Letum Villa I



Capitulo 10: Lettum Villa


Parte I Medo do escuro

“Você alguma vez já esteve sozinho à noite Pensou que ouviu passos atrás de você E virou de costas e não havia ninguém lá? E à medida que você acelera seu passo Você acha difícil olhar novamente Porque você tem certeza de que alguém está ali? Medo do escuro, medo do escuro Eu tenho medo constante de que algo está sempre perto Medo do escuro, medo do escuro Eu tenho uma fobia de que alguém está ali” Fear of the Dark, Iron Maiden Todos na sala estavam quietos, tentando absorver o que Christopher havia falado. Ninguém se atreveu a quebrar aquele silêncio; tinham medo de falar algo errado na hora errada. Lilly lançava olhares nervosos a Christopher, esperando que ele falasse algo, porém continuava mudo, olhando distraidamente para a janela. Hermione, não agüentando mais aquela tensão, foi até a porta e certificou-se que estavam sozinhos. -É impossível. – disse, tão baixo que parecia um sussurro – Essa cidade... Não existe. É lenda. Christopher desviou seu olhar da janela e olhou para Hermione, como se esta tivesse dito a coisa mais sem sentido do mundo. Ron olhava dos dois para Lilly e Harry, sentindo suas mãos tremerem. Fred e George haviam contado a história como lenda, e achava que eles estavam apenas brincando quando disseram que era verdadeira... Engoliu o seco, sentindo um nó em sua garganta. -Ela... Existe? – perguntou Ron a Christopher, sua voz trêmula. -Da onde você acha que vêem os dementadores e os bichos papões? – disse Christopher, passando a mão pelo cabelo de forma nervosa. Ron engoliu o seco novamente. -Impossível... - murmurava Hermione repetidamente. Harry rolou os olhos, irritando com a descrença de Hermione. -Hermione, abra os olhos! – disse Harry, a segurando pelos ombros – A cidade existe, não é apenas um conto para assustar as pessoas! Christopher assentiu com a cabeça e começou a andar de um lado para o outro na sala. Lilly o acompanhava com o olhar, ainda não acreditando no que estava acontecendo. Quem seria o garoto que havia aparecido em seu quarto? -O que faremos? – disse Hermione, soltando-se das mãos de Harry. Todos olharam involuntariamente para Christopher, que parou de andar abruptamente e encarou Lilly, repensando se confiava no que ela havia dito ou não. Finalmente pareceu tomar uma decisão e suspirou, e olhou para Hermione, disposto a responder sua pergunta. -Iremos para lá, não? Ron pareceu que ia desmaiar, porém Harry o segurou antes que esse caísse duro no chão. -Como? – exclamou Lilly - Não sabemos onde fica! Hermione ergueu uma sobrancelha, e novamente se dirigiu para Christopher: -Você sabe, não é mesmo? – Christopher acenou de forma afirmativa – Então... Mostre-nos o caminho. ~~*~~ Certificando-se que os adultos estavam muito entretidos nas preparações do jantar de Natal, Ron disse à sua mãe que iriam dar uma volta no parque, para ajudar Fred e George a procurarem Kate. Molly desconfiou quando Ron apresentava tiques nervosos e sua face estava lívida, porém deixou eles saírem. Pegaram suas varinhas, capas e casacos e saíram da casa, tomando cuidado para não serem vistos pelos gêmeos. Pegaram o nôitibus andante, sem dando muitas especificações da onde iriam e de quem eram. Harry percebeu que Stan Shunpike não estava ali; em seu lugar, estava um outro rapaz de aparência bem jovem, só que estava dormindo, com o boné cobrindo seu rosto, e ocasionalmente roncava. -É bem longe, no meio de uma floresta... – sussurrou Christopher a Lilly, que não se inquietava. – Acho que estamos nos aproximando. Uns instantes depois, o ônibus freou, lançando quase todos os passageiros para frente. O rapaz que estava no lugar de Shunpike acordou, em um susto, e caiu de seu banco, dando de cara com o vidro. “Eu preciso me