Capítulo 16



Capítulo
16

O clima de
comemorações estava longe de terminar, sem mais
necessidade de permanecer ocultos, o acampamento estava cheio de vida
e várias tochas e fogueiras iluminavam a festa de vitória.
Homens cantavam alegremente, outros bebiam e escutavam, havia aqueles
até que dançavam.

Depois de tanto
tempo rodeados de tensão e perigo, não perderiam a
oportunidade de finalmente relaxar e Gina se via contagiada pela
animação. Andando entre fogueiras não pôde
deixar de sorrir ao ver Sirius em uma competição com
sir.Oliver para ver que era capaz de beber mais. Já estavam
tão altos que não paravam de gargalhar de qualquer
coisa que acontecesse, inclusive das tentativas de Cedric em pará-los
enquanto Remus ria quietamente da cena.

Em outra situação
aqueles homens pareceriam bárbaros e bêbados, mas
naquela noite apenas Gina não os julgava, eles mereciam
comemorar.

Tinham vencido e
sobrevivido a uma das maiores batalhas de suas vidas. Com a
estratégia de Harry, a ajuda dos soldados de Severus Snape
(que chegaram após o começo da batalha, trazidos por
Remus Lupin) e basicamente uma porção de sorte e
habilidade... Finalmente conseguiram derrotar os saxões e quem
sabe mantê-los longes por muito tempo.

Passando por três
soldados dançando em volta de uma fogueira, Gina foi até
umas únicas tendas ocupadas e entrou levando um balde com água
quente que havia esquentado minutos atrás. Apesar de ter
apenas uma vela acesa, era possível enxergar bem com a ajuda
das luzes vindo de fora. De mau-humor Draco estava sentado com a mão
esquerda no braço direito, mexendo no corte causado por
Servolo.

- Não mexa
aí – advertiu Gina indo em sua direção e
colocando o balde no chão. – Se não quer que fique
pior.

A resposta que
recebeu veio em forma de um grunhido irritado, mas ele não
colocou mais a mão no ferimento. Sem pressa, Gina molhou um
pano com água quente e se aproximou do braço de Draco,
que rapidamente desviou. Pacientemente ela tentou mais uma vez, e
novamente ele fugiu do pano... Um pouco irritada, insistiu dessa vez
com mais rapidez até que conseguisse atingir seu objetivo.

- Isso dói!
– gritou Draco ferozmente quando o pano finalmente molhou seu braço
ferido. – Pára com isso!

- Se você
ficasse quieto, não ia dor tanto!

- Se você
não colocasse no meu braço não ia doer em
primeiro lugar!

- Se você
pensasse antes de atacar o líder dos saxões, não
estaria machucado!

Cada um olhou para
o lado oposto, ambos irritados. Após alguns segundos em
silêncio desconfortável, Draco bufou, parecendo desistir
de algo.

- Obrigado por
salvar minha vida – murmurou.

Ficou um pouco
surpresa com o agradecimento, mas assentiu de qualquer forma.

- De nada – após
uma pausa relutante continuou. – Sinto muito por seu pai.

Falara
com sinceridade, apesar de não gostar nem um pouco de Lucius
(muito menos depois de descobrir de sua traição), mas
percebeu o quanto Draco amava o pai e, apesar de tentar esconder,
estava triste. E isso deixava ela triste. Misteriosamente, não
ficou surpresa com tal fato.

- Eu devia ter
matado Servolo. Me vingado.

- Não foi
você que me disse que a vida é mais do que vingança?
– sorriu um pouco. - Ele está morto agora e isso que
importa.

Draco não
respondeu, parecia ter se perdido em pensamentos e deixou que ela
limpasse o corte sem mais reclamações. Estava
levantando para pegar agulha e linha, quando ele voltou a falar.

- Seu braço...
Está melhor?

- Está –
respondeu, colocando a agulha na água quente para lavá-la.
– Agora fique parado, ou então vai levar agulhada.

Apesar
do sangramento, o corte não havia sido grande e cicatrizaria
logo. Ajudaria se Draco não tivesse se recusado a ir à
tenda médica. Com cuidado, e mesmo assim com algumas
reclamações dele, fechou o ferimento.

Só quando a
tarefa tinha terminado que percebeu que estava a centímetros
dele... E o fato que não estava vestindo uma camisa aumentou
consideravelmente os batimentos de seu coração.

