Despedida



N/A: (postado em 21.11)

*** Pequena alteração no final do capítulo. Não muda a história, mudei só uma sequência pra entender melhor as falas...

N/A: (postado em 26.10)
Eras depois, aqui estou com novo capítulo.
Ignorem o livro 7, ok? Algumas coisas sobre as horcruxes são parecidas, mas o resto eu mudei tudo. Hehehe.
Já aviso que eu não entendo nada de karatê e afins, e peço desculpas aos que entendem, pois o que está escrito aqui é apenas fruto da minha imaginação aliado a alguma pesquisa. Portanto não esperem algo de acordo com a absoluta realidade formal das artes marciais nos poucos trechos deste capítulo.

Espero que gostem.
Boa leitura.

COMENTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEMMMMMMMMMMMMMM........



Capítulo 3 - Despedida

Draco acordou com uma sensação estranha. Esfregou os olhos para amenizar a claridade e sentiu-os úmidos, molhados por lágrimas, talvez. A garganta seca como se tivesse acabado de gritar. O coração acelerado, assustado. Abriu os olhos devagar, temeroso, e logo viu Yume ao seu lado, sentada no chão e a cabeça apoiada na cama. Ela parecia assustada e ansiosa.
- O que aconteceu? – perguntou com a voz rouca.
- Como você está? – ela perguntou preocupada, com cuidado.
- O que houve, Yume? Por que está aqui? Meu coração está disparado...
- Acordei com seu grito e vim te ver... Você se debatia, como se tivesse tentando se proteger... mas não parecia um pesadelo, Draco... parecia uma angústia real... fiquei tão preocupada. Fiquei com medo de te acordar. O Shao e papai também vieram aqui, mas disse a eles que eu ficaria aqui com você. Não sabia o que fazer, então só fiquei aqui esperando você acordar. Fiz mal?
- Sabia que quando você está nervosa você costuma falar muito rápido? E você fez muito bem em não me acordar. Talvez se você tivesse me acordado o estrago seria grande. – respondeu ele automaticamente.
- Não entendi. Por que? Que estrago? O que aconteceu aqui? – o tom de desespero em sua voz era bastante claro.
- Nem eu sei. – ele respondeu cansado, se controlando para não fechar os olhos novamente. – Não quero voltar a dormir. – disse baixinho. – Não me lembro de nada. Eu falei alguma coisa enquanto dormia? Qualquer coisa?
- Não dava pra entender... uma palavra ou outra era em latim, se não me engano. Tente descansar um pouco. Eu fico aqui cuidando seu sono... – ela falou carinhosa.
- Obrigado Yume, mas eu acho que não quero voltar a dormir... Só queria saber o que eu sonhei.
- Não parecia um sonho Ryu...
“O que era então?” – Draco se perguntou em pensamento, forçando a mente a voltar ao sonho.
- Draco? – ouviu Yume chamar seu nome. – É a terceira vez que te chamo. Está tudo bem mesmo? Quer alguma coisa? – vendo-o negar com a cabeça, prosseguiu – Então vem... ainda é muito cedo, mas já que não quer voltar a dormir é melhor você se levantar. – falou estendendo a mão para ele. - Vem... levanta... tome um banho e me ajuda a preparar o café da manhã.

