Amor



Em volta dele formara-se um grupo barulhento, e Harry pôde ver Tonks, Olho-Tonto, Hermione, Charlie, Bill e Hagrid, que o puxava para si, apertando-o entre os gigantescos braços. Os que haviam ido buscá-lo também se espremiam em
torno dele. Harry sorria , tentando ouvir o que eles diziam, todos ao mesmo tempo, e só nesse momento percebeu que Dumbledore também se encontrava ali. Levantava-se da mesa , onde estivera conversando com Kingsley Shacklebold. Os dois se aproximaram, e de repente Harry voltou a se sentir mal. A visão de Dumbledore naquela cozinha, naquela casa trouxe todo o sofrimento de volta. Sentiu que empalidecia enquanto olhava para o velho bruxo, e notou, pelo silencio repentino, que todos percebiam o que se passava com ele.

— Harry, é muito bom ver você...— Dumbledore falava no seu habitual tom suave, e sorria para o garoto, que o fitava sério. — Sente-se , precisamos conversar um pouco. Molly já deve estar com o jantar quase pronto , apesar do pequeno contratempo que tivemos aqui....

Ele olhou para os gêmeos, que mais do que depressa começaram a subir as coisas de Harry para o quarto, sob o olhar furioso do Sr. e da Sra. Weasley.

Harry sentou-se, e só então percebeu que havia mais alguém ali que ele ainda não tinha notado. Seu olhar gelou quando viu Snape em meio as sombras, olhando-o com desdém. Ao lado deste, Harry viu uma mulher desconhecida, que também o fitava, curiosa.

— Harry, essa é a Srta. Penny Birner, ela é responsável pelo espólio de Sirius. Sabe como é, ele tinha alguns bens e tinha designado em vida o destino desses bens, caso... bem... — Interrompeu-se e fitou Harry, que o olhava sem expressar nenhuma emoção. O garoto não abriu a boca, limitou-se a esperar que Dumbledore continuasse. Harry ouviu um leve pigarro, e assustou-se quando notou que todos os outros tinham-se sentado à mesa , tão silenciosamente que ele nem notara. Voltou os olhos para Dumbledore, de relance notando que Snape ainda mantinha os olhos fixos nele, com a mesma expressão desdenhosa estampada no olhar.

— Trata-se na verdade da leitura de um testamento, Harry. Isso é uma cerimônia oficial. — Calou-se, parecia esperar que o garoto dissesse algo.

— Continue. — A voz do garoto, inexpressiva, fez com que as pessoas se entreolhassem. Dumbledore, que não parecia estar percebendo a atitude visivelmente hostil de Harry, prosseguiu. — Agora que todos aqui estamos cientes do que está acontecendo, vou passar a palavra a Penny. — Disse e sorriu, apontando na direção da bruxa, que sorriu em resposta e inclinou a cabeça , num claro sinal de respeito a Dumbledore. Ela se ergueu e abriu uma pasta de pergaminho lacrada com magia, retirou de lá algumas folhas e , pigarreando para limpar a garganta, começou a falar , sua voz clara ecoando pela cozinha.

— Eu, Penny Birner, tabeliã designada pelo Departamento de Propriedade de Bens Móveis e Imóveis do Ministério da Magia para tratar da partilha do Espólio de Sirius Black , morto em 15 de Junho passado, dou início aos trabalhos.
Presentes à seção , os senhores Albus Dumbledore, o Prof. Severus Snape, o Prof. Remus J. Lupin , Kingsley Shacklebold, os Aurores Alastor Moody e Nymphadora Tonks, Arthur Weasley , Molly Weasley , o Prof. Rubeus Hagrid , Charles Weasley, William Weasley e Harry James Potter.

Ela fez uma pausa e Harry notou que uma pena mágica anotava cada palavra da Srta. Penny.

— Darei início agora à leitura do testamento.

