CAPÍTULO I



Do lado de fora do escritório de Neville...
— Você está disponível esta tarde?
— Para quê? — Hermione Granger, uma garota de vinte e sete anos, sorriu para Ginny Steward, assistente administrativa do presidente da empresa.
— O novo diretor financeiro chega hoje. O nome dele é Harry Potter. Você o conheceu no congresso de Washington em junho passado, lembra-se? Neville estará ocupado numa reunião e pediu-lhe para mostrar a empresa para o sr. Potter.
Harry Potter.
Hermione a fitou, sentindo que estava ficando pálida.
Oh, sim, conhecera o sheik Harry Potter. O homem estava permanentemente cravado em sua memória. Instintivamente, ela pôs a mão sobre o ventre. Os enjôos que vinha sentindo durante toda a gravidez, ameaçaram sair de controle e ela respirou fundo, várias vezes, tentando acalmar a náusea e o coração disparado.
O olhar de Ginny era de compaixão.
— Você se lembra dele?
— Si... sim. — Hermione meneou a cabeça para clarear os pensamentos. Nunca esperara encontrar Harry de novo e o choque era um pouco maior do que podia absorver... sem mencionar a vergonha e uma boa dose de culpa.
— Você teve algum problema com o...
Ginny olhou para o ventre redondo de Hermione, então voltou a fitá-la. A questão não precisou ser finalizada. O bebê estava bastante abaixo do peso e ela quase conseguira camuflar a gravidez sob casacos pesados, apesar dos quase sete meses de gestação. A maioria dos colegas de trabalho nem mesmo tinha notado que estava grávida, ou talvez por educação, não comentou o fato.
— Está tudo bem — mentiu Hermione, rapidamente.
Ela estremeceu quando viu Neville Longbottom observando-a da porta da sala. Ele vinha agindo de maneira estranha nos últimos meses, embora, como presidente da filial de Chicago, tivesse o direito de agir da forma que lhe conviesse.
— Bem... terei prazer em mostrar a empresa ao sr. Potter — disse a Ginny, procurando relaxar a postura. Dizendo isso, Hermione escapou para sua própria sala e se sentou durante alguns minutos, tentando decidir o que fazer.
Seus planos familiares estavam prestes a ser arruinados, e não havia nada que pudesse fazer para mudar o fato.
O telefone tocou. Hermione empurrou o almoço para o lado e atendeu:
— Sim?
— Aqui é Parvati, da recepção. Fui notificada para informá-la quando o sr. Potter chegasse.
Excelente,
— Obrigada, Parvati. Descerei imediatamente.
— Direi a ele, srta. Granger. — Parvati parecia fascinada, o que não era de se admirar. Bastava um olhar para o sheik Harry Potter e qualquer mulher perdia a noção de bom senso. O homem tinha uma sensualidade fora do normal.
Hermione deu uma olhada no espelho e correu os dedos sobre uma mecha de cabelos, tensa. Não se importava se não estava atraente. Queria parecer apenas profissional. Então, relaxando os ombros, foi cumprir sua tarefa. Assim que saiu do elevador, viu Harry.
Engoliu em seco, controlando outra onda de náusea.
— Sheik Potter — disse, congratulando-se pela frieza. — Bem-vindo à Corporação Neville Longbottom.
Harry virou-se com seu charme penetrante, levantando uma sobrancelha.
— Como sabe, srta. Granger, não costumo usar meu título na América.
Ela sabia. E também sabia que nada poderia fazer de Harry alguma coisa diferente do que ele era... um membro da família real de seu país... e pai do seu filho.
E era a parte pai do seu filho que a deixava tão nervosa. Ou seria a lembrança de como ele a fizera sentir-se? Hermione não quisera perder o controle durante o breve e explosivo caso deles, mas Harry não lhe permitira nada, exceto a completa rendição.
Os lábios de Hermione se comprimiram.
O prazer fora extraordinário, mas não se pode viver de prazer.
— O sr. Longbottom está numa reunião. Pediu-me que lhe mostrasse a empresa — disse ela.
Harry inclinou a cabeça e sorriu.
— Neville já tinha me explicado esse problema. E fui eu que pedi que você assumisse o lugar dele.
— Oh!
Qualquer esperança de que ele a tivesse esquecido, desapareceu naquele momento. O homem se lembrava de tudo. E parecia fazer questão de lembrá-la que fora ela que escolhera dizer adeus. Fora decisão dela não prolongar a paixão que haviam compartilhado.
Mas os homens não preferiam relacionamentos temporários?
Hermione não era a mulher mais experiente do mundo, mas pelo que já vira, compromisso era a última coisa que a raça masculina normalmente almejava.
