha, desde meus dezessete anos.
— Não posso deixá-la ir sozinha — contestou Harry. — Vou acompanhá-la.
Hermione respirou fundo. Homens.
— Talvez não em Hasan, mas aqui na América...
— Concordo com Harry — interrompeu Neville. — Um de nós a levará até sua casa.
— Seria um privilégio para mim — insistiu Harry.
Neville o olhou pronto para argumentar, mas então deu de ombros e falou:
— Tudo bem. Vejo vocês amanhã.
Hermione percebeu que novamente Harry a pusera numa situação difícil. Se insistisse em ir embora sozinha, pareceria uma mulher perversa perante Neville Longbottom, então cerrou os dentes e não disse nada.
No saguão da pizzaria, Harry observou a neve caindo lá fora e puxou um cachecol do bolso do casaco. Voltou-se para Hermione, preparado para uma batalha.
— Ponha isso no pescoço... não está vestida para um frio desses. O queixo teimoso dela se ergueu.
— Tenho certeza que o táxi tem ar quente.
— Mas você não deve tomar esse ar frio na saída, principalmente porque não está se sentindo bem.
— Harry... pare.
A súplica exausta o magoou profundamente, mas ele meneou a cabeça e enrolou o cachecol em volta do pescoço delicado. Ele teria posto o próprio casaco sobre os ombros dela, mas sabia que seria esforço perdido. Hermione era tão arisca quanto um potro que ele tinha em Hasan.
Neville estava pagando a conta, então Harry acenou para o amigo e pegou-a pelo braço.
— Deve estar escorregadio lá fora — justificou quando Hermione tentou soltar-se.
— Estou mais acostumada a andar na neve do que você. Ou será que há tempestades de neve em Hasan?
Harry riu, depois respondeu:
— Nada de neve.
Contra a vontade de Hermione, ele a segurou com firmeza enquanto caminhavam até o táxi. As mulheres de Hasan eram independentes, mas aceitavam de bom grado a cortesia masculina.
— Você realmente não precisa ir comigo — insistiu ela, entrando no banco traseiro do táxi.
Ele fez o mesmo e, percebendo que não adiantaria argumentar, Hermione deu o endereço ao motorista.
Quando o táxi parou diante da casa do século XIX, ela endireitou os ombros.
— Bem... obrigada. Vejo você no trabalho.
Harry sorriu enquanto tirava dinheiro da carteira para pagar a corrida.
— Levarei você até lá dentro e chamarei outro táxi depois que estiver acomodada.
— Não.
— Sim, Hermione. — O tom dele, embora gentil, era decidido, e ela simplesmente não tinha energia para começar outra discussão.
Nossa, como estava cansada! Cansada até para brigar, o que era assustador. Harry era exatamente o tipo de homem que ela jurara manter fora de sua vida e lá estava ele, enquadrado no meio daquilo.
O interior da casa estava frio e ela correu para aumentar o termostato do aquecedor.
— Vá deitar-se — murmurou Harry. — Vou preparar algo quente para você tomar.
Hermione encontrou-se obedecendo, antes mesmo de poder raciocinar. Na cama, tirou a saia e o suéter e, de propósito, vestiu uma camisola grossa que a cobria do pescoço aos pés. Bem diferente daquela de seda que usara em Washington.
Ainda assim... mirou-se no espelho e decidiu que, com ou sem camisola, estaria longe de sedutora. A pele estava pálida, os cabelos, nem curtos nem compridos, estavam desalinhados e havia olheiras profundas sob os olhos. A fadiga excessiva era natural. Afinal, estava grávida e nunca esperara ver Harry de novo. Por que ele retornara à sua vida?
Bichento, seu gatinho alaranjado, estava enrolado perto da lareira do quarto. Quando Hermione deitou-se, ele subiu na cama e aconchegou-se perto do ventre dela.
— Olá — sussurrou ela, agradando-lhe os pêlos. Ele ronronou e o reconfortante som afastou um pouco da tensão do corpo dela.