Eu, Sirius Black, em plena posse de todas as minhas faculdades mentais, por meio desta distribuo meus bens da seguinte forma:

Minha motocicleta voadora deixo para Rubeus Hagrid;

A casa de minha família, localizada no largo Grimmauld n. 12 , assim como tudo o que há dentro dela, incluindo o elfo doméstico Kreacher, deixo para Harry James Potter, com a ressalva de que o Prof. Remus Lupin , desse momento em diante nomeado tutor de Harry James Potter em meu lugar, viva na casa ao menos até que o citado Harry atinja a maioridade;

Os setenta e nove mil galeões, seiscentos e quinze sicles e trinta e sete nuques que tenho no meu cofre no Banco Gringotes devem ser assim distribuídos :

Vinte e cinco mil galeões para minha prima Molly Weasley e seu esposo, Arthur Weasley;

Vinte e cinco mil galeões para o Prof. Remus Lupin;

Dez mil galeões para Harry James Potter;

O restante, dezenove mil galeões, seiscentos e quinze sicles e trinta e sete nuques, deixo para ser usado pela Ordem da Fênix, devendo esse dinheiro ser administrado por Albus Dumbledore , ou por outra pessoa designada pelo citado Dumbledore.

Sem mais , encerro aqui esse testamento.

A Srta. Penny fez circular o testamento para que todos pudessem ver as assinaturas de Sirius e das testemunhas, Minerva McGonagall e Alastor Moody .

Em seguida, apanhou a folha onde a pena mágica estivera escrevendo e pediu que todos os presentes a lessem e assinassem. Harry, de cabeça baixa, ainda não conseguia deixar de ouvir as palavras martelando em sua cabeça. Sirius lhe deixara a casa, a odiosa casa dos Black, com tudo de mau que havia dentro dela, inclusive Kreacher! Isso mais parecia uma brincadeira de mau gosto. Lupin, que estava ao seu lado, parecia muito tranqüilo. Acabou de ler a folha, assinou e passou-a para Harry . O garoto pegou o papel , olhou para ele por alguns instantes e depois ergueu os olhos para a tabeliã. Notou que todos o olhavam, mas não se importou.

— Srta. Penny , eu creio que... bem, não concordo com isso, não desejo essa casa, não quero assinar isso... — Tentou sem sucesso fazer a voz soar firme. Notou que os lábios de Severus Snape se contraíram num sorriso escarninho e desdenhoso. Sentiu uma vontade furiosa de berrar com ele, mas antes que pudesse abrir a boca ouviu a voz da tabeliã.

— Sr. Potter, lamento, mas nada há que se possa fazer em relação a isso. Sua assinatura é, na verdade, dispensável, visto que é menor de idade. A assinatura de seu tutor, Remus J. Lupin , é a que tem valor legal. — Ela sorriu , encerrando o assunto, e começou a recolher os documentos. Harry continuou parado como uma estátua, sentindo que tinha feito papel de idiota diante de todos , diante do odioso Snape. De repente, começou um grande rebuliço, barulho de cadeiras se arrastando, todos falando ao mesmo tempo, e Harry percebeu que estavam tentando salvá-lo da situação embaraçosa. A Sra. Weasley começou a dizer que ele deveria subir para lavar as mãos antes do jantar e preparar-se para uma surpresa, enquanto , distraída , apertava a mão da tabeliã que se despedia. Parecia que de repente todos estavam muito ocupados ajudando na cozinha, e Harry se levantou para obedecer a ordem da mãe de Rony. Quando já deixava a cozinha, sentiu o peso de uma mão em seu ombro. Voltou-se e viu Lupin, seguido de perto por Dumbledore. — Harry, quero falar um minuto com você antes do jantar. Podemos ir para a sala, não tem ninguém lá. — Harry concordou com um aceno de cabeça. Talvez pelo tom de voz de Lupin, suave e preocupado, talvez pelo olhar bondoso de Dumbledore, ele sentiu que começava a se formar um bolo doloroso em sua garganta e uma dor fininha por todo o seu peito. Conseguiu se conter até chegarem à sala , mas ao som da porta se fechando por trás deles, se jogou no sofá e explodiu num choro amargo e desesperado, choro contido desde a morte de Sirius, desde a morte de Cedric, desde a morte dos pais. Dumbledore e Lupin, ao seu lado, deixaram simplesmente que ele extravasasse a mágoa e a dor acumuladas, em respeitoso silêncio.

