Intercâmbio



Intercâmbio

Estavam mais uma vez reunidos no Salão Principal de Hogwarts, à luz das velas que flutuavam a meia altura das quatro enormes mesas lotadas. Os alunos de todas as casas conversavam animadamente, devidamente instalados em seus lugares.

Na parede principal do Salão ficava a mesa dos professores, onde se encontravam todos eles, Lupin inclusive. Claro que Snape estava lá, e a presença de Trelawney indicava que o centauro que a substituíra durante parte do ano passado já não lecionava em Hogwarts. Dumbledore, com os olhos brilhando sob os pequenos óculos em forma de meia lua, levantou-se. Harry, entediado, preparou-se paras as tradicionais boas-vindas do diretor. Olhou à sua volta e viu os novos alunos que mal podiam manter a boca fechada de tanta admiração e surpresa. Ele também havia se sentido assim, num dia longínquo, acontecido há.... séculos atrás? Suspirou, vendo que ao seu lado as mãos de Rony e Mione inocentemente se tocavam, tão próximos eles estavam um do outro. A voz de Dumbledore, poderosa, ecoava no salão, mas Harry, que ouvia aquilo pela sexta vez, não prestava atenção. Só quando Rony, de olhos arregalados, cutucou suas costelas, ele permitiu que as palavras do diretor penetrassem sua mente.

– ... de forma que possamos intercambiar conhecimento, aprofundar e ampliar relações, além de nos fortalecermos mutuamente na luta contra as forças daquele que deseja tão somente estabelecer o caos no mundo . Sejam especialmente bem-vindos , alunos de Beauxbaton e Durmstrang, e saibam que todos nós faremos o possível para que se sintam em casa, da mesma forma que, sabemos, as escolas de vocês estarão fazendo com os alunos de Hogwarts escolhidos para esse primeiro Intercâmbio. Agora, o Chapéu Seletor vai definir o destino de todos os recém chegados, e depois, estarão livres para apreciar a nossa festa anual de boas vindas. Divirtam–se.

Um clamor se fez ouvir entremeado de aplausos e vivas , enquanto a Profª. Minerva se adiantava, tentando conter o entusiasmo que reinava ruidosamente no Salão. Pôs o Chapéu Seletor sobre um banco alto, colocado de forma a poder ser visto pelos alunos. Fez um gesto, e todos se calaram , observando o Chapéu, que repentinamente pôs-se a falar . Ele resumiu a estória das casas, mais rápido que nos outros anos , calando-se em seguida. O burburinho no salão recomeçou, mas a Profª. Minerva falou com firmeza.

–Está bem, está bem... silêncio agora, vou começar a chamada dos novos alunos....

Um a um, Harry viu passar diante de seus olhos os boquiabertos e trêmulos alunos de primeiro ano, devidamente classificados pelo Chapéu que os distribuía entre as quatro Casas da escola. Até Harry se deixou envolver pelo clima eufórico, e ajudava a aplaudir e assobiar cada vez que Grifinória ganhava um novo aluno.

Quando o último deles estava indo para a mesa de sua Casa, a dos Lufa–Lufa, a voz do Chapéu se fez ouvir outra vez, iniciando uma canção estranha e curta, que resumida, falava sobre a possibilidade de estar sendo celebrada a última Cerimônia de Seleção de Hogwarts. Todos os alunos, paralisados, olharam para Dumbledore, que os fitava impassível. Harry, Rony e Hermione trocaram um olhar assustado, enquanto Profª. Minerva iniciava a chamada dos alunos do Intercâmbio, em meio a um silêncio arrasador.

– Flotte , Eglantine – Uma garota de cabelos acobreados e curtos, baixinha e magra, de belos e assustados olhos verdes se adiantou e parou ao lado da Professora, que sorriu e depois se voltou para os alunos.– A Srta. Flotte vem de Beauxbattons para cursar o quarto ano na nossa escola. – Voltou–se novamente para a aluna, que , rígida, olhava para a frente.– Em nome de todos eu lhe dou boas–vindas e expresso o desejo de que esse ano possa lhe trazer conhecimento e alegria. Agora, sente–se e coloque o Chapéu ,que vai definir em qual das Casas você vai ficar durante sua permanência entre nós. – A garota se sentou e colocou o Chapéu, que não demorou muito para dizer.– Lufa–Lufa ! – Entre aplausos e vivas, a mesa de Lufa–Lufa comemorava por ter "ganhado" o primeiro dos alunos do Intercâmbio.

