Mais um conto



Capitulo 9:
Mais um conto


Lilly estava sentada na poltrona em frente à lareira, com um caderno em sua mão e a pena na outra, mordendo distraidamente a ponta desta, como se estivesse esperando por alguma inspiração. A página em sua frente jazia metade escrita, e ela parecia estar pensando em algum final. Por fim, optou por terminar a carta ali mesmo e assinou seu nome.

Reparou que não estava sozinha, e logo Christopher apareceu, sentando na cadeira oposta a ela.

-Para quem escreves? – perguntou, olhando para o caderno em sua mão.

Lilly continuou olhando para a lareira, e arrancou o pedaço de papel e o dobrou, colocando dentro de um envelope.

-Michael.

Lilly sentiu Christopher agir indiferente a simples menção do nome.

-O que houve? – perguntou, estranhando a reação dele.

Christopher olhou para o chão, depois para a janela e finalmente para Lilly, pensando se era melhor responder ou não. Achou melhor não ignorá-la e suspirando, respondeu, com a voz firme e decisiva.

-Acho melhor você se afastar deste cara.

Lilly arqueou uma sobrancelha.

-Posso saber o porquê?

Christopher achou melhor omitir do que mentir a Lilly.

-Olha, eu tenho meus motivos. O conheço a longa data, e sei que ele não é
uma boa pessoa!

Lilly continuou olhando firmemente em seus olhos, tentando tirar algum sentido do que ele falava. Christopher percebeu que ela parecia confusa, e continuou:

-Afasta-se dele, Lilly! Eu sei que ele pode ser perigoso...

-Michael é meu amigo, Christopher. – interrompeu Lilly, parecendo brava – E eu sei que ele não me machucaria.

-Lilly, escute-me, por favor! – pediu Christopher – Ele não é uma boa pessoa, e se você continuar do lado dele, eu acho que ele pode machucá-la!

Lilly levantou-se e cruzou os braços. Raiva já lhe subia a cabeça; Michael era seu melhor amigo! Não admitiria que alguém falasse mal dele assim, e sabia que ele faria o mesmo por ela. Não acreditava que Christopher dizia que ele era perigoso... Imaginava-se uma coisa destas?

-Você não sabe de nada, Christopher! – bradou, e completou, sem pensar duas vezes – Eu acho que isso é fruto de puro ciúmes!

Christopher ficou um tempo olhando para Lilly, como se digerisse e tentasse
entender o que falava. Após, riu friamente, e Lilly ficou ruborizada, sabendo que havia falado besteira.

-Ciúmes? – repetiu Christopher, em um tom de sarcasmo – Porque EU sentiria ciúmes?

E sem mais nada, levantou-se e subiu as escadas, deixando Lilly parada ali, sem saber o que fazer ou dizer.



~~*~~



À noite daquele mesmo dia, Ron, Hermione, Harry, Kate, Christopher, Lilly, Fred, George e Gina estavam no quarto dos gêmeos, conversando em voz baixa para que Molly não fossem mandá-los dormir. Os Weasleys estavam contentes com a volta do pai, podendo perceber pelos seus rostos.

-Ainda bem que papai está bem. – disse George – Senão, seria mais uma coisa para adicionar a lista de tristezas da mamãe.

Harry e Hermione olharam para os gêmeos e para os outros Weasleys, não entendendo o que eles estavam falando.

-Acho que Percy continua sendo o primeiro da lista. – disse Fred, olhando para o vazio, pensativo.

Gina levantou-se, e olhou para Fred seriamente.

-Não vamos falar dele, então. – disse, acabando com a conversa.

O silêncio no quarto se prolongou por um tempo. Até que Fred e George se entreolharam, como se tivessem lendo o pensamento um do outro. Seus rostos
abriram em um sorriso malicioso, o que fez os outros no quarto ficarem suspeitos. Esfregaram a mão uma na outra e mantiveram o ar maroto na face.

-O que vocês irão aprontar? – perguntou Ron, de sobrancelha erguida.

-Nada, maninho. – falou Fred, sorrindo marotamente – O que vocês acham de a gente animar um pouco aqui?

Hermione cruzou os braços e rolou os olhos.

-Fred, o que você pretende em “animar um pouco aqui”? – disse ela, em sua voz autoritária.

-Bom, seria uma ótima idéia contarmos histórias de terror. – disse George –
Seria muito engraçado ver Ron se molhar todo de medo.