Somente quando a torrente de soluços se acalmou foi que Dumbledore falou ao garoto. Começou mansamente pelo dia em que Sirius morrera, mas embora falasse sobre os fatos como eles ocorreram, pareceu a Harry que os via agora por um prisma diferente. Voldemort era o rei da trapaça, da ilusão, o bruxo das trevas mais poderoso que se tinha notícia nos tempos modernos. Ele foi capaz de pensar em todos os detalhes, de usar o amor de Harry por Sirius, de usar o confuso Kreacher, que, magoado, traíra Black. Quando Harry replicou que tudo poderia ter acabado de forma diferente se ele tivesse estudado Oclumência, Lupin sorriu .

— Ele tem poderes tremendos, Harry, e pode muito bem ter sido pelo uso desses poderes que você não conseguiu se empenhar . Ele não desejava que você se protegesse dele, e tinha poderes suficientes para induzir você a relaxar com os exercícios...

— E nesse ponto, Harry, ele ainda pôde contar com a minha falha. Eu quis proteger você e por causa disso deixei de lhe dizer coisas de vital importância, cujo conhecimento teria estimulado você a se proteger dele... como vê, é praticamente impossível fazer tudo certo durante todo o tempo. Se eu falhei, imagine você, vivendo todo aquele tumulto na escola...

O garoto olhou para Lupin e dele para Dumbledore.

— Pode ser.... tinha tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo... A Profª. Umbridge dirigindo Hogwarts como uma nazista, Hagrid sendo perseguido, Dumbledore foragido, gigantes, centauros em guerra...— Se arrependeu de ter falado no mesmo instante, mas pelo sorriso de Dumbledore , viu que ele já sabia de tudo.

— Já que mencionou, Harry, quero que saiba que tudo está de volta aos seus devidos lugares em Hogwarts... Grope foi levado para um lugar mais seguro, os centauros se acalmaram, e Umbridge... bem, não tivemos mais notícias dela, o que pode significar que estivesse sob o comando de Voldemort. Fudge está em maus lençóis, embora ninguém acredite que ele soubesse sobre Umbridge e Voldemort. No entanto, todos nós ficamos assustados com o desvairio dele, e agora, ele tem menos poderes do que antes. O Ministro não pode mais tomar nenhuma atitude sem o respaldo do Conselho , e esse tem que obter aprovação
do Comitê Popular, que representa todos nós, bruxos, dentro do Ministério. — Piscou para Harry — Aconteceram muitas outras coisas, mas creio que não posso mais dizer nada, ou algumas pessoas lá fora ficariam frustradas. Portanto, sugiro que deixemos o resto para depois do jantar. Que lhe parece?

Harry assentiu e se levantou, seguindo com eles em direção à porta, mas antes que chegassem lá Lupin o segurou pelo braço.

— Sabe , Harry, acho importante que você saiba o que Sirius pretendeu ao lhe deixar essa casa. Ele amava você como um filho, era assim que o via. E embora ele odiasse esse lugar, tudo aqui era parte do passado dele. Aqui ele nasceu, cresceu , e embora você ache que não , há mais de Sirius nessa casa do que você poderia compreender agora. Use-a, Harry, como ele a teria usado. Como novo proprietário, renove a autorização para seu uso pela Ordem, faça dela um instrumento para a vitória contra Voldemort. É o que ele esperava que você fizesse, pode estar certo disso.

— Sim, mas o elfo... não quero vê-lo, não o quero por perto...

— Não se preocupe com Kreacher, Harry. Remus e eu estamos decidindo o que fazer com ele, você não o verá mais aqui. — Dumbledore abriu a porta. — Que cheiro delicioso... sentem? Hummm...... Melhor nos apressarmos, não acham? —

Seguiu na frente em direção à cozinha, onde os outros, já sentados em seus lugares, pareciam esperar apenas por eles para começar a comer. Os olhos de Harry estavam visivelmente vermelhos, e embora todos fingissem que não tinham percebido, mantiveram um silencio anormal até que ele, tomando seu lugar entre Rony e Hermione, começou a conversar alegremente com os amigos e com Hagrid, que estava à sua frente. Foi como se num passe de mágica a atmosfera se desanuviasse. Em instantes já se ouvia o vozerio de todos (Snape apenas comia, em silencio) tentando falar ao mesmo tempo, o tinir de talheres nos pratos, risadas alegres e a voz da Sra. Weasley ralhando com os filhos.