acostumar com isso...”, pensou Harry de forma irônica, ainda se segurando na parede para não cair. -Bem, chegamos à... – disse o condutor, olhando para a janela, não sabendo onde estava. Coçou a cabeça, confuso, e olhou para Ernesto, porém este também não sabia onde estava – Seja lá o que for esse lugar. Lilly saltou do ônibus, sentindo uma estranha sensação gélida invadir seu corpo. Uma névoa se alongava aos pés deles, saindo da floresta, com o ar que os convidasse para dentro. As arvores eram esquisitas e tinham formatos bizarros; eram altas e densas, cheias de folhas, de modo que as copas impossibilitavam qualquer visibilidade do céu. Apesar de ser quatro horas da tarde, a floresta era tão fechada que parecia estar noite lá dentro. Esquisitos barulhos viam de lá, muitas vezes similares a passos e vozes humanas. -Tem certeza que estamos no lugar certo? – perguntou Ron, a voz mais trêmula e aguda do que nunca, a cor desaparecendo pouco a pouco de seu rosto. Os cinco ficaram parados diante a entrada da floresta, e o nôitibus andante saiu com uma arrancada, saindo dali rapidamente. Christopher deu um passo adentro, e logo Lilly o seguiu, junto com Hermione e Harry. Ron continuou parado, refletindo se ia ou não. Resolveu que não seria bom ficar ali sozinho, e partiu disparado ao encontro de seus amigos. Caminharam durante o que pareceu ser horas, e como tudo era fechado e escuro, pareciam que já haviam passado no mesmo lugar várias vezes. De vez em quando, ouviam algum galho quebrar ou algum barulho de passos no chão, porém se acalmavam e continuavam seguindo em frente. -Você tem certeza que sabe onde é? – perguntou Hermione, quando começou a achar que já havia passado por ali. -A pergunta é: como você sabe aonde é? – perguntou Harry. Christopher ficou um tempo em silêncio, refletindo se respondia ou não. No final, deu de ombros, e respondeu a verdade, sabendo que ela desencadearia mais perguntas ainda. -Ela sonhou com o lugar. – disse Christopher – E no sonho dela, eu vi por onde ela foi. Harry, Ron e Hermione se entreolharam. -E como você sabe o que ela sonhou? – perguntou Hermione – E como você sabe que não era apenas... Um sonho? -Uma vez que sua irmã acorda berrando no meio da noite, você sabe que não é apenas um sonho, e nem um pesadelo. – respondeu Christopher, e ficou quieto, ignorando o resto das perguntas deles. Percebendo que Christopher não ia responder mais nada, Hermione e Harry desistiram das perguntas e ficaram em silêncio. Caminharam mais ainda, e perceberam que as copas estavam ficando cada vez mais altas e mais densas, como se estivessem se fechando sobre eles. Estavam cada vez mais se aproximando das entranhas da floresta; no coração desta. -Podemos dar uma pausa? – disse Lilly, sentando-se num tronco caído – Meus pés estão me matando... Todos assentiram e se sentaram no chão, exceto por Christopher que continuou em pé, recostado a uma arvore. Ron sentou-se do lado de Lilly, no tronco caído. Avistou uma flor colorida, estranha por estar ali no meio de toda aquela escuridão. Tinha as pétalas em cores vivas, como em vermelho e o seu centro era laranja e amarelo. Mesmo achando esquisito, Ron sentiu-se atraído por aquilo, e esticou seu dedo, a ponto de tocá-la. Hermione viu e tentou impedi-lo, mas já era tarde demais e o garoto já havia tocado na flor, que se abriu mais ainda e liberou uma estranha nuvem de fumaça roxa. -Droga, Ron! – disse Hermione – É venenosa! Começaram a se sentir fracos, suas pernas não conseguindo mais agüentar o peso do corpo. Harry tombou para frente, e Hermione caiu no chão, lutando para manter a consciência. Lilly não agüentou e fechou os olhos, derreando a cabeça e deixando seus braços caírem no chão de aparência mole; desmaiada. -O que ela faz...? – perguntou