Como uma fênix...



Hermione sentiu, com pavor, seus dedos se moverem involuntariamente. Já fazia mais de uma hora que estava na mesma posição, sem poder se mover ou falar, mas sabia que enquanto estivesse assim, estaria bem. Pelo que lembrava das aulas de Trato das Criaturas Mágicas, o veneno paralisante variava de pessoa para pessoa. Para alguns poderia levar apenas alguns minutos, para outros, horas ou dias. De qualquer forma, não importava o tempo, na realidade, pois enquanto uma pessoa estava sob o efeito do veneno, uma acromântula aproveitava para enrolar a vítima em um casulo feito de teias o que, por si só, já paralisava também a pessoa. Alguns tinha a sorte de morrer sufocados nesse processo.


 


Para os que não tivessem tanta sorte, o destino seria viver uma morte lenta e dolorosa banhada a medo e desespero. Era isso o que esperava Malfoy se Hermione despertasse do seu torpor e por isso, gostaria de permanecer naquele estado por mais tempo. Mas não parecia que isso iria acontecer. Seu dedos se moviam e agora sentiu um espasmo numa das pernas.


 


Olhou para Malfoy. Ele parecia calmo, transmitia uma tranquilidade no olhar, enquanto ela parecia querer desistir a qualquer minuto.  Cada minuto que se passava, mais ela se movia.


 


- Pelo jeito, teremos de esperar menos do que supúnhamos! – falou a rainha sepulcral, com aquela voz demoníaca.


 


“Talvez seja o fim...”, pensou Hermione, olhando para Malfoy e de seus olhos paralisados, uma lágrima escapou. “E eu nem pude dizer a ele que o amo...”, pensou ela, tentando mover seus lábios. A boca tremia e um som gutural saiu.


 


- O que é? – perguntou a aranha-mãe em tom jocoso, aproximando-se para ouvir o que Hermione tentava dizer.


 


- E... – disse ela, forçando os lábios. Agora já não lhe importava mais nada. Os dois estavam condenados. Sofreram, lutaram. Ambos em seus lados, tentando cada qual sobreviver aos percalços que se lançavam em seus caminhos que hora se cruzavam, hora de afastavam.


 


E apesar de tudo conspirar contra, apesar de Hermione ser uma sangue ruim, amiga de Harry Potter, aurora, casada... Apesar de tudo, ela passou a amá-lo verdadeiramente, como nunca amara ninguém.


 


- Eu... a... – tentou ela novamente, mas as palavras, simplesmente não saíam. Forçou os pulmões e sentiu quando uma bolsa de ar encheu seus pulmões. Com todas as forças, abriu os lábios, tendo os olhos fixos em Malfoy...


 


- Eu amo você! – disse ela, sem tirar os olhos dele.


 


No casulo de Malfoy, Hermione percebeu que houve um movimento e os olhos azuis de Malfoy marejaram.


 


Então, como por milagre, alguma coisa aconteceu. A rainha sepulcral começou a tremer convulsivamente, como se tivesse em dores. Então ela começou a berrar, um grito tão alto e tão agudo que doía os ouvidos de Hermione. Entretanto, julgou que os ouvidos da acromântula fossem mais sensíveis do que os humanos. De qualquer forma, o tormento daquela criatura era tanto que todas as aranhas ao redor ficaram sem saber o que fazer. Corriam para dentro e para fora dos buracos, aproximavam e se afastavam da rainha que tremia e espelia uma mucosa substância pela presa. Estranhas protuberância começaram a aparecer na couraça do monstro e delas, o muco amarelado também escorria. A pele começou a se descamar como se estivesse criando camadas. Parecia muito com a aparência de Harry quando ele foi infectado pela primeira vez pela Praga de Dracon. Seria a praga fazendo efeito?


 


Hermione não queria esperar para ver. Tentou se arrastar. Apenas um braço funcionou, mas ela tomou algum impulso e puxou o corpo com esforço para perto do casulo de Draco. Estava exausta, mas quando chegou a tocá-lo, os dois braços já estavam livres da paralisia e com eles, Hermione o libertou. Ele, já livre do veneno, mas muito abatido pela dor que o acometeu enquanto a rainha estava se alimentando dele, tinha olheiras escuras abaixo dos olhos azuis.


 


- Vamos sair daqui enquanto há tempo... – disse ele, ajudando Hermione que tinha as pernas paralisadas.


 


Uma acromântula atacou-os e Hermione foi lançada ao chão, por sorte Draco sacou a varinha, que havia escondido dentro de seu manto e a matou.


 


Depois disso, agarrou os pulsos de Hermione, ergueu-a nos braços e saiu por um dos buracos até a outra câmara.