Assim que terminou o jantar, Dumbledore pediu que todos permanecessem em seus lugares. Esperou que a louça fosse recolhida por Molly, ajudada por Lupin e Charlie, e então pediu a tenção de todos.

— O que vou falar agora já é do conhecimento de quase todos aqui, mas é bom que seja anunciado assim, diante dos principais membros da Ordem, por que trata-se de algo importante. Como sabem, a Ordem da Fênix existe para tentar conter os avanços de Voldemort ( houve um tremor generalizado à pronuncia do nome) e de seus Comensais. Com os últimos acontecimentos , nossa luta tomou uma nova direção. Agora, com o Ministério da Magia trabalhando a nosso favor, teremos uma atuação mais consistente e produtiva. No entanto, tanto os adversários quanto os simpatizantes de Voldemort terão aumentado em quantidade, o que nos obriga a ampliar o nosso campo de atuação. Então, decidimos permitir que o grupo criado em Hogwarts, a Armada de Dumbledore, passe a fazer parte da Ordem executando pequenas mas importantes tarefas , especialmente dentro da escola. Fred e George Weasley, que estarão de volta à escola esse ano para complementar sua formação, também estão incluídos no grupo. Esse grupo será supervisionado, ou melhor, prestará contas de seus atos aos professores de Defesa Contra as Artes da Trevas, Transfiguração e Poções, respectivamente Remus J. Lupin/ Severus Snape, Minerva McGonagall e ... Severus Snape.

Dumbledore sorriu, observando o ar de espanto nos rostos das crianças Weasley, de Hermione e de Harry. Rony quebrou o silencio com um grito de vitória, seguido das manifestações de todos os outros que dispararam a falar, cada um mais alto que o outro para se fazer ouvir, causando uma enorme confusão na mesa. Os adultos sorriam , benevolentes, mas de repente a voz fria e cortante de Snape se fez ouvir em meio ao tumulto.

— Silêncio! Se vão começar a se comportar como idiotas, talvez seja melhor reconsiderar essa decisão!

— Ora, Snape, eles estão só comemorando...— Começou a dizer Lupin, mas Snape fez um gesto pedindo que ele o deixasse continuar.

— Sei que eles não tem noção da disciplina necessária para se obter algum resultado, mas não vou discutir isso novamente. Fui contra desde o início e minha opinião não mudou. Contudo, a maioria decidiu, eu acato .Apenas gostaria de reafirmar que seria uma temeridade permitir que Longbotton faça parte desse grupo, que com certeza já nos dará trabalho bastante sem aquele formidável paspalho.

Harry sentiu a indignação inflar seu peito. Quando viu já estava de pé diante de Snape, curvado sobre a mesa, com o rosto próximo do dele, sem sequer notar que Rony e Hermione também tinham-se levantado. — Aquele formidável paspalho enfrentou um bando de Comensais da Morte dentro do Ministério da Magia, e se saiu muito bem. Ele e mais alguns dos tolos desmiolados da Armada. E você, que é tão poderoso e eficiente, onde estava naquele dia? Escondido , seguro entre as paredes de seus aposentos em Hogwarts? Diga, era lá que você estava?

Harry espumava de raiva, sentia que poderia matar Snape com as próprias mãos, ainda mais agora que o Prof. o fitava com um levíssimo e desdenhoso sorriso.

—Potter, já lhe disse antes, para você serei sempre professor, senhor...
Não volte a me tratar sem o devido respeito, estou avisando. E, além disso... — sorriu amplamente, mantendo a voz no mesmo tom calmo e frio — não lhe devo contas dos meus atos. Procure se controlar , se pretende vir a ter alguma utilidade para a Ordem.

Harry estava pronto a replicar quando a voz de Dumbledore soou calma, porém firmemente.— Agora já chega. Harry, você deve respeito a Snape como seu professor, não se esqueça disso. E, Severus, Longbotton fica, está decidido. Agora que já tratamos desse assunto, creio que poderemos dar início à primeira reunião da Ordem com a participação dos novos membros que se encontram presentes. — Deu uma piscadela para os garotos, que se entreolharam maravilhados.

