Capítulo 6



Capítulo 6

Sir Draco Malfoy subiu penosamente duas levas de escadas. Seu humor não podia estar pior. E quando seu humor estava assim só lhe restava fazer uma coisa: consultar seu oráculo, seu guia...Sua mãe.

Poderia parecer para os tolos de Camelot que ele ainda vivia pendurado nas saias da mãe. Mas não, ele não era dependente dela. Ela era dependente dele.

Ele sorriu enquanto subia mais um degrau. Era ele quem segurava a espada, era ele quem podia ir e vir para onde bem entendia...Ela, no entanto, vivia presa a uma roca, a um bordado e a uma cadeira. Não era à toa, portanto, que ela tivesse muito mais tempo para pensar do que ele.

Draco abriu a porta pesada do quarto da mãe. E a encontrou exatamente do mesmo modo que a tinha encontrado antes de partir para matar...Para persuadir lorde Uriens a se juntar ao rei.

Narcisa Malfoy tirou o nariz opulento do bordado que fazia para ver quem tinha entrado. Quando viu o filho, abriu um sorriso:

- Muito bem, Draco. Muito bem. Ouvi as boas novas. Uriens está no fim...Percival, porém, já está terminado.

- Sim. Morreu, o coitado - falou Draco, com um sorriso debochado.

- Como foi?

- Como sempre.

- "timo. "timo. Agora, querido...Quais são as más noticias? Você nunca sobe aqui triunfante...Combinamos que não seria prudente.

Draco fechou o rosto, irritado:

- Nem tudo está indo como planejado. Seu plano não foi perfeito, mãe.

- Não foi? - disse Narcisa com um olhar que Draco aprendeu a associar com perigo.

Ele fraquejou um pouco antes de falar, mas continuou...Era ela quem dependia dele, afinal de contas:

- Não. Você esqueceu Ronald.

- Ronald? - ela continuou com o olhar, agora acrescentando uma sobrancelha levantada.

- Ronald Weasley, filho de Arthur Weasley, mãe.

- Ele voltou então.

- Sim.

Narcisa ficou em silêncio por um tempo, voltando-se ao bordado. Draco não sabia o que fazer, continuou parado, esperando por algo. Então sua mãe levantou o rosto:

- Por que ainda está aqui?

- Ronald Weasley vive, mãe.

- E? Os outros estavam vivos, não pareceu fazer diferença para você antes.

- Vou partir em poucas horas. Ele não. Vai ficar em Camelot, longe do alcance minha espada.

- Arranje arco e flecha então - disse Narcisa, soltando uma risada cheia de desdém.

Como Draco odiava aquela risada...Ele era superior a ela. Ela era apenas uma mulher e ele um guerreiro...Quem ela pensava que era?

- Querido, nada vai mudar. Ginevra ainda está nas nossas mãos...E Harry continua fraco. Ronald não passa de um pequeno obstáculo. E pode até passar a ser um instrumento...Se o usarmos de forma correta.

- Como? Ele é o herdeiro de Arthur agora! Mesmo me casando com...

- Sush. Fique quieto e ouça minhas instruções. Fique longe de Ronald. Deixe ele comigo. O ferimento dele não é apenas externo, ele é vulnerável. Parta para sua guerrinha inútil e quando voltar ele vai estar pronto para o golpe de misericórdia.

- E quanto a Ginevra?

- Nada muda. Ronald irá brigar com ela. E ela vai continuar com seu plano infantil.

Ela voltou a se concentrar no bordado e Draco decidiu que era essa sua deixa. Ela não iria revelar mais nada de seus próprios planos. Mas ele pouco se importava com eles. Só queria uma coisa: poder. Não importava os meios para consegui-lo.

Além disso, seu pai tinha próprios planos o envolvendo. E Draco só estava esperando para ver qual iria atender mais a seus objetivos.

Desceu as longas escadas e foi se preparar para uma nova campanha, desta vez contra os saxões. Ele não os temia. Por que deveria?

Continuou seu caminho entre os corredores de pedras de Camelot e quando chegou ao salão do trono, encontrou uma cena muito interessante.

Ronald Weasley conversava com algum serviçal irrelevante e então Ginevra entrou no salão. O que mais agradou Draco foi o fato que ela passou reto por ele e apesar de ter se virando para olha-lo, quando ela vez, seu rosto só mostrava repulsa.

Talvez sua mãe estivesse certa. Ronald Weasley não mudava nada.

Hermione chegou aos portões de Camelot, com o coração pesado. Nada havia saído de bom daquele passeio.