- Eu tenho te dado bastante trabalho, não? – perguntou o loiro enquanto arrumava a mesa e ela fazia torradas.
- Já estou acostumada com esse trabalho... Você precisa ver o que Iuki fazia comigo... Sabe, você ia gostar do Iuki. Vocês iriam se dar bem.
- Por que diz isso?
- Vocês são parecidos. Ah não... se vocês se encontrassem... aí sim eu teria trabalho.
- Por quê? Parecidos como?
- Ele é terrível. Sempre se metia em confusões... todo tipo de confusão. Aí voltava pra casa todo quebrado e... tinha pesadelos horríveis.
- Eu não me meto em confusões. – disse ele se defendendo.
- Não aqui! Mas aposto que já andou aprontando, não foi? – ela ergueu uma sobrancelha em sinal de dúvida e confirmação ao mesmo tempo.
- Talvez. Mas eu prefiro ficar na minha.
- Eu digo que vocês são parecidos, mas na verdade vocês são quase opostos. Acho que por isso são parecidos... como complementos.
- Espere... parecidos, opostos, complementos... Decida-se!
- Tudo ao mesmo tempo! Mas é isso mesmo, são opostos que se completam, mas tem muitas coisas em comum também. É engraçado. Ele é muito inteligente, extrovertido, popular e explosivo. O melhor karateca da região. De toda a Europa até! – ela disse empolgada, terminou de colocar as coisas na mesa, olhou no relógio e viu que ainda era cedo e foi até a varanda com Draco logo atrás.
- Sempre que você fala dele até sua voz muda, seus olhos brilham, se duvidar, até sua pele brilha. – falou ele encantado com a animação da garota.
- Nós éramos muito unidos. Desde crianças... eu não desgrudava dele.
- Por isso é tão difícil aceitar que ele tenha ido embora? – perguntou receoso que ela mudasse de assunto, mas ela prosseguiu.
- Também. Mas o pior é aceitar que ele foi embora sem se despedir. Que ele nem tentou consertar as coisas, não dividiu os temores dele comigo, não permitiu que eu tentasse ajudar... e pior ainda é que provavelmente ele fez isso porque sabia que eu o ajudaria, que eu faria qualquer coisa. Qualquer um daqui, eu, Shao, meu pai. Mas não... ele simplesmente foi embora por medo ou vergonha, não sei, e não nos falou nada... – ela fez uma pausa e Draco não ousou interromper. – Ele se envolveu com gente barra pesada, Draco. E ficou com medo de expor a família dele ao perigo e foi embora, só mandou notícias uns dois meses depois explicando o que tinha acontecido e falou que só voltaria depois que recuperasse a honra e a dignidade que perdeu quando partiu. Que perdeu quando se envolveu com quem não devia.
- Já tem quanto tempo?
- Foi no início do inverno, pouco antes do Natal... Nevava muito, mas ele nasceu para a neve... Neve, como o nome dele, Iuki. Neve como ficou depois... um frio que nunca acabou.
- Ei... Eu não quero te ver triste... se quiser, podemos mudar de assunto... – falou ele vendo que a garota tinha os olhos brilhando pelas lágrimas.
- É difícil falar dele porque eu o amo muito e não consigo suportar a saudade que sinto dele. Mas às vezes é bom, sabia? Às vezes eu ficava até tarde com meu pai aqui na varanda falando das nossas aventuras da infância.
- Vocês nasceram aqui mesmo?
- Não. Nascemos no Japão, mas eu vim pra cá com uns quatro anos de idade e de cara já encontramos esse lugar maravilhoso, onde meus pais conseguiram deixar com a mesma cara da nossa casa lá em Nagoya. Só que lá era mais frio. O Shao nasceu uns três anos depois. Eram só maravilhas... Mas aí minha mãe ficou doente... aí o Iuki começou a brigar por qualquer coisa, brigava na escola, brigava na rua, brigava comigo, na verdade, ele só não brigava com o Shao, que tinha uns cinco ou seis anos.
- Foi aí que ele conheceu as pessoas erradas?
- Isso. Ele já sabia lutar uns quatro tipos de artes marciais. Ganhou todos os campeonatos que participou, tanto aqui em Portugal como na Espanha, na Itália e na Grécia. Minha mãe que o acompanhava, você acredita?
- Sério? Sua mãe? Geralmente a mãe é a primeira a ir contra esses campeonatos...
- Pois é... mas você sabe que foi num campeonato desse que meus pais se conheceram, não sabe?
- Não! Não sabia. – respondeu surpreso.
- Pois é... o pai da minha mãe era professor e mamãe, já adolescente, sempre o acompanhava nos torneios que ele levava algum aluno para ela ajudar com os ferimentos que sempre aconteciam, e meu pai, também um adolescente, estava começando a participar de alguns torneios, aí um belo dia, meu pai deu uma surra no melhor aluno do meu avô, e foi assim que eles se conheceram. E desde então minha mãe ama torneios. Aliás, esse torneio que tem todo ano aqui na academia foi idéia dela... dela e do Iuki. E logo que o Iuki começou a se interessar mais por isso ela logo levou ele pra alguns campeonatos. E ele vencia todos.
- Ela devia ter muito orgulho dele...
- Tinha sim. Na final do maior torneio italiano meu irmão foi destaque em quase todas as categorias, inclusive na espada samurai, e venceu em três lutas, karatê, judô e kendô... e foi na hora da premiação que minha mãe passou muito mal pela primeira vez. Aí ele não quis mais participar de torneio algum. Depois que ela foi internada ele recusou todas as propostas que surgiram. Ele foi chamado até pra uma bolsa integral na universidade que ele queria, mas recusou.
- Desculpe perguntar, mas o que sua mãe teve? Eu ainda não sei.
- Leucemia. Foi tudo muito rápido. Descobriram o câncer quando já estava bem avançado. De leucemia foi pra metástase em menos de dois meses.
- Eu sinto muito...
- Obrigada. Mas não me dói falar dela, sabia? Ela foi em paz. Sei que ela partiu com o espírito leve e sentia que sua missão estava cumprida. Ela fez questão de deixar isso bastante claro pra gente, mas só o Iuki não entendia.
- Mas é bem difícil mesmo... acho que eu também não entenderia.
- Viu... vocês não parecidos. E então, depois que ela faleceu, meu irmão ficou muito agressivo e acabou conhecendo uma turma estranha... No auge da adolescência... Brigava com todo mundo, por qualquer motivo. E repito, ele era o melhor aluno da academia e campeão de vários torneios, ou seja, ele batia pra valer e não tinha pra ninguém. Acabou se envolvendo com briga de rua mesmo. Os chamados “Clubes da Luta”, mas é tudo bem clandestino. Cada vez que ele chegava aqui todo quebrado eu brigava com ele, mas ele não me ouvia mais.
- Que complicado hein!
- Muito... Algumas vezes ele chegava em casa já de manhã, no horário da aula, com a adrenalina a mil... e na hora dos combates ele pegava pesado mesmo... e meu pai, super diplomático que é, não o enfrentava, porque era exatamente isso que ele queria, então o que ele fazia? Colocava ele pra lutar só com quem dava conta... mas quase ninguém dava conta do Iuki. E como os que conseguiam eram quem ele mais respeitava aqui, aí ele se controlava e percebia o que estava fazendo.
- Com quem ele lutava?
- O mais próximo em destreza e habilidade era eu, que perto dele não sou nada no karatê nem no kendô. Só na espada que eu o vencia... E também Enrique, que além de ser faixa preta em karatê, judô e kendô, assim como meu irmão, era também o melhor amigo dele... Nem o Enrique agüentava mais as loucuras do Iuki. Ele até foi em umas lutas do clube com o Iuki, mas não concordava, então não foi mais. Um dia o Iuki brigou até com o Enrique, brigaram de cair na porrada pra valer. Não sei o motivo, só sei que foi horrível. Eu não sabia o que fazer, eu estava sozinha em casa quando ouvi algo quebrando na varanda...
- O que você fez?
- Ahh... o que eu poderia fazer? Não dava pra pular em cima daqueles malucos que são bem maiores do que eu e que estavam fora de controle. Mas eu gritei para eles pararem e o Enrique gritou de volta falando pra eu me afastar. Eu me afastei. Fui à cozinha, peguei um balde cheio de água e joguei neles. Iuki ficou furioso, se virou pra ver quem tinha feito aquilo e foi com tudo pra cima de mim, mas acho que estava tão... tão sei-lá-o-quê que nem percebeu que era eu. O Enrique que conseguiu segurá-lo pelas costas antes que ele me alcançasse, enquanto eu encarava meu irmão com tanta raiva, tanta... decepção.
- Mas ele parecia fora de si...
- Com certeza. Depois disso ele não falou mais com o Enrique... nem comigo. Parece que ele tinha consciência do que tinha feito e estava envergonhado. Num acordo mudo ninguém falou nada pro meu pai. Umas duas semanas depois ele foi embora. Estava pra vir uma tempestade e ele nem se importou. Não deixou nenhum recado, aviso, nada. Como ele sempre saía em qualquer horário, eu não estranhei quando o vi passar pela varanda. Senti um aperto no coração quando ele entrou no bosque, mas aquilo era constante nos últimos tempos, então já era até ‘normal’. Eu estava com um pressentimento horrível, mas não imaginava que seria isso... e no dia seguinte, bem cedinho, o Enrique já estava aqui em casa. Ele disse que quando acordou encontrou o kimono e a faixa preta do Iuki na porta da casa dele. Aí ele teve certeza que algo definitivo tinha acontecido.
- Caramba... E o Enrique? Sumiu também?
- Ele faz faculdade em Madri. A mesma bolsa que ofereceram pro Iuki ofereceram pra ele também, só que ele aceitou. Então no ano passado eles se viram só nas férias, mas ainda assim continuaram super unidos. E nessa época ele estava aqui na casa dos pais dele pro feriado de Natal. E logo depois do Ano Novo ele voltou pra faculdade. E eu não o vi mais.
- Por que você fala que ele nem sabe que você existe? Vocês parecem bem próximos.
- Próximos? Sei lá... Desde que ele me conhece ele me chama de ‘Pequeña’, que é ‘pequena’ em espanhol, ou então ‘Tenshi’, que é meu apelido na academia. Dá pra imaginar o quão próximos, não? E na realidade, nem eu sei o que sinto de verdade. Não sei se é algo sério ou se são resquícios de uma paixonite de criança. Ele era meu herói, entende? Ele e o Iuki eram meus heróis. E tem mais... - ela fez uma pausa e completou com certa ironia - Você já se interessou pela irmã mais nova do seu melhor amigo? Eu acho que não! É praticamente algo intocável entre os rapazes. Então naturalmente ele nem prestava atenção em mim.
- Pessoa errada para esse comentário Yume... eu nunca tive melhor amigo.
- Ah é... Suas máscaras não permitiam tal relação...
- Não provoca tá legal. Mas e aí, termina de contar.
- Ok. Então, no começo de março eu recebi uma carta do Iuki com selo da França. Ele pedia desculpas pela forma como saiu, mas que era melhor assim. E explicou isso aí que eu te contei, o lance do clube e das más companhias... E falou também que ele estava trabalhando numa fábrica de móveis e iria pra Holanda fazer uns cursos de marcenaria lá. Ele sempre gostou muito disso também. Disse que precisava purificar o espírito pra poder entrar em contato com a gente de novo, porque do jeito que ele estava, ia acabar nos ‘contaminando’ com as energias ruins que ele havia absorvido durante ‘sua fase obscura’. Depois ele mandou uns postais de Amsterdã pro Shao e uma carta pro meu pai, e parou por aí. Desde abril não temos notícias.
- O que seu coração diz? Que ele está bem ou algo assim?
- Você já me conhece mesmo hein, Ryu... Já sabe que meu coração já tem uma opinião... – ela falou entre risos e com olhar carinhoso. – Meu coração diz que ele vai ficar bem. Mas me chateia saber que eu não posso ajudá-lo... Que ele não confiou em mim para ajudá-lo...
- Ele confia em você, mas talvez não estivesse confiando nele mesmo para aceitar essa ajuda. Pelo o que você falou, ele estava revoltado, confuso, imerso em um mundo que não era dele, com essas más companhias, então o melhor foi ir para um lugar totalmente diferente, um lugar novo para recomeçar, se fortalecer e ‘purificar’ o espírito.
Ela parou para pensar no que o loiro havia dito e concluiu que fazia sentido. Sorriu de lado e o encarou de forma curiosa, fazendo-o questionar:
- O que foi? Do que está rindo?
- Estou sorrindo! Você percebeu que descrevendo o que houve com o Iuki, você descreveu o que houve com você também?
- Como? – enrugou a testa, ergueu uma sobrancelha, balançou a cabeça, todos os sinais de dúvida e descrença.
- Exatamente a mesma coisa... Um novo lugar para recomeçar... Será que quando você estiver pronto pra voltar pra sua casa o Iuki estará pronto pra voltar pra cá? – perguntou sem pesar o significado da questão. E ao ouvir as próprias palavras, sentiu o peso no coração.
- Eu não sei te responder isso Yume. Você saberia melhor que eu.
– Draco... voc-cê... est-tá quase pronto para voltar... – afirmou, sem pensar novamente.
Ele não sabia o que dizer. Sentia-se de fato mais preparado para qualquer coisa. Se fosse necessário voltar em breve, ele voltaria sabendo que está mais forte. Mas sentia também que não queria voltar agora.
Sons dentro da casa chamaram a atenção dos dois. Draco olhou para Yume e falou baixinho:
- Obrigado por me falar um pouco dele. Fico feliz em saber que você me acha parecido com alguém que você tanto admira. – com mais um sorriso beijou a mão da garota e puxou-a para entrar na casa.

O último sábado de agosto chegou rápido.