Em silêncio, os novos membros ouviram os relatórios de Tonks, Lupin, Shackebolt, Snape, Moody e Hagrid . Harry entendeu que viviam um momento de calmaria na luta. Voldemort parecia ter desaparecido de circulação, o que era de se esperar uma vez que ele e seus seguidores agora eram vorazmente perseguidos . Naturalmente, não se sabia nada sobre Bellatrix Lestrange nem Petter Petigrew. Os Comensais capturados no Ministério da Magia continuavam em Azkaban, agora não mais vigiados pelos dementadores. Uma poderosa combinação de feitiços de vários bruxos cercava a prisão, impedindo os presos de escapar. E apenas isso. Dumbledore então declarou encerrada a reunião, mas pediu que todos continuassem em seus lugares . Fez um sinal para que a Sra. Weasley tomasse a palavra, e ela, olhando diretamente para Harry, contou que Cornelius Fudge havia publicado um documento oficial onde não só inocentava Sirius Black das acusações que o levaram a passar doze anos em Azkaban como lhe conferia postumamente a Ordem de Merlin, Primeira Classe , por sua atuação na luta contra Voldemort e seus Comensais.

A voz da Sra. Weasley estava trêmula, todos pareciam emocionados. Lutando para conter as lágrimas, Harry notou que Lupin parecia fitar um ponto inexistente no espaço, com os olhos brilhantes e a respiração alterada. Foi Snape, único que se mantinha impassível, quem quebrou o clima de dor e saudade, dizendo que Hagrid também se livrara das acusações contra ele e poderia reassumir seu posto de professor de Trato das Criaturas Mágicas. A parte final da frase foi acompanhada por um breve sorriso desdenhoso, mas só Harry pareceu notar.

— E para completar, temos ainda o fato de Lupin ter sido readmitido sem reservas ao seu cargo de professor em Hogwarts, para alegria dos alunos — Dumbledore sorriu — e minha. Bem, é hora de ir. — Levantou-se, sendo seguido de imediato pelos que se encontravam sentados. Para Harry tinha sido uma ótima noite, cheia de maravilhosas novidades, apesar da presença odiosa de Snape , que se afastava com o grupo em direção à porta. De onde estava, Harry o ouvia conversando com Lupin.

— Por que não aproveita o dia em que for levar Potter para comprar seu material e faz uma visita a Madame Malkins ? — Sorria e mirava Lupin de alto a baixo — Aliás, parece-me que você já deveria ter feito isso há tempos....

— Que surpreendente... não imaginava que você reparasse em mim ou nas minhas roupas...— Lupin fitava o professor de Poções , sério.

— Não preciso reparar...seu aspecto lamentável salta aos olhos. — Snape encarou o olhar de Lupin.

— Verdade? — Fingindo-se surpreso, Lupin examinava agora as próprias roupas surradas, cheias de remendos. Ergueu o rosto e voltou a fixar o olhar em Snape. — Uma sorte ter você por perto para me alertar para esse pequeno detalhe... É, talvez eu vá mesmo visitar Madame Malkins...

— Faça isso. Uma vez que voltaremos a ser colegas de trabalho, e seu querido amigo livrou você de eventuais problemas financeiros... — Snape ergueu as sobrancelhas, depois se virou e saiu, e Harry reparou que tinha um leve sorriso nos lábios. Lupin se limitou a segui-lo com o olhar, depois foi se juntar aos outros .

—Parabéns, Ginny. Você deve estar muito feliz... — Harry se espreguiçou, cansado.

Estavam todos acomodados sobre as duas camas existentes no quarto , o mesmo que ocuparam da outra vez. Ginny sacudiu os ombros, indiferente. — Sei lá...se fosse a primeira , ou segunda da família, mas agora isso parece tão banal... só mamãe ainda morre de entusiasmo cada vez que um de nós é escolhido monitor...

Harry riu, lembrando de como se sentira mal quando Rony, e não ele, fôra escolhido monitor da Grifinória. Isso parecia ter acontecido há tanto tempo, e no entanto fora há apenas um ano atrás. Hermione terminava de colocar na mochila os seus pertences, tudo organizado de uma forma que para Rony e Harry beirava o maníaco. Sem as vestes da escola, parecia mais alta, cheia de corpo, e Harry percebeu que Rony a olhava disfarçadamente o tempo todo. O próprio amigo parecia maior , mais corpulento, e Harry se perguntou se também pareceria diferente.