— Neville não sabia que nós éramos... conhecidos — murmurou Harry, sem esconder o tom irônico.
Atrás dele, Hermione pôde ler palavras mudas na boca de Parvati: Você o conhece? A recepcionista parecia excitada e perplexa. Parvati era a rainha do melodrama e do romance. Vivia das fofocas do escritório, embora de modo afável. Nunca espalhara nada cruel.
— Neville é o presidente da empresa. Nós conversamos sobre problemas empresariais — explicou Hermione. — E não sobre pessoas que conheci... num congresso.
— Ah... — O súbito brilho bem-humorado nos olhos castanhos a fez recuar. Harry podia comunicar mais através dos olhos do que a maioria das pessoas podia fazer verbalmente, e naquele momento, ele estava rindo das tentativas dela de fingir que nada acontecera entre eles.
— Bem... Podemos começar?
— Seria excelente.
Hermione esboçou um sorriso e começou a andar explicando como funcionava cada andar da empresa. Conhecia Harry o bastante para saber que ele não precisaria de nenhuma explicação sobre a Corporação Neville Longbottom. Era o tipo de homem que teria investigado a empresa a fundo antes de assumir o cargo de diretor financeiro.
Aquilo quase a fez sorrir. Neville Longbottom provavelmente sentira-se como se ele estivesse sendo entrevistado para o emprego, em vez do contrário.
Quando terminaram o tour pelo décimo quarto andar, pararam na frente dos elevadores. Harry sugerira que eles fossem de escada, mas Hermione não poderia revelar que o médico recomendara não mais subir escadas até o nascimento do bebê. Então dera a desculpa que as escadas eram mais para emergências.
O constante ar divertido na expressão de Harry e a lembrança do relacionamento passado deles, a estava perturbando muito.
Eles entraram no elevador e quando as portas se fecharam, Harry apertou o botão de emergência, parando-o.
— Meu bem — disse ele. — Quanto tempo... O coração de Hermione quase parou.
— Nem tanto. — Ela rolou os olhos como se não tivesse muita certeza de quanto tempo se passara. Até parece. Tinha um lembrete biológico crescendo em seu útero, contando-lhe exatamente quanto tempo se passara desde a última vez que haviam se visto.
— Mais de seis meses — disse ele.
Ela manteve o olhar fixo no botão de emergência que ele continuava apertando.
— É melhor irmos ou alguém pensará que o elevador está quebrado.
— Apenas acharão que o elevador está lento.
— Harry...
— E bom saber que você se recorda do meu primeiro nome. Um estranho calor subiu às faces dela.
— Eu me recordo.
— Assim como eu. — Ele levantou a mão livre e alisou-lhe o rosto. — Lembro-me de muitas coisas.
— Por favor, Harry. Aquilo foi bom, mas foi apenas uma coisa temporária. — A culpa quase a fez engasgar, porque, enquanto pretendera que as coisas fossem temporárias entre eles, tinha deliberadamente feito todo o possível para assegurar-se de que ele lhe daria um filho.
Aquela era minha última chance para ser mãe.
— Eu não escolhi que aquilo fosse tão temporário assim. Foi você quem tomou essa decisão.
Harry não parecia divertido agora, e sim irado. Hermione deveria saber que aquilo o irritaria, já que não fora ele quem terminara o relacionamento. Homens gostavam de estar no controle, e esse era o motivo pelo qual ela não queria o pai de seu filho envolvido em suas vidas.
Tivera experiência suficiente com homens autoritários e dominadores, que pensavam poder regrar o universo apenas porque o destino lhes dera um grupo particular de cromossomos. Seu pai era um desses.
— Agora temos de ir — ela avisou.
Hermione tentou puxar a mão dele do botão, mas Harry apertou mais forte.
— Harry, vamos.
— Precisamos conversar. — Harry assistiu a mudança de expressão no rosto de Hermione e se perguntou por que ela fora tão determinada em terminar o caso deles no final do congresso. Ela ainda o fascinava, esquentava-lhe o corpo de uma maneira que fazia a privacidade do elevador aumentar. Não seria prudente arriscar que alguém da Corporação Neville Longbottom notasse sua atração por uma funcionária.
— Não temos nada para conversar — devolveu Hermione.
— Nada? — perguntou ele. — Talvez você possa explicar por que me deu o número errado do seu telefone.
Ela abaixou as pálpebras, escondendo os olhos cor de mel.
— Dei?
— Você sabe que sim. Embora a dona da lavanderia tenha sido bastante cordial, eu realmente não desejava falar com ela, mas sim com você.
— Você poderia ter ligado aqui na empresa e conseguido meu número.
— Uma vez que estava óbvio que você não queria falar comigo, respeitei sua vontade. Agora me pergunto se aquela foi a decisão correta.