Na sexta a noite já era notável o nervosismo do loiro que participaria do torneio pela primeira vez. Draco, com quase dois meses de aulas não se sentia apto a participar, mas não existia essa opção. Diferente do clube de duelos que participou em Hogwarts, onde ele estava seguro de suas habilidades pois as praticava desde tenra infância, desta vez ele parecia bastante nervoso pela proximidade da data e pela pouca prática. Shao lhe explicou que o torneio serve tanto para ver como está o desenvolvimento de cada aluno, como para preparar para desafios e disputas.
Sábado de manhã.
Os grupos iam chegando aos poucos, conversando, animados por rever os amigos. Era o final das férias escolares. O último dia do curso e para alguns, o último dia que veriam os amigos, deixando as saudades se prolongarem até o próximo ano.
O grupo que conversava com sr. Hikari parecia ser de alunos antigos e dos estágios mais avançados, visto as faixas marrons e pretas em seus kimonos. Shao tentava ficar um pouquinho em cada grupo e Yume se dividia em mil para atender a todos. Enquanto Draco apenas observava.
Aos poucos, os alunos foram se acomodando ao redor do tatame esperando o mestre Yamamoto iniciar a cerimônia. Após os cumprimentos e apresentações, Yume fez uma bela demonstração de Tai Chi Chuan com seus alunos mais avançados. Shaoran e seus alunos, que tinham entre quatro e oito anos, fizeram uma impressionante demonstração de kata com espadas de madeira. O kata é uma série de movimentos formais onde os praticantes procuram desenvolver e automatizar golpes de defesas e ataques em várias direções enfrentando um ou mais adversários imaginários. E para finalizar as apresentações, um grupo de Taiko fez um belíssimo show, encantando e surpreendendo a todos com a força e a beleza da percussão e da agilidade dos músicos. No auge da música, era como se o coração batesse no ritmo forte e cadenciado dos tambores. Hipnotizante. E a palavra final foi do mestre Yamamoto, com seu último pronunciamento:
- Sejam todos bem-vindos à nossa casa e nossa escola. – cumprimentou sr. Hikari com seu sempre carismático sorriso. – É com grande honra e prazer que os recebo hoje para mais um torneio. Começaremos pelos combates de karatê, sempre lembrando que o Karatê-Dô Tradicional focaliza o desenvolvimento do caráter humano a um nível que tem como objetivo alcançar a vitória sobre o oponente sem violência. Sabemos que com a prática correta do Karatê-Dô, é possível fortalecer o corpo e o espírito, disciplinando os instintos primitivos e aprimorando a personalidade. Tenho certeza que todos nossos alunos reconhecem isso, pois vejo nitidamente a evolução da força, da disciplina e da personalidade de cada um. Nossa busca diária no caminho do Budô proporciona ao karateca o equilíbrio do corpo com o espírito e, como conseqüência, adquire boa coordenação motora, reflexos aguçados, autoconfiança, autocontrole em qualquer ocasião, senso de disciplina, responsabilidade, respeito pelos semelhantes e espírito de equipe. Nossa equipe, nossa família, se encontra agora pronta para mais uma nova fase da vida. Boa luta a todos.
Após uma salva de palmas os participantes se posicionaram de acordo com a ordem que estava em uma lista nas mãos de Shaoran. Hikari avaliaria os alunos na troca de faixa enquanto Yume seria a juíza dos confrontos e assim se deu início aos testes de ataque e defesa corporal e depois com espadas. Os alunos iniciantes e os mais novos nem piscavam para não perder nem um momento. Draco não piscava de nervosismo.
Os primeiros a se apresentarem foram os mais novos, seguindo uma ordem crescente no grau de dificuldade. Os últimos seriam os alunos que se preparavam para o torneio nacional de artes marciais. Na vez de Draco, que como iniciante usava uma faixa branca, foi uma surpresa. Ele apresentava muita destreza e rapidez, surpreendendo até mesmo o professor. Lutou contra quatro alunos, dois também de faixa branca, escolhidos pelo professor e outros dois, escolhidos aleatoriamente pelos alunos – e venceu todos. Seu Keri é bastante forte, zukes rápidos, shuto e shotei certeiros, empi e cacato surpreendentes.* Era ainda um pouco falho na defesa, mas com tamanha rapidez, isso passou quase despercebido. Saiu tão satisfeito consigo mesmo que nem acreditava que aprendera aquilo tudo em menos de dois meses. Assistiu as outras lutas atento aos novos golpes, giros, defesas. Agora sim ele não piscava para não perder nem um momento.
Conforme o torneio ia avançando, as lutas ficavam mais rápidas e mais interessantes. No penúltimo grau, Draco foi indicado pelos alunos a lutar com Angel Yasha, aluno antigo, um jovem espanhol que veio especialmente para o torneio. Achou estranho. Quem indicou foram os colegas de Yasha. Parecia combinado. “O que está rolando aqui? Tem algo no olhar dele... Caramba! Até o ar está vibrando...” – Draco pensava enquanto via o rapaz se aproximar e se posicionar no centro do tatame. Viu-o cumprimentar Yume formalmente e nesse instante pensou ter visto faíscas no ar.
“Mas o que é isso?...” – pensou. – “Está tudo muito estranho... Eu vi faíscas??? Por que ele pediria pra lutar comigo? Não é justo, o cara é faixa preta, e aquela três tirinhas brancas na ponta da faixa me parecem perigosas... Ele sabe que eu não tenho chance nenhuma com ele? Além do mais, até onde eu sei, Angel significa ‘anjo’ em espanhol e Yasha é ‘demônio’ em japonês, e essa junção não me parece boa coisa.” – ainda pensava sem sair do lugar.
- Venha... Ryu. Não pode fugir do desafio. – disse o jovem espanhol.
- Não posso aceitar. Você está muito avançado pra mim, reconheço isso. – o loiro respondeu tranqüilo, pensando no porquê daquilo, e também lembrou: “Só a Yume me chama assim... Estranho...”
“Não posso aceitar ver Yume ao seu lado” – Draco captou esse pensamento. O contato visual era forte e sua Oclumência agiu inconscientemente ao sentir o ‘perigo’. “Então é ele?”, perguntou-se, mas foi interrompido pela voz firme e irônica de Yasha - É apenas um desafio proposto por alunos...
- Enrique... – ouviu a voz de Yume, baixa, como se pedisse alguma coisa. – São graus muito distantes... ele pode recusar sim.
- Você decide, Tenshi. – disse o moreno com uma postura desafiadora, encarando a garota. Somente ela pareceu entender o que ele quis dizer, mas manteve sua postura firme, negando o combate. O rapaz se aproximou de Draco e o cumprimentou com o típico curvar do tronco e esperou que Draco fizesse o mesmo.
Draco se curvou e disse em voz baixa, para que somente o espanhol ouvisse:
- Estou fora de combate, cara. Não estou disputando a garota. – curvou-se novamente para sair do tatame e esperou a resposta de seu oponente, que também se curvou e se virou para Yume para nomear outro desafiante.
Draco viu um amigo do espanhol se apresentar no tatame e uma luta incrível se desenrolar, mas ele não prestava atenção na luta, pensava apenas em como aquilo chegou a acontecer. “Então é dele que Yume falou naquele dia? Mas então, se ele me desafiou, deve se sentir ameaçado, ou porque também gosta dela. Mas então porque diabos eles não ficam juntos? ... Vai ver ele só percebeu isso agora que a viu de novo... ou então agora que a viu comigo... Ahhh... hahaha... só falta eu ter que fazer papel de cupido por aqui! Inferno!”
- Bela luta! – disse Draco ao final da luta estendendo a mão para cumprimentar Enrique. – Escuta... – segurou o aperto de mão por um instante. - Não se precipite, ok? Não tenho nada com ela. – sentiu sua mão ser esmagada levemente pela mão forte do espanhol.
- Gracias. – o moreno respondeu encarando o inglês com firmeza e ironia.
- Estou falando sério, cara. Relaxa. – Draco voltou a sentir os dedos serem levemente esmagados de novo e colocou as mãos nos bolsos rapidamente. - Mas não dá bobeira não.
- Eu não dou bobeira. Foi só um aviso. – virou-se rapidamente e saiu, deixando cravado no ar uma vibração furiosa que Draco captou sem nenhum esforço.
Yume viu os dois conversando e foi até eles, mas antes de alcançá-los, viu Enrique sair e se juntar aos seus amigos. Ela olhou para Draco como se pedisse desculpas, se aproximou, mas não conseguiu falar nada.
- Então é ele, não é? Por isso você nunca se apaixonaria por mim. – brincou o rapaz. – O cara é durão, mas é muito ciumento, cuidado viu! - sua voz de censura parecia a de um irmão cuidadoso.
- Sinto muito, Draco. Acho que houve um mal entendido. Não consegui falar com ele até agora. Tem mais gente do que no ano passado. Tem alunos de mais duas academias aqui. Ufa! Mas devo confessar que não foi de todo ruim. – deixou escapar um sorriso maroto - Pelo menos agora eu sei que me nota. Resta saber em que sentido, não? Sinto tê-lo envolvido nisso. – disse sincera.
- O sentido? Qual é? O cara está doido por você... Não se preocupe comigo... Mas agora vai pra lá antes que ele volte aqui pra me bater de verdade. Vai.
- Eu jamais deixaria ele fazer isso. Não diga bobagens.
- Ele é maior, mais forte e luta bem melhor que eu. Não vou me arriscar.
- Mas eu luto bem melhor do que ele, então não se preocupe. – piscou um olho e deu um beijinho no rosto do garoto, que gelou com a perspectiva de levar uma porrada ou duas por causa daquela simples demonstração de carinho da menina.
- Certo... não tão perto por enquanto, ok? – disse sem-graça.
- Ok. Bobo. – ela ia se virando para sair quando ele a chamou novamente.
- Yume? Vocês só estão perdendo tempo... Falei pra ele não dar bobeira com você... então... vê se você também não dá bobeira, ok? – sem esperar por resposta, ele saiu, deixando para trás uma garota sem fala.
Após a última luta seguiu-se para os combates com espada e por fim houve uma confraternização entre os participantes e convidados, com direito a mais alguns minutos de apresentação de Taiko, comida típica japonesa e muita diversão.
Draco ficou perto de Shao ou de Hikari, que era quem ele conhecia. Por medo ou precaução, ele temia, mesmo que fosse um medo inconsciente, que alguém o reconhecesse como Draco Malfoy, e por isso não se misturou aos convidados.
Algumas horas depois restavam apenas meia dúzia dos amigos mais próximos da família. Finalmente Yume e Enrique puderam sentar e conversar por poucos minutos.
Exausto do dia cheio de surpresas e agitação, Draco foi dormir antes de saber o desfecho da noite para sua amiga. Após um banho frio e um pouco de meditação para espantar o cansaço do corpo e da mente, o loiro caiu em um sono profundo e restaurador.