Ron, sentindo-se tonto e vendo tudo girando ao seu redor. -Sonolência. – respondeu Christopher – Acalme-se, não é letal. Ron antes de fechar seus olhos completamente, pode ver Christopher ainda em pé, parecendo estar imune a tudo aquilo. Estranhou, não entendendo porque ele não estava caído no chão. Logo, sua visão começou a ficar enevoada e escura, e foi perdendo a linha de seu pensamento pouco a pouco, até que tudo se tornou escuro. Christopher ficou parado onde estava, observando os quatro caírem em um sono profundo sem fazer nada. É claro, o veneno lhe afetou um pouco, o suficiente para uma momentânea tontura e fraqueza, mas já havia passado. Sem ter o que fazer, suspirou fundo e sentou-se no chão, esperando o efeito do veneno passar. Um tempo se seguiu e eles continuaram imóveis, sem nenhuma reação ou aparência de o efeito estar passando. Olhou para seu relógio, já haviam se passado duas horas desde que a flor havia lançado o veneno. Christopher se sentia agoniado. Pela milésima vez, desejava que pudesse dormir. Mas ele ficou de olhos abertos, observando o céu acima, através de alguns galhos que abriam espaço para cima entre as copas cheias. Estava bem escuro, e as nuvens cobriam todas as estrelas. Ele conseguia ouvir barulho de água correndo em algum lugar bem distante, e também ouvia passos, mas presumia que era de animais. Ele olhou para o lado e viu Lilly, de olhos fechados, provavelmente ainda sobre o efeito do veneno, que tardaria a acordar. Como desejaria saber o que estava sonhando... Mas não invadiria a privacidade de sua mente. Observou-a, enquanto esta respirava calmamente. Ela não acreditava nele sobre Michael. E receava que este pudesse machucá-la. Ela se revirou, mas não acordou. O ventou brincava com seu cabelo, que esvoaçava para frente de seu rosto. Estava com uma expressão pacifica, calma. Sua mão estava esticada, praticamente próxima da dele... Ele imediatamente desejou esticar a sua mão e segurar a dela, para sentir sua pele macia e quente, em contraste com a sua fria... Ele esqueceu completamente quem era e porque ele não se aproximava dela... Parecia burrice em sua mente não se aproximar dela naquela hora... Sentiu vontade de sentir o toque dela, do calor dela, sentiu vontade de sentir o beijo dela... ...sentir o gosto do sangue dela... Christopher se levantou de um pulo. Quase havia perdido seu controle. Sentia seu corpo inteiro tremer, e foi dar uma caminhada. Tudo para se afastar dela. ~~*~~ Lilly acordou subitamente. Não se lembrava nada de seu sonho, mas seja o que ela tinha sonhado, com certeza fora um pesadelo. Seu corpo estava tremendo e uma onda de frio a invadia. Respirou fundo e tentou se acalmar, sentindo seu coração voltar lentamente ao normal. Esfregou os olhos com as mãos para poder tentar esquecer o que acontecera, e se levantou para esticar as pernas. Recostou-se sobre o tronco e viu Harry, Ron e Hermione caídos no chão, ainda dormindo. O efeito do veneno neles passaria daqui a pouco. Olhou ao redor e reparou que Christopher não estava ali. Deu de ombros e fechou os olhos, esperando que seus amigos acordassem. Crack. Levantou-se de varinha erguida, pronta para defender-se ou atacar. Sentiu seu coração acelerar, junto com a sua respiração que se tornou rápida. Surpresa com o reflexo rápido, Lilly observou o lugar ao redor, vendo se tinha alguém ali. Talvez, seria Christopher voltando... Ou não. Lilly continuou ouvindo passos vindo de uma área próxima, e resolveu investigar. Caminhou na direção do som, ouvindo seu coração bater loucamente contra seu peito. Segurava a varinha firmemente, vendo seus nós dos dedos tornarem-se brancos de tanta força. Chegou até uma clareira, onde poderia ser ver o céu claramente. Não havia estrela alguma, pois as nuvens cobriam