Limpando a
garganta tentou não parecer afetada pela proximidade.

- Pronto. Posso
dizer que mesmo sem muita experiência fiz um bom trabalho.

- Você gosta
dele?

- Quê? –
retrucou confusa.

- Nada... Esqueça.

- Agora vai ter
explicar a pergunta.

-
Quando a luta acabou você correu até ele... Achando que
tinha morrido.


Draco quase
caiu, perdendo o equilíbrio, quando Ginevra deixou seu lado e
correu em direção a Potter, ainda debaixo do corpo de
Servolo. Estava tão cansado que mal conseguia se mexer, mas se
manteve de pé e arriscou alguns passos para ficar mais perto
dela.

Enquanto isso
Ginevra empurrou com força o saxão e o retirou de cima
do rei.

- Harry! –
chamou, sem sucesso. – Harry... Fale comigo, por favor!

Colocou as mãos
no rosto pálido dele para tentar acordá-lo, mas não
adiantou. Com os olhos lacrimejando, observou freneticamente o
ferimento da espada de Servolo, analisando a situação.

- Por
Camelot... Isso é... Mau. Não pára de sangrar!

- Deve ser por
isso que está doendo tanto – riu fracamente Potter,
tossindo, abrindo os olhos e se sentando.

- Harry!

Para desgosto
de Draco, ela abraçou Potter e soltou uma risada de alivio,
ainda com os olhos molhados. Queria fazer algo para afastá-los,
mas era incapaz de pensar no quê.

- Cuidado, Gina
– riu. – Ainda estou sangrando sem parar, lembra?

- Desculpe!

Tossindo
um pouco de sangue, Potter tirou de seu cinto um pequeno frasco,
abriu e tomou a poção que havia dentro. Quase
imediatamente o sangramento parou e ao perceber isso Ginevra desatou
a chorar mais ainda, porém sorria radiante para
Potter.

Como Draco gostaria que o sorriso fosse para ele...

Potter colocou
a mão suja no rosto dela.

- Por que está
chorando?

- São
lágrimas de felicidade, Harry... Vencemos. Acabou. E estamos
bem.

Quando os dois
se abraçaram outra vez, não restou nada a Draco a não
ser se afastar lentamente e deixá-los sozinhos, amargura o
tomando por completo. Talvez fosse o cansaço, mas sentia-se
derrotado, com seu pai morto e Ginevra claramente apaixonada por
outro... Não tinha ânimo para nada. Podia cair ali mesmo
naquele campo cheio de corpos sem vida que não fazia
diferença.

Estava
para justamente fazer isso quando Potter o segurou. Se tivesse força
o bastante teria se soltado com raiva e recusado a ajuda, mas naquele
estado o máximo que conseguiu foi resmungar.


-
Você está falando de Harry? – perguntou assombrada.

- Ele –
confirmou Draco, sério.

-
Eu... – começou, tentando buscar palavras para explicar. –
Eu o admiro. Admito que o coloquei em um pedestal... Sempre o vi como
um herói intocável, perfeito. Mas agora não. Vi
seu lado humano e sim, gosto muito dele.

A expressão
triste de Draco foi surpreendente... Era a primeira vez que o via tão
exposto.

- Mas não o
amo, se é isso que quer dizer – terminou.

Foi incrivelmente
fofo vê-lo tentar esconder a felicidade e parecer
desinteressado. Não conseguiu convencer ninguém.

- Na verdade...
Gosto de outra pessoa – começou sorrindo.

- Quem?

- Você.

Não
foi algo planejado... As palavras saíram de sua boca sem antes
registrar o que significavam. Mas no exato momento que falou, soube
no mesmo instante que era verdade. Havia tantas razões para
odiá-lo e todas elas eram exatamente o motivo porque gostava
dele. Sim, ela gostava dele... E era incrível que ele
sentia o mesmo por ela, depois de tantas brigas e suspeitas.

Além
disso, sempre gostei de você.”

Foi
o que ele disse quando se encontraram em sua tenda antes da batalha.
Não tinha acreditado nele, mas de alguma maneira não
achava que era uma mentira por completo. Para Gina, o fato sentia que
ele gostava dela agora era o que fazia diferença,
portanto, antes não importava.

