Capítulo 7



Capítulo 7

O sol estava se pondo, apenas alguns raios de sol iluminavam o pátio do castelo. Ronald estava sentado no telhado na frente da janela de seu quarto olhando a movimentação lá embaixo. Já havia algumas estrelas surgindo no céu.

Ao longe, no horizonte, ele podia ver a comitiva do rei se distanciando. Ele suspirou, e olhou para seu braço direito.

A dor do ferimento se fora, para dar lugar a outra. A notícia da morte de seus irmãos tinha levado o último traço de felicidade que lhe restava. Não podia aceitar que em apenas em dois anos todos os seus irmãos tinham partido.

Harry contou-lhe em detalhes cada batalha que tinham participado...Contou como Fred e George tinham lutado bravamente, como Charles venceu dez saxões mesmo com flechas fincadas em seu corpo. Contou também como William salvou a vida de Sir Cedric e falou sobre as várias vezes em que Percival conseguiu a paz entre Camelot e outros lordes usando diplomacia.

E o que ele tinha feito? Que feitos heróicos eram parte de sua história? Que momentos ele podia realmente se orgulhar? O que diria para seus pais? E para sua irmã?

Sua irmã...Ele viu como ela o olhou no salão do rei.  Viu como seus olhos apenas mostravam rancor. Ela o culpava pela morte de seus irmãos?

E agora, sua única chance de ajudar o rei e seu melhor amigo e de se redimir perante sua família tinham lhe sido negadas.

Ele olhou para baixo, observando alguns cavalos sendo levados para um estábulo próximo. Entre eles estava o familiar cavalo marrom, o cavalo de Hermione.

Ele fechou os olhos, procurando lembrar da primeira vez que a tinha visto, quando ainda eram apenas jovens sem responsabilidades, antes tudo. Antes de Camelot, antes de Harry, antes de saber que estava noiva.

- Não, Ronald. Esqueça isso. Tire isso da cabeça. - ele disse para si mesmo, em voz baixa. - Ela está fora de seu alcance.

- Quem está fora de seu alcance? - veio uma voz atrás dele.

Ronald se virou assustado. Apenas para se deparar com Hermione.

- Não sabia que o herdeiro de Arthur já tinha uma dona para seu coração! – ela continuou, rindo.

Ronald não respondeu, nem retribuiu o sorriso.

- Ah...Desculpe, devo estar atrapalhando.  - ela disse, incomodada com a frieza do ruivo. - Já vou embora.

Ela ia entrar novamente pela janela quando ele a segurou gentilmente pelo braço:

- Não, espere. Fique...Eu que devo me desculpar por ser tão rude...Por favor, fique.

Ela se virou, talvez um pouco surpresa demorou um momento para voltar a sorrir:

- Posso sentar?

- Por favor.

Os dois ficaram em silêncio. Ele por não saber o que falar, ela por estar se maravilhando com aquele fim de tarde:

- É lindo não? – ela disse então, abrindo um sorriso - Como o sol se põe lentamente...Querendo ficar perto da lua...Um amor que não pode acontecer. Para sempre, separados. Sempre se amando.

- Mas um amor cheio de tristeza. - foi apenas o que Ronald conseguiu dizer.

Hermione olhou para ele, ainda sorrindo:

- Mesmo os dois não podendo ficar juntos, eles se amam. E não desistem. Todo pôr do sol e todo o raiar do dia eles se procuram. Sem perder a esperança. Por mais que a moça que você ama pareça fora de seu alcance, se você a ama de verdade, não deve desistir.

- Mesmo que isso signifique mágoa e tristeza para aqueles que você gosta?

- A mágoa passa, a tristeza vai embora...Quem quer que seja irá perdoar você.

- Gostaria de acreditar nas suas belas palavras. Mas já perdi demais, não me restou mais coragem para arriscar.

- Então você não a ama.

- Gostaria que não amasse, que fosse apenas um sentimento passageiro. A dor seria menor.

Os dois se olharam em silêncio. O olhar dele era intenso, como se procurasse alguma esperança que ela o amasse nos olhos dela. O sorriso de Hermione desapareceu e ela virou o rosto.

Depois de alguns minutos sem uma palavra ser dita, Ronald arriscou-se:

- Você...Você queria ir com ele, não?

- Com quem?

- Harry...Quer dizer...Com o rei.

