Capitulo 8



Capítulo 8


“Almofadinhas ama brincadeiras & Fomos enganados & Cinco pessoas para matar”


 


— Alô... Don Peperone?... Desculpe acordar o senhor há esta hora, mas é que... Pare de gritar um pouco, Don Peperone. A coisa é urgente... A enfermagem acabou de passar por aqui... O velho careca morreu Don Peperone... Que ótimo, não é mesmo? ...Sim, já pedi para o médico de plantão preencher o atestado de óbito... O senhor vai para a escola agora com o Giovanni? ... Está bem, Don Peperone... Eu fico aqui no hospital tomando conta do cadáver...


 


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Lílian não se deixava dominar nem pelo cansaço, nem pelo frio. Estava lutando pela liberdade do pai, sob a liderança de um guia maravilhoso.


Cautelosamente, os dois deram a volta no quarteirão contornando a grade da escola. De longe, Lílian via a entrada da cozinha. Joseph tinha acabado de abrir a porta e estava sentado na soleira, mal iluminado por uma lâmpada que acendera lá dentro.


James sussurrou um tempão no ouvido de Almofadinhas. O rabo do cachorrinho sacudia freneticamente, como se estivesse entendendo tudo e adorando a proposta.


Seu dono colocou-o devagar por cima da grade. O cachorrinho pulou para o gramado do jardim. No mesmo instante, pôs-se a correr na direção da porta da cozinha, latindo sem parar.


— Au, au!


Lílian viu Joseph levantar a cabeça, surpreso.


Almofadinhas chegou a poucos metros do homem e parou.


— Que é que faz esse cachorrinho aqui? Venha cá! Pra fora!


Almofadinhas fez meia-volta e correu na direção contrária. Esbaforido, Joseph correu atrás.


— Tudo bem, Jay. Vamos lá!


Os dois pularam a grade e, de mãos dadas, correram na direção da cozinha.


A portinha é aqui, James. Ei espere um pouco...


James percebeu que Lílian afastava-se um instante e logo voltava.


— O que é que você foi fazer?


— Joe esqueceu a lanterna no degrau, Jay. Fui buscar.


— E pra que você precisa disso?'


— Ora, James! Na escuridão desse porão, eu preciso de uma lanterna!


— Tem gente que precisa de cada coisa inútil... — comentou o rapaz, enfiando-se pela portinha.


O porãozinho era baixo mesmo. Andando de quatro, os dois amigos arrastaram-se pelo chão empoeirado.


Aquele porão era o único lugar onde poderiam ter escondido o professor Dumbledore, mas nenhum dos dois tinha coragem de dizer ao outro que parecia muito improvável que tivessem deixado o Velho durante duas semanas num espaço tão baixo, onde ninguém podia ficar de pé.


Por um momento, James temeu que o professor estivesse morto mesmo e enterrado naquele porão. Mas logo afastou essa idéia, confiando em sua própria teoria: se o Velho estivesse morto, como os bandidos iam trocar um cadáver putrefato, depois de duas semanas de cova, pelo cadáver fresquinho do velho careca?


"Ai!", pensou Lílian. "Não posso acender essa lanterna. Joe vai notar a luz!"


Teve de resignar-se a seguir o amigo, agarrando-se às suas roupas, pois não havia nenhum sinal de luz até onde ela podia enxergar a extensão do porão.


James rastejava na frente. Conhecia perfeitamente a planta de Hogwarts. O porão, naturalmente, seguia o mesmo desenho, pois era constituído pelo vão entre os alicerces.


Ouviu nitidamente passinhos miúdos que corriam por todos os cantos, à medida que eles avançavam.


— Ruivinha...— sussurrou ele. — Por favor, não me vá fazer um escândalo se encontrar algum rato, hein? "Ratos?! Que horror!"


— Pode deixar, Jay. Não sou nenhuma menininha fresca! — respondeu ela, gelada de medo com a idéia de deparar com um rato peludo.


Mentalmente, James orientava-se por baixo do colégio, procurando esgotar toda a planta do porão.


— Lily, tem alguma coisa estranha nesse porão.