– Germanu, Dubhglas – Um belo jovem de rosto angelical caminhou para o lado de Minerva. Alto e louro , tinha cabelos cor de palha curtos e charmosamente arrepiados, olhos de um azul claríssimo e pele rosada . Dirigiu um encantador sorriso à Profª. McGonagall , o que fez as garotas de Hogwarts suspirarem. Minerva sorriu em resposta e fez o discurso de boas vindas, depois de apresentá-lo como aluno de Durmstrang que também cursaria o quarto ano. Os alunos de Hogwarts o observavam com simpatia, e ele olhava tudo com um sorriso nos lábios enquanto o Chapéu Seletor era colocado sobre sua cabeça loura. Quase imediatamente, ouviu–se a voz do Chapéu .– Corvinal! – Gritinhos femininos e vivas dos garotos saudaram Dubhglas em sua chegada à mesa da Corvinal, onde, depois de cumprimentar todos calorosamente, se instalou como se pertencesse à Casa desde sempre.

–Germanu, Nadezda. – A voz da Profª. de Transfigurações conseguiu se sobrepor à euforia dos alunos de Corvinal, que ainda comemoravam ruidosamente a nova aquisição da casa. Rony fez uma careta e olhou para Hermione e Harry, apontando a garota que se aproximava de McGonagall. Podia–se notar que era irmã de Dubhglas pelos olhos azuis muito claros e pelos longos cabelos cor de palha, que trazia presos num rabo–de–cavalo. Era magra e alta, e também possuía um tom rosado de pele. Mas a semelhança terminava aí. Ela não tinha nada da beleza e simpatia do irmão, ao contrário, trazia os lábios crispados numa espécie de ricto que lhe dava uma expressão aborrecida, entediada, como se fizesse um grande esforço para suportar a Cerimônia.

Ela foi apresentada como aluna de Durmstrang, vinda à Hogwarts para cursar o quinto ano, depois do que se sentou sem olhar para ninguém em especial, colocou o Chapéu na cabeça, e então ele falou , ao mesmo tempo que Rony, que imitava a pomposa voz.– Sonserina – Harry e Hermione caíram na risada , enquanto observavam a nova aluna ser aplaudida pelos Sonserinos, Snape inclusive, e se dirigir á mesa da Casa, onde Draco e seus amigos já a esperavam com um gélido sorriso de boas vindas.

–Merveille, Arabella. – O nome familiar fez Harry voltar a cabeça para olhar a garota que, de costas para ele, estava diante da Profª. McGonagall. Ela se voltou e Harry sentiu um choque ao reconhecer nela a bela garota que encontrara nas férias, no corredor da casa dos Dursley. Sentia a boca seca enquanto ouvia , ao fundo, a voz da professora apresentando Arabella como aluna de Beauxbattons, vinda para cursar o quinto ano em Hogwarts. Harry viu que a garota olhava diretamente para ele, e Hermione e Rony, ao seu lado, também perceberam, porque olhavam para Harry com cara de quem não estava entendendo nada. O Chapéu Seletor foi colocado sobre a cabeça dela, cobrindo parte de seus belos e ondulados cabelos castanhos, e Harry se viu desejando ardentemente que ela viesse para.. – Grifinória! – A voz do Chapéu impediu que Harry concluísse o pensamento, e o garoto se viu aplaudindo entusiasticamente a nova colega de Casa, sob o olhar de estranheza dos dois amigos, que também aplaudiam Arabella, embora sem o mesmo ardor. Ela veio se aproximando da mesa, e logo Harry pode reencontrar seus grandes e límpidos olhos esverdeados . Parecia ainda mais bela e atraente, pensou o garoto vendo–a se acomodar ao lado de Ginny, perto da ponta da mesa. Ele precisou fazer um esforço para prestar atenção ás palavras de McGonagall, que chamava o quinto aluno.

