Admirável Novo Mundo



A nuvem de poeira foi assentando aos poucos enquanto Rose e Hugo corriam em direção aos pais. Malfoy havia ficado para trás. Depois que abraçou e beijou seus filhos, Hermione tentou ver onde Draco estava indo, mas perdeu-o de vista.



Hermione não cabia em si de felicidade. Tinha os filhos de volta em seus braços e, fora algumas escoriações superficiais, ambos estavam bem.



– Mamãe!!! – Rose havia se afundado em seus braços e nem mesmo Rony conseguiu removê-la.



Hermione sentou-se no chão e deixou-se ser abraçada, deixou as lágrimas rolarem, deixou, enfim, o peso de toda aquela situação tensa e desesperadora tomar conta de seu ser. Ela estava cansada. Exausta. O cansaço a vencera, mas nada mais importava, seus filhos estavam bem. Malfoy os salvara.



15 dias depois...



Era a primeira vez que Hermione entrava no Ministério da Magia desde que a rainha Acromântula fora morta. Os resquícios da invasão das aranhas ainda era visível não só no Ministério, mas por todo o mundo. As pessoas ainda retiravam as estranhas teias de aço e enterravam seus entes queridos. O mundo estava em luto por tudo o que havia acontecido e aquele clima pesado abatia-se sobre o Ministério. As pessoas andavam cabisbaixas, pensativas, sem se dar conta umas das outras. Aos poucos as coisas voltariam ao normal, mas ainda levaria algum tempo.



Hermione desceu no Departamento de Justiça Familiar e entrou num dos Tribunais Mágicos, onde Rony já aguardava com os filhos. Os três sorriram imediatamente ao vê-la.



– Todos em pé para receber a Juíza Coleene Flateury. - disse a segurança do Tribunal, enquanto uma mulher de meia idade entrava e se sentava no balcão maior, onde um dia Hermione assistiu Dolores Umbridge conduzir um interrogatório.



Hermione sentou-se ao lado de sua advogada, enquanto a Juíza analisava alguns papéis.



– Ao pedido de revisão da guarda definitiva de Hugo e Rose Weasley pelo pai, Ronald Weasley, aqui presente, delibero que a mãe, Hermione Granger, tem direito a guarda compartilhada, embora a custódia principal fique a cargo do pai. As partes estão de acordo?



– Sim... – respondeu Rony e Hermione ao mesmo tempo.



– Há uma ordem do rei-bruxo, Draco Malfoy, de que os bens de Hermione Granger devem ser restituídos. O pai, Ronald Weasley, gostaria de apelar dessa ordem? – perguntou a juíza.



– Não, meritíssima. Os bens que juntamos durante nosso casamento pertencem a Hermione. Foi ela quem sempre ganhou mais. Ela comprou a casa sozinha e guardou dinheiro esse tempo todo. É injusto eu tomar esses bens dela. Na verdade, isso tudo foi um truque para manter Hermione afastada do mundo bruxo, meritíssima... – explicou Rony, com aquela cara marota usual que ele tinha.



– Isto posto, defiro em favor de Hermione Granger.



– Meritíssima. Eu agradeço pela restituição dos meus bens. Mas gostaria que Ronald e meus filhos continuassem a morar em nossa casa. Além do mais, gostaria de fixar uma pensão de 1.000,00 galeões mensais para meus filhos.



– O pai concorda com esse arranjo? – perguntou a juíza.



– Sim, meritíssima! – respondeu Rony.



A sessão terminou um pouco depois. Quando a Juíza saiu, Hermione cumprimentou a advogada bruxa e depois correu na direção dos filhos que a abraçaram.



– Hermione, obrigada por tudo... sabe... pela pensão também...



– Não me agradeça, Rony. Estou fazendo isso pelas crianças. Eu soube que você saiu do Departamento de Aurores.



– Eu não poderia continuar. Eu nunca fui um bom auror, na verdade, Hermione. Eu só não queria admitir. – respondeu Rony, meio sem graça. – Luna me convidou para trabalhar no Pasquim. Vou ser um dos administradores. Acho que eu sei fazer isso bem.



– E tem a Luna... – adicionou Hermione, sorrindo.



– Bem.. você já soube, imagino.



– Soube, sim. Saiu na capa do Profeta Diário, mas eu fiquei muito contente por vocês estarem juntos.



– Ela gosta muito dos nossos filhos.