— Eu lhe disse...
— Sim — interrompeu Harry impaciente. — Você falou muitas coisas. E algumas, preferi ignorar.
— Isso é arrogância.
— Não era isso que você esperava? O sheik que é tão arrogante quanto sua real ascendência árabe?
— Não é sua realeza que o faz arrogante — retrucou Hermione. — É... — Ela parou, sentindo que já tinha falado demais.
— Ah, sim. Você não me acha bom sexualmente, imagino.
— Não é sobre a sua sensualidade que eu estava pensando. De algumas formas, essa parte é impressionante. — O olhar de Hermione desceu pelo corpo dele por um breve segundo e ele engoliu em seco.
Ela era insolente.
E docemente maliciosa.
Nos velhos tempos no país dele, uma mulher como Hermione teria sido uma desgraça, mas não hoje em dia. Quando adolescente, seu avô abraçara a liberdade das mulheres, e por duas gerações, elas vinham expondo suas idéias em Hasan.
Algumas vezes aquilo se tornava um problema.
— Realmente ainda não entendo por que você quis um relacionamento temporário — disse ele. — Isso não parece ser a sua verdadeira natureza.
— É claro que é.
— Você não é promíscua, querida. Hermione o encarou.
— Pare de me chamar assim!
Harry suprimiu um sorriso, tentando se controlar.
— Hermione, continuo achando que você não é do tipo que gosta de encontros casuais.
— Isso é ridículo. Você não sabe nada sobre mim ou sobre minha vida afetiva.
Ele sorriu sabiamente.
— Um homem sabe quando uma mulher não tem tido intimidades por um certo tempo. Há uma certa hesitação no corpo dela quando...
— Não importa — ela interrompeu bruscamente, ciente da face corada de vergonha. Harry era muito sábio para confrontar, e se estava convencido de que ela ficara no celibato por um longo tempo, jamais acreditaria que o bebê não era dele. A questão era: o que ele faria quando descobrisse tudo?
Talvez ela devesse contar-lhe antes... Ou talvez devesse pedir demissão da empresa e mudar-se de cidade.
Porém, gostava da estabilidade de seu emprego na Corporação Neville Longbottom e estava muito grata por isso. O departamento onde trabalhava estava crescendo de vento em popa. Tinha um excelente salário e uma boa quantidade de amigos em Chicago. Ir embora não era uma opção, principalmente com um bebê a caminho.
Finalmente Harry removeu a mão do painel de controle.
— Você está certa. As pessoas estranharão se segurarmos demais o elevador.
Rapidamente, antes que ele pudesse mudar de idéia, Hermione apertou o botão do décimo quinto andar e esperou que o elevador começasse a descer. Normalmente iria pela escada, preferindo estar mais ativa. Mas o bebê era mais importante do que qualquer coisa e ela estava seguindo à risca todas as recomendações médicas.
Uma vez que passaram na porta de sua sala, depois de visitarem todos os andares, Hermione vacilou quando viu o presidente da empresa lá dentro, observando sua mesa com uma certa concentração.
— Neville, algo errado? — perguntou eta.
— Minha reunião acabou — respondeu ele. — Como foi o tour com Harry?
— A srta. Granger informou-me sobre tudo.
— Humm. Que ótimo.
Harry levantou as sobrancelhas. Nunca vira Neville Longbottom tão distraído. Eles tinham se conhecido vários anos antes e haviam simpatizado imediatamente um com o outro. Quando o cargo de diretor financeiro vagara, Neville o contatara para ver se ele estava interessado.
E ele aceitara a proposta.
Harry deu uma olhada para Hermione. Ela o fascinava, irritava e o frustrava além da medida. Por um lado, apreciava a relutância dela por um entendimento mais permanente, mas por outro, não podia deixar de ficar intrigado. Afinal, as mulheres não eram todas ansiosas por uma ligação permanente?
Certamente, as mulheres que sua mãe lhe apresentava, queriam tudo que a realeza pudesse lhes trazer... riqueza, poder, posição social e o título de princesa num país cujas princesas eram reverenciadas e protegidas.
Hermione pigarreou, aparentemente desconfortável com o silêncio.
— Neville, tenho um relatório urgente para terminar, portanto, agradeceria se você discutisse os detalhes finais com o sr. Potter na sala da presidência.
Neville olhou-a atentamente.
— Como você tem se sentido, Hermione? — perguntou ele, ignorando a sugestão.
— Estou bem — respondeu ela, confusa pela inquisição dele.
— Alguém mencionou que você passou mal várias vezes no banheiro feminino.
Ela teve um sobressalto e Harry a observou alisar o ventre por um momento.