 


- Eu acho que já consigo andar, Draco! – falou Hermione, desesperada, enquanto eles se escondiam atrás de uma mureta de pedra. A câmara estava em polvorosa, as aranhas correndo feito loucas de um lado para outro. Era tanta movimentação que do teto da câmara despencavam estalagtites e não demoraria muito para que tudo desmoronasse. – Precisamos sair daqui!


 


- Vá, Hermione... eu preciso voltar! – falou Malfoy, fazendo menção em se afastar dela, mas ela agarrou seu braço.


 


- Onde pensa que vai, Malfoy! – gritou ela, desesperada. – Você vai sair daqui comigo! Não há mais nada a fazer... Deus... não há mais nada a fazer!!!


 


- Há... Eu vi lá atrás, na outra câmara... há uma coisa que eu preciso fazer, Hermione. – Disse Malfoy, segurando sua mão. – Eu escutei o que você disse e saiba que isso fez a minha vida valer a pena. Você me fez um homem melhor do que eu jamais poderia ser. Eu deixei tudo o que era do mal para ser alguém melhor...


 


- O que está querendo dizer? Que vai morrer por minha causa? Não faça isso, Draco... por favor... – disse ela, juntando as mãos como se fosse rezar. – Venha comigo... vamos sair daqui!


 


- Meu amor... – disse ele, encostando a sua testa na dela. – Eu amo você...


 


Depois ele procurou seus lábios e os dois se beijaram  enquanto tudo a volta tremia. O tempo parou enquanto ela estava nos braços deles. Sentia uma estranha vibração saindo do corpo dele para o seu e sentia que sua alma se inflava. Aquilo lhe dava forças. 


 


- Eu te amo, Malfoy... eu te amo... - confessou ela, tentando perpetuar aquele momento efêmero. 


 


- Mesmo que não acredite... eu amo você, Hermione... – disse Malfoy, se afastando – amo você desde a primeira vez que eu te vi... mas jamais poderemos ficar juntos, não enquanto não tiver reparado todo o mal que eu lhe fiz...


 


Uma explosão chamou a atenção de Hermione que virou o rosto. Uma grande quantidade de pedra desgrudou do teto e espatifou-se no chão, com estrondo.


 


- Precisamos sair logo daqui, Malfoy... Malfoy?


 


Quando olhou para onde Malfoy estava, não viu nada a não ser o vazio. Levantou-se desesperada, lutando freneticamente contra o veneno que ainda agia em seu corpo. Entretanto, quando fez menção em seguir Draco um grande bloco de pedra trancou seu caminho.


 


- DRACO!!! DRACO!!! – gritou Hermione, tentando em vão, remover a pedra.... – DRACO... DRACO... NÃO ME DEIXE!!! NÃO ME DEIXE, MALFOY!!!


 


As lágrimas borravam a vista de Hermione que tentava com todas as forças empurrar a pedra e por isso ela não percebeu que Rony havia se aproximado.


 


- Vem, Hermione... temos que sair daqui!!! – falou Rony, tentando puxá-la – Os outros já estão salvos... – venha, Hermione, venha!


 


Ela ainda lutou, mas percebeu logo que não havia mais o que fazer. Quando o teto começou a desabar, Hermione resolveu atender ao pedido do ex-marido. Tomaram a passagem por baixo do salgueiro lutador até saírem à superfície. Um grande buraco se abria no chão e os dois tiveram que correr para não serem sugados. Uma grande explosão de ar jogou areia, pedra e fuligem para cima, além de uma estranha fumaça amarelada que lembrava as protuberâncias criadas na rainha sepulcral.


 


A destruição foi tão violência que havia engolido parte do castelo. No meio da confusão, percebeu que havia outras pessoas, talvez sobreviventes ali na superfície. Algumas aranhas saíam de dentro do buraco e corriam confusas em direção à floresta proibida. Estavam machucadas, abaladas, não eram mais uma ameaça. O plano de Malfoy, enfim, surtira efeito. Entretanto, ele não sobrevivera... não poderia ter sobrevivido, poderia?


 


Havia uma réstia de esperança no coração de Hermione que olhava para a gigantesca cratera. A fumaça cobria tudo e ela não conseguia respirar direito, mas então viu: lá estava ele, no meio da destruição, surgindo como um pássaro fênix. Ao lado dele, duas figuras menores se destacavam: Hugo e Rose.


 


Hermione sentiu um aperto estranho no coração. Um misto de alegria, dor, raiva, amor, felicidade. Uma mistura de emoções que julgou jamais existir na vida de um ser humano. Sabia o quanto era errado amar seu inimigo. O quanto era errado amar um homem cujas ações eram obtusas. E apesar de tudo, só o que Hermione conseguia pensar era em correr para ele e ficar para sempre em seus braços...

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