De repente estava
bem ciente que Draco lhe dava um olhar intenso, talvez procurando ter
certeza que o tom de sua resposta não havia sido sarcástico
ou mesmo que tinha sido uma piada amigável.

-
Tem certeza? – perguntou, parecia que atrás de seu tom havia
um aviso, uma última chance de ela escapar de... Alguma coisa.

Não abriu a
boca para responder... Na verdade, pensou em maneira melhor de
usá-la.

Aproximou
seu rosto lentamente e ele fez o mesmo, devagar seus lábios
tocaram em um beijo a principio doce, mas que rapidamente se
intensificou. Sentiu arrepios de prazer quando Draco colocou as mãos
em suas costas e a aproximou de seu corpo. Suas bocas se
distanciaram, mas era apenas o começo...

Suavemente ele
começou a beijar seu pescoço, depois seus ombros...
Quase sem que Gina percebesse, as mãos dele estavam debaixo da
camisa larga que lhe fora emprestada e subindo devagar de sua cintura
para...

- Lady Ginevra!

Imediatamente
Draco parou de beijá-la e afastou as mãos. Gina,
igualmente rápida, se virou para a entrada da tenda e para sua
incrível vergonha viu Cedric, de olhos arregalados, e Harry
com uma expressão séria que jamais tinha visto, e Harry

sempre estava sério. Imediatamente sentiu-se na
obrigação de explicar o que estava acontecendo para
ele, mesmo que todos ali não tivessem como errar na
suposição. Nem mesmo um cego seria capaz de não
entender.

- Eu... Erm...

- Posso ajudá-los?
– perguntou Draco em tom de desafio.

- Temos que
conversar – respondeu simplesmente Harry.

- O que eu faço
na minha tenda não é...

- Não é
sobre isso – interrompeu o rei, seu tom irritado.

- É sobre
seu pai – disse Cedric.

- Gina, saia –
mandou Harry firmemente, sem mesmo virar para encará-la.

A principio ficou
incomodada com a ordem fria dele, mas em pouco tempo recuperou sua
habilidade de contestar o que os outros lhe mandavam... Porém
quando foi abrir a boca para retrucar, Draco já tinha se
adiantado.

- Não tenho
nada a esconder... Ela pode ficar – seu tom dizia que o “pode”
na verdade era “vai”.

- Como quiser –
fez uma pausa, talvez para se preparar para o que viria a seguir. –
Sabe sobre o seu pai?

-
Vi sua cabeça, se é o que quer dizer – respondeu
irritado com a menção do fato.

- Servolo nos
contou muitas coisas sobre ele.

- Aposto que sim.

A
tensão que já estava pesada tornou-se palpável.
Gina não sabia exatamente o que Harry pretendia, mas parecia
que seria ruim.

-
Seu pai esteve fora de Camelot há um bom tempo, teoricamente
em suas próprias terras. E, no entanto, apareceu aqui, tão
longe de casa. Não poderia ter sido capturado de sua
fortaleza, nem mesmo Servolo teve tempo de atacar lá. O que
nos deixa com o simples fato que... Dessa vez, Servolo nos disse a
verdade.

- E que verdade é
essa, me atrevo a perguntar?

- Ele nos traiu.

Pelo peso da
afirmação, a reação de Draco foi
extremamente calma. Simplesmente esperou que Harry continuasse, como
se nada tivesse acontecido.

-
Não sei por quanto tempo... Ou desde quando. Mas é
claro para mim que auxiliou Servolo não só durante essa
invasão, mas antes. Informando onde seria melhor desembarcar,
a região mais fraca, a época mais apropriada. Não
há outra explicação para os saxões
saberem tão bem nossas fraquezas.

Quando outra vez
Draco não se manifestou, então Harry decidiu
confrontá-lo diretamente.

- Isso não
surpreende você? Já suspeitava que seu pai fosse um
traidor?

-
Eu realmente não dou a mínima, meu senhor.

Para a surpresa de
Gina, Harry apenas sorriu.

- Duvido
seriamente. É difícil acreditar que um filho que se
joga na batalha e luta com ódio cego contra o líder
saxão não se importa com seu pai.

- Ele estava no
meu caminho, o que deveria fazer? Ignorar o grande Servolo e falar
“Ah, eu não vou lutar com você porque não ligo
para meu pai?”.