Quando Harry fosse embora, teria de se forçar a comer algo e a beber mais leite. Aquilo era como um mantra, atualmente. Coma. Beba litros de leite. E reze para que o bebê ganhe peso. Tomara as vitaminas pré-natais naquela manhã, então...
Hermione arregalou os olhos.
As vitaminas!
Tentou se lembrar de onde as deixara. Se estivessem na cozinha, então o segredo estava provavelmente desvendado. Alarmada, saiu da cama, foi até o banheiro, e agradecida, apertou o frasco de vitaminas na mão.
— Hermione?
— Já estou indo. — Rapidamente ela guardou o frasco em uma gaveta do gabinete.
Harry colocara uma bandeja na mesinha de sua cabeceira e observou-a quando ela cruzou o quarto. Apesar das condições do estômago e dos nervos, Hermione sentiu um arrepio na nuca. Nunca esperara estar no mesmo quarto que Harry de novo e era difícil ignorar as lembranças que aquela situação provocava.
— Preparei sopa de pacote e chá — anunciou ele. — Entre embaixo das cobertas antes que seu corpo esfrie.
— Aumentei o aquecedor.
Harry não sorriu porque sabia que aquilo irritaria Hermione. Houvera muitas surpresas sobre ela naquele dia, e a casa onde morava era mais uma. Um chalé de tijolos, restaurado do século XIX com uma decoração simples e aconchegante, que camuflava a leve sofisticação que projetava.
— Espero que você não se importe, mas preparei um café para mim — falou, quando ela se sentou na cama e recostou-se nos travesseiros. — Mas achei que você preferiria o chá que encontrei sobre o fogão. Ervas, acho.
Ele a observou.
Estava tão bonita que queria puxá-la para seus braços. O tempo deles juntos fora muito breve, embora parecesse que todo seu corpo estava impregnado com o calor e aroma de Hermione. Às vezes, acordava durante a noite, pensando que ela estava lá, e o desejo era tão forte que lhe tirava completamente o sono.
— Obrigada — sussurrou ela. — Não quero parecer... mal-agradecida.
— Eu não disse que você era.
Harry queria perseguir o assunto sobre ela tê-lo abandonado depois do congresso em Washington, mas não poderia. Não quando ela estava tão vulnerável.
Ela afastou os cobertores quando pegou a caneca de sopa, e uma cabeça peluda apareceu. Hermione, absorta, acariciou a orelha do felino, que se endireitou, observando Harry com olhos atentos.
— Seu gato parece desconfiado.
— Bichento é protetor.
— Ah, do tipo ciumento... posso entender. Ele está numa posição invejável... uma da qual eu não abriria mão com facilidade.
Harry pôde ver a expressão tensa de Hermione. Ele lhe dera uma dica óbvia. De verdade, não compreendia por que ela reagira daquele jeito no congresso... uma mulher provocante com brilhantes olhos cor de mel e um sorriso audacioso.
Ainda refletindo sobre o mistério, Harry sentou-se na beira da cama enquanto tomava seu café. Não tinha o sabor árabe que ele preferia, mas pelo menos fizera-o bem forte.
Hermione deu pequenos goles na sopa, mantendo o olhar baixo. Ela era tão forte. Ele não gostava de vê-la tão quieta e fechada em si mesma. Apesar de ela negar, poderia realmente estar doente? Alguma coisa séria?
Um tremor que não tinha nada a ver com o inverno de Chicago, o percorreu. Hermione parecera bem, antes, a cor brilhante de raiva. Mas aquilo não significava que não havia nada errado com a saúde dela. Quando não pôde mais agüentar, ele se inclinou para frente.
— Você está doente? — perguntou Harry. — Algo mais do que a desculpa sobre as comidas gordurosas de Natal?
Ela colocou a caneca na bandeja.
— Estou bem. De qualquer forma, você não precisa se preocupar. Não sou problema seu.
— Nós fomos amantes — ele a relembrou. — Você acha que me importo tão pouco com as mulheres que levo para minha cama?
— Eu... — Hermione respirou, trêmula. Nós fomos amantes.
As palavras reverberavam em sua mente e coração. Ela não quisera sentir prazer, esperando pensar naquilo como um procedimento médico e nada mais, porém ardera quando Harry a tocara. Um ardor que jamais sentira por outro homem.