– Fico contente com isso, Rony. Espero que você seja muito feliz na companhia de alguém que possa te valorizar como eu nunca fiz.



– Bem... éramos muito diferentes.... – disse Rony, meio tristonho. – Mas e você e Malfoy?



– Malfoy? – Hermione perguntou, sentindo um estranho tremor perpassar seu corpo. Desde que vira Draco sumir em Hogwarts em busca de novas vítimas. Ela voltara para Azkaban e de lá, Hermione foi para seu apartamento. Desde então, não vira, nem falara com Malfoy.



– Eu soube que ele tem feito um bom trabalho como rei. Quem diria? - falou Rony.



– Imagino que sim... nós não estamos juntos, se é o que você pensa...



– Bem... é que achei que vocês... bem, não importa. Harry disse que está precisando muito de você no Departamento. Você vai voltar como auror, Mione?



– Eu sei que posso ajudar como auror. Sei que fui uma boa auror, sempre fui o braço direito de Harry em todas as missões, mas essa confiança foi abalada por ambas as partes. Eu não sei se a nossa parceria ainda dará certo, mas imagino que eu deva saber o que ele quer antes de lhe dar uma resposta definitiva.



– Você é uma mulher muito prudente. Tenho certeza de que vai fazer a coisa certa.



– Assim espero...



Minutos depois, Hermione entrou no Departamento de Aurores, seu segundo lar depois de tantos anos. Parecia agora que fazia muito tempo desde a última vez que ela entrara ali. Alguns aurores conhecidos e que sobreviveram ao ataque das acromantulas cumprimentaram-na no caminho para a sala do chefe do Departamento de Aurores. Ao entrar, levou um susto: não era somente Harry quem estava ali, mas também Malfoy, sentado a um canto. Ele levantou o rosto ao ve-la entrar, mas não fez nenhuma menção de abraça-la, ao contrário de Harry que a acolheu em seus braços, abraçando-a forte.



– Mione, que saudades, querida! – disse Potter, afastando-se um pouco depois. – Você deve saber que estamos na maior crise. As acromantulas foram todas confinadas na floresta proibida e as poucas que ficaram na cidade foram capturadas pelos trouxas que sobreviveram. Eles acham que é algum tipo de mutação. Trouxas! Bem, precisamos da sua ajuda e precisamos urgentemente.



– Sei disso, eu só não sei se eu tenho a confiança necessária para ser auror.



– Não queremos você como aurora! – falou Malfoy, olhando para ela com um estranho brilho no olhar.



– Como assim? Não me querem como auror? O que querem que eu faça, então? – perguntou Hermione olhando de um para outro.



– Quando eu fui promovido a vice-rei, Quim assumiu a chefia do Departamento de Aurores. Agora que ele morreu, precisamos que você assuma.



– Como é? – perguntou Hermione, piscando, incrédula.



– Você será a nova chefe do Departamento de Aurores, Hermione. A primeira mulher na história do Ministério da Magia. – falou Malfoy, ainda sentado.



– Você precisa assumir, Hermione. Estamos defasados. Você é a única que pode nos ajudar agora.



– Vocês dois são duas figuras, não é? – disse Hermione, sem saber se sorria ou chorava. – Vocês armaram pra mim e agora querem que eu salve a pátria?



Os dois deram de ombros.



– Tudo o que fizemos foi para protege-la, Hermione. Você é a auror mais experiente depois de Harry e era nascida trouxa. Era um alvo fácil para as acromantulas. Se não tivéssemos feito o que fizemos... você não teria sobrevivido, Hermione. – respondeu Malfoy.



– Eu quase não sobrevivi... – respondeu ela, numa voz quase inaudível. – Eu vim aqui decidida a dizer NÃO. Eu vim aqui decidida a abandonar de vez a vida que um dia eu tive como bruxa, mas cada vez mais eu penso o quanto eu amei ser bruxa, o quanto eu amei ser auror.



– Então... vai aceitar, Mione? – perguntou Harry, ansioso.



– Minha resposta será sim se, e somente se, vocês prometerem que serão honestos daqui para a frente. Se eu souber que um de vocês faltou com a verdade, eu sairei do Ministério e da vida de vocês para sempre, escutaram? – disse Hermione, olhando para os dois com segurança.



– Eu prometo... nós prometemos! – falou Malfoy, olhando para Harry que assentiu com a cabeça.