Não só Harry a tinha deixado sozinha, como Ronald tinha surgido das brumas a deixando confusa novamente.

Talvez teria sido uma idéia melhor ficar bordando, por mais que odiasse admitir.

Passou pelo pátio central e deixou Shanks no estábulo. Foi então que percebeu o grande movimento entre os soldados. Armaduras eram polidas, arcos verificados, cavalos tinham as celas postas e espadas eram afiadas.

Ela sabia o que aquilo significava. E isso a deixava em uma mistura de raiva e desapontamento.

Harry iria partir novamente em mais uma luta.

De repente, só por um momento, um pensamento passou pela mente de Hermione. E se...Ela pegasse uma armadura sem ninguém notar? Se prendesse seu cabelo e se juntasse aos soldados sem ser vista?

Poderia fazer algo, poderia ser útil finalmente. Poderia lutar e defender aqueles com quem ela se preocupava.

Hermione suspirou ao descer de Shanks. Não poderia fazer aquilo. Não poderia simplesmente partir e deixar suas responsabilidades em Camelot para trás.

Ela caminhou sozinha através do pátio e seguiu pela escadaria de pedra até as portas gigantescas do castelo.

Foi sozinha que também subiu pesadamente até seus aposentos. Soube através de uma de suas damas de companhia que Harry ainda permanecia reunido com alguns dos outros cavaleiros em um conselho. Mensageiros tinham sido enviados para os lordes convocando-os para uma nova batalha. Harry partiria ao cair do dia.

Ela não sabia contra quem ele lutaria dessa vez, mas suspeitava que pelo tamanho das preparações seria uma grande batalha.

Enquanto o rei decidia os planos de luta, o castelo se preparava, e não apenas os soldados.

   Camelot já sabia bem o que fazer durante esses tempos, já que eram mais constantes que tempos de paz. A cozinha já preparava rapidamente comida para os futuros soldados esfomeados, os agricultores, que cultivavam fora das muralhas do castelo, já mandavam feno para ser dado aos cavalos e carroças tinham suas rodas trocadas e concertadas. Normalmente caberia a ela, a responsabilidade de supervisionar e organizar todas essas tarefas.

  Porém, daquela vez, Harry tinha ordenado que ela não fosse perturbada. Coube então a Cedric a tarefa.

  Hermione não sabia se ficava agradecida ou totalmente ofendida. Estava cansada e a chegada de Ronald era apenas o que ocupava sua mente. Mas, mesmo assim, ainda tinha uma ponta de irritação, por achar que Harry tinha feito aquilo simplesmente porque estava lhe tratando como uma criança novamente.

  Colocando esses pensamentos de lado ela abriu um livro antigo de magia e começou a ler.

  Porém, não avançou muito na leitura. Alguém bateu suavemente na porta:

  - Posso entrar? - era, como ela já suspeitava, a voz de Harry.

  - Sim, claro.

  A porta se abriu, e ele entrou. Estava já vestido com sua armadura e a espada Excalibur estava em presa em sua cintura. Hermione podia sentir a magia que Excalibur possuía mesmo de longe. A espada fora o presente do pai de Harry antes dele falecer e fora o próprio grande Godric Gryffindor quem tinha a dado para esse:

- Você já deve saber do que está acontecendo.

- Sim. Já sei que você terá que partir mais uma vez.

Harry estava claramente cauteloso e suas palavras mostravam que também tinha remorso por deixa-la para trás como em outras vezes:

- Eu espero que entenda.

- Eu entendo, Harry. Apenas sinto muito que seja assim.

- Eu também. Não há nada que posso fazer, espero que saiba disso.

- Eu sei.

Silêncio se seguiu, Harry parecia que iria partir, mas ao invés falou novamente:

- Você sabe sobre seu pai, então?

- Meu pai?! O que houve? Ele está bem?

- Está, mas não sabemos até quando. Centenas de saxões marcham em direção as terras dele. É por isso que preciso partir o quanto antes.

- Mas...Como você sabe disso?

- Ronald.

O coração de Hermione acelerou a ouvir o nome. Harry continuou:

- Ele os viu. Estamos muito tempo atrás deles, é possível que eles cheguem ao final desse dia.

- E meu pai sabe tem consciência disso, não?

- Não sabemos, enviei um mensageiro logo que soube, mas temo que ele não chegue a tempo de evitar um ataque surpresa.

Hermione parou, chocada demais para falar mais. Tanto tempo longe de seus pais, como sentia saudades deles...E agora, talvez nunca mais iria ver seu pai. E sua mãe? Será que ela teria tempo de escapar?