Ron lembrou-se da história que seus irmãos haviam contado há um tempo, o
conto sobre a Cidade das Sombras, Letum Villa, onde residem os piores pesadelos de uma pessoa e Jacob. Engoliu o seco imaginado o terror que seria.

-Outra história de terror? – perguntou Ron com a sua voz trêmula e fraca.

Os meninos riram, exceto Ron, que ficou com as orelhas vermelhas. Fred e
George apagaram as velas do quarto, deixando apenas uma acessa para dar
um toque mais sombrio.

-Sabe, vocês nem precisariam ter feito isso para assustar a gente. – falou Lilly, numa voz irônica e descontraída. – É só ver a cara de vocês e tenho pesadelos.

George encenou como se tivesse levado um golpe.

-Ouch. – disse George, como se tivesse sido machucado.

Remontando o quarto como estivera da ultima vez, eles esperaram até estar completo silêncio e completa escuridão. Fred posicionou-se atrás da vela, criando uma sombra bruxuleante na parede. George fez o mesmo, segurando uma vela na mão próxima ao seu rosto.

-Está bem, está bem. Iremos começar, então. –disse Fred, adotando uma voz grave, mais profunda, com a intenção de deixar o clima mais sombrio. – O que vocês querem ouvir? Mais lendas sobre cidades sombrias? Histórias verdadeiras de vampiros sedentos? Contos de lobisomens que não tinham piedade nenhuma de estraçalhar suas vítimas?

Lilly jurou que sentiu Christopher ficar rígido quando ouviu Fred mencionar
“vampiros”.

-Eu prefiro essa história de vampiros... – disse Gina, se aproximando mais deles.

Kate fingiu tossir para disfarçar um risinho, e deu uma cotovelada em
Christopher, que havia tomado um ar sério e imóvel.

-O que acha, Fred? – perguntou George, com a mesma voz grossa de Fred.
-Vamos começar então!

Fred e George começaram a se movimentar para um lado a para o outro, e Harry, Hermione, Lilly, Kate, Christopher e Gina pegaram almofadas e travesseiros e se sentaram num chão, formando um circulo.

– Vamos contar aquela de Hogwarts, não acha? – perguntou George a Fred.
Lilly e Kate olharam para Christopher ao mesmo tempo. Ele continuava imóvel
e rígido, e estava encarando o chão. Parecia tentar evitar o olhar dos gêmeos ou simplesmente ignorá-los.

-Não acham melhor deixar essa história para outro dia? – sugeriu Kate, lançando um olhar significativo para seu irmão.

Christopher olhou para ela, agradecido, mas Fred e George sacudiram a cabeça negativamente.

-Sempre contam essa história em Hogwarts, não acredito que nunca a ouviram. – disse Fred, sorrindo. – Ela se passa há anos atrás, acho. E é verdadeira.

Fred e George olharam para Hermione, esta que levantou a sobrancelha e desviou sua atenção para a janela.

-Não se sabe os nomes verdadeiros da história, pois demoraram em começar a espalhá-la, e quase ninguém sabia os nomes. Chamamos então o garoto de Christian, a garota de Leah e o vampiro de Mark. – começou Fred, de forma
excitada.

Christopher teve de conter um suspiro. George não parece perceber e continuou:

-Era uma vez uma garota chamada Leah. Ela era extremamente feliz, e praticamente todo garoto de Hogwarts a desejava. Nos seus últimos anos em
Hogwarts, ela começou a namorar Christian.

“Christian também era um garoto muito desejado entre as meninas, e se
apaixonou por Leah logo no inicio do namoro. Os dois eram praticamente inseparáveis. Christian tinha um melhor amigo chamado Mark, e ele não sabia que este era um vampiro. Com o passar do tempo, Mark passou a desejar Leah também.”

Os gêmeos deram uma pausa. Lilly olhou para Christopher, que estava encarando o chão. Alguma coisa estava errada. Fred não percebeu a atitude dele, e continuou:

-Um dia, Christian estava voltando da aula e ouviu gritos femininos... A voz era bem familiar. Era Leah.

Christopher agora estava de olhos fechados e estava tampando os ouvidos, e estava murmurando algo tão baixo e tão rápido que Lilly não conseguia ouvir o que era.

-Quando chegou para ver o que estava acontecendo, parecia que era tarde demais. – disse George - Quando ele chegou, Leah estava toda machucada,
violada... E Mark estava lá, seu melhor amigo.

Lilly começou a distinguir os murmuros de Christopher; ele estava repetindo a palavra “pare” cada vez mais alto e de forma mais clara.