Passada a euforia do torneio, todos tiraram o domingo para descansar. Sem treinos. Sem horários. Apenas relaxamento e diversão. Todos aparentavam alguma satisfação, fosse pelo sucesso e bom aproveitamento do torneio, fosse pelos bons resultados obtidos, ou fosse ainda pela rápida e tão proveitosa conversa. Até Hikari resolveu acordar mais tarde e os garotos ficaram a manhã toda entretidos em jogos na varanda ou filmes na televisão. A regra do dia era: nada de esforço físico!
O dia estava quente e Draco, ainda não acostumado com o calor, sentia-se desconfortável até na sombra da varanda, mas não imaginava que o desconforto ficaria bem pior no final do dia, durante a conversa que o sr. Hikari protelou até agora. Não havia como escapar. Logo após o jantar os garotos voltaram ao tabuleiro para finalizar o ‘melhor de três’, que estava empatado no momento.
Draco estava sempre se surpreendendo com a criatividade da família Yamamoto e ficou admirado com o tabuleiro que Shao trouxe. Um jogo comum de xadrez, porém as peças foram lindamente esculpidas por Iuki em dois tipos de madeira, marfim e imbuia, e eram ‘temáticas’. Enquanto montavam o tabuleiro e Draco observava cada detalhe das peças, Shao explicava a ele que Yuki fez as peças de acordo com cada membro da família, seus nomes e significados, elementos da natureza e um animal correspondente. Ou seja, as peças não eram os conhecidos peões, torres, cavalos, bispos, reis e rainhas, mas sim animais. Os peões eram tartarugas e o os outros seguiam a seguinte ordem:
(Nomes - Significado - Elemento - Animal – Peça correspondente no xadrez)
* Hikari – Luz – Metal – Dragão - Rei
* Sakura – Flor – Madeira – Tigre - Rainha
* Yuki – Neve – Água – Carpa - Torre
* Yume – Sonho – Fogo – Fênix - Bispo
* Shaoran – Pequeno Lobo – Terra – Lobo - Cavalo
Uma excitante partida de xadrez se desenrolava entre Shaoran e Draco, e Hikari, muito sutilmente e sabendo da curiosidade do loiro, faria com que Draco iniciasse o assunto que ele queria saber.
- Vamos lá Shaoran. - incentivou Hikari – Mostre porque tem esse nome, ataque a fênix logo.
- Não pai. Olha aqui... - disse o garoto indicando o tabuleiro. – Se eu avançar o lobo, deixo a carpa exposta, é arriscado. Sou um estrategista, não apenas um caçador, oras. – falou em tom superior.
- Por que caçador, Shao? O que tem a ver com seu nome? – perguntou Draco, curioso...
- Ahhh... você não conhece nossos nomes... é verdade. – o garoto respondeu empolgado. – Olha só, é bem legal... Meu pai sempre me contava a história quando eu era criança. E hoje, sou melhor contador do que ele, então vamos lá. – disse sorrindo - Vamos começar pela família. Yamamoto quer dizer “base da montanha”, e é um nome típico entre camponeses. Meu pai, Hikari – e apontou para seu pai, que tinha um sorriso satisfeito na face – quer dizer “luz”, mencionando que a vida dos pais dele, meus avós, foi iluminada quando o terceiro filho nasceu. Minha mãe, Sakura, é “flor de cerejeira”, a flor mais bela de todo o Japão.
- E do mundo, meu filho. – interrompeu o sorridente mestre, radiante pela lembrança de sua tão amada esposa.
- Sim, papai, do mundo... Agora... Yuki... “neve”, para lembrar que ele era branquinho como a neve que dominava o dia que ele nasceu.
- E o dia que ele partiu. – completou Yume, que estava encostada no batente da porta, distante dos rapazes, mas que não conseguiu segurar o impulso de se expressar.
- Certo. Por que você adora lembrar essa parte? – Shaoran perguntou irritado. Quando ela fez menção de abrir a boca para responder, ele falou antes dela. – Nem responda, por favor. Continuando... Yume, quer dizer “sonho”, como o sonho de ter uma menina que se realizava no momento do nascimento dela. Não sei porquê... – ele completou com voz desdenhosa, para provocar a irmã, que nem se importou com o comentário. E por fim, e o maaaais importante... Shaoran, o “pequeno lobo”...
- Para lembrar que aquele bebê já lutava bravamente por sua vida ainda na barriga da mãe. – completou Hikari com os olhos rasos de lágrima.
- Mamãe teve uma gestação difícil com ele... – Yume explicou ao ver a expressão de Draco. - E o médico disse basicamente que dependeria da vontade de viver da criança.
- Draco, ainda não sabemos seu sobrenome. Creio que já podemos saber, não? – Hikari perguntou com a voz tranqüila, sem querer intimidar o garoto ou assustá-lo.
Pego de surpresa, Draco levou alguns segundos para processar a pergunta.
- Er... creio que sim. – tentou ser evasivo para ganhar tempo. “Merda, nem pensei no que falar pra eles... quem sou eu, de onde eu vim, qual meu sobrenome, por que estou aqui... e agora? Não posso dizer nada! E não posso mentir...”
- Você já se recuperou, pelo menos parcialmente, da guerra que travava consigo mesmo. Já é hora de sabermos o que se passa com você, meu jovem.
- Sr. Hikari... eu... er... desculpe-me, mas não posso dizer toda a verdade. Sei que lhe devo explicações, aliás, muito mais que explicações e agradecimentos. Recuperei-me sim de meus ferimentos externos e parte dos internos também. – estava sendo o mais sincero possível, mas não podia se expor. Tentava ganhar tempo. – Mas não posso falar o que .... – foi interrompido por uma voz segura e serena.
- Draco, meu filho, diga-me apenas seu nome, de onde você vem e porque se encontrava naquele estado quando te encontramos. Não precisa dizer o que envolve outras pessoas, se isso comprometer alguém. – disse Hikari com suavidade.
- Certo. Na verdade, acho que não disse meu sobrenome ainda não por não me lembrar dele, mas... – suspirou vagarosamente – mas sim por vergonha de carregá-lo, senhor. – respirou fundo, tomando coragem e disse – Malfoy, Draco Malfoy. – engoliu em seco, como se fosse difícil de engolir a própria verdade. Vestiu novamente suas máscaras frias e inexpressivas e continuou a falar atento às reações da família Yamamoto. – Sou de uma família rica e nobre da Inglaterra. Uma família influente nos meios que possuem poder, influente no pior sentido. Não me orgulho disso... Não mais. Estudo em um colégio interno para alunos... especiais. Sobre o estado em que me encontrava? Bem, me envolvi em uma luta, quase uma guerra, em plenos jardins do colégio. Pessoas morreram. Uma pessoa que era importante para mim, ou melhor, que seria muito importante a partir daquele momento, pois ele me ajudaria a ser uma pessoa melhor, mas infelizmente... ele... se foi... e culpo-me por isso. – seu rosto não dizia nada, sua voz era firme, nem Yume era capaz de identificar qualquer sentimento na face do loiro – Meus pais? Não sei mais deles... Aguardo notícias, apenas. Preocupe-me com minha mãe. E não faço questão de saber onde meu pai está. Amigos? Nunca tive. Inimigos? Toda a escola. Notas? As melhores da turma. Comportamento? O pior... Mas decidi que não quero retornar ao passado, não àquele passado. Busco um novo caminho a partir de agora. Quer dizer, desde que cheguei aqui, àquele bosque, já estava em busca de um novo caminho. Por isso eu... eu... os agradeço tanto pela oportunidade de encontrar esse caminho. – a sinceridade pura que essas palavras possuíam o impediam de ser inexpressivo, fazendo com que sua voz soasse embargada e quente.
Seus olhos se cruzaram com os de Yume e ela finalmente conseguiu enxergar algo. Ela viu a determinação que ele tinha nessa busca, a sinceridade que aquelas palavras carregavam. Sorriu tímida, tocou-lhe na mão e disse, sem som algum: “Bem vindo ao seu novo caminho”. Ele conseguiu ler os lábios da garota e acenou a cabeça, indicando que tinha entendido e seus olhos disseram “Obrigado”.
Hikari deu-se por satisfeito com o desabafo de Draco e não perguntou mais nada. Nem Shaoran se atreveu a perguntar algo mais. Um silêncio perturbador seguiu-se por alguns minutos até Draco quebrá-lo com a voz baixa:
- Sinto não poder dizer mais nada no momento. Eu sinto muito.
- Não precisa dizer mais nada Draco. – respondeu sr. Hikari com um sorriso amigável na face. – Um pouquinho de cada vez, não é? Recuperou-se primeiro dos ferimentos superficiais das costas para só depois tentarmos curar o profundo corte do ombro... agora que o corpo está em boa forma é hora de chegarmos aos pontos mais machucados: o coração e o espírito. Tenha calma, meu filho. Você está no caminho certo, eu posso sentir isso em seu coração. – e dizendo isso, o velho mestre levantou-se, beijou Yume no rosto e fez-lhe cócegas no nariz, beijou Shao na testa dando um leve soquinho no queixo do menino e bagunçou os cabelos de Draco e beijou-o no topo da cabeça, despedindo-se com um “Boa noite, meus filhos”.
Draco estava surpreso com a atitude do bom anfitrião, que estava tratando-o como a um filho de verdade. Nunca havia sentido tanto afeto em uma simples conversa, e sentiu-se como uma criança novamente quando o sr. Hikari afagou-lhe os cabelos, como jamais alguém havia feito. Sentia-se aliviado por ter falado algo sobre si, na certeza que não havia comprometido ninguém, nem a si mesmo. Ciente de que provavelmente estaria com cara de bobo, olhou para os outros dois para disfarçar e observando-os percebeu o silêncio de Shao e viu que Yume tinha os olhos rasos d’água. Confuso, ele perguntou:
- O que foi, pessoal? Yume?
- Faz alguns meses que pai não fazia isso, Ryu... esse “boa noite” era diário e bem característico... – ela se levantou do chão onde estivera sentada até então e sentou-se sobre os joelhos ao lado de Draco no sofá, ficando de frente para ele. – Draco, isso significa mais do que você imagina... Não é apenas um novo caminho pra você, pode ter certeza disso. E estamos todos juntos nessa.
- Quanto mistério, garota... Como assim? Não estou entendendo nada.
- Era como um código, cara. – foi a vez de Shao se manifestar, falando pela primeira vez desde o início da conversa. Também saiu do sofá que estava e se sentou na mesinha de centro de frente a sua irmã. – Toda noite era a mesma coisa... desde que mamãe se foi papai faz isso... eu me lembro muito claramente... Yume ganha as cócegas no nariz e um beijo na bochecha. Eu, um beijo na testa e o soquinho no queixo. E Yuki, o beijo no topo da cabeça e o bagunçado nos cabelos. E o “Boa noite, meus filhos”, pra finalizar... Quase todo... dia... e... dep-pois que...
- Depois que Yuki partiu isso nunca mais tinha acontecido. – completou Yume, vendo que seu irmão se engasgou no nó que se formou em sua garganta. – Nunca mais... até agora... – e sorriu tão esplendidamente que Draco ficou até desnorteado com o brilho que ela emanava. Ele entendeu o significado daqueles gestos, simples e automáticos, porém carregados de puro sentimento.
- Não quero interferir na família de vocês, Yume. – disse com tristeza e sinceridade, remexendo-se no sofá com o coração gritando. Não sabia se o coração gritava por ter se sentido amado como um filho ou irmão uma vez na vida ou por não saber se esse amor era para si mesmo ou se era pela saudade.
- Não seja tolo. – como se adivinhasse os pensamentos dele, ela sorriu travessa e bagunçou os cabelos dele mais uma vez, fazendo com que ele esboçasse um sorriso. – É tudo de verdade... não é só pela saudade. – e abraçou-o pela cintura pousando a cabeça no ombro dele. Sem saber como reagir, Draco apenas pousou a mão sobre o braço dela e deixou-se ser abraçado. Levou alguns segundos para perceber que Shao mexeu-se na mesa e ouviu-o reclamar:
- Ainda bem que não sou um irmão ciumento, né Yume! – falou emburrado, levantando-se rápido e jogando na irmã a primeira almofada que viu pela frente.
Yume soltou-se de Draco num pulo e em outro já agarrava o caçula num abraço apertado de esmagar os pulmões, e o balançava de um lado para o outro como se ele fosse um boneco de pano enquanto dizia:
– Bobo... você sabe que eu também te amo. – e salpicava no garoto muitos beijos rápidos e estalados.
- Eu sei... Ai... tá... eu sei. – o menino tentava se soltar e respondeu tímido e envergonhado, sentindo-se realmente muito bobo pela reação infantil que acabara de ter.
Draco apenas balançou a cabeça para os lados como se dissesse: “Essas crianças!!!” - E novamente o coração gritou. - “Não seria bom se eu tivesse tido algum irmão? Se eu tivesse alguém pra sentir ciúmes de mim? Se eu simplesmente tivesse alguém?” - Abaixou a cabeça e enterrou-a entre as mãos com os braços apoiados nos joelhos. - “Não! Não seria. Seria só mais alguém para ser ameaçado também.” - Sua respiração lhe traía. Começava a ficar descompassada entregando seu estado de angústia. - “Como será que ela está? Será que está segura? Será que o Snape cumpriu com sua palavra? Minha mãe? Onde a senhora está? Onde?” – Onde? – sua voz saiu trêmula... - Onde? – ... trêmula e rouca.
Shao já tinha subido para seu quarto, desejou “boa noite” a Draco e este nem respondeu. Ele nem percebeu também que Yume o observava atentamente. Ela parecia ler seus sentimentos. Sentia o ar vibrando ao redor dele, agitado, tenso, triste. Sentia ondas de energia se chocando violentamente, formando borrões de imagens e cores. Parecia uma tempestade se aproximando. E ouviu-o dizer “Onde?”. Como se um raio a tivesse atingido no momento, ela viu com pesar uma mulher acorrentada num chão sujo, chorando a ausência de seu filho. “Onde?”, ouviu novamente. E num outro lampejo de luz, viu-o chorando desesperadamente, com a roupa rasgada e manchada de sangue e um vulto atrás dele caído no chão. Aproximou-se lentamente e se ajoelhou no chão de frente pra ele, deixando o rosto quase na mesma altura que o dele. Segurou em suas mãos com firmeza, sentindo-as frias e trêmulas. Seus olhos se encheram de lágrimas ao absorver toda a dor que ele apresentava naquele instante.
- Draco... – chamou baixinho, entre o choro e o sussurro. Não obtendo resposta, ela forçou-o a olhar para ela e o que viu deixou-a completamente transtornada. Ele tinha os olhos vermelhos e inchados, úmidos e arrasadoramente tristes. Ela piscou duas ou três vezes pensando no que falar e assustou-se ao vê-lo escorregar do sofá e cair em seus braços, aninhando-se em seu colo. Ela o abraçou com força, enquanto sentia a respiração dele ficar mais pesada à medida que se acalmava. Não arriscou dizer nenhuma palavra.
- Desculpe-me por isso... – ouviu-o dizer com a voz pastosa pelo choro contido, enquanto se afastava um pouco e encostava as costas no sofá. Ela só conseguiu falar quando percebeu que ele respirava lentamente, mas suas mãos ainda tremiam um pouco. Ela se aproximou mais um pouco, fez um carinho no rosto dele, jogou os cabelos dele para trás e secou uma lágrima que furtivamente escapou daqueles olhos cinza.
– Draco... o que houve? É sua mãe? Ela... corre perigo?
Ele não tinha mais máscaras para usar agora. Apenas balançou a cabeça afirmativamente.
- O que aconteceu com ela? – temia por sua visão. Se fosse do passado ou do futuro, seria terrível da mesma maneira.
- Não sei onde ela está? Nem se está bem. Nada. Não tenho notícias desde antes de eu vir parar aqui... Nunca parei pra pensar, mas agora... não sei o que me deu... veio de repente... essa dor, essa saudade. Não sei como ela está. Não sei onde ela está. Não sei o que me deu! Droga!!! Desculpe Yume, ver sua família, a relação que você tem com seu irmão, é tudo tão... puro. O carinho como seu pai os trata... é tão verdadeiro.
- E o seu pai? – “Será que era o vulto no chão?”, perguntou-se.
- Não quero saber dele, não me importo se está bem ou não. – sua expressão mudou bruscamente - Até prefiro que não esteja. Ele deveria tê-la protegido, mas não... covarde que é, ficou contra ela para se salvar. Entregou-a numa bandeja de ouro... entregou-me... E eu também sou um covarde por ter... fugido...
- Se você tivesse ficado, as coisas estariam melhores agora?
- Não! Pelo contrário... provavelmente estaria ainda pior, tanto para mim como para ela.
- Então você não é um covarde. Coragem também é admitir o perigo e se afastar a tempo para que possa voltar mais forte e enfrentar o mal novamente. Vai ficar tudo bem, Draco... agora você está bem mais forte do que quando chegou. Você vai conseguir enfrentar o que for necessário daqui pra frente. – disse segura, acreditando no que dizia. Segurava as mãos dele entre as suas com carinho e firmeza, transmitindo um pouco de paz para o loiro.
- Espero que você tenha razão, Yume. Eu espero. – já era comum suas mãos estarem juntas, mas dessa vez foi dele a iniciativa de entrelaçá-las e com a ponta dos dedos passou a acariciar os dedos finos da garota, sentindo-se bem mais tranqüilo agora.
Foi a vez dela de puxá-lo para um abraço e aninhar-se no colo dele. Sentia-se segura e confortável e sabia que era agradável para ele também, pois pôde perceber que ele relaxou as costas e respirava devagar, aceitando o abraço dela e apertando-a contra seu peito, uma outra forma de dizer que também se sentia seguro ali.
Ficaram na mesma posição por uns quinze minutos, quando Draco tomou coragem para quebrar o silêncio e disse:
- Você é meu porto seguro, sabia?... mas agora, não é por nada não, mas... não estou afim de apanhar do seu irmão-caçula-ciumento, que é um excelente lutador, nem do seu pai, que tem sido fantástico comigo, e menos ainda do seu... namorado... que é o melhor aluno da academia.
- Deixa de ser bobo... o Shao não vai bater em você... e meu... espere... o que você disse? – perguntou assustada e se afastou, saindo daquele reconfortante abraço. Ele sorria vitorioso.
- Ele também é bem ciumento, não é?
- Ele não é meu namorado... você sabe disso. Nós não temos nada...
- Por que não querem se arriscar... só por isso.
- Não quero falar disso, ok?
- Ok. Não falo mais nada... Mas vou fazer uma pergunta... Por que vocês são tão cabeças-duras e não se arriscam a tentar algo? Há quanto tempo vocês se ‘namoram’ solitários enquanto chega um desconhecido do nada e já conseguiu uns três beijos seus? – sua voz estava recheada de malícia, com um toque sedutor. Queria provocá-la, pois sabia que ela nunca escondia bem seus sentimentos e que uma hora ou outra ela deixaria escapar alguma coisa. Queria ajudá-la a se resolver com Enrique... Observou satisfeito o olhar mortal que a garota lhe lançou, seguido de um crispar de lábios como se segurasse o que estava na ponta da língua para falar.
- Por que você tem que ser tão inconveniente num momento que estava tão legal?
Draco não esperava uma resposta tão dura, tão magoada. Sentiu-se mal pela brincadeira e tratou de se desculpar, mas não teria chance de ser perdoado facilmente.
- Não quis te chatear, foi uma brincadeira.
- Pro inferno com sua brincadeira, ok?
Ela se levantou num pulo e seguiu para a cozinha e antes de alcançar a porta da varanda ele a alcançou e a segurou pelo braço, puxando-a com força, fazendo com que ela batesse em seu peito.
- Me escuta. – segurou-a firmemente pelos ombros - Eu sempre aprendi as coisas de forma “inconveniente” e nunca tive momentos “legais”, mas aqui foi tudo diferente... eu aprendi muita coisa com você e não quero ser o responsável pelo seu sorriso educado e triste, então me escuta. – relaxou as mãos nos ombros dela e continuou. - Você mesma me disse que seu destino é aqui, e não comigo. Eu já percebi isso, já sei o que você queria dizer com suas dúvidas, já entendi que meu maior aprendizado com você foi “aprender a amar”. E agora eu posso dizer Yume, que sou capaz disso, de amar. De aceitar. De permitir que alguém se aproxime. Você me ensinou isso. Então por favor, não faça com ele o que eu tenho feito com todo mundo durante toda minha vida. Vocês se amam, caramba, até eu vi isso no momento que ele chegou. Eu nem sabia quem era o cara, mas eu vi a luz que saía dos olhos dele quando te viu. Ele quis me enfrentar no torneio por quê? Me diz! Me diz se não foi por você? Não desperdice essa chance Yume. Escute o que seu coração diz... foi isso que me ensinou a fazer. Me desculpe pelo modo que toquei no assunto, ok? – abraçou-a novamente mantendo-a firme em seus braços. – Vocês se amam... e se eu tiver que dar um empurrão nos dois, eu não hesitarei em fazer isso. Nem que eu tenha que apanhar dele. – completou sorrindo e percebeu que ela ria também.
- Sabe... Eu odeio quando você tem razão. – falou se lembrando da vez que ele lhe dissera isso.
- Eu sei. E dessa vez, eu ter razão significa que você está errada. – sorriu travesso, também se referindo a algo que ela dissera.
- Tudo bem... Está melhor? – ela perguntou com o olhar significativo.
- Sempre me sinto melhor ao seu lado. E você? Vai ficar brava comigo?
- Nunca!... – sorriu novamente, mas depois perguntou séria. – Draco, aquela noite, do pesadelo, tinha algo a ver com o que houve com sua mãe?
- Provavelmente... Não sei o que foi aquele pesadelo e nem o que houve hoje.
- Quer um chá? – só pelo olhar dela ele já sabia que chá ela estava oferecendo.
- Não. Hoje não. Obrigado... Acho que é hora de me lembrar dos sonhos. Talvez me ajudem em alguma coisa. Então vamos subir? Vou tentar dormir um pouco.
- Certo. Boa noite então. – e se despediu com mais um abraço e um beijo na bochecha.
- Boa noite, meu anjo.