tudo, não deixando nenhum espaço em aberto. Lilly escondeu-se atrás de uma arvore quando viu que tinha alguém ali, sentado no chão e observando o céu acima. -Hoje é dia de eclipse... – murmurou, parecendo preocupado. Lilly franziu o cenho e acabou pisando em um galho seco no chão. O garoto virou-se para Lilly e sua expressão de preocupação mudou-se, e sorriu para a garota. Lilly o reconheceu: era o mesmo que tinha estado em seu quarto em Grimmauld Place. -Sabe, falar sozinho é indicio de uma pessoa louca. – disse Lilly de forma sarcástica. O garoto riu e levantou-se, caminhando em direção de Lilly. -Parabéns, você veio. – disse, e encostou uma palma na mão da outra, como se batesse palmas. -Está bem, mas agora me diga quem é você, por que e o que está fazendo aqui – disse Lilly – E onde fica essa Letum sei lá o que... Ele sorriu enigmaticamente novamente, e respirou fundo antes de responder as perguntas dela. -Meu nome é William Chadwick, e o que sou não lhe importa. Estou aqui numa missão, e é apenas isso que eu posso revelar-te. E quanto à Letum Villa, acho que você está bem próxima. William fez uma pequena mesura e apontou para uma trilha que seguia através de arvores que se fechavam cada vez mais, com galhos que pareciam espadas afiadas. O final da trilha Lilly não conseguia ver; a nevoa estava mais forte ali, e a escuridão era intensa. Engoliu o seco, e voltou a olhar para William, que possuía um sorriso cínico no rosto. -Lembre-se; lá embaixo nem tudo é o que parece. Ele gosta de jogos mentais, e é melhor estar preparada; a maioria das coisas que você irá ver é ilusão... – disse William, ainda com a expressão enigmática. Lilly franziu o cenho, não entendo o que ele falava - E o mais importante é não deixar ser levado pelas armadilhas ao caminho. William olhou para o céu, onde as nuvens lentamente se dissipavam. Seu sorriso morreu, e ele recuou alguns passos de Lilly. -Eu se fosse você ia rápido. Seus amigos já acordaram, e vá logo; vá antes que as nuvens descubram o céu. -Não, Christopher ainda não apareceu... -VÁ! – berrou William com tanta força que Lilly se assustou. No segundo seguinte, William desapareceu, deixando Lilly sozinha ali. Lembrando-se do caminho, foi até onde Harry, Ron e Hermione estavam, que agora acordavam lentamente e se levantavam. -Eu descobri o caminho para Letum Villa. – disse Lilly, ajudando Hermione a se levantar. – Mas vamos, temos de ser rápidos! Ron se levantou, apoiando-se numa arvore. Harry já estava levantado, e esfregou os olhos com as costas da mão. Lilly parecia estar um pouco frenética para alguém que acabara de ser envenenada. -...E Christopher? – perguntou Hermione, olhando para os lados. Lilly olhou para cima, tendo dificuldade para ver o céu, mas sabia que as nuvens ainda estavam cobrindo tudo. Logo, lembrou-se de algo que havia ouvido há muito tempo, vindo da própria Hermione. -Hoje é noite de eclipse... – murmurou Lilly, repetindo as palavras de William. – Eclipse, Hermione! ECLIPSE! Harry e Ron entreolharam-se, confusos. Acharam que Lilly havia endoidecido com algum efeito colateral daquela fumaça venenosa. No começo, Hermione também estranhou a atitude de Lilly, mas depois recorreu a sua memória e lembrou-se do que significava um eclipse. -É hoje? – perguntou Hermione, olhando para cima. Lilly assentiu com a cabeça. A expressão de Hermione tornou-se lívida. -VAMOS! – berrou Hermione, porém Harry e Ron permaneceram no lugar. Lilly e Hermione se entreolharam, e cada uma puxou um garoto e partiram a correr o máximo que podiam. -ESPEREM! – disse Ron, tentando se desvencilhar de Lilly. – O que é esse tal de eclipse que vocês estão falando? -E Christopher? – perguntou Harry, tornando a repetir a pergunta de Hermione. – E porque estamos correndo? Lilly e Hermione