-Então, vocês já devem ter deduzido o que aconteceria. Mark se aproximou de Leah, para acabar logo com e...

-PARE! – berrou Christopher, se levantando.

George e Fred pararam abruptamente, olhando para Christopher. Os outros no
quarto seguiram o olhar e observaram Christopher, que estava com a expressão indecifrável. E sem mais nenhum aviso, ele estava na porta e a
fechou com tanta força que o prego saltou para fora.

-Que medroso! – disse George, de forma irônica. – Estava chegando na melhor parte...

Todos dentro do quarto ficaram em silêncio, de olhos arregalados, até que a porta caiu no chão. O barulho foi alto, e depois de uns instantes, Molly apareceu, com as mãos na cintura e com o olhar cansado e furioso.

-O que vocês estavam aprontando? E porque ainda não estão dormindo?

-Desculpe, mãe. – disse os irmãos Weasley enquanto Hermione arrumava a
porta com o feitiço reparo.



~~*~~



Estava começando a chover. Christopher não se importou em fechar a janela, ele continuou olhando vagamente para a vista. Havia uns adolescentes trouxas andando pela rua, nem desconfiando da existência da casa em que ele estava.
Um velho poste da rua estava com a luz piscando, e foi lentamente se apagando. A chuva despertou um cachorro de rua que dormia na sarjeta de uma casa, e ele mudou de lugar para embaixo do banco, aonde a chuva não o molharia. Estava tudo pacificamente normal. Menos suas lembranças.

Podia se lembrar de cada mínimo detalhe. Nada estava escurecido em sua memória, e isso o aterrorizava. Ouviu alguém bater na porta, mas ele não deu atenção. Continuou observando a monótona cena da rua, desejando apenas ser uma pessoa normal, sem todos os pesadelos que enfrentará. Havia sido tolo o suficiente para confiar em certas pessoas...

A porta do quarto se abriu, e ele viu Lilly se aproximar, hesitante. Havia curiosidade em seu olhar, e ele temeu que ela fosse fazer perguntas. Ela se sentou na cama e o encarou.

-O que houve? – perguntou Christopher.

Ele parecia não ter esquecido da discussão deles algumas horas antes.

-Eu quero lhe fazer algumas perguntas. – disse Lilly. Christopher suspirou e desviou sua atenção da cena da janela. – Você, por acaso... É o... Christian da história?

Christopher riu secamente.

-Criativos com o nome, não é mesmo? – disse ele, em um tom irônico.

-Sério?

-Você parece surpresa. – falou Christopher, em um tom descontraído.

Ele tentou decifrar a expressão dela, mas não conseguiu. Ela estava o encarando fixamente, seus olhos castanhos encarando os azuis. Parecia estar indecisa se acreditava ou não.

-Quem é Leah? – perguntou Lilly.

Christopher ficou quieto. Não responderia a aquela pergunta.
Lilly tinha uma idéia de quem seria Leah. Mas não tinha coragem de perguntar para Christopher se era Lucy. Sabia que a menção do nome dela poderia machucá-lo. Ela estava se corroendo de curiosidade por dentro, querendo saber a verdade, mas se controlou. Havia outras perguntas em sua mente.

-Porque essa inimizade com Michael? – perguntou Lilly.

-Próxima pergunta, por favor. – disse Christopher, em um vago sorriso.

-Quantos anos você tem? – Lilly perguntou a primeira pergunta que vinha em sua mente.

Christopher ficou olhando para ela, indeciso se respondia ou não. Lilly notou sua hesitação e isso fez sua curiosidade aumentar.

-Próxima pergunta. – repetiu Christopher.

-Você é realmente tão velho assim que nem quer me responder? – disse Lilly com sarcasmo. – Sério, responda!

-Porque você quer saber?

Lilly levantou-se e ficou em frente a Christopher. Pôs a mão na cintura e bateu o pé no chão.

-Porque sim. – respondeu Lilly, como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

Christopher passou as mãos pelo cabelo, e rolou os olhos. Optou por ignorar a prescença de Lilly. Lilly não gostou nenhum pouco daquela atitude, e sem pensar duas vezes, arrependeu-se do que falou.

-É Lucy, não?

Christopher olhou para Lilly como se pudesse matá-la com apenas um olhar. Lilly engoliu o seco, percebendo que suas pernas não se movimentavam e que suas mãos estavam tremendo. Christopher estava preste a ter uma reação quando se controlou imediatamente, e se afastou dali, deixando Lilly petrificada no lugar.