Draco acorda no meio da noite com uma sensação estranha. E dessa vez é um sensação muito ruim. Um aperto no peito lhe impede de respirar direito e na brisa da noite ouve um grito de dor, reconhecendo a voz de sua mãe, fazendo-o abrir os olhos imediatamente, apavorado pelas imagens em sua mente. Vai até a janela e apoiando-se no peitoril fecha os olhos para forçar a lembrança e os flashes da imagem de seu sonho fazem com que as lágrimas voltem aos seus olhos. O que viu era uma mulher de longos cabelos loiros acorrentada num chão sujo, com ferimentos nos braços e pés, chorando a dor de uma ausência. Não conseguiu sustentar a imagem por muito tempo e tornou a abrir os olhos.
“Onde ela está?”, murmurou para o vento. “Onde?”, gritou para o bosque, não controlando as lágrimas que corriam pela face. Num lampejo de luz, outro flash de imagem lhe invadiu a memória. Viu a si mesmo sentado no chão de uma sala vazia toda branca e muito fria, segurando duas varinhas na mão e uma katana suja de sangue largada ao seu lado. As portas ao redor da sala estavam todas fechadas e um silêncio alucinante permeava o recinto levemente escuro. Sentindo-se fraco e cansado, escorregou na parede caindo nas almofadas e adormecendo logo em seguida.
Yume entrou no quarto de Draco pouco tempo depois de ouvi-lo gritar e o encontrou deitado no tapete, com o corpo trêmulo e todo encolhido e com o rosto marcado por lágrimas. Sentou atrás dele, abraçando-o delicadamente e velou seu sono. Tentou transmitir para ele toda paz de seu coração, a tranqüilidade de seu espírito e a força de sua alma. Em poucos minutos a respiração do loiro começou a normalizar e ele parou de tremer, mas ela ficou totalmente esgotada de energia.
Os primeiros raios da manhã tocaram a pele clara de Draco aquecendo-o e despertando-o. O peso suave de um braço em seu peito e o conhecido aroma floral de Yume inibiu a dor no coração que ainda era lembrança do sonho. Um pouco mais atento e desperto, percebeu que ela já estava acordada e com a voz rouca pelo grito da noite e embargada pela dor que sentia, sussurrou para ela segurando sua mão ternamente:
- Você é mesmo um anjo, Tenshi. – entrelaçou seus dedos nos delas. – Fez comigo propositalmente o que você faz com as crianças naturalmente.
- Não sei se sou boa nisso, mas achei que você estava precisando... – ela falou enquanto se sentava encostada na parede.
- Você é ótima... obrigado. – ele sentou também, ficando ao lado dela.
- Sente-se melhor? Você teve outro pesadelo. Fiquei preocupada...
- Agora entendi o que você falou sobre não parecer um pesadelo... Parecia real demais pra ser apenas um sonho ruim.
- Tem certeza que não quer o chá hoje? Você precisa descansar...
- Eu preciso me lembrar do sonho... Sei que eles querem dizer alguma coisa e eu preciso saber o que é. Até agora já percebi que é hora de voltar.
- Alguém corre perigo Draco? Perigo de verdade...
- Provavelmente... mas não quero falar de possibilidades vagas. Vou esperar alguma confirmação, ok?
- Ok. Você tem razão...