–Verlaine, Donatien Benedictus– Harry olhou sem muito interesse para o jovem alto, de cabelos escuros e lisos que se adiantava em direção à McGonagall . Harry estava para voltar o rosto na direção de Arabella quando o garoto se virou de frente para o salão . Algo naquele rosto sério, de olhos profundamente negros pareceu tão familiar a Harry que ele sequer ouviu o que dizia a professora. Onde já o vira? Tentou forçar a mente, mas não conseguiu se lembrar. Absorto, fitava o garoto, que tinha belos traços e um olhar vago, distante. Assustou–se quando Rony lhe deu uma cotovelada nas costelas. – Beauxbattons, tão inteligente que passou do primeiro para o terceiro ano.... aposto que vai para Corvinal .Talvez Grifinória... – Harry sorriu e voltou a olhar para a frente. McGonagall acabara de colocar o chapéu sobre a cabeça do garoto, que mantinha no rosto a mesma expressão de seriedade e calma. Após alguns instantes, a voz do Chapéu se fez ouvir. – Sonserina ! – Decepcionado, Rony fez um muxoxo, enquanto os Sonserinos comemoravam novamente . Donatien seguiu em direção à mesa de sua nova Casa sem expressar absolutamente nenhuma emoção, embora cumprimentasse a todos com polidez ao chegar. Draco recebeu com visível prazer seu novo colega de Casa e de classe. Dumbledore colocou–se de pé e pigarreou para chamar a atenção dos alunos. O burburinho cessou e a voz do diretor se fez ouvir clara no Salão. – Deveríamos também estar recebendo nessa noite o Sr. Raginhari Waldan, que deixou Durmstrang para cursar em Hogwarts o sexto ano. Desafortunadamente, ele sofreu um acidente que o impossibilitou de estar presente nessa noite. Nada grave, em duas semanas ele deverá estar conosco. E como não quero me estender muito, deixarei que os monitores alertem os novos alunos sobre as regras que deverão ser observadas nessa escola, e aproveito para enfatizar que conto com meus alunos antigos para fazerem com que os novos se sintam em casa. – Fez uma pausa e sorriu. –Agora, ao banquete!!

Imediatamente um ruído de pratos e talheres se fez ouvir, e Harry , que olhava de canto para Arabella, viu no olhar dela o espanto pelos pratos que se enchiam sozinhos sobre a mesa, repletos de assados variados e tortas diversas, entre outras coisas. Parou diante do próprio prato vazio, olhando para ela com um meio sorriso bobo nos lábios. Ainda não trocara com Arabella mais do que algumas palavras, mas pela forma com que todos a cercavam e puxavam assunto, Harry intuiu que ela era , além de linda, interessante e comunicativa. Ouvia Rony falar de boca cheia ao seu lado, mas não captava o significado das palavras. Só quando Hermione chamou-o pelo nome , num tom alto o bastante para que até os alunos que se encontravam na ponta da mesa pudessem ouvir, foi que Harry aterrissou.

– O que houve, Harry? Por que não está comendo? – Imediatamente ele começou a comer, torcendo para que Arabella não pudesse notar seu rubor. Hermione continuou. – Sabe, vou sentir falta da Luna. Espero que ela goste de Beauxbattons...

– Luna? Ela está entre os alunos do intercâmbio? – Interessado, Harry se voltou para a amiga , que o olhava com um ar de reprovação.

– Você não ouviu nada do que Dumbledore disse, não é mesmo? Claro que não, você parecia aéreo o tempo todo. Sim , Luna, assim como Marietta Edgecombe, além de outros quatro garotos de Hogwarts, foram para Beauxbattons e Durmstrang. – A expressão de Hermione era de irritação. Harry olhou para Rony , que ria disfarçadamente. – Você está estranho, Harry. Misterioso, distraído. E piorou depois que viu aquela garota... – Hermione apontou com o queixo na direção de Arabella, que no momento se encontrava cercada por um bando de alunos, entre eles um monitor do sétimo ano que se derretia todo.

– Ora... não é nada disso...– Harry gaguejou, olhando disfarçadamente para Arabella e o idiota que agora se sentara espremido entre ela e Ginny. – Só fiquei surpreso, eu vi essa garota na casa dos meus tios, nas férias...– Parou, de repente, encarando Hermione com uma expressão fria. – Aliás, falando de segredos e mistérios, acho que não fui eu quem andou escondendo coisas por aqui...– Viu o espanto no olhar da amiga, e em seguida o rubor que cobriu suas faces. Olhou para Rony, que baixou imediatamente a cabeça. Hermione se levantou de repente.– Não sei do que você está falando, mas agora não tenho tempo para conversar sobre isso. Temos que.... tenho... bem, preciso ir agora, os novatos já estão terminando o jantar. –Virou-se bruscamente e seguiu na direção da porta de saída do salão. Rony, embaraçado, continuava olhando para o prato. Levantou a cabeça, olhou para Harry e sorriu sem graça. – Eu também tenho que ir.. nos falamos mais tarde, no dormitório.