pararam e olharam ao redor, atentas. -Estamos em perigo, Harry! – respondeu Hermione – Não podemos ficar parados... Não com o eclipse acontecendo! Os dois garotos não pareciam estar entendendo nada. -OUÇAM! – bradou Lilly, ficando irritada por estar parada no meio do nada – A não ser que vocês queiram virar jantar hoje, acho melhor vocês tratarem de correr, e agora! Sem deixar chance para os dois responderem, Lilly e Hermione voltaram a puxá-los e Lilly dirigiu-os até a trilha que William havia a apresentado. Quando chegaram no inicio desta, tiveram que dar uma pausa; a neblina estava alta, chegando aproximadamente até a cintura deles, e o vento batia nas arvores, fazendo os galhos se debateram de forma fantasmagórica. Entraram, respirando fundo. Tomaram cuidado a cada passo dado, tentando evitar as raízes das arvores que saiam do solo. Estavam em uma fila indiana, e Hermione havia conjurado uma fita para amarrar na cintura de cada um assim que a neblina não parava de avançar neles. A neblina já estava em seus ombros quando começaram a ouvir um barulho de água, e a temperatura pareceu descer vários graus. -Acho que devemos estar aproximando... – disse Lilly, que ia na frente, com a varinha erguida com o feitiço Lumus - Não deve estar tão longe agora... Lilly ouviu um gemido vindo de Ron, e virou para ele, vendo que o garoto apontava para algo que estava logo na frente deles, com a face pálida e a mão tremendo. Lilly virou novamente para frente, vendo que a neblina estava diminuindo, voltando a chegar na cintura deles. Em sua frente, escavado numa grande parede rochosa, estava um portal com crânios ao seu redor. Estavam todas em estado de decomposição, e uns insetos e vermes saindo dos orifícios da cavidade dos olhos e das narinas. Acima do portal, estava uma placa escrita em runas antigas, junto com a ilustração de um esqueleto. O portal era estreito, e a neblina saia dele, mais fria do que nunca. Um dos crânios mais decompostos caiu no chão, espatifando-se e revelando uma grande quantidade de vermes lá dentro. Tiveram que reprimir a vontade de vomitar ao sentir aquele cheiro insuportável. -Chegamos? – perguntou Harry, engolindo o seco. Sua pergunta não necessitava de uma resposta; era uma pergunta retórica. Ron emitiu um barulho misturado com gemido e um riso forçado. Hermione aproximou-se um pouco, lendo a placa em cima do portal. -“Aproxime-se, se for tolo o suficiente. Entre com o coração pulsante e permaneça pela eternidade”. – leu, e depois voltou a encarar os outros. Lilly deu um risinho histérico. -Bom, parece que a Kate já não tem salvação, então voltemos, certo? – disse. Ela começou a andar de volta, porém teve que parar por causa da fita que os uniam. Ron parecia estar apoiando a sua decisão, mas não podia se mexer por causa de Harry e Hermione. -Iremos. – disse Hermione. Harry assentiu, e ergueu sua varinha, iluminando o portal em sua frente. -Estamos condenados – murmurou Ron quando começaram a avançar em direção ao portal. Harry foi à frente, iluminando o portal. Hermione foi logo atrás, puxando Ron e Lilly, que pareciam ainda relutar para sair dali. Assim que atravessaram o portal rochoso, uma corrente de ar gélido e de cheiro fétido os invadiu, e os olhos lacrimejaram pelo frio que fez. A temperatura foi aos poucos aumentando, mas sempre permanecia gelada. O ar também era mais pesado e rarefeito, e eles podiam ver a fumaça da respiração em sua frente. O caminho era apertado, e podia passar apenas um de cada vez. Continuaram com a fita, preocupados em se manter juntos. Iam ainda em fila indiana, e de vez em quando Harry parava para ver se todos ainda estavam bem. O caminho ficou inclinado, como se estivessem descendo, e ficava cada vez mais estreito. Já estavam andando com as costas