— Talvez... uma ou duas vezes. Meu organismo está um pouco sensível após as festas natalinas. Você sabe, todas aquelas comidas. Mas já estou bem. Até engordei alguns quilos.
Aquilo pareceu interessar a Neville quase mais do que a suposta indisposição dela.
— Sim, aposto que engordou.
Harry franziu o cenho, perguntando-se que tipo de tolice seu amigo estava dizendo. Era normal se preocupar se uma valorosa funcionária estava doente, mas qualquer um podia ver que Hermione estava bem. Mesmo com aqueles quilos extras que ela reclamara, estava mais sedutora do que nunca, embora estivesse escondida por um pesado casaco de cashmere.
Por que as mulheres do Ocidente eram tão preocupadas sobre engordar, era um mistério. Hermione não seria menos adorável nem se ganhasse trinta quilos. Talvez, o problema não fosse com as mulheres ocidentais, mas com os homens ocidentais, que não podiam apreciar a beleza de um corpo bem-feito e volumoso.
A América era um lugar confuso. Ele passara muitos de seus trinta e sete anos indo e voltando àquele país, e ainda não entendia o jeito deles.
Ele voltou-se para Hermione:
— Vejo você no jantar desta noite. Apreciei sua oferta de me informar sobre a culinária de Chicago.
Hermione estreitou os olhos. As coisas estavam indo de mal a pior, mas se Harry pensava que podia manipulá-la tão facilmente, estava redondamente enganado. Seria estranho recusar na frente do presidente da companhia, mas não poderia sair com Harry. Ele estava muito interessado na razão pela qual ela o deixara no congresso de Washington, sem nem olhar para trás.
— Esta é uma ótima idéia — disse Neville antes que ela pudesse responder. — Mas vocês dois são meus convidados.
O quê?
Hermione podia dizer que Harry estava tão confuso quanto ela quando se entreolharam. Ela não podia pensar numa única razão para Neville convidar-se para ir junto, a menos que estivesse querendo sair com um velho amigo.
— Acabo de me lembrar que tenho um compromisso hoje — alegou ela. — Mas tenho certeza de que vocês irão se divertir mais sem mim.
— Não. — Os dois homens protestaram em uníssono.
— Quero que jante comigo esta noite — insistiu Harry. —Temos muitas novidades para compartilhar.
Novidades?
A única novidade que ela tinha para compartilhar era algo que não queria que ele soubesse. Harry era um homem orgulhoso, e descobrir que ela o usara como doador de esperma não seria nada agradável. Sentiria-se traído.
E com razão, pensou.
Uma sensação de culpa apertou sua garganta.
— Desculpem-me, tenho outros planos — falou ela. — Uma outra hora.
— Por favor, cancele — pediu Neville. Apesar do por favor, aquilo soou mais como uma ordem. — Acho que devemos dar as boas-vindas ao nosso novo diretor financeiro, você não acha?
— Eu...
— Eu consideraria isso um favor — interrompeu Neville.
Um favor. Requerido pelo presidente. O tipo de convite que não podia ser recusado.
— Tudo bem — concordou ela, relutante. — Agora com licença, vou ao toalete.
— Espere — Neville pegou o pacote de bolachas sobre a mesa e o estendeu a ela. — Você está parecendo um pouco pálida, então é melhor levar isso. Harry, encontramo-nos em sua nova sala daqui a quinze minutos. — Ele saiu.
Os dedos de Hermione apertaram o pacote de biscoitos que estivera tentando engolir como almoço. Por que o presidente da empresa estaria tão preocupado sobre suas condições estomacais?
— Entendo que você não queira que nosso relacionamento seja anunciado na companhia — disse Harry após um. momento.
— Nós não temos um relacionamento — Hermione respondeu ela, friamente, sem esconder a irritação.
Com um sorriso malicioso, Harry estudou-a. A memória da calorosa sensualidade de Hermione ainda invadia seus sonhos, embora meses tivessem se passado desde que a segurara pela última vez.
Ele não estava pronto para o casamento... até mesmo saíra de Hasan por causa da pressão de sua mãe para que começasse uma família... mas por que eles não poderiam se divertir um pouco juntos? Ainda mais quando a determinação de ambos em permanecer solteiros parecia ser a mesma.
— Não desejo deixá-la desconfortável, Hermione, mas nada mudou... Eu ainda a desejo.
De repente, o ar do escritório parecia pouco. Hermione respirou profundamente.
Não havia nada de ameaçador na declaração, ele estava apenas expondo um desejo.
O problema era que ela ainda o desejava também.
Seu corpo ansiava desesperadamente pelo toque dele, e não havia nada que pudesse fazer para dissipar aquele desejo.

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Continua...

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Se alguém comentar posto mais ainda hj...

Bjus...

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