A segunda-feira trouxe a rotina de aulas de volta. O dia seguiu comum, com aulas, treinos, almoço e mais treinos. Agora eram bem menos alunos, mas seguiam a mesma disciplina de antes. Por volta das quatro horas da tarde Draco sentiu-se meio zonzo e muito desconfortável. Pediu licença para o sr. Hikari e saiu do gramado, se isolando numa trilha perto do pomar. Sua cabeça girava e sentia o estômago embrulhado. E tudo girava. Mesmo sentado no chão tudo girava.
“Pare de lutar!” - ouviu uma voz grave e vagamente conhecida.
- Ahhh... minha cabeça.... – falou consigo mesmo. - O que está acontecendo? – perguntou-se preocupado.
“Draco, você está seguro, pare de lutar contra mim.” – ouviu a voz de novo. Agora reconheceu o dono da voz e fechou os olhos para permitir a entrada em sua mente.
“O que está acontecendo? Professor Snape?” – Draco perguntou para a voz que invadia seus pensamentos.
“Era o meio mais seguro de entrar em contato. Sei que é doloroso pra você ter a mente invadida dessa forma, mas agüente.” – falou o professor que através de um feitiço conseguiu estabelecer um contanto com a mente de Draco.
“É você que está invadindo meus sonhos. Por que aquelas imagens tão perturbadoras, professor? O que está acontecendo?” – quis saber, ansioso pela lembrança dos pesadelos.
“Que sonhos? Este feitiço apenas permite uma conexão telecinética por poucos minutos. Acalme-se garoto. Tenho notícias.” – o professor explicou rapidamente.
“Minha mãe... como ela está? Está segura?” – o rapaz quis logo saber.
“Está. Não se preocupe. Está em meu esconderijo, mas não posso te falar onde é ainda. É hora de voltar Draco. Entrei em contato com a Ordem da Fênix. Esteja pronto em dois dias. Amanhã te aviso onde será o encontro. Esteja pronto.” – no mesmo instante a tontura, o mal-estar e a dor de cabeça de Draco sumiram. O contato fora rompido.
- Ela está bem. – o loiro murmurou, feliz em ouvir tal confirmação. Lutou para não fechar os olhos e se entregar ao cansaço pelo esforço mental, respirou fundo algumas vezes e depois retornou à aula. Já estava ansioso pelo próximo contato.

Após o jantar Yume aproveitou que Shao estava entretido assistindo televisão e foi falar com Draco.
- O que aconteceu esta tarde? Você está diferente? Está mais leve...
- Não sei explicar como eu sei... mas ela está bem Yume... minha mãe está bem. – ele disse com um enorme sorriso. – Em breve poderei reencontrá-la.
Foram interrompidos por Shao e não conseguiram mais voltar a esse assunto.

Yume sentia que era hora de começar a se despedir de seu amigo. E Shaoran também percebeu isso.