Há minutos, os dois rastejavam ao longo de uma parede totalmente fechada, sem nenhuma passagem. Mas James tinha certeza de que tinham percorrido apenas um terço da estrutura da escola. Devia haver muito mais porão.


— Tem uma parte emparedada, ruiva.


— Como assim?


— O porão devia ser muito maior. Estamos dando sempre em uma parede sólida. Há uma parte fechada, que só deve ter acesso por alguma outra entrada...


— E agora, Jay?


De repente, o frio que sentia fez o rapaz lembrar-se de um ventinho... que sentira naquela tarde.


— Já sei, Lily! Já sei onde está o professor. E sei muito bem como chegar até lá!


Guiada por James, Lílian estava de volta à portinha de entrada do porão. Espiou cautelosamente. Joe não estava por perto. Almofadinhas devia estar lhe dando um belo cansaço.


Saíram agachados e logo estavam dentro da cozinha, cuja porta Joseph esquecera aberta.


— Venha, Lily. Vamos para a sala da diretoria. Tentando acompanhar os passos apressados do amigo, a menina caminhava apoiando a mão no ombro de James, pois não enxergava coisa alguma na escuridão dos corredores.


— É aqui.


Abriu a grossa porta da sala e os dois entraram em silêncio, fechando-a em seguida.


 


• • •


 


 


Sarah entrou no saguão da delegacia e aproximou-se de um balcão, atrás do qual estava um homem, meio dormitando.


— Com licença?


O homem abriu os olhos e encarou-a, mal-humorado:


— Hum, o que a senhora quer?


— É urgente. Preciso falar com o investigador Weasley. Ou com um outro, chamado Xavier!


 


• • •


 


As cortinas estavam bem fechadas e Lílian pôde acender a lanterna sem risco de serem descobertos pelo vigia, lá fora.


A luz brilhou, revelando James agachado no tapete. Compenetrado, ele tateava uma estante de livros. Tinha sentido novamente o ventinho suave que parecia passar por baixo da estante.


— Ruiva, veja se encontra uma espátula...


A menina nem perguntou para que ele precisava de uma espátula, porque aquela não era hora de conversa.


Com a luz da lanterna, procurou qualquer coisa parecida com uma espátula em cima do tampo da bela mesa da diretoria. Ao lado da janela, havia um armário.


Lílian abriu-o e vários rolos de papel caíram sobre ela, espalhando-se no chão.


— O que é isso?


— Devem ser os mapas que eu derrubei de cima da mesa hoje à tarde.


— Mapas, James? — apontando a lanterna com uma das mãos, a menina desenrolou um dos tais "mapas". - Isso são plantas!


— Plantas? Como assim?


— Uma porção de plantas! — freneticamente, Lílian desenrolava os papéis e explicava para o amigo. — De um shopping center. Coisa grande! E você não adivinha uma coisa...


— O quê?


— Aqui estão assinaladas as ruas onde este shopping center será construído... São estas ruas, Jay! É a área inteira de Hogwarts!


James parou de apalpar a estante.


— Um shopping center? Aqui? É mesmo! Este terreno é enorme, muito bem localizado. Um lugar ideal para um shopping!


— Ora, Jay! O professor Dumbledore só concordaria com a demolição do colégio para a construção de um shopping depois que alguém tivesse passado por cima do... - E então Lílian entendeu.


— Do seu cadáver, Lily? Por isso é que temos de nos apressar. Para que ninguém passe por cima do cadáver do professor Dumbledore!


— Ai, Jay! A prisão do meu pai tem muita coisa por trás!


— Você está percebendo? Alguém quer afastar o professor definitivamente, para fechar o colégio e vender o terreno para a construção de um enorme shopping center! E não duvido nada de que a morte da professora Emily, no começo do ano, tenha sido o primeiro passo para anular as oposições a esse projeto!


— E tudo isso está sendo feito por... ai, não consigo nem aceitar uma barbaridade dessas! Augusto devia estar tirando dinheiro do colégio e...


— Tudo se encaixa: os cargos do seu pai e do Tadeu são da área financeira, a que está sob a chefia do Augusto. De algum modo, o danado deu um jeito de livrar a cara obrigando seu pai a confessar o crime!