curvadas quando Ron começou a tremer, dizendo que não agüentava mais. Pararam ali, sentados encostados à parede. -Não agüento. – disse Ron, repetidamente, com a expressão lívida – Não dá... Não dá! -Acalme-se, Ron! – disse Harry. – Não há necessidade de ficar assim! Vamos, é melhor irmos logo... -Harry está certo, Ron. Você só deve estar assim por causa do ar rarefeito... – disse Hermione, e depois se dirigiu a Harry. –Vamos descansar um pouco e depois continuaremos, é melhor. Ron não pareceu contente com a idéia, mas assentiu. Ficaram parados, atentos ao menor ruído. Por mais que as varinhas de Harry e de Hermione iluminassem, não conseguiam ver o resto do caminho, que era em profunda escuridão. Não conseguiam também ver o caminho que haviam percorrido; parecia que estavam sentados no meio do nada. -Estranho... – murmurou Lilly, e todos viraram a cabeça para ela – Meu relógio parou, até a pouco estava funcionando... Ela apontou para o relógio em seu pulso, e deu umas batidas na tela e ele continuou fixo no lugar que estava. Hermione olhou para o seu relógio; também havia parado. -Que coincidência, não? – disse Hermione. Lilly tinha uma sensação de que aquilo não era mera coincidência. Botou a mão no bolso do casaco, tentando aquecer-se um pouco. Eles continuaram em silêncio, tentando não demonstrar medo ou pânico para não assustar ao outro. Lilly começou ao ouvir, bem ao longe, o barulho de água mexendo-se levemente pelo vento, e o som fez os pêlos da nuca dela se eriçarem, ao contraste com o silêncio mortal. -Devemos estar chegando... – murmurou Lilly, engolindo o seco. Os outros pareceram notar o barulho da água. Levantaram-se, e Ron tentou se apoiar na parede para se levantar, porém quase caiu de novo quando viu que a parede estava coberta de alguma coisa escura e liquida, que Ron não quis saber o que era. Limpou nas vestes, e voltou a se erguer, tentando não sentir o cheiro férrico que invadia o ar. O caminho ficou cada vez inclinado, e tiveram que ir se segurando ao chão para não escorregar. Temiam ir apoiando-se na parede, receando ter de encostar-se àquela substancia que eles já tinham idéia do que era. As paredes pareciam se fechar sobre eles, criando uma sensação de claustrofobia. Ron não conseguia agüentar mais; estava tendo dificuldades para respirar, ficava toda hora escorregando, e parecia que todos os seus músculos enrijeceram, impedindo-o de continuar. Uma ou duas vezes via alguma sombra se mexer atrás deles, e também ouvia passos. Os outros não pareciam notar, mas quando Ron sentiu algo parecendo que segurava seu calcanhar, teve de se segurar para não berrar. Porém, quando se virava, não havia ninguém; nada além daquela vasta escuridão. Sentia-se ansioso, e sempre se virava para trás. A escuridão começava a brincar com sua mente, criando sombras e barulhos que não existiam. Os outros não percebiam que ele estava apreensivo... Mas é claro, nunca percebiam. Ninguém parecia perceber que ele poderia estar preste a desmaiar... Ninguém se importava com ele. Olhou para Harry, Hermione e Lilly em sua frente; os três agora erguiam as varinhas e apontavam para frente, tentando iluminar o caminho que deveriam seguir. Achava um tanto irônico; os três afirmavam serem os seus melhores amigos... Mas pareciam estar muito interessados em outras coisas além de Ron. Hermione, os livros e provas. Lilly, que não parava de falar em seu amigo Michael. Harry, em Kate e nas aulas de A.D. E quanto a ele? Sua família também tinha outras prioridades, e sempre deixavam Ron por último... Porque andar com eles, se não te tratam bem?, uma voz invadiu a mente de Ron. A voz era masculina, calma e de forma preocupada. Não parecia algo de se dar alarme, e muito menos algo assustador. Parecia convidativa, como se fosse algum