No dia seguinte Shao acordou mais cedo que seu normal e preparou um excelente café da manhã para todos. Hikari, estranhando a atitude do garoto, perguntou:
- O que houve meu filho? Isso tudo são para boas-vindas ou para despedida? – ele falou, referindo-se ao costume da casa de sempre receber alguém com um rico café da manhã, da mesma forma que quando algum visitante está para partir.
O garoto não respondeu ao pai, apenas olhou para Draco que já estava na mesa, depois para Yume, que compartilhava do mesmo sentimento do caçula e falou, direcionando o olhar para o loiro:
- É despedida. Não é Draco?
- O que? – quis saber Hikari. – Já está de partida Draco? Quando? Teve notícias de sua família?
- Er... eu... eu não sei quando eu vou... Como você sabe Shao? – o loiro estava constrangido pela situação inusitada e principalmente pelo olhar do garoto que parecia convicto de sua breve partida. Ele olhou para Yume para ver se encontrava alguma saída, mas reconheceu no rosto da oriental o mesmo olhar convicto que tinha em Shao. – O que vocês sabem que eu não sei? – perguntou para a garota.
- Vamos comer, tá legal? É melhor aproveitarmos o tempo que nos resta. – Shaoran falou, impedindo que sua irmã falasse algo. – Eu odeio despedidas. – ele resmungou em tom reprovador.
- A atmosfera muda... – Yume sussurrou para Draco que tinha uma expressão quase engraçada no rosto, de tão perdido que estava, sem entender o que estava acontecendo.
- Como assim muda? Como-...
- Apenas muda. E Shao percebeu isso antes mesmo de mim. E antes de você receber qualquer notícia. Seu pensamento não está mais aqui Ryu. É isso que sentimos.
Hikari puxou algum assunto para quebrar o clima triste e ficaram conversando sobre banalidades. A caminho da aula de karatê, Draco sentiu-se mal de novo, como no dia anterior. Já sabendo o que era, tratou de pedir licença ao mestre imediatamente e foi à busca de um lugar tranqüilo.
“Draco?” – ouviu a voz de Snape em sua cabeça, que latejava de tanto que doía e ele se apoiava nas árvores para não cair com a tontura.
“Sim professor. Pode falar. Onde nos encontraremos?” – quis saber logo.
“Tenho que ser rápido.” – Snape projetou seu pensamento na mente de Draco. Sua voz parecia nervosa e aflita. – “Draco, nos encontraremos nos fundos desse bar. Vista-se normalmente, é uma vila trouxa.” – enquanto falava, lançava na mente do loiro a imagem de um mapa com o nome e o caminho de um bar irlandês num bairro da Londres trouxa. – “Pode aparatar próximo a este ponto azul do mapa, mas o caminho em azul deve fazer a pé. E não use magia nesse trecho. Esteja atento e com a varinha em fácil acesso. Tenho que ir.”
“Espere professor...”
“Não há tempo Draco. Esteja pronto para duelar caso necessário. E tenha muita atenção.” – tão rápido como no dia anterior a conexão se rompeu antes que o rapaz pudesse perguntar algo mais. Sem nenhuma tontura nem dor de cabeça ele voltou à aula.
- Amanhã... – murmurava no caminho, feliz com a expectativa do reencontro com sua mãe. Avistou Yume que fazia a aula de karatê também, mas não comentou nada com ela, principalmente depois que a viu com o olhar triste. Provavelmente ela já sabia que ele iria embora no dia seguinte. – “Seu pensamento não está mais aqui Ryu” – lembrou-se das palavras dela e confirmou que não se sentia mais ali no momento.

Após o jantar Draco recusou a partida de xadrez com Shao. Não saberia o que dizer. Só naquele momento ele percebeu que seria mesmo uma despedida. Que não os veria mais tão cedo, ou talvez nunca mais. Não queria enfrentar isso. Sentiu medo de novo.
Batidas suaves na porta do quarto fizeram o loiro despertar de seus devaneios.
- Com licença, meu filho. – sr. Hikari abriu a porta devagar. Após ser permitida sua entrada ele entrou no quarto e se sentou na cadeira perto da janela. – Então você vai embora mesmo, não é? Já sabe quando vai partir? – sua voz sempre atenciosa e educada causou um efeito devastador no jovem que até agora conseguiu se manter firme.
- Eu... senhor... eu... nem sei como agradecer tudo que fez por mim. Eu realmente serei eternamente grato.
- Draco... – interrompeu o loiro. – Também seremos eternamente gratos por sua presença em nossa casa, meu filho. Não sabe o quanto aprendemos...
- Não é possível senhor. Eu é que aprendi mais do que merecia.
- Talvez. – ele disse entre risos. – Talvez tenha realmente aprendido mais do que merecia, já que acredita nisso, mas com certeza aprendeu tudo que precisava, e isso é o mais importante. É difícil aceitarmos a despedida, Draco. Existem marcas que não somem. Ainda mais quando um filho vai embora no meio da noite sem dar adeus. Devemos aprender a aceitar as chegadas e as despedidas. – fez uma pausa para que o rapaz pudesse absorver o conteúdo das palavras. – E então, quando você parte?
- Amanhã... Eu ainda não aprendi a lidar com despedidas senhor... amanhã será um dia muito difícil.
- Pense, meu filho, que amanhã será apenas o primeiro dia de sua nova jornada. – levantou-se e foi até Draco e repetiu o gesto do outro dia, bagunçou seus cabelos num gesto carinhoso e beijou-lhe o topo da cabeça, depois desejou boa noite e saiu.
Draco não conseguiu pensar em nada muito sensato para falar no dia seguinte. Mal conseguiu dormir, tamanha sua excitação pela partida e reencontro com sua mãe e pela saudade que sentiria da família que o acolheu tão carinhosamente.

O clima do dia seguinte já amanheceu triste. Era um dia quente e com um belíssimo sol a brilhar lá fora, mas dentro da casa estava frio.
Invertendo o papel de Shao no dia anterior, Draco levantou mais cedo e foi preparar o café da manhã. Era a primeira vez que fazia aquilo sozinho. Fez chá de hortelã, torradas e omelete. Arrumou a mesa com xícaras de porcelana, frutas, geléia de framboesa e suco de uva. Ficou encostado no balcão esperando todos descerem para o café e agradecer mais uma vez por tudo que fizeram por ele.
Após o espanto inicial pela surpresa e depois de todos terem se acomodado à mesa Draco disse mais ou menos a mesma coisa que dissera a Hikari a noite passada. Falou o quanto se sentia grato por tudo que fizeram e por todo carinho e atenção que o trataram.
- Eu também odeio despedidas, Shao. – ele falou olhando para o garoto que o tratava como um irmão. – Mas eu devo muito a vocês e nunca saberei como retribuir tudo que fizeram.
- Vamos à praia hoje, Ryu? – Yume perguntou de repente, com os olhos rasos d’água e a voz embargada. – Papai... deixe-nos ir à praia, por favor.
- O que digo aos seus alunos querida?
- Eu aviso todos eles que reponho outro dia. – respondeu prontamente.
- Não posso negar, não é? Eu cuido da sua turma Shao... – disse sr. Hikari sorrindo para os garotos. – Podem ir... mas vão logo, antes que eu mude de idéia.
Os três saíram correndo subindo a escada, descendo-a e passando pela varanda em disparada para a trilha que seguia para o litoral, tudo em menos de cinco minutos. Só lembraram de pegar uma mochila e jogar dentro dela três toalhas, alguns pacotes de bolacha e umas garrafas d’água. Dez minutos depois, já a caminho das praias rochosas, Yume ainda estava falava ao celular e conseguiu conversar com quase toda a turma, pedindo desculpas pelo aviso do ‘imprevisto’ tão em cima da hora e marcou uma aula extra para a próxima semana. O celular apitou assim que ela o colocou na mochila e pensou que fosse algum aluno retornando a ligação, mas ao ver a mensagem seu rosto se iluminou de alegria. Draco e Shao seguiam na frente conversando e ela leu a curta mensagem que dizia: “Volto a Lisboa esta noite. Preciso te ver amanhã. Podemos nos encontrar? Te ligo ao amanhecer, meu anjo...” Guardou o sentimento para o da seguinte e dedicou-se ao último dia de seu amigo.
O passeio já valeria a pena só pelo tempo que passaram juntos no trajeto. Conversaram bobeiras, riram à toa e pegaram muitas frutas no caminho. Já na praia, após uns quarenta minutos de caminhada, brincaram na água e descansaram na areia onde havia sombra.
Nenhum dos três queria que esse dia acabasse.
Por volta das três da tarde fizeram o caminho do volta, com poucas palavras.