— Mamãe deve estar achando uma pena que você seja a última de nós , Ginny... não haverá mais monitores na família. — Rony riu , pulando em seguida da cama para ajudar Hermione a carregar a mochila . Harry seguiu-os com o olhar enquanto deixavam o quarto, rindo. De repente, viu que Ginny estava olhando fixamente para ele. Ela sorriu. — Acho que alguma coisa mudou entre esses dois desde que Mione chegou. Estão diferentes, sempre juntos.... — Continuava olhando para Harry, que sentiu um pequeno desconforto pela confirmação das suas suspeitas. Rony e Mione? Parecia tão estranho, era como se de repente ele corresse o risco de perder os dois. Viu que Ginny o olhava ainda, e para disfarçar, mudou de assunto.

— Ainda não consigo acreditar que Hagrid vai se casar....

— Parece estranho mesmo, não? Eu acho que nunca tinha pensado em Hagrid como homem, para mim ele era só Hagrid...— Ginny riu e os dois começaram a relembrar as maluquices do amigo. Mais tarde, Fred e George vieram se juntar a eles, e ficaram conversando e rindo até a hora em que a Sra. Weasley entrou no quarto e mandou que todos fossem dormir. Rony só voltou quando Harry já estava deitado. Conversaram um pouco mais sobre as novidades, sobre a vassoura que Rony ia ganhar (a antiga ia ser passada para Ginny), sobre a compra do material deles no dia seguinte, mas o assunto que realmente interessava a Harry não foi mencionado. Rony nem tocou no nome de Hermione, e Harry não teve coragem de perguntar nada ao amigo.

No dia seguinte, enquanto percorriam as lojas do beco diagonal, Harry pode realmente sentir a mudança ocorrida em Hermione e Rony. Os dois estavam sempre juntos, ligeiramente afastados dos outros, e embora não se tocassem , era visível o clima que os envolvia. Da porta da loja de caldeirões, Harry os viu passar rindo um para o outro, sem sequer notar sua presença. Ficou olhando-os até que a voz de Tonks ecoou ao seu lado, quase fazendo-o pular. - Formam um lindo casal, não Harry? - Ela seguia Mione e Rony com o olhar, um sorriso sonhador nos lábios. Harry não respondeu, viu Lupin se aproximando e sabia que Tonks voltaria toda a sua atenção para ele. Era claro que ela estava interessada no professor, todos já tinham percebido, assim como notavam as brincadeiras dele com ela, e o tom de intimidade entre os dois. Mas Harry tinha a impressão de que Lupin não se interessava pela moça da mesma forma que ela por ele. Talvez pelo ar distante dele, talvez pela sombra triste em seu olhar que podia ser vista quase o tempo todo, Harry sentia que Tonks não conseguira conquistar o coração do professor.

Ainda pensava nisso dias depois, viajando no expresso que os levava a todos de volta a Hogwarts. Sentia um certo alívio por Lupin não corresponder aos sentimentos de Tonks, pois descobrira que as pessoas se afastavam de tudo quando se apaixonavam. Sabia que era um tanto egoísta por pensar assim, mas com a morte de Sirius, sentia-se abandonado. Até Hagrid estava diferente. Harry trazia no colo o pacote que o amigo lhe mandara na casa dos Dursley, contendo o comunicado do casamento e fotos, muitas, do grandalhão e sua noiva, a francesa Olímpia Maxime. Mas o pior, pensou Harry com um aperto no peito, eram Rony e Hermione , tão encantados um com o outro que não enxergavam mais nada.

Harry percebeu que Ginny, que viajava ao seu lado, olhava-o pelo canto do olho.

Virou a cabeça de lado e fechou os olhos, fingindo que dormia . Não os abriu quando Neville entrou no trem , nem quando Mione e Rony, monitores, finalmente resolveram vir dar um alô. Só quando chegaram ele fingiu despertar. Encontrou o olhar de Ginny, que sorriu . - Você pegou mesmo no sono.... - È... - Harry respondeu, seco , e levantou-se para apanhar sua bagagem.

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