~~*~~



Kate não conseguia mais ficar deitada na cama, sem o sono vindo. Sentia-se um pouco enérgica, e parecia ser impossível dormir agora. Levantou-se sem fazer barulho, pôs seu casaco e saiu do quarto na ponta dos pés, tomando cuidado para não acordar nem Hermione, nem Lilly e nem Gina.

Cada degrau que pisava rangia, e alguns rangeram de forma alta, fazendo-a parar no meio da escada esperando para ouvir se alguém havia escutado. Já era de noite, bem tarde, e todos aparentavam estar dormindo. Todos exceto
Christopher, e temia que ele a ouvisse fora da cama. Quando não ouviu o barulho de ninguém se aproximando, continuou a descer até chegar à cozinha.
Para seu desapontamento, Monstro, o elfo doméstico da casa, estava lá.

-Boa noite, Monstro. – disse Kate, educadamente. – Eu só vim... Pegar um copo d’água...

Monstro pareceu farejar o ar, e depois fez uma reverência para Kate, encostando o nariz no chão. Passou correndo por ela, e alcançou um copo e o
encheu de água, e entregou-o a Kate.

-Muito obrigada, Monstro. – disse Kate, surpresa.

-De nada, minha senhora. – falou Monstro, e andou em direção à porta da
cozinha – Monstro irá deixá-la sozinha...

Kate estranhou o comportamento do elfo, mas apenas deu de ombros.
Sentou-se na mesa e ficou olhando distraidamente para a cozinha ao seu redor, não realmente prestando atenção. Lembrava-se da noite anterior, aonde havia sonhado novamente com Jacob...

Em seu sonho, Jacob aparecia no piano novamente, e os dois ficaram por um longo tempo conversando, até que Kate começou a se sentir meio tonta. Jacob aproximou-se dela e a segurou antes que ela pudesse cair no chão, e Kate percebeu que ele ainda usava as luvas. Estranhou, e ele sussurrou em voz baixa e com um sorriso no rosto:

-Logo, logo, você estará do meu lado, Kate.

Kate não havia entendido, e no segundo seguinte Christopher a havia acordado avisando que ela teria de fazer as malas porque passariam o Natal com os Weasleys.

Suspirou alto, confusa com seus próprios pensamentos.

-Com dor? – perguntou alguém da janela aberta.

Kate levantou-se em um susto e foi até a janela aberta, onde estava William.

-Quantas vezes eu vou ter que te falar para parar de aparecer do nada? – disse
Kate, mal humorada.

William sorriu e subiu no parapeito da janela, e entrou na cozinha, ficando apoiado no balcão. Ele apertou as bochechas dela como se ela fosse uma
criança pequena.

-Uh, alguém está mal humorada! – disse William, a provocando.

Kate apenas rolou os olhos e tirou as mãos dele de seu rosto.

-Diz logo o que você quer e vaza. – disse Kate secamente.

-Na verdade, daqui eu não saio sem você.

Kate pareceu confusa, porém a expressão do rapaz não mudou. Ele continuou olhando para ela, como se esperasse alguma reação ou alguma resposta, mas Kate continuou imóvel no lugar, sem saber o que dizer.

-Do que você está falando? – perguntou Kate.

-Eu tenho que te levar a um lugar. – respondeu William como se fosse o fato mais obvio do mundo. – E daqui eu não saio sem você.

-Que lugar é esse? – indagou Kate de forma autoritária, porém curiosidade obvia em sua voz.

-Você descobrira quando chegar.

O rosto de William se abriu num sorriso. Kate continuou sem entender nada, e curiosidade estava espalhada em seus olhos. William percebeu e deu-lhe a mão, como se pedisse para segui-lo. Porém, William soltou-a rapidamente, atento com algo que acontecia fora da cozinha.

-Tem alguém vindo ai. – disse, e desapareceu no instante seguinte quando
Kate se virou para ver quem era.

Kate voltou a se virar para o lugar onde William estava, mas nada se encontrava ali no balcão. Olhou para a janela, e viu o vento passar, movimentando a cortina, e depois olhou para o quintal, e não viu sinal de ninguém. Será que sonhava acordada?

-Kate? – chamou uma voz da porta da cozinha.

Kate virou-se e viu Harry, e desviou toda sua atenção do quintal da casa.

-Oh, oi Harry. – disse Kate – Eu só tive uma insônia e não consegui dormir, então vim aqui pegar um copo d’água...

Kate não era uma boa mentirosa, e Harry pareceu notar que havia algo a mais que ela omitia.