— Não importa, chérie — murmurou Harry. Ele pôs a xícara de café na bandeja ao lado da caneca de sopa vazia. Então colocou a bandeja sobre a cômoda.
Conte a ele.
A inconveniente consciência a estava avisando.
— Harry, nós... eu...
Nós vamos ter um bebê e foi tudo planejado por mim.
— Descanse agora. Vou marcar uma consulta médica para você amanhã.
— Você não fará nada. Não preciso de um médico e não preciso que você cuide de mim.
Por alguma razão, os olhos dele brilharam de satisfação.
— Talvez...
— Talvez nada. Já lhe disse que tenho cuidado...
— Você tem cuidado de si mesma desde os dezessete anos — terminou ele por ela.
— É isso mesmo. — Olhando-o com desconfiança, Hermione pegou o telefone e discou para o ponto de táxi. Pediu que mandassem um carro o mais rápido possível. — Estará aqui em vinte minutos — anunciou, desligando o aparelho. Aquilo era uma considerável rapidez levando em conta o clima, mas vinte minutos lhe pareceriam vinte anos.
Harry sentou-se perto dela na cama, a coxa encostada no seu quadril, como se tivesse todo o tempo do mundo.
— Você não tem família, Hermione?
— Somente meu pai e um irmão — murmurou. — Minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos. Mal me lembro dela.
— Seu pai e seu irmão. Você não é próxima deles?
— Não. — Ela fez uma careta. — Meu irmão é um entusiasta do batalhão de choque da Marinha, treinado para matar. E mais velho que eu e nunca tivemos muito em comum. Nos vemos apenas uma ou duas vezes por ano.
— E seu pai?
— Não o vejo desde os dezessete anos. Sou uma decepção, como você pode ver. Nunca cedi ao que ele queria. Ele desistiu de mim quando entrei na faculdade em vez de me inscrever nas Forças Armadas.
Harry notou a expressão amarga no rosto de Hermione. Como o pai dela falhara em reconhecer a força ímpar da filha que criara?
— Ele é um tolo — disse Harry sem rodeios.
Uma expressão de surpresa registrou-se na fisionomia dela.
— Ele argumentaria esse ponto com você... é muito respeitado pelo Pentágono. A última coisa que soube é que ele tornou-se um general de três estrelas.
— Isso é um mero título. E não o faz menos tolo. Um homem cego poderia ver que você não é fraca. Você tem o coração de uma tigresa.
Hermione pestanejou. Esperaria que um homem como Harry defendesse seu pai, mas em vez disso, ele a estava apoiando sem reservas.
— Obrigada — murmurou ela. Um bocejo a pegou de surpresa e ela suspirou. — Desculpe-me.
Harry estudou-a por um longo momento.
— Você está cansada, chérie. Vou esperar pelo táxi na sala. Ele se aproximou mais. O dedo traçou o arco da sobrancelha fina e então a curva da face. Uma inundação de memórias sensuais a fez tremer.
— Achei que talvez você não fosse tão adorável quanto eu me lembrava, mas estava errado.
A qualidade grave da voz de Harry a hipnotizou de tal forma que nem conseguiu protestar quando ele roçou os lábios nos dela. O delicado beijo aprofundou-se e Hermione sentiu a energia sexual reprimida nele. Mas nem aquilo foi o bastante para fazê-la empurrá-lo.
— Durma bem — murmurou ele. — Por favor, pense sobre ir ao médico se você não melhorar logo.
— Eu... sim. —Hermione apreciou o fato de Harry não tentar seduzi-la, quando acreditava que ela estava doente.
Um momento depois, ele saiu e ela se curvou na cama, uma lágrima descendo pela face. Ultimamente andava num humor confuso por causa dos hormônios da gravidez. Tudo estava tomanrdo proporções extras, as emoções oscilando barbaramente.
Mas as coisas estariam melhor pela manhã.
Teriam de estar...

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CONTINUA...

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Postei mais um pokinho...
se alguém comentar posto mais hj...

Bjus...

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