– Ótimo! Então eu aceito!



– Vou preparar a nomeação. Colocamos a posse para amanhã, Malfoy? – perguntou Harry, pegando uma pasta de cima da mesa que ele um dia ocupou como chefe dos aurores.



– Amanhã, bem cedo. Agende com o Profeta Diário e o Pasquim. Vamos fazer uma boa cobertura. As pessoas precisam de liderança agora.



– Eu entendo! – respondeu Hermione, um pouco nervosa. Ela agora seria a chefe do Departamento de Aurores. Isso era algo grande. Nunca em sua vida imaginou que seria chefe de qualquer coisa, muito menos, do Departamento de Aurores, responsável por manter a segurança do mundo bruxo e trouxa. Mas, de certa forma, sempre esteve ao lado de Harry, ajudando-o, lutando contra as forças das Trevas. Isso a capacitou para o desafio que agora iria enfrentar.



– Ok... vou sair pra encaminhar a sua nomeação, Mione... – disse Harry, lançando um estranho olhar da direção de Malfoy. Depois disso, ele saiu, deixando Hermione e Malfoy a sós.



– Quem um dia alguém iria imaginar que nós iríamos trabalhar juntos e que você seria meu chefe? – falou Hermione, sorrindo, mas Malfoy não sorriu, apenas levantou-se de sua cadeira e se aproximou. Como ele parecia sério, Hermione também parou de rir, dando um passo para trás, levemente amedrontada.



– Tudo bem, Malfoy? – perguntou ela, sentindo-se insegura.



Malfoy continuou a se aproximar e segurou sua mão, depois levou-a até seus lábios e beijou os dedos de Hermione que se enterneceu com a atitude de Malfoy.



– Não existe nada no mundo mais precioso para mim do que você! – disse Malfoy. – Se eu te machuquei, se te fiz sofrer, Hermione, fiz porque sou egoísta demais para perder você. Eu morreria mil vezes se pudesse evitar seu sofrimento.



Hermione sentiu seu coração saltar em seu peito, sem saber direito o que responder.



– Malfoy... – disse Hermione, puxando sua mão das mãos de Draco para se afastar em seguida. – Você salvou meus filhos... e por isso, eu serei eternamente grata. Mas não há como eu esquecer tudo o que houve entre nós. Você é o rei e fez todos os seus crimes simplesmente desaparecerem, mas... não é assim tão fácil. Eu sei que há algo muito forte entre eu e você, mas isso deve acabar. Eu pensei muito, tenho pensado nisso o tempo todo e sei que a melhor coisa a fazer é...



Hermione parou de falar. Sentia que seus olhos ardiam. Sentia uma vontade forte de chorar. Queria que Malfoy falasse alguma coisa, mas ele estava parado, olhando para ela, esperando que ela terminasse.



– A melhor coisa a fazer é esquecer o que há entre nós... – disse ela, vomitando as ultimas palavras do fundo de sua alma.



Ela parou e olhou para Malfoy. Ele merecia seu olhar e seu respeito. Ele o merecera depois de tê-la protegido, depois de ter ido até o fim do mundo para salvar seus filhos, quando todos estavam prontos a abandoná-los.



– Eu entendo! – disse Malfoy, impassível. – Você tem muito trabalho, agora. Vou deixa-la a sós.



De fato, o trabalho era interminável no Departamento de Aurores. Havia milhares de chamados sem serem atendidos e muitos despachos burocráticos. Depois de reunir a equipe e informar que no dia seguinte seria nomeada a chefe do Departamento, Hermione delegou alguns trabalhos. Já era quase meia-noite quando decidiu enfim, ir para seu apartamento. Quando o elevador abriu em seu andar, percebeu que Malfoy estava nele.



– Trabalhando até tarde? – perguntou ela, meio sem jeito. Assim mesmo, resolveu entrar no elevador.



– Você também! – respondeu Malfoy simplesmente.



– Hogwarts está precisando de agentes. Pensei em mandar uma pequena equipe. A escola foi durante muito tempo o porto seguro da nossa civilização. Nada mais coerente que seja o primeiro lugar a ser estabilizado depois de tudo o que aconteceu. Assim que as crianças forem enviadas a Hogwarts, haverá mais tempo para restabelecermos os centros e as vilas bruxas. Mandei a solicitação para enviar uma equipe a Hogsmeade no fim da tarde para você assinar, você recebeu?