Ela demorou a responder:

- Sim.

- Por quê? Por que ir para a guerra, para o sofrimento e para a morte?

- Talvez pelo mesmo motivo que todos os cavaleiros honrados dessa terra. Para proteger o que amo. Você diz sofrimento...Mas sabe o que é esperar dias e dias sem um único fio de esperança? Incapaz de evitar o pior, incapaz de sequer tentar ajudar? Eu lhe digo que não há maior sofrimento do que enterrar um amigo querido, morto em campos distantes, sem ao menos poder se despedir em vida. Uma última palavra, um último abraço. Meu medo é grande, e a agonia é constante. A cada partida,  quem não irá voltar?

- Eu não posso lhe consolar então. Nem fazer você mudar de idéia.

- Isso é novo...Todos sempre querem diminuir o que sinto - ela disse, surpresa - Concorda comigo então?

- Não concordo porque - ele ficou em silêncio por um momento, temendo passar a idéia errada, mas por fim, continuou - não desejo que perca sua vida em batalha. Você tem a chance de ter uma vida feliz, longe do desespero e da guerra. E os que te amam - ele engoliu seco ao falar essas palavras, mas não parou - querem te ver segura e feliz.

Hermione ia interrompe-lo, mas ele continuou, esquecendo de toda etiqueta e descrição que tinha tentando manter por tanto tempo:

- Mas entendo porque quer ir, porque quer realizar grandes feitos e proteger quem ama no campo de batalha...Entendo porque eu também quero a mesma coisa.Quero compensar pelos erros do meu passado, quero dar honra a meu pai e orgulhar meus irmãos.

Falar em voz alta sobre eles doía...Ele parou de falar, triste:

- Sinto muito por seus irmãos. - ela falou, genuinamente preocupada - Eles eram meus amigos também. Sinto falta deles.

Ele apenas assentiu devagar em agradecimento e ficou em silêncio.

Agora o véu de estrelas cobria totalmente o céu e tochas estavam sendo acesas por todo o castelo:

- Meus pais...Talvez eu nunca mais os verei. – murmurou Hermione, como se confessasse um grande segredo.

Ron não podia ver sua expressão, graças à escuridão. Ele apenas ficou em silêncio, sem saber o que falar:

- "Ainda há esperança". É o que todos me dizem. Mas eu não consigo acreditar. Como eles poderiam saber?

De repente, Hermione segurou as mãos de Ronald e ele pôde mesmo no escuro ver seu rosto onde algumas lágrimas escorriam:

- Você os viu. Viu os saxões. Você sabe do que eles são capazes. Me fale, Ron, me fale que tudo ficará bem e eu acreditarei.

Ele estava sem ação. E evitou os olhos dela. Não poderia lhe dar falsas esperanças. Tinha, realmente, visto os saxões. Tinha visto barcos cheios deles, tinha visto suas flechas de fogo queimar a vila e tinha sentido a terra tremer ao passo deles. Eram centenas, e eram apenas o começo. Quem sabe quantos mais iriam atravessar o mar?

Ele não podia lhe dar falsas esperanças, mas mais ainda não conseguia vê-la sofrer:

- Ainda há esperança, Herm.

Por muito tempo apenas o som das armaduras balançando e do galope dos cavalos foi o que Gina ouviu. Todos os soldados estavam mergulhados em seus próprios temores e não houve conversas.

Da parte dela, o silêncio não a incomodava. Não desejava falar com ninguém.

Havia um ar de desanimado em todos os cavaleiros. Era exército que já tinha visto batalhas demais para sentir qualquer coisa além de cansaço. Um exército que há muito tempo não via paz douradora.

Talvez apenas ela não tinha matado alguém ali. Mas logo isso ia mudar.

Gina não sabia a identidade daquele que tinha roubado as almas de seus irmãos.

Se não fosse por Charles ela nem mesmo não suspeitaria que as mortes não tinham sido obra dos saxões e sim de um traidor.

Em seu leito de morte Charles apenas suspirou a estória. Disse entre respirações difíceis que fora emboscado durante a batalha e atacado pelas costas. Suas últimas palavras foram quase impossíveis de entender, mas Gina conseguiu ouvir "Dragão". Ela não entendeu o significado daquilo, a principio.

Podia significar qualquer coisa...Um símbolo, um estandarte, um nome...