— Coitado do papai... Mas, será mesmo que Augusto teria coragem de matar a própria mulher? E o sogro? E o que acontecerá com Jonathan? Ele é um apaixonado por educação. Deve ser o próximo da lista!


— É uma lista grande, ruiva.


— No que é que a gente está se metendo, James?— Lílian estava apavorada.


— Já estamos metidos nisso até o pescoço, Lil’s! - Lílian logo percebeu o novo apelido, mas havia coisas mais importantes para se concentrar no momento.


A menina encontrou um cortador de papéis numa das gavetas do armário. James começou a passar o cortador entre o tapete e a base da estante. Não encontrou nenhuma resistência, como se um dos módulos da estante estivesse suspenso no ar, sem apoiar-se no tapete.


— Lil’s, a lateral dessa estante tem duas tábuas, uma em cima da outra. Vamos ver.


Enfiou o cortador entre as tábuas. Em determinado ponto, a lâmina foi detida por algo sólido.


Tateou perto do local. Com as pontas dos dedos, sentiu uma leve depressão na tábua, do tamanho de uma caixa de fósforos. Apertou firme.


Como se fosse a caverna do Ali Babá, a estante inteira recuou.


— Abre-te, Sésamo! Tinha uma entrada secreta, Jay!


— Psiu, Lily... — agarrou a menina bem perto de si, colando a boca em seu ouvido. A garota sentiu um arrepio ai ouvir a voz do garoto em seu ouvido — Não podemos fazer nenhum ruído. Preste bem atenção: minha mãe deve chegar logo, trazendo a polícia. Vamos entrar como se fôssemos fantasmas. Apague a lanterna e segure em mim.


A escuridão era total agora. Com as pontas dos tênis, James percebeu que havia uma escada para descer. Aquele trecho secreto do porão era escavado, mais profundo, de modo que as paredes tivessem altura normal, como qualquer casa.


Provavelmente um antigo depósito de carteiras quebradas, construído há décadas.


Lílian agarrou o ombro da jaqueta de James e deixou-se guiar na descida da escada.


Lá embaixo, o porão era um labirinto vazio, mas, mentalmente, James tentava lembrar-se da planta de Hogwarts, e assim podia adivinhar a existência de cada parede. Em certo ponto, Lílian puxou-lhe a cabeça e sussurrou-lhe no ouvido:


— Há uma luz à frente, Jay...


— Onde?


— À esquerda. Mais ou menos debaixo de onde deve ficar a sala da biblioteca...


James parou. Não podia continuar avançando, sem correr o risco de ser visto.


Lílian tomou a iniciativa:


— Fique quietinho aqui, Jay. Eu vou dar uma espiada.


— Tome cuidado, Lil’s.


A luz fraca que vinha daquele lado permitia que a menina enxergasse para onde ia. Colou-se à parede e avançou, pé ante pé.


Chegou ao lado de uma porta semi-aberta.


De dentro, ouvia apenas um ressonar suave.


"Tem alguém dormindo lá dentro!"


Com o coração aos pulos, enfiou a cabeça pelo vão da porta. O que ela viu quase fez com que soltasse um grito. "Encontramos!"


Voltou com mais cuidado ainda e sussurrou no ouvido de Toni:


— O professor está lá, Jay. Eu vi. Está imóvel, parece morto... E você nem vai acreditar em quem está lá dentro, dormindo num colchão perto da porta.


— É fácil adivinhar, Lily. Quem está lá é o Tadeu! Só tem ele lá? Como está deitado?


— Só tem ele, além do Velho. E ele está dormindo de bruços... Por quê?


— Me dê a gravata do Weasley, que você guardou no bolso. Ouça o que nós vamos fazer.


 


 


• • •


 


 


Almofadinhas corria de um lado para outro em volta do prédio do colégio.


Seu querido dono e a nova amiga que lhe fazia cafuné tão bem tinham desaparecido há tempo demais para o gosto do cachorrinho, que detestava ficar só.


Farejava cada canto detalhadamente, como se fosse um detetive procurando pegadas no barro com uma lente. Localizou o cheiro familiar na portinha do porão e entrou correndo, sem ligar para as dezenas de ratazanas que fugiam para todos os lados, ao perceberem a invasão de um inimigo natural.