amigo antigo. “Porque... Eu pelo menos acho que eles são meus amigos”, respondeu Ron. Amigo é aquele que apóia o outro, e não apenas o esquece. , disse novamente a voz. Ron tentou responder e continuar a comunicação, porém a voz não reaparecia em sua mente. Apesar de estar rodeado de três pessoas, sentia-se sozinho, a sós com seus pensamentos que estavam tomando direções nada amigáveis e um tanto perversas. Viu a fita amarrada em sua cintura, e começou a passar o dedo por ela, pensando... -Está começando a ficar mais escorregadio... – disse Hermione, deslizando. Lilly fez uma careta de nojo quando sua varinha iluminou as paredes, e viu o sangue rolar do teto e cair no chão, perto de sua bota. Sua varinha começou a piscar, como se fosse alguma lâmpada com mau contato. -Finite incantatem – disse Lilly, e a escuridão a rodeou. Em seguida, falou, com bastante força em sua voz – LUMOS! A varinha piscou algumas vezes uma luz fraca, e depois a luz apagou-se totalmente. Em seguida, a de Harry e de Hermione fizeram a mesma coisa. A escuridão ficou total, e não conseguiam nem ver a mão na frente do rosto. -Calma! – exclamou Hermione – Vai dar tudo certo... O melhor é ficarmos juntos! Hermione estranhou uma falta de pressão na corda em sua cintura, e começou a puxá-la, vendo que parecia estar solta. A cada centímetros que puxava, seu desespero ia aumentando. -Quem cortou a corda? – perguntou Hermione à escuridão – Estava enfeitiçada, se alguém cortasse, ela se soltaria de todos! Não houve resposta. Chamou todos, e sua voz ficava mais aguda e trêmula a cada nome que dizia. Tentou tatear, e viu que não havia mais nada em sua frente além de parede. -Harry? Lilly? Ron? – exclamou ela, tateando e apenas encontrando rochas e mais rochas – Por favor, respondam! Pânico subiu à sua mente, e o silêncio e a ausência de seus amigos começou a martelar em sua cabeça. Porque não havia reforçado os feitiços na corda? Agora era tarde demais, ficaria perdida ali para sempre... Lágrimas haviam começado a se formar no canto de seus olhos quando ouviu um grito distante, parecido com Lilly. -NÃÃO! – exclamou Hermione, tentando se levantar e batendo a cabeça no teto – LILLY! -Pare de berrar, Granger sangue sujo. – disse uma voz zombateira atrás dela – Sua amiguinha está em apuros, e você está sozinha... Sozinha! Hermione parou onde estava, assustando-se ao reconhecer a voz. O tom era frio, como se alguém quisesse machucá-la com verbos; e era também arrastada e cheia de orgulho. Mas... Como ele estaria ali embaixo? Hermione começou a recuar, tentando se afastar da direção da voz. Andava de costas, sem ver para que direção ia. Estava de olhos arregalados, tentando enxergar qualquer vestígio da prescença dele ali; porém ele pareceu não se manifestar novamente. Ainda com a audição e a visão apurada, Hermione continuava dando passos para trás, batendo a cabeça ocasionalmente no teto baixo. Foi quando ela escorregou numa poça de algo liquido e pegajoso, e bateu com a nuca numa pedra que jazia no chão. A dor foi tremenda, e as lágrimas que se formavam em seus olhos rolaram pelo seu rosto. Tentou conter uma exclamação de dor, sentindo a dor ainda martelar em sua cabeça. Foi quando percebeu que estava se movimentando; o caminho continuava íngreme e a substancia pegajosa espalhava-se pelo chão, deixando o caminho escorregadio. Percebeu que estava caindo, e subitamente, o caminho parecia estar levando a algum desfiladeiro. Tentou segurar-se em algo, mas continuava caindo. Fechou os olhos, temendo o que encontraria a seguir. Sentiu estar pendurada no ar, e a sensação de estar completamente, o frio na barriga, passou pelo seu corpo. Não gostava muito de voar por causa daquilo; a sensação que não havia chão firme embaixo de seu pé a apavorava. Ainda