Harry e os outros cavaleiros da távola seguiam muito há frente. Já avançavam pelas planícies frias há um bom tempo e outros soldados já tinham se juntado a eles. Gina supôs que se tratava de um exército de algum lorde, servindo a comando de Harry.

Gina tentava não olhar muito para os lados, temendo que os homens ao lado reconhecessem suas feições femininas.

Foi por isso que levou um susto silencioso quando alguém lhe dirigiu a palavra:

- Não te atrapalha?

Ela permaneceu em silêncio:

- Ei? Me ouviu? Esse elmo na cara não atrapalha? Deve ser difícil ver pra onde vai com ele.

O homem tinha mandando seu cavalo se aproximar dela, e agora ele tentava ver o rosto dela:

- Enxergo bem assim, obrigado. – respondeu com a voz mais grossa que conseguiu forjar. Seu tom foi bem seco também, numa tentativa de espantar o cavaleiro.

- Sei. Você tem quantos anos...? Pela voz, não deve passar de quinze. Então me deixe falar uma coisa, moleque: se não quiser que um saxão te jogue do cavalo com uma lança, deixe seu elmo aberto.

Gina não deixou de ficar contente em ter conseguido com sucesso enganar aquele homem, com isso teve coragem suficiente para falar mais:

- Cuide de sua vida, que eu cuido da minha.

Ela ouviu uma risada rouca:

- Gostei de você. Me faz lembrar de como eu era na minha primeira batalha...

- Seu elmo estava fechado?

- Estava. Ganhei essa cicatriz aqui, por causa disso.

Gina se virou para ver que o homem apontava um antigo ferimento na bochecha e com isso reparou também que ele possuía um rosto muito bonito, apesar do ar de loucura canina e dos fios brancos na barba e cabelo.

Vendo que ela tinha se virado, o cavaleiro lhe ofereceu a mão:

- Sou Sirius Black.

Gina o cumprimentou, surpresa com o nome dele. Sirius Black tinha uma reputação um tanto manchada dependendo de quem a contasse. Para alguns era um assassino frio e louco, para outros um excelente cavaleiro e fiel ao Grande Rei. Gina acreditava na segunda versão:

- E quem é você, rapaz?

Quem era ela, afinal de contas? Não tinha pensando em um nome:

- Erm...Tom. Meu nome é Tom. Você não era o capitão do grande rei?

- Grande rei? – Sirius riu – James? Grande rei?

- Você ri do rei? – perguntou indignada

- Não...Bem...Só um pouquinho. James sempre foi só James para mim, sabe? É engraçado ver ele sendo chamado de rei. E eu não fui capitão dele, sou apenas um amigo que ia e vinha, matando saxões no caminho.

Houve uma pausa, Gina não via razão para continuar a se arriscar em uma conversa. Mas Sirius parecia determinado:

- Então...Como você veio parar aqui, moleque?

- Vim para lutar.

- É...é...Todo mundo que está aqui veio para lutar...Mas a questão é, e sempre foi: por quê?

- Porque eu quis.

Mais uma vez Black soltou uma risada rouca, meio louca:

- Se tudo fosse tão simples assim, não teria graça! Agora, deixa eu ver...Pelo seu jeito "não me toques", acho que você veio atrás de vingança. Acertei? Muito comum, sabe? Filho de pais mortos por saxões...Pai de filhos assassinados por saxões...Bem comum...É o seu caso?

Gina esporou seu cavalo, tentando se afastar, mas Sirius fez a mesma coisa.

- Se for o seu caso, então eu desejo boa sorte para você! Aqueles bastardos merecerem uma morte dolorosa. Eu mesmo já garanti isso para alguns deles.

- Black?! Black, onde você está? - gritou um dos homens que iam bem à frente. - Precisamos de você.

Sirius novamente riu e falou agora quase mais para si mesmo:

- Sempre querendo discutir planos...Para mim é tudo fácil: ir até os saxões, matar os saxões e depois passar a noite comemorando. Mas...Sempre tem que complicar...Boa sorte para você, rapaz. Talvez nos encontremos na batalha, se você sobreviver cinco minutos.

Ele esporou seu cavalo e deixou Gina sozinha.

Draco olhava para o "cavaleiro" a sua frente, com um sorriso nos lábios. Estava observando Ginevra desde que partiram de Camelot.

Ele tinha que admitir, ela sabia esconder sua identidade. Matinha se longe de todos e permanecia em silêncio.