Harry ficou olhando o amigo seguir na mesma direção de Hermione. Depois voltou-se na direção de Arabella, mas ela já tinha deixado a mesa. Harry a via caminhando entre Ginny e o garoto do sétimo ano em direção à fila que se formava. Suspirou, desanimado, e também deixou a mesa . Encontrou-se com Cho e a cumprimentou, notando que ela ficou meio sem jeito. Ao lado dela, com um sorrisinho frio, estava Draco. Harry não deu nenhuma importância ao fato, só notou que os habituais asseclas de Malfoy não o rodeavam. O que Harry queria realmente era encontrar um meio de falar com Arabella antes que ela fosse conduzida para o dormitório feminino da Grifinória, mas isso parecia muito difícil. Os alunos do Intercâmbio formavam um grupinho, do qual também faziam parte o garoto do sétimo ano, Ginny, e alguns monitores que se esforçavam para se fazer entender pelos estrangeiros. Arabella passou o braço ao redor do de Ginny e se afastou um pouco do grupo, falando com ela reservadamente. Harry se lembrou então que no dia em que encontrou a garota no corredor dos Dursley, ela falara com ele sem nenhum sotaque . Intrigado, Harry continuou a olhar para ela, mas logo a confusão de alunos se generalizou e não foi mais possível ver onde ela estava. Resignado, foi para a fila e aguardou o momento de subir para a Torre da Grifinória com os outros.

Harry esvaziava o malão e guardava seus pertences calmamente. Rony acabara de voltar e disse que Hermione e Ginny viriam fazer uma visita rápida mais tarde. Harry não respondeu. Estava aborrecido com o amigo, e agora desejava que ele percebesse isso. Rony ainda fez uma ou duas tentativas de puxar assunto, mas Harry não se manifestou. O garoto ruivo então deixou o que fazia e parou bem diante de Harry.

Estou falando com você, Harry...

— Sei disso... — Harry se desviou do amigo e foi colocar a gaiola de Edwiges em cima da mesinha , no canto do quarto. Rony agora olhava para Harry com uma expressão azeda.

— Não está me ajudando, Harry. Quero conversar com você mas não vou conseguir se continuar fazendo isso...

— Só estou guardando as minhas coisas. — Seco, Harry continuava de costas para o amigo. Sabia que Rony estava sem coragem para ir direto ao assunto, mas não pretendia facilitar as coisas para ele.

— Sabe, Harry, eu acho que sei o que você está pensando, mas não queria que achasse que eu não ligo pra nossa amizade. Você é como um irmão para mim, e eu nem sei... sabe, foi tudo muito rápido, nem deu tempo ....

Harry quase sentiu pena do amigo ao vê-lo gaguejar, absolutamente sem graça. Mas depois pensou que Rony poderia ter escrito para ele, se quisesse realmente que o amigo participasse da sua vida .

— Pensei que eu fosse o seu melhor amigo, pensei que confiasse em mim... se eu fosse mesmo como seu irmão, teria me mandado uma coruja contando o que aconteceu entre você e Mione. — Encarou Rony, que ficou vermelho como uma romã madura.

— Sinto muito, Harry, mas eu fiquei... acho que fiquei com vergonha de você... — Rony sentou na cama, e tinha uma expressão tão abatida que Harry sentiu pena dele e foi se sentar ao seu lado.

— Tudo bem, Rony... eu só fiquei chateado por que me senti excluído da vida de vocês. Parecia que eu não tinha mais nenhuma importância, entende?

Rony sorriu e abraçou o amigo. — Ora, você devia saber que nada pode afetar a nossa amizade, Harry. Vamos ser como irmãos para sempre... Me desculpe, prometo que se algo importante acontecer na minha vida de agora em diante você vai ser o primeiro a saber, Ok?

Harry retribuiu sorridente o abraço do amigo, e quando ia perguntar mais sobre ele e Mione a porta se abriu bruscamente e entraram Simas, Neville, Mione e Ginny. A caçula Weasley olhou para Harry e sorriu, maliciosa.

— Tenho um recado pra você, Harry... uma pessoa me pediu pra avisar que quer se encontrar com você amanhã.... — Harry corou , mas o sorrisinho idiota nos seus lábios não deixava dúvidas de que ele sabia muito bem quem mandara o recado, e que adorara. Os garotos começaram a fazer piadinhas e a brincar com ele, Rony despenteou os já desalinhados cabelos de Harry e assim, entre risadas e brincadeiras, ficaram acordados até tarde da noite.

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