- Sarcasmo não
é uma das melhores formas de se explicar, Draco – informou
seriamente Cedric.

- Me explicar? –
cortou rapidamente. – E o que você quer dizer com isso?

- Não
escapou de nossa atenção que Servolo sempre esteve um
passo a frente de nós e isso trouxe problemas no caminho. Não
havia como ele saber de nossos movimentos e onde atacar assim que
saímos de Camelot. E Lucius não estava conosco e nem
teria como saber sem... Ter alguém aqui no acampamento para
lhe informar.

Apesar de Draco
permanecer calmo, Gina foi quem se mostrou revoltada com o que Harry
estava sugerindo. Era verdade que seria a primeira a duvidar da
lealdade dele antes de conhecê-lo melhor, mas o jeito como
Harry estava frio e a tristeza de Draco quando havia entrado na tenda
a fez achar injusto que Harry estava acusando Draco quando ele
acabara de perder o pai e ainda por cima descoberto de sua traição.

- Não posso
acreditar que esteja dizendo isso, Harry. O pai dele está
morto! Não acha que é dor suficiente? Não pode
simplesmente invadir aqui e acusá-lo de algo tão sério!

- Na verdade,
posso sim – se virou para ela, expressão furiosa. – Teve
permissão para ficar e ouvir, não dar sua opinião.

Se não
fosse, incrivelmente, pelo o braço de Draco a impedindo, teria
partido em cima de Harry e quem sabe mais o que faria. A atitude dele
estava sendo impossível, Gina não esperava que fosse
capaz de ser tão... Frio.

Porém, a
verdade era que ele estava muito longe da frieza. Sua costumeira
resolução calma e voz firme desapareceram assim que
entrara na tenda e vira Gina nos braços de Draco. Pela
primeira vez desde que foi coroado eram suas emoções e
não responsabilidades que estavam determinando suas ações.
Era um erro, mas Harry não estava em condições
de pensar nisso no momento.

-
Está claro que você já decidiu a quem sou leal na
verdade. Então, não perca mais seu tempo e vá em
frente com o que pretende – ofereceu Draco, estendendo as mãos,
sugerindo com o gesto, que fossem presas.

- Não
estamos aqui para prendê-lo. Ainda – explicou rapidamente
Cedric. – Queremos explicações.

-
Pois eu não as tenho. Não sei como meu pai descobriu
onde estaríamos não tinha idéia de que ele havia
nos traído... – virou se para Harry. – E apesar de não
ser segredo algum para mim que ele não aprovava seu modo de
governar, eu não sabia que faria uma coisa dessas. O
que lhes resta é acreditar ou não na minha palavra.

Gina estava
surpresa com a calma de Draco... Parecia que cada palavra sua fora
calculada e preparada, como se soubesse que Harry o confrontaria. O
que, por mais frio que fosse, fazia sentido... Draco não era
tolo e provavelmente logo que soube de seu pai, deve ter previsto as
suspeitas que recairiam sobre ele.

- Infelizmente não
é o bastante. Preciso de provas. Não posso mais
arriscar vidas baseando-me em apenas confiança cega em pessoas
duvidosas. Até que esteja convencido de sua lealdade, ficará
em custodia.

“Por
que ele está fazendo isso?” se perguntou Gina, enquanto via
perplexa e revoltada Cedric se aproximar de Draco para prender suas
mãos.

-
Quem sabe a palavra dele não se seja suficiente. Mas e a
minha? – protestou Gina. – Sou testemunha que Draco não
saiu dos acampamentos, exceto comigo. Estivemos juntos durante todos
esses dias. Além disso, salvou a minha vida várias
vezes, assim como eu salvei a dele. Draco não foi nada além
de leal a Camelot desde que nos encontramos.

Cedric
imediatamente parou e olhou para Harry, esperando instruções.
Ele, por sua vez, encarou Gina com uma expressão impossível
de se ler.

- Tem certeza?
Está absolutamente certa disso? Disposta a arcar com as
conseqüências de seu testemunho?

- Que
conseqüências a não ser a liberdade de Draco? Não
estou mentido.

- Não digo
que esteja. Mas talvez seu julgamento esteja comprometido...