Mas a maior prova de que seu disfarce funcionava tinha acabado de acontecer: Sirius Black fora enganado.

Era um tanto ridículo saber que um veterano como aquele pode ser enganado por uma menininha.

Ia ser muito interessante essa viagem...

Draco olhou novamente para o anel que usava. Era o anel da família Malfoy, e como tudo que pertencia aos Malfoy, não era só o que aparentava ser.

Havia uma grande jóia verde presa ao anel de ouro, e nessa jóia havia uma mensagem...Uma mensagem que não era destinada a ele, mas que o interessava muito.

  O conteúdo ela não tinha acesso, mesmo depois de muitas tentativas, mas ele sabia para quem era. Servolo, o líder saxão.

  Nada o agradava mais que o plano do pai para tirar o incapaz Harry do trono. Era curto e grosso, ao contrário do de sua mãe. Bastava esperar Servolo matar Harry em batalha, servir o saxão até que isso acontecesse e depois trai-lo pelas costas...

  No entanto, Draco preferia se garantir...Com todos os Weasley mortos e casando-se com Ginevra, estaria mais perto do trono do que qualquer outro homem do reino. E sua mãe tinha garantido a ele, que Harry não seria problema.

  Uma conversa de muito tempo atrás veio em sua mente e ele sorriu com a lembrança:

"- Tire a virgindade de Ginevra, e você se casará com ela.

- E quanto ao Potter? Não quero esperar anos para ter o trono! Quero agora!

- Você parece uma criança mimada, querido.

- Pro inferno com o que eu pareço! Quero matar ele! Quero ver a cabeça dele rolar no chão sob os meus pés! O trono é meu!

- Mate ele então! Vá em frente! Vencer em batalha é quase impossível, já que você só sabe lutar como uma cobra, atacando as costas do inimigo confuso. E mesmo que você ganhe a luta, e mate o rei, você acha que vai viver quantos dias depois disso?

- O que você quer dizer?

- Não se mata um rei amado. Se ele morrer amado, será vingado. A sua cabeça, filho, também rolará.

- Servolo matará ele. Eu não preciso levantar um dedo.

- Ah, sim. O plano de seu pai. – sua mãe riu cheia de escárnio – Ele acha que Servolo não é amado. Ele é. Amado e temido. Uma combinação muito perigosa. Se Servolo morrer, os saxões irão atacar mais forte que nunca, e quem terá que lidar com isso? O usurpador do trono. Não dê ouvidos ao seu pai. Enfraqueça Harry Potter, deixe que se enforque na própria corda, enquanto isso conquiste a confiança de todos e garanta seu poder, querido.

- E como fazer isso?

Sua mãe apenas sorriu."

Enfraquecer Harry Potter era uma tarefa quase impossível, mas lentamente sua mãe lhe explicou e mais ainda, o convenceu que daria certo.

O ponto fraco dele era tão obvio que era quase engraçado: a noiva.

Ela era rebelde e ele se preocupada demais com seus desejos. E foi assim que Narcisa tinha conseguido adiar o casamento dos dois duas vezes.

Sem uma rainha, não há herdeiros, e sem herdeiros há discórdia. E essa, por sua vez, gera desconfiança e cobiça entre os lordes sedentos por poder.

Era simples, falando a verdade. Harry vivia em batalhas, poderia morrer a qualquer minuto e se morresse, quem ficaria com trono? Era por isso que nenhum lorde tinha interesse em se aliar ao filho de James. Quanto mais fraco ele era, mais fácil de cair em batalha. Caindo em batalha o reino entrava no caos.

Exceto, é claro, se Draco se cassasse com a filha de Arthur Weasley, a família com sangue mais real (para a o nojo dos Malfoy) depois dos Potter.

E o imbecil se recusava a ver isso, mantinha-se fiel à noiva, em todos os aspectos.

Evitando o casamento, sua mãe começara a enfraquecer o atual rei, no entanto havia a questão que ele precisava morrer para Draco tomar seu trono.

Mata-lo em batalha seria impossível, Draco sabia muito bem disso. Tinha proteção de magia, chamava muita atenção lutando e não cairia em uma emboscada tão fácil quantos os Weasley tinham caído.

Deixar Servolo o fazer era uma opção. No entanto, como novamente sua mãe tinha lhe dito