-O que foi? – perguntou Kate quando Harry não lhe desviava o olhar.

-Tem algo que não me conta? – disse Harry, por fim.

Harry já não estava mais gostando daqueles mistérios, onde ela desviava o assunto ou o deixava pela metade, nunca realmente contando o que havia de errado. Ora, ela o havia prometido que nunca mais manteria segredos dele, e por que parecia que a promessa já estava quebrada quando foi feita?

-E...? – disse Harry, incentivando-a a conta algo.

Kate continuou quieta, mordendo o lábio inferior, apoiando as mãos no balcão da cozinha, lançando olhares nervosos para a janela.

-Você lembra da promessa que me fez, há alguns meses atrás? – falou Harry,
cruzando os braços.

Kate fez-se de desentendida.

-Pois eu lhe recordo então. – falou rispidamente – Você prometeu-me que não guardaria mais segredos.

-Eu não guardo segredos. – diz Kate.

Porém, esta não era mesmo uma boa mentirosa.

-O que é que você não pode me contar, Kate? Você sabe que eu não a reprovaria por causa deles! Agora me responda-me; o que é?

Kate desviou o olhar dos olhos de Harry, pareciam que estes a queimavam. Ficou olhando para o chão, não sabendo o que dizer.

-Não posso lhe contar, Harry.

Harry rolou os olhos, porém Kate continuou, ainda olhando para o chão:

-Não é segredo meu. Quer dizer, não é apenas meu. A pessoa pediu-me para me manter calada, e promessa nenhuma eu quebro.

Harry riu secamente, e falou, com um tom de sarcasmo:

-Pois parece que já quebrou uma. Quantas vezes eu me pego pensando se você está falando a verdade ou mentira? E não é só neste momento, já teve
vários outros.

O silêncio percorreu pelo que pareceu horas, e Kate ainda desviava o olhar de
Harry. Este, não agüentou mais aquela situação e resolveu quebrar o silêncio, e levantou o rosto de Kate para que ela pudesse o olhar nos olhos.

-Não minta para mim, pelo menos não desta vez, Kate. – Kate o interromperia, porém Harry pôs um dedo em seus lábios, pedindo que ela se calasse. – Fale a verdade: você, estes últimos tempos, anda contando-me apenas a mentira e omitindo a verdade?

Kate tentou desviar o olhar, porém Harry segurou seu rosto, a forçando a olhar apenas para ele. Mordeu seu lábio inferior, indecisa, e finalmente respondeu, em uma voz baixa e tremula.

-Sim, eu ando apenas contando mentiras.

Harry a soltou e recuou alguns passos, e Kate olhou para o chão novamente, temendo seu olhar de reprovação.

-Desculpe-me, Harry, mas há certas coisas que eu necessito mentir para não machucá-lo.

Harry não falou nada, ficou mudo. Após alguns instantes, deu meia volta e saiu da cozinha, sem lhe dirigir o olhar ou a palavra. Kate continuou apoiada no balcão da cozinha, os braços cruzados como se quisesse se proteger da dor que sentia. Suspirou, sabendo que era melhor assim; não deixá-lo a par de tudo. Sabia que era o único modo que tinha para o proteger, mesmo que isso a machucasse cada vez mais.

Sentiu alguém bater em seu ombro, e virou-se abruptamente, com a varinha erguida.

-Acalme-se! – disse William, levantando as mãos, como se pedisse paz. – Sou eu apenas!

Kate rolou os olhos e guardou a varinha no bolso, e começou a andar de um lado para o outro na cozinha. William a acompanhava com o olhar, como esperasse que ela falasse algo. Como não se manifestou, resolveu dizer algo.

-Então, você vem? – perguntou, esticando-lhe novamente a mão.

-Aonde? – indagou Kate de forma ríspida e seca.

Os lábios de William se abriram num sorriso sorrateiro.

-Você vai ver quando chegar!

Kate perguntaria de novo, porém achou melhor deixar para o lado. Deu de
ombros e deu a mão para o rapaz, surpreendendo-se por esta ser tão fria. William pareceu não perceber o choque que ela sentiu.

-Tanto faz, então. – disse Kate, com muitas coisas em sua cabeça para se preocupar para aonde iria. – Leve-me, aonde diabos seja.

O sorriso de William pareceu maior, e ele apertou mais ainda a mão de Kate, e juntos os dois saíram pela janela à escuridão daquela noite.