"Que os ratos fiquem para o gatos!", parecia pensar o cachorrinho, concentrando-se na busca dos amigos. Voltou e reencontrou a pista, subindo as escadinhas que davam na grande cozinha do colégio.


 


• • •


 


 


Tadeu foi acordado pela pressão de uma ponta dura a apertar-lhe as costelas. E uma voz grossa falava duramente:


— Quietinho aí! É a polícia! Nem pense em se mover!


— Hum...?


— Calado! Se não quer levar um tiro!


Da rua deserta, vinha o ruído do motor de um carro. E James percebeu que as velas daquele carro falhavam e que a segunda marcha arranhava muito.


"É a polícia mesmo! Estamos salvos!"


Agachada, Lílian apertava o dedo indicador nas costas de Tadeu. Jay, depois de ter feito a voz mais grossa e autoritária que conseguia forçar, abaixou-se ao lado dela, pressionou as costas do homem deitado com os joelhos e não teve dificuldade em agarrar-lhe os braços e puxá-los para as costas. Com habilidade, amarrou-lhe os pulsos com a gravata ensebada, dando dois nós.


Da escada secreta, vinham ruídos de passos. Os ouvidos treinados de James contaram várias pessoas. Quatro, talvez cinco... ou seis. Uma delas era pesada demais. Devia ser Weasley.


— Pronto, Lily! A polícia já chegou!


Ao ouvir aquela voz jovem, agora sem disfarce nenhum, Tadeu virou a cabeça.


Iluminados pela lâmpada fraca que estava suspensa no teto, estavam dois alunos de Hogwarts.


— O que é isso? Dois moleques da escola!


— Calado, Tadeu! — ordenou James, triunfante. Acabou a brincadeira. Agora é a polícia mesmo!


Antes que Lílian pudesse ver o primeiro rosto que entrava no salão subterrâneo, James já tinha percebido o cheiro forte de chiclete.


Xavier entrava com um revólver apontado para a frente. Com a outra mão, arrastava Joseph, algemado a mais uma pessoa.


— James, Lily! Fomos enganados.


As lágrimas corriam pelo rosto de Sarah.


Mais três homens entraram em seguida.  Lílian não podia entender como o corpo obeso de um deles tinha conseguido passar pela entrada secreta.


Mascalzoni! Incompetenti! Como é que vocês deixaram dois moleques se meterem tanto na nossa vida? Vocês não servem nem para assaltar um jardim de infância!


O delegado Mendes e o investigador Xavier estavam de cabeça baixa, recebendo a bronca, como se fossem crianças diante do pai. Nem pareciam duas autoridades policiais. Xavier tratou de desamarrar Tadeu.


"Meu Deus!", apavorou-se Lílian. "Toda a polícia está do lado dos bandidos!"


Os capangas haviam arranjado um caixote vazio para o chefe sentar. Era de madeira reforçada, mas vergava-se sob o peso imenso do homem que os bandidos chamavam de Don Peperone.


Sentados no chão, Sarah, Joseph, James e Lílian estavam sob a mira de dois revólveres.


Deitado num colchão imundo, o professor Dumbledore parecia pálido como um cadáver, mas Sarah percebeu que seu peito subia e descia suavemente. Ele estava vivo, mas dopado, como se estivesse prestes a ser levado para uma sala de cirurgia. Uma bandagem suja de sangue envolvia-lhe o peito.


Don Peperone ajeitava o paletó, vestido sobre o pijama. Parecia mais calmo, depois de ter desancado seus cúmplices, exibindo a autoridade de um chefe mafioso de filme americano.


Ma, in fondo, tudo acabou bene! O único problema é de vocês, incompetenti. Em vez de um só, vão ter cinque persone da uccidere!


Lílian sussurrou para James:


— O que quer dizer "uccidere"?


— Quer dizer "matar", Lily.


De repente, Don Peperone soltou um grito:


Aiuto! Che cosa é questa?


— Au, au!


Um cachorrinho peludo invadia o salão subterrâneo e ferrava os dentes na calça do pijama de Don Peperone.


 

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