- Qualquer que
seja minha opinião sobre Draco, não muda o que vi e
presenciei. Estivemos juntos o tempo todo. Se ele nos traísse
não só eu saberia como o trataria como inimigo
imediatamente – continuou firme, cruzando os braços e
desafiando Harry a contestá-la outra vez.

Houve um breve
momento de silêncio, onde Harry analisou o rosto dela
minuciosamente, buscando algum enfraquecimento em sua decisão...
Com um suspiro curto, desistiu.

-
Está bem. Cedric deixe-o. Sinto muito pelo mal entendido, sir.
Draco. E você, Gina... Só espero que saiba o que está
fazendo.

Com isso, virou-se
e saiu da tenda, com o amigo logo atrás e deixando os dois
sozinhos.


Ronald
e ela haviam juntos nos últimos dias cuidado da reforma na
torre... E quando ele não estava fazendo isso, ajudava a
guarda do castelo na segurança, patrulhando a noite. Seu braço
já estava curado, ainda que não conseguisse manejar tão
bem a espada quanto antes, treinava toda à tarde para
recuperar-se totalmente.

Não
haviam trocado muitas palavras depois da confissão no
laboratório mas uma vez ou outra suas mãos se tocavam
de leve, às vezes Ron sorria devagar só para ela... E
quando se encontravam sozinhos, o que se tornou mais raro que antes,
Hermione se permitia sorrir de volta. Em ambos havia um ar
resignação, mas tristeza pela situação
que viviam.

Certa
manhã Hermione estava supervisionando os reparos na torre
queimada de Dumbledore quando foi avisada que um mensageiro do
exército estava lhe esperando no salão do trono.
Ansiosa e preocupada desceu até o pátio e rapidamente
foi ao encontro do homem no salão, onde Ron já estava
junto com o capitão da guarda do castelo, ambos igualmente
apreensivos para ouvirem o que o homem de roupas amarrotadas, botas
sujas com lama e rosto cansado tinha a dizer.

-
Minha senhora – fez uma reverência prontamente antes de
continuar. – Tenho notícias do rei. Fomos vitoriosos. O
exército saxão foi derrotado e o líder Servolo
morto. As perdas foram substanciais, mas o rei está são
e salvo. Nossas tropas já estão a caminho e estarão
de volta à Camelot dentro de alguns dias.

Segurou a
felicidade, obrigada a manter-se calma na frente dos súditos
de Harry. Não era próprio para a noiva do rei pular que
nem uma menina tola de dez anos.

-
São ótimas notícias. Estou aliviada. Obrigada
por ter percorrido uma distância tão grande para nos
informar. Por favor, descanse agora e qualquer coisa que precisar
pode pedir para mim.

- Muito obrigado,
minha senhora – agradeceu, deixando o salão.

- Não
poderiam ser notícias melhores! Camelot ficará em
euforia quando souber – sorriu o capitão da guarda.

-
Sim – sorriu Hermione. – Temos muito que preparar para a chegada
do rei.

Olhou
rapidamente na direção de Ron e sentiu um aperto no
coração ao ver que, para ele, as notícias
traziam pouca alegria. Ela sabia a razão, mas não podia
fazer nada. A chegada de Harry seria o fim definitivo para o curto e
pequeno romance que tiveram. Não haveria mais momentos a sós.

Querendo conversar
com ele, dispensou o capitão. Estavam sozinhos no salão.

- Você não
está contente.

Ron não
conseguia encará-la e olhava para o nada.

- Eu estou... A
vitória contra os saxões significa anos de paz. Sem
lutas ou mortes. Como poderia não ficar contente com isso?

- Não é
esse o problema. É a chegada de Harry em Camelot.

- Harry vai voltar
para casa, onde é o seu lugar. Estou feliz por ele.

- Mas?

- Mas nada.

Hermione soltou um
suspiro de frustração.

- E quanto a mim?
Está contente por mim?

- Estou. Está
a salvo finalmente. O assassino foi morto e não corre mais
riscos. Cumpri minha promessa. Agora posso partir.

- O quê? –
exclamou confusa.

-
Assim que juntar minhas coisas, estou indo embora de Camelot.

-
Por quê? Não pode simplesmente partir assim!

- Hermione... Você
sabe a razão – suspirou, prevendo que haveria uma discussão.
E estava certo, ela não deixaria que fosse.

- Não! Não
parta! Por favor.