~~*~~



No dia seguinte, todos demoraram a acordar, e quando se levantaram já arrumados, se depararam com um grande alvoroço na cozinha, aonde Molly ia de um lado para o outro, praticamente se descabelando, e verduras cortavam-se sozinhas por mágica, panelas ferviam água também sozinhas, como massas eram misturadas em tigelas e depois esticadas com um rolo.

-Ah, que bom que acordaram! – disse Molly quando viu seus filhos – Talvez possam me ajudar no jantar de Natal, não?

Ron, Gina, Fred e George se entreolharam, tentando achar algum jeito de escapar daquilo.

-Pode deixar que eu lhe ajudo, querida! – disse Arthur, levantando-se da cadeira, porém Molly o parou.

-Você precisa descansar, bobo. – disse Molly, com seu sorriso enorme – Fique ai sentado, enquanto seus filhos me ajudam. Fred, George podem me ajudar
com suas varinhas, vão ordenando para aquelas facas cortarem os pedaços de
frango...

Fred e George obedeceram, e logo Ron e Gina colocaram aventais e começaram a fazer pastinhas para comer com o pão que eles iriam fazer após.
Hermione, Harry, Lilly e Christopher apareceram, e logo receberam tarefas
também.

-Cadê a Kate? – perguntou Molly – Eu preciso de ajuda para fazer estas tortas de amora também...

As crianças se entreolharam, e nenhum deles parecia ter visto ela.

-Ela não estava no quarto. – respondeu Lilly.

-E nem na biblioteca – respondeu Hermione e Christopher.

-E nem no andar de cima... – responderam os gêmeos em uníssono.

Molly largou a colher de pau em cima da mesa e pôs as mãos na cintura, pensativa. Sirius apareceu na cozinha e beliscou um pouco dos doces que
estavam fazendo, sem Molly ver. Molly fez-lhe a mesmo pergunta, e Sirius também não havia visto Kate.

-Aonde esta garota se meteu? – perguntou Arthur, olhando para seus filhos e os amigos destes.

-Vão procurá-la, e depois voltem aqui com ela para continuar os preparativos. – disse Molly, começando a ficar preocupada.

Ron e Gina largaram seus aventais e Fred e George fizeram as facas pararem de se manusear sozinhas. Saíram da cozinha, seguidos por Hermione, Lilly,
Harry e Christopher, e se separaram, cada um indo para um canto da casa
procurá-la. Sirius também foi, e revistou cada centímetro de sua moradia,
procurando até em passagens secretas e cômodos esquecidos.

Duas horas se passaram e já haviam revistado em todo o lugar, e nada.

-Não a achei. – disse Sirius, quando todos se encontraram na sala.

-Será... Que ela saiu? – sugeriu Ron.

Fred e George pareceram achar a idéia de Ron provável.

-Vamos dar uma volta no quarteirão, ela deve ter ido dar uma caminhada.

Falando isso, os dois saíram, e Sirius voltou à cozinha para auxiliar Molly. Como esta precisava de bastante ajuda, Gina também foi, à contra-gosto.

-Aonde será que ela se meteu? – disse Hermione, olhando para a casa ao seu
redor.

-Dentro ela não está. – respondeu Christopher – Ela saiu, e não sei para aonde.

Lilly pareceu não se importar; contanto que a garota não estava ali para lhe chatear e lhe irritar era uma boa noticia. Porque não esqueciam e deixavam para lá? Que diferença fazia se ela estava lá ou não? Porque simplesmente não esqueciam daquilo? Ou Christopher podia sair para procurá-la, e quando a achasse, os dois não voltavam... Ah, seria bem melhor!

-...Esses sangues-sujos e intrometidos ficam andando pela casa toda,
bagunçando-a e fazendo Monstro ter o trabalho de arrumar tudo! – resmungou Monstro, enquanto arrumava a confusão que tinham feito – Pobre Monstro
quase nem dá conta do recado, pobre Monstro está tão velho...

Hermione pareceu ter uma idéia, e se ajoelhou em frente a Monstro, fazendo este recuar dois passos.

-Monstro! Você pode nos ajudar?

-A sangue-suja atreve-se a falar com Monstro, mas Monstro não irá responder, ah não... – disse, continuando a resmungar palavras indefinidas.

Hermione apenas ignorou o xingamento e voltou a falar com ele:

-Você viu aonde Kate foi? – perguntou.

Os outros ouviram a pergunta de Hermione e se viraram para os dois, ansiosos
pela resposta do elfo domestico. Ele olhou para os lados, e depois olhou para o chão.

