Letum Villa II - prévia.



PRÉVIA.


Parte II

Os Trigêmeos



Hermione entrou naquela sala escura. Não havia nenhum móvel ali; nem mesmo um sofá ou algum quadro. Um grande e célebre lustre estava pendurado no teto, de ouro com detalhes em bronze. Várias de suas velas estavam apagadas, criando sombras em todos os cantos do cômodo.

Caminhou até o centro da sala, onde havia o que parecia ser um espelho, coberto por uma lona. Curiosa, esticou sua mão e retirou o pano, deixando este cair no chão. Estava certa; o que estava escondido era um espelho. Era bem gasto e sujo, sua moldura estava velha. O vidro estava arranhado e bem no centro estava quebrado, faltando-lhe um pedaço. Hermione encarou aquela espelho, vendo seu próprio rosto sendo refletido inúmeras vezes por causa do vidro quebrado.

-O que você vê? – perguntou uma voz arrastada atrás dela.

Hermione olhou para o canto do espelho, vendo a imagem de Pandora sendo refletida. Seus longos cabelos negros que lhe viam até a cintura estavam encaracolados, como se fossem serpentes caindo sobre suas costas. Seus olhos cor de jambo estavam reluzindo, como se estivesse satisfeita com algo.

-Eu mesmo. – respondeu Hermione, como se fosse a coisa mais obvia do mundo – E você. E esta sala.

-Eu não estou perguntando sobre o que você vê no espelho. – disse Pandora.

Um sorriso torto apareceu em seus lábios cor de carmim

– O que você vê quando olha para si mesmo?

Hermione não entendeu a pergunta. Ainda sem virar para trás, continuou a encarar o espelho, tentando achar alguma resposta para a pergunta de Pandora.

-Eu vejo uma garota nem alta nem baixa, de cabelos crespos castanhos e que gosta de estudar.

Pandora riu, como se Hermione acabasse de contar uma piada. A garota se aproximou do espelho e pôs a mão no ombro de Hermione, forçando-a se virar.

-Vocês, humanos, são tão imprevisíveis e previsíveis ao mesmo tempo. – disse Pandora, e tocou o rosto de Hermione.

Hermione deu um passo para trás, surpresa o quão frio fora o toque de
Pandora. Para falar a verdade, desejava não estar ali com ela; a visão de
Pandora queimando na fogueira ainda estava nítida em suas pálpebras. Além
disso, Hermione não gostava dos trigêmeos; os três pareciam ser cheios de
más intenções. Pandora não pareceu magoada por Hermione ter recuado, e
voltou a sorrir novamente.

-Quando eu pergunto o que você vê quando olha seu reflexo, – explicou
Pandora – eu pergunto qual é sua fraqueza.

-Fraqueza? – indagou Hermione.

-É, fraqueza. Todo ser humano tem sua fraqueza. Muitas vezes essas
fraquezas são seus maiores desejos.

Pandora, ainda com a mão repousada no ombro de Hermione, girou nos
calcanhares e forçou Hermione a encarar o espelho. Pandora começou a observar os reflexos, lendo-os como se fosse um livro aberto.

-Eu vejo uma garota muito inteligente, com muito a oferecer. – disse Pandora
– E que é sempre notada pelo seu cérebro, e não por suas outras qualidades.

Hermione engoliu o seco e quis sair dali, porém Pandora a segurou. Hermione olhou para as longas unhas de Pandora, que facilmente poderiam perfurá-la e
cortá-la.

-Eu vejo uma garota que ansia ser notada, principalmente pela companhia masculina. – Pandora deu uma pausa e Hermione ruborizou – É essa sua
fraqueza? Seu desejo mais profundo? Que finalmente deixe de ser invisível, e
que alguém a note?

Hermione não respondeu; continuava ruborizada e encarava o chão. Pandora olhou por uma ultima vez o espelho e depois se virou para Hermione.

-Eu posso lhe dar isso, se você quiser. – disse, e segurou a mão de Hermione, pondo as costas da mão da garota em sua palma. Observou cada linha, passando suas unhas afiadas por elas – Mas eu tenho um preço.

Hermione estava começando a se sentir estranha. Uma onda gélida lhe invadiu, e sentia que seu corpo estava se mexendo sem seu consenso. Sentia como se longas cordas lhe prendessem o pulso, o torso e os pés; sentia-se como uma grande marionete. Sem mandar a ordem, sua cabeça assentiu.

Um sorriso enorme formou-se nos lábios de Pandora.

-Qual é o seu preço?

Hermione assustou-se ao ouvir sua própria voz, sem ter pensado em falar antes. Algo realmente estranho acontecia, começava a se sentir tonta e parecia que ia desabar em seus joelhos, mas estes estavam firmes.


-Sua alma.

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