– Sim, e já assinei. – respondeu Malfoy. – Mas gostaria que você não fosse para Hogwarts nessa equipe. É importante manter você aqui, por enquanto.



– Tudo bem, eu pensei a mesma coisa. – respondeu Hermione



– Ótimo! Acho que vamos nos dar muito bem. – falou Malfoy com um meio sorriso.



– Sim... acho que sim... acho...



Hermione parou de falar, pois foi surpreendida. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, qualquer movimento, viu Malfoy se aproximar. Ele a encostou na parede do elevador, coberta por um vidro esfumaçado do alto a baixo, segurou-a pela cintura e uniu seus lábios aos dela. Enquanto a beijava, Malfoy acariciou seus cabelos, abaixou suas mãos até suas costas enquanto Hermione sentia arrepios por todo o corpo.



Por mais que quisesse resistir, que quisesse se manter firme diante da decisão de manter Malfoy afastado, Hermione simplesmente não conseguiu dominar o próprio corpo. Seus pés tremiam e ao invés de empurrar Malfoy para longe, ela o puxava para si.



Quando se separaram alguns minutos depois, ambos estavam ofegantes.



– Perdoe-me, Hermione. Simplesmente não pude evitar.



Quando a porta se abriu no térreo do Ministério da Magia, Malfoy alisou os cabelos desalinhados e saiu depressa do elevador.



– Draco, espere! – disse Hermione, segurando Malfoy pelo braço.



Os dois se encararam, mas Hermione não conseguiu dizer nada. Havia tanto em seu coração e em sua alma que as palavras não conseguiam traduzir.



– Diga que me ama, Hermione... diga que me ama... você sabe o que eu sinto por você. Sabe o quanto eu a amo. Eu sei o que eu fiz, mas eu te prometo que vou lutar para ser o melhor líder que o mundo bruxo já viu. Eu posso fazer o bem como rei muito mais do que se estivesse em Azkaban.



– Eu sei disso... – respondeu Hermione – Jamais quis que você fosse condenado à Azkaban.



– Sabe mesmo, Hermione? – disse Malfoy. – Então porque o mundo inteiro já me perdoou e você ainda não?



– Não é por isso que não quero ficar com você, Draco. Eu sei que você mudou, sei que quer ser um homem melhor, você mostrou isso ao mundo inteiro quando lutou para nos defender das acromântulas.



– Então porque você não quer ficar comigo, porque não me aceita... ?



– Porque... porque... – Hermione não poderia mais fugir. Malfoy queria sua resposta, merecia aquela resposta, mas Hermione sabia que não haveria mais volta depois que o dissesse: - porque eu tenho medo do que eu sinto por você, Malfoy. Eu amei Rony e Harry durante toda a minha vida, mas você... você é algo diferente...



– É o que, Hermione? Responda-me: o que você sente por mim?



– Er...e-eu não sei... é algo intenso. É algo que me consome, que me dá forças ao mesmo tempo que me invalida. Preenche minha alma e me esvazia... Eu não consigo controlar... eu não consigo apagar de mim... não consigo esquecer... eu... EU AMO VOCÊ... AMO TANTO E TÃO INTENSAMENTE.. Nunca amei ninguém dessa forma e sei que isso só pode me machucar....



Malfoy a abraçou novamente, mas dessa vez não a beijou. Apenas a envolveu em seus braços e curvou-se para encostar sua testa na testa de Hermione.



– É igual pra mim..... é igual pra mim, Hermione, você não imagina o quanto lutei contra esse sentimento. O quanto tentei me afastar de você, mas é impossível, é impossível... meu amor...



Os dois se beijaram novamente. Intensamente, como se já fosse um só...



O térreo do Ministério estava vazio. Ninguém para testemunhar aquele beijo, aquela declaração de amor intensa e eterna. Dois inimigos, dois amantes eternos...



Não importava. Na manhã seguinte, o mundo saberia que Hermione seria nomeada a nova Chefe do Departamento de Aurores. Dali a um mês, o mundo veria outra coisa: Hermione Granger seria coroada a nova rainha do mundo bruxo. O primeiro rei e a primeira rainha de um novo mundo...



Fim


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Comentários (1)

  • Landa MS

    OMG!!! Depois de tanto tempo eu finalmente li o final dessa fic. Eu não estou acreditando. Muito lindo eles dois juntos.

    2017-01-27
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