Visões encheram seus pensamentos. Ela viu seu pai cavalgando para uma batalha contra um exército gigantesco de saxões bárbaros...Viu sua mãe e outras mulheres que conhecia de sua infância tentando, inutilmente, fugir pelas sombras. E por fim viu sua antiga casa queimar até as fundações.

O silêncio se seguiu e nenhum dos dois pareceu querer quebrá-lo. Harry se aproximou dela e a abraçou:

- Queria estar com eles, Harry. Se eles...se eles morrerem...O que farei? Queria vê-los uma última vez.

- Não vou deixa-los morrer.

- E se você não chegar a tempo?

- Seu pai não cairá facilmente. Ainda há esperanças. - Harry disse em uma voz baixa - Ainda há esperanças.

Os dois permaneceram abraçados por um longo tempo, mas depois Harry a largou, lembrando-se que o tempo estava contra eles:

- Você irá se despedir do exército ao entardecer?

- Sim.

- Então ainda nos veremos. Preciso ir, Herm.

Ele se virou para ir embora, mas Hermione ainda perguntou:

- Harry...E quanto a Ron? Ele irá partir também?

- Ele fica. Está ferido e eu não deixei que ele fosse. Tem uma missão que ele precisa cumprir aqui.

E falando isso ele foi embora, fechando a porta atrás dele.

Hermione sentiu uma mistura de felicidade e apreensão ao saber que Ronald ficaria. E ainda mais, as últimas palavras de Harry trouxeram, quase sem querer, uma ponta de curiosidade.

Ela olhou pela janela de seu quarto, observando a movimentação abaixo.

Quem não iria voltar? Para quem ela não teria chance de dizer adeus desta vez?

Gina observou, cuidadosa, os soldados ao seu lado. Não notavam sua presença, o que era um bom sinal, não desejava que fosse ao contrário.

Há quanto tempo esperava por esse momento? Talvez anos? Provavelmente.

Finalmente ela tinha conseguido juntar coragem...Ou talvez seu desespero finalmente tinha vencido sua razão, não importava agora. Nada importava.

Nada.

"Nem Ron?"

Nem ele. Ele foi embora, ele está morto. Ele foi covarde. Ronald tinha a deixado sozinha.

"Não...Ele...Ele foi embora por causa de Hermione. Foi embora por causa de seu coração partido."

E quanto à família dele? Ele só havia pensando em si mesmo. Gina não ia mudar de idéia por sua causa.

"Eu vou fazer isso. Ele não vai me impedir. Ninguém vai."

Vozes a tiraram a força daquela discussão interior.

Ela as reconheceu como a de Hermione e Harry, os dois conversavam perto de Edwiges, ele ainda não tinha montado a égua branca.

Mesmo estando longe, Gina conseguiu escutar alguns pedaços da conversa:

- Isso vai protege-lo, é uma poção que fiz, ela vai parar qualquer tipo de sangramento...Não tive tempo de fazer muito mais...E os ingredientes são difíceis de achar...Talvez...

Harry a interrompeu, pegando o frasco da mão dela:

- Muito obrigada, Herm. Não se preocupe, vai dar tudo certo.

- Você repete isso a cada instante, Harry...Estou começando achar que você mesmo não acredita nisso.

Ele não respondeu. Gina sabia porquê: Hermione estava certa. Não ia dar nada certo, iam todos morrer. Como seus irmãos tinham morrido. Ao menos ela podia se juntar a eles...

- Só quero que me prometa uma coisa: fique segura. Se falharmos...Saia de Camelot, não tente salvar algo já perdido. Saia daqui e fique segura.

Hermione se manteve em silêncio. Gina esperava a resposta, ansiosa. Sua amiga desejava mais que tudo ajudar e defender Camelot e o reino. Essa era uma promessa que ela não podia fazer, pois sabia que iria quebrar.

- Eu prometo.

Gina ouviu aquilo com grande tristeza...Sua amiga apenas garantia cada vez mais sua infelicidade.

Harry montou Edwiges, ao lado dele estava Cedric levando o estandarte do leão.

Era hora de partir.

Ela ajeitou seu elmo, escondendo o máximo que podia seus cabelos ruivos e seu rosto. Verificou se a espada de William estava presa bem, passou a mão pelo pêlo do cavalo de Percival, Hermes, para acalma-lo. E então montou.

Ela iria para batalha-la, encontrar seus irmãos no outro lado do véu depois de vingar suas mortes.

Não iria se casar com um bruto, não ia dar a luz a herdeiros, não iria passar sua velhice definhando numa cama.

Ia morrer lutando, mas antes ia matar o assassino de seus irmãos.


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