- Eu tenho que ir.
Aqui não é meu lugar.

- Pode se tornar o
seu lugar, se ao menos tentar. Harry irá convidá-lo
para se tornar um dos cavaleiros da Távola Redonda, se aceitar
morará aqui em Camelot e...

-
E o que? Sinto muito Hermione. Não posso viver aqui fingindo
que tudo está ótimo. Por acaso você é
capaz disso?

- Não.

Abaixou o rosto,
olhando para o chão. Ron estava certo, seria muito difícil
vê-lo todo dia e não poder expressar seus sentimentos, e
com Harry seria ainda mais doloroso. Ele provavelmente esperaria que
agissem como bons amigos, o trio maravilha como eram quando
crianças... Seria impossível conviver com Ron de forma
tão próxima e ao mesmo tempo tão distante.

Porém, a
possibilidade de não vê-lo mais era terrível.

- Mas... Fique
então até que Harry chegue, só mais um pouco.
Depois, depois... Não o impedirei. Mas preciso que fique aqui,
comigo, enquanto ainda podemos.

Ron
virou o rosto e finalmente olhou para ela, considerando seu pedido
com cuidado. Se aceitasse, ambos sabiam que estavam apenas adiando o
inevitável, mas o que mais poderiam fazer? Juntos ou separados
sofriam da mesma maneira. Não parecia justo.

- Está bem.

Suas duas palavras
selaram o destino de ambos e de toda Camelot para sempre.


A marcha de volta
para Camelot foi festiva na maior parte do tempo. Os soldados e
cavaleiros estavam de bom humor durante todo o caminho e apesar da
pressa para voltar para casa, paravam sem protestar quando Harry dava
ordem. Muitas vezes era para ajudar algum vilarejo devastado pelos
saxões entregando comida e reconstruindo casas. A jornada se
tornou muito mais longa graças a esses desvios, mas era
preciso para reconstruir o reino e todos compreendiam.

Apesar
da alegria e entusiasmo da grande maioria do exército, Gina se
viu flanqueada pelos únicos homens ali que não estavam
nem um pouco contentes. Harry montava Edwiges em silêncio e
apenas falava para dar uma ordem ou perguntar algo para Cedric, Remus
ou Lupin... Fora essas raras ocasiões, olhava para frente,
sério e nem sequer virou o rosto na direção dela
uma única vez desde que saíra da tenda de Draco.

Em
falar nele... Draco também não estava no humor para
conversas. Sua armadura negra contrastava radicalmente com a branca
reluzente de Harry e, no entanto, seus comportamentos se espelhavam.
Com a exceção que enquanto Harry se recusava a fitá-la,
Draco só fazia isso. Depois de horas sendo observada por seus
olhos cinza, sentiu-se obrigada a perguntar o que tanto encarava,
mesmo que fosse na frente de Harry.

-
Algo de interessante no meu rosto? – começou indicado para
seu cavalo que se aproximasse do dele e, ao mesmo tempo, se
distanciasse do de Harry.

- Talvez –
provocou com um sorriso.

- Elabore a
resposta, por favor – sorriu em retorno.

- Só estava
pensando como você vai ficar quando seus cabelos ficarem longos
de novo.

- E o que
concluiu?

- Prefiro lhe
dizer em particular – respondeu diminuindo seu sorriso um pouco,
passando o olhar rapidamente em Harry.

Podia jurar que
Harry acelerou o trote de Edwiges para se afastar da conversa.

- Você
estava sério demais para estar pensando em cabelos, Draco. O
que está acontecendo?

- Quando ficarmos
a sós outra vez – encerrou a conversa com a promessa.

Depois
daquilo os papéis se inverteram; Draco passou a encarar o
nada, Gina o fitá-lo intensamente e Harry fazendo o mesmo com
ela. Era um tanto surreal se ver entre dois homens tão
diferentes e que, apesar de tentar não pensar muito naquilo,
estavam ambos interessados nela mesmo que em diferentes maneiras.

Harry
não ficara contente com Gina por ter salvado Draco da prisão
e também, provavelmente, com o fato que os dois estiveram
juntos durante toda a campanha contra os saxões. Mas não
mudaria jamais sua decisão, Draco não era traidor...
Como poderia ser? Podia agir como um arrogante, como se ele que fosse
o rei de Camelot, mas salvara ela em inúmeras ocasiões...
Havia lutado com todas suas forças contra os saxões e
não merecia ser acusado de um crime que não cometera.
Sentimentos pessoais ou não, não mudava nada disso,
apesar do que Harry tinha sugerido na tenda.