caia, e o barulho de água continuava. Arriscou a abrir os olhos; e se assustou quando viu que estava preste a mergulhar num lago de um tom vermelho escuro. Esqueceu-se de fechar a boca e aquela água salgada, com o gosto estranhamente férrico a fez sentir náuseas. A água estava gélida, como se tivesse acabado de mergulhar num lago congelado. Tentou nadar até a superfície, tendo enormes dificuldades. Quando chegou, respirou fundo, tentando suprir suas necessidades para oxigênio. Olhou ao redor, para procurar qualquer indicio de seus amigos. Num pedaço de terra microscópio, no meio do lago, estavam Lilly e Harry, procurando por alguém. -Hermione! – exclamou Lilly apontando para ela – Venha para cá! Hermione nadou o mais veloz que pode, para poder escapar logo daquelas águas misteriosas. Quando chegou, Lilly a ajudou subir e sentou-se no lado dela. -Ainda bem que você está inteira... – disse Lilly, em um tom irônico. Hermione riu fracamente. -Estamos esperando por Ron... – falou Harry, observando ao redor – Ele ainda não apareceu. Estavam no meio de um longo enorme, sem nenhum sinal de vida para os quatro lados. Hermione não identificou mais da onde havia vindo; era apenas neblina e água na coloração vermelha para todo o lado. Olhou ao redor, vendo o pedacinho de terra que estavam; era de uma estranha areia cinza e havia um curioso poste com uma lamparina e uma caveira em cima. -Ron! – exclamou Harry, apontando para uma figura alta e de cabelos ruivos que caia na água, parecendo ter vindo de algum buraco no céu. Ron logo os avistou e nadou até eles, mais quieto do que o normal; tentando sempre evitar seus olhares. -E agora... Onde estamos? – perguntou Harry. Lilly olhou para o poste com a lamparina e a caveira, e viu que havia uma pequena inscrição embaixo dos restos do osso. Leu em voz alta, para que todos ouvissem: -Cidade das Sombras – ponto sem volta. -Não é tão medonho assim... – disse Hermione, que receava que o local fosse tão horrível quanto Fred e George descreveram. -Isso é porque você não viu tudo ainda. – disse Harry com a voz trêmula, apontando para uma sombra que aparecia entre a neblina. Emergindo como se fosse do ar, parecendo-se se formar com a neblina, um estranho vulto negro apareceu. Ia avançando na direção deles como estivesse flutuando por cima d’água; mas logo puderam ver, quando a neblina rareou, que estava remando lentamente uma grande e velha canoa de madeira. -Não é muito tarde para voltar, visitantes. – disse o espectro, encapuzado e vestido apenas de uma gasta longa capa preta, com uma voz fria e sarcástica – Não é muito tarde para continuarem vivos... Os quatro ficaram sem reação, vendo a figura se aproximar cada vez mais, até que parou perto da costa da pequena ilhota. Entreolharam-se, indecisos se entravam ou não. -Então... Vocês vêem ou não? – falou novamente, erguendo a mão ossuda, parecendo estar em decomposição, como se os estivesse convidando. Os quatro amigos entreolharam-se novamente e depois olharam para o espectro na frente deles. Estava encapuzado, mas juraram ver um enorme sorriso malicioso em seu rosto. Lilly sacudiu o rosto, como se quisesse livrar-se do medo. Tomou um passo à frente, e sem aceitar a mão da figura negra, entrou cuidadosamente dentro da canoa e sentou-se num canto. Os outros três admiraram a coragem de Lilly, e após muitas lutas internas, eles seguiram seu exemplo e se sentaram lá dentro, pertos um do outro e lançando olhares nervosos para todos os lados. Assim que todos entraram, a figura voltou a ficar na ponta da canoa, e soltou uma gargalhada fria que fez os pêlos da nuca e do braço deles se eriçarem. A risada cortou o silêncio eterno do local, criando ecos intermináveis. -À Letum Villa! 

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