Após ter tomado um banho rápido e juntado algumas coisas na mochila que Snape lhe dera, Draco foi para a varanda para se despedir da família Yamamoto.
- Eu posso voltar quando houver alguma oportunidade? – Draco perguntou ao sr. Hikari.
- Assim que tiver alguma oportunidade garoto. Volte. Prometa que voltará.
- Assim que foi possível, senhor. Eu prometo. E vou pensar em alguma forma de retribuir pelo menos um pouco do que recebi aqui.
- Não pense nisso Draco. Apenas volte algum dia, sim?
- Sim.
Despediu-se de Hikari e de Shaoran com abraços carregados de carinho e saudade.
Despediu-se de Yume com um abraço apertado cheio de significado e nenhuma palavra. Palavras eram desnecessárias.
Foi caminhando de costas a passos lentos e alguns metros depois se virou, já quase no portão da propriedade. Mal deu três passou ouviu Yume chamando seu nome.
- Ryuuuuu!!! – ela gritou e correu até ele. Abraçou-o com força e desespero. Ele se separou um pouco e segurou as mãos geladas da garota e beijou cada uma, olhando-a nos olhos em seguida como se dissesse “Diga”, e ela continuou: - Promete pra mim, Draco... – ela falou ofegante - Promete que você vai sempre se lembrar de mim?
O rapaz calmamente emoldurou o rosto da amiga com as duas mãos, com carinho, ambos fecharam os olhos no momento e ele encostou sua testa na dela, sorrindo e disse baixinho, abrindo os olhos devagar:
- Eu posso prometer... que... às vezes vou me lembrar de você Yume... – ela abriu os olhos assustada e ele prontamente completou, ainda sorrindo e segurando o rosto dela entre as mãos, encarando os profundos olhos negros da garota. - Prometo que só enquanto eu respirar vou me lembrar de você *, Yume.
O sorriso que surgiu nos lábios da oriental era daquele capaz de iluminar uma vida inteira. Assim como iluminava a vida de Draco a partir daquele momento. Seu anjo. Seu Tenshi. Abraçaram-se novamente. Ele a mantinha bem segura pela cintura, acariciando suas costas e com o rosto enterrado nos cabelos dela, aspirando cada milímetro daquele aroma que tanto lhe agradava. E ela o prendia pelo pescoço, com medo de soltar, pousando a cabeça no ombro do loiro, sentindo o coração dele bater apressado contra o seu peito. Era o último abraço daquelas férias, mas ambos sabiam que não seria o último abraço deles, pois certamente voltariam a se encontrar.
- Você me prometeu que quando as coisas voltarem ao normal você vem me ver, lembra disso, não lembra? – ela perguntou com os olhos brilhando de ansiedade, referindo-se a uma conversa da semana passada.
- Claro que lembro. Assim que tudo melhorar... você terá notícias minhas assim que possível. Mando um e-mail, um sinal de fumaça ou então uma mensagem por coruja se for o caso... – disse sorrindo, sabendo que essa provavelmente seria a opção escolhida, até mesmo para surpreender a amiga, preparando-a para lhe contar sua verdade quando fosse o momento certo.
Afastou lentamente, mas alguns passos depois Draco se virou mais uma vez e encarou Yume, que veio ao seu encontro imediatamente.
- Yume... você acredita em bruxas e fadas? – ele perguntou sem demora.
- Como? B-bruxas?? F-fadas?
- Sim. Acredita?
- Eu não sei, Draco. Por que pergunta? Onde quer chegar? Nunca as vi, então não posso afirmar que realmente não existam.
- Elas existem Yume.
- Eu acredito na magia, Ryu, você sabe disso. Eu acho que acredito em bruxos... como você. Acredito que a sua energia é mágica.
- A sua também é. Você me ensinou que existem várias formas de magia. Você tem alma de bruxa. É poderosa, forte, de bom coração. Sabe ver além do real e não teme o desconhecido. Suas poções são os maravilhosos chás e sua varinha mágica é sua aguçada percepção. E quanto às fadas... existem várias espécies, e uma delas possui o corpo pequenino e levemente brilhante e suas asas são parecidas com pétalas de flor. – ela via em seus olhos que ele estava dizendo a verdade. - E eventualmente visitam a amoreira ao lado da cozinha. Eu abri a minha mente Yume. Mas e você... está pronta para conhecer outras formas de magia?
Ela não tinha nada para falar, apenas absorveu as palavras dele e viu-o partir.
Ao longe, já quase sumindo na linha do horizonte, ainda era possível ver o rapaz que seguia com uma mochila pendendo em um ombro, os cabelos platinados balançando ao sabor do vento, o espírito leve e o coração pronto para o futuro que o aguardava.


/ * \ . / * \ . / * \

Harry, Rony e Hermione estão vagando entre florestas e bosques à busca das duas horcruxes restantes. Agora de posse da espada de Griffindor que o professor Lupin conseguiu para eles, o trio já destruiu as horcruxes que encontraram. Resta agora encontrar a herança de Ravenclaw e por último a cobra Nagini.
Depois que saíram da Toca após o casamento, já se passou um mês e estavam agora sem esperanças de encontrar a última herança.


\ * / . \ * / . \ * /

Draco desaparatou no meio do bosque e foi rumo ao centro de Londres, seguindo o mapa que estava em sua memória, e de lá para Soho, um movimentado bairro trouxa famoso pelos bares, casas noturnas e teatros, próximo ao Piccadilly Circus. Chegando ao “ponto azul” do mapa de Snape seguiu a pé pelas ruas estreitas e repletas de turistas que aproveitavam o verão na capital inglesa. Mais perto de seu destino, que era os fundos de um bar, o movimento já era bem mais raro, dando ao lugar um ar sombrio. Manteve a mente aberta e ao mesmo tempo segura, caso Snape tentasse algum contato com ele nesse instante, mas não recebeu nenhuma mensagem.
Olhava ao redor à procura do professor e não via nada além de um ou outro sujeito mal encarado. Tateou o corpo e sentiu a varinha nas costas, no cós da calça, ao alcance da mão. Retirou do bolso frontal da mochila um boné escuro para cobrir-lhe parte do rosto e o cabelos tão claros e entrou no bar.
“Que ambiente carregado, ruim” - pensou o rapaz que desenvolveu uma excelente percepção extra sensorial. “Snape?”, tentou o contato mental, mas não obteve sucesso. “Droga, tem algo errado aqui, eu posso sentir” - pensava enquanto esquadrinhava o local à procura de qualquer coisa suspeita.
“Snape?” – tentou novamente. – “Onde está?”
“Vá à Mansão Black, Draco! Tome cuid-dad-do!” – ouviu a voz baixa de seu professor em sua mente.
“O que está havendo? Mansão Bl-...”
“Mansão Black! Largo Grimaund, nº 12. Você é um Black, conseguirá vê-la se tiver o... endereço... Tenha... muito... cuidado...” – a voz foi sumindo gradativamente.
“Droga!! Ele deveria estar aqui... Maldição, tem algo errado! Ele está em perigo!... Professor?” – sem ter qualquer resposta foi em direção à porta de saída, pensando no endereço que Snape lhe passou para guardar na memória, mas foi barrado por um enorme segurança.
- Não vai consumir nada, playboy? – disse o moreno mais alto com uma cicatriz no maxilar.
- Não senhor. Já estou de saída, obrigado. – Draco respondeu educadamente, tentando ignorar o mal-estar que sentia ao lado deles, que pareciam impregnados de energia ruim, e pior, de magia ruim.
- Não está não moleque. É atrás de você que aquele morcego velho estava, não é? – o homem perguntou segurando o braço de Draco com força e arrastando o rapaz para fora do bar, seguido de outros dois seguranças. Pelo canto dos olhos Draco viu que um dos homens estava com uma varinha e dava para ver uma parte da tatuagem que ele possuía no braço, a parte da boca de um esqueleto com uma língua parecida com cobra.
“Eles são Comensais?” – perguntou-se incrédulo, protegendo sua mente de eventuais ataques. – “Não pode ser... a tatuagem é diferente e eles são muito amadores...”
- Espere! – Draco reagiu quando sentiu-se ser arrastado para fora do bar. – Deve estar havendo algum engano... – “Preciso descobrir algo”, pensou.
- Cala a boca moleque. – falou o segurança e logo em seguida deu um forte soco de punho fechado no rosto do loiro, mas este foi mais rápido e desviou do golpe, deixando o grandalhão ainda mais furioso. – Ahhh... seu idiota!
Draco se esquivou de outro soco e de mais um golpe do segundo segurança. E mais golpes, sendo atingido no rosto e na costela, mas só depois de um chute seu atingir o rosto e o joelho de um dos homens e quase derrubar o outro com uma rasteira. Atento aos dois homens que tentavam acertá-lo, não viu que o terceiro estava em suas costas e lhe apontava a varinha. Apenas ouviu:
- Morpheus! Seus idiotas. Vocês são bruxos, não são trasgos! Precisamos de todos os suspeitos vivos. – ele falou com um sotaque estranho e saiu arrastando o loiro que estava desmaiado, desaparatando logo em seguida e os outros dois indo dois segundos depois.


/ * \ . / * \ . / * \

- Eu não agüento mais isso... Quero minha casa e uma comida de verdade...
- Se a comida não está boa, Ronald, faça você então. – reclamou a castanha que tirava da pequena bolsa um saquinho azul escuro que começou a se desmontar.
- Eu só quero que isso termine logo Mione. – o ruivo respondeu seco e mau-humorado.
- Ei, ei... – interrompeu o garoto de óculos e com aparência cansada. - Antes que vocês briguem de novo, fiquem quietos, ok? Eu é que não agüento mais as implicâncias entre vocês. Eu vou dormir. – disse Harry depois de lançar alguns feitiços no local e se virou para entrar na barraca que Hermione acabara de montar. Na entrada da barraca, falou. – Amanhã vamos pra Mansão. O Snape não vai voltar pra lá, ele sabe que é perigoso pra ele. Boa noite. – finalizou ele, pondo um fim no assunto que discutiam havia três dias.
Os três estavam exaustos de pesquisar, buscar e partir, caminhar, se proteger e se perder. Nervos e músculos cansados, raciocínio e sentimentos cansados.
Finalmente decidido que iriam à Mansão Black para recuperar um pouco as forças e descobrir alguma pista sobre a peça de Ravenclaw, descansaram pelo restante da madrugada.
Logo pela manhã, após os primeiros raios invadirem seus olhos, eles partiram para o Largo Grimmauld, nº 12.

Nem imaginavam que não ficariam sozinhos por lá...


/ * \ . / * \ . / * \
. fim do capítulo .
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N/A:
* Keri ou Gueri: chute
Zuke: soco
Uke: defesa
Shuto: golpe com a mão aberta
Shotei: golpe com a palma da mão
Empi: golpe com o cotovelo
Cacato: golpe com o calcanhar

* frase da música “O Anjo Mais Velho” - O Teatro Mágico.

Obs: Não sei exatamente como funciona a troca de faixas do karatê, então me perdoem por quaisquer falhas.

Eu sou insistente... Mesmo com tão poucos comentários eu vou prosseguir.

Não sei se é uma notícia ruim ou boa (será ruim pra quem estiver gostando da fic), mas lamento informa-los que o próximo capítulo só virá na metade de novembro. Estou de férias e vou viajar.... huahuahuahuahua... Boa viagem pra mim e até a volta.

Resposta aos coments:
Jeeh, Clau e Flamel... Obrigada pelos comentários! Por favor, não fujam de mim... Ajudem-me a não desistir...

Continuem comentando...

Bjins e até o próximo capítulo.

* capítulo 4 – Mansão Black *

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