“Não
estou cega para os defeitos de Draco só porque estou
apaixonada por ele. Não sou tola,” pensou confiante.


Ela o salvara de
uma morte por traição ou uma vida inteira preso pelo
mesmo crime. Tinha o defendido sem hesitação,
enfrentado aquele idiota bem na sua frente. Confiava nele.

Confiava cegamente
no homem que matou seus irmãos.

A tola. A completa
tola.

Draco fechou os
punhos em volta das rédeas de seu cavalo com ódio. De
repente sua vida havia tomado uma direção confusa e
incerta. Nos últimos dias esteve entre ódio e
frustração pela morte de seu pai, insegurança e
amargura na expectativa por descobrir os sentimentos de Ginevra e
agora o mais recente de todos era o sentimento de culpa que crescia
desde que ela tinha cometido o terrível erro na tenda do
acampamento.

Por
culpa dela começava a se arrepender do que tinha feito no
passado. A principio era apenas quanto às mensagens que
passara para os saxões, a causa de tantos ataques contra os
acampamentos de Potter... Depois, conforme o exército se movia
e a observava quase obsessivamente, analisando cada pequeno detalhe
de seu rosto, de suas expressões e ações... O
sentimento de culpa se tornou mais profundo.

Não
devia ter a feito se apaixonar por ele. Ela não merecia ser
enganada. Finalmente tinha perdido um ente querido, finalmente sabia
o que era a morte de alguém que amava... A dor era...
Insuportável. E quem causara tal o horror na vida dela tinha
sido ele. Talvez não tivesse os matando com sua espada
diretamente, mas ainda assim era o responsável por suas
mortes.

Além
da culpa, ódio crescera também. Ódio por ter
sido idiota o bastante para se aproximar dela, de se apaixonar por
ela. Se nada daquilo tivesse acontecido ainda teria a confiança
inabalável no plano de sua mãe, mas mais importante:
ainda se importaria o com a maldita coisa. Agora, ser rei já
não era o que o preocupava.

Tudo estava errado
e distorcido.

Só queria
ser feliz ao lado dela. Enterrar o passado e negar que algum dia
tivesse acontecido... Fingir que ele era o que Ginevra acreditava que
fosse: alguém nobre e leal.

Quase deixou
escapar uma risada amarga, mas se controlou. Draco era tudo menos
nobre e leal. Gostaria de ser... Por ela. Mas havia muito sangue e
traição em seu passado. Cresceu assim, foi como foi
criado: para ser aquele que tiraria a linhagem suja dos Potter do
trono. Não era algo que podia ser esquecido e escondido
facilmente.

Se fosse outra
pessoa, aquele que ela achava que era, confessaria seus crimes para
Ginevra e seria o próprio a lhe dar o punhal para que o
matasse. Mas estava longe de fazer tal coisa. Ele queria tê-la
para si, era egoísta demais para perdê-la. E temia a
morte, mesmo que negasse a todo custo.

O que lhe restou
então? Continuar no mesmo limbo de indecisão, amargura
e auto-piedade.

Ela estava o
observando agora... Tentando descobrir o que pensava, ambos sabiam
que não era sobre o comprimento de seu cabelo ruivo.

Virou para
encará-la, um sorriso maroto nos lábios, como se nenhum
daqueles pensamentos estivessem o atormentado.

- Camelot! Camelot
está próxima! – um homem gritou vindo de trás
da comitiva principal.

Algum
dia... Algum dia pediria perdão para ela e não a
culparia se não fosse capaz de absolvê-lo de seus
pecados. Ele não merecia mesmo.

Mas não
agora.

Enquanto fosse
capaz de agüentar a culpa trancada em pedaço escuro de
sua alma, viveria ao lado dela, seria o homem que merecia... E a
faria feliz.


N/A: Mais um
capítulo concentrado mais em D/G, é o vício, sorry.
Mas teve R/H também! Então, é... Menos mal,
risos. Mais dois (ou três?) capítulos para o fim. Thanks pelas reviews! Queria poder responder para vocês aqui :(

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