-Porque o interesse, sangue-sujo? – disse Monstro, olhando para Hermione com desgosto – Uma pessoa como ela não deveria andar com ralé como vocês, então a deixe...

Christopher irritou-se e acabou se descontrolando: levantou-se da cadeira onde estava e ficou em frente a Monstro numa velocidade incrível, a qual seria
normal para ele. Acabou assustando Monstro, e conseqüentemente, Ron e Harry, que não sabiam que ele não era humano como eram.

-Responda-me, aonde ela foi? – perguntou Christopher de forma ríspida e autoritária.

Monstro pareceu assustado e acuado, e respondeu, com seus olhos arregalados.

-Noite passada, Monstro viu um rapaz no quintal, ele estava em baixo da
janela da cozinha. Monstro prestou atenção, Monstro achou que talvez fosse um bandido... Mas ele conversava com a senhorita, então Monstro achou que ele não fosse perigoso...

Monstro deu uma pausa, e depois continuou quando recebeu um outro olhar que o assustou vindo de Christopher.

-Quem era o rapaz, Monstro? – perguntou Christopher.

-Era frio, senhor, assim como você. – respondeu Monstro, e Christopher entendeu o que ele quis dizer.

Os outros não pareceram entender, porém Monstro continuou falando antes que alguém perguntasse o que ele queria dizer.

-E depois, o rapaz subiu para dentro de casa e continuou conversando com a senhorita, e depois...

-...Depois? – repetiu Hermione, querendo saber o que acontecia.

-Sumiram. – respondeu finalmente.

Monstro, quando percebeu que o interrogatório havia terminado, voltou a resmungar algumas palavras sem nexo e saiu, continuando a xingá-los e arrumar a confusão que haviam feito.

Christopher continuou parado onde estava, tentando assimilar os fatos... “Era frio, senhor, assim como você.”, a voz de Monstro perpetuava em sua mente, não querendo sair. Se for assim, alguma coisa estava errada, e Kate poderia estar correndo perigo.

-O que faremos? – perguntou Hermione.

Todos ficaram quietos, não sabendo o que responder. A verdade era que, apesar de saberem que Kate tinha ido embora com algum garoto, não tinham idéia nenhuma de quem era a pessoa e para aonde ela tinha ido.

-Não sabemos onde ela está. – disse Ron – Como poderemos fazer algo?

-Ron! Nos temos que fazer algo! – disse Hermione, levantando-se.

-Responda-me o porque. – disse Lilly, não contente com todo aquele alvoroço. Falou antes que pudesse se conter – Provavelmente, ela deve ter saído com o
tal do Brian...

Harry ergueu uma sobrancelha, porém Lilly não quis se explicar.

-Eu proponho esquecermos isso e irmos ajudar a Sra. Weasley no jantar. – disse, levantando-se da poltrona.

Todos olharam para Lilly, surpresos com sua insensibilidade.

-O que você tem contra Kate, Lilly? – perguntou Hermione, surpresa. – Ela
pode estar necessitando da nossa ajuda, e você dá de ombros?

Lilly riu friamente e respondeu, como se fosse a coisa mais obvia do mundo:

-É simples: eu simplesmente não me importo com ela!

Lilly rolou os olhos quando viu todos aqueles olhares surpresos sobre ela, e resolveu ir para o quarto, subindo dois degraus de cada vez. Quando chegou em seu cômodo, fechou a porta e se jogou na cama de cabeça para baixo.

-Porque se importam? – murmurou ela para si mesmo – Ela é só uma idiota que gosta de brincar com os sentimentos dos outros, isso mesmo!

-Você sabia que falar sozinha é geralmente um sinal de gente maluca? – disse uma voz do canto do quarto.

Lilly não se levantou abruptamente; ergueu-se e ficou de lado, virando a cabeça lentamente na direção da voz. Encontrou um menino sentado na
cadeira, de pernas cruzadas e com o dedo tamborilando no encosto para o braço, o ar maroto, com olhos azuis celeste a boca aberta em um sorriso.

-Ahm... Quem seria você e o que você está fazendo aqui? – perguntou Lilly, tentando ficar calma.

O garoto apenas sorriu mais ainda, aumentando seu ar de mistério e suspense.

-Duas perguntas insignificantes no momento. – ele disse, e Lilly pareceu confusa – Eu sei onde a sua amiga está.

Lilly ergueu a sobrancelha, e ia falar algo, porém o garoto a interrompeu.

-Eu sei, você acha que ela traiu o seu melhor amigo, e você acha que ela é uma falsa e uma mentirosa, blá, blá, blá... – disse, revirando os olhos.

Lilly ficou surpresa.

-Você anda me espionando? – perguntou, se afastando um pouco dele e se arrependendo por não deixar a varinha em seu bolso.

-Não. – respondeu, ainda com um sorriso enigmático no rosto – Você é apenas um pouco previsível.

-Simpático, você. – disse Lilly em um tom irônico.

-É, eu sei. – o garoto parou de sorrir, e adotou um olhar mais sério – Eu sei que
você aparentemente não acredita nela, mas prefere vê-la em perigo?

Lilly mordeu o lábio inferior, olhando para o chão. Não sabia o que responder; estava dividida em seu lado mais perverso e seu lado bom. Claro que nunca gostaria de fazer alguém sofrer, mas que tinha imensa raiva de Kate, tinha.

-Você por acaso vai me chantagear em troca de informação? – perguntou Lilly.

O garoto riu, mas depois acenou negativamente com a cabeça.

-Eu acho que você já sabe onde ela está. – respondeu, retomando seu ar sério – Você já ouviu falar do lugar, em lendas apenas.

Lilly pareceu confusa, não sabendo do que ele estava se referindo.

-Apenas diga ao seu amigo Christopher para ele se lembrar dos últimos sonhos que ela anda tendo, e é lá que ele a vai encontrar.

-Espera ai, ela está presa num sonho? – perguntou Lilly, confusa.

Alguém a chamou lá embaixo e quando ela desviou o olhar do garoto, ele
desapareceu, deixando Lilly confusa, achando que tinha visto uma miragem. Continuou com o ar meio aéreo, e Hermione apareceu na porta do quarto.

-O que houve? – perguntou Hermione, vendo a expressão na face de Lilly.

Lilly continuou sem responder nada, olhando para a cadeira onde o garoto estava. Levantou-se da cama e foi até a cadeira, a tateando, caso ele estivesse numa capa de invisibilidade ou sobre o feitiço de desilusão, porém não havia ninguém ali. Ficou encarando a cadeira, enquanto Hermione esperava por alguma resposta.

-Christopher está lá embaixo? – falou Lilly finalmente, para a confusão de Hermione.

Hermione assentiu com a cabeça. Lilly passou por ela e desceu as escadas, com Hermione ao seu encalço.

-O que houve? – tornou a perguntar Hermione, mas novamente Lilly não a respondeu.

Lilly chegou à sala e viu Harry, Ron e Christopher ali, mudos e encarando a lareira, imóveis. Quando apareceu, estes viraram sua atenção para ela, que parecia tentar encontrar palavras.

-Eu acho que eu sei onde Kate está. – respondeu, e todos olharam para ela fixamente.

-Como...? – começou Harry, porém Lilly ignorou.

-O lugar. – Lilly olhou para Christopher, rezando para que ele a entendesse – O lugar com que ela sonha.

Harry, Hermione e Ron não entenderam nada, e ficaram se entreolhando e lançando olhares a Lilly a para Christopher. Este se levantou abruptamente, e ficou a uns centímetros de distancia de Lilly.

-Como você...? – ele perguntou, porém Lilly tentou fazer de tudo para desviar seus pensamentos.

-Não importa isto agora, não? – disse, recuando alguns passos.

-Não, não importa... – a expressão de Christopher era de preocupado, e Lilly pareceu perceber que era algo sério – Tem certeza disso?

Lilly assentiu com a cabeça, confiando nas palavras de um desconhecido que nunca havia visto na vida.

-Se você está certa disso... – Christopher cerrou os punhos, e falou pelos dentes – Não temos muito tempo, Kate deve estar em perigo.

-Como assim? – perguntou Harry – Que lugar é esse que vocês estão falando? E que perigo ela corre?

Christopher demorou um pouco para responder, porém, ao falar apenas duas palavras, o clima da sala foi de enorme escuridão, e tudo pareceu parar de se movimentar, até mesmo o fogo da lareira, que parava de crepitar suas chamas.

Duas palavras, o suficiente para fazer quase todos se arrepiarem de medo.

-Letum Villa.
































~~

N/A
Serena: Pois é, esse feriado vai ser inesquecivel! :)
...
porém, de uma forma que você vai querer se esquecer depois, é claro




HOHO, sô misteriosa.

Ps: OTIMO NATAL E UM FELIZ ANO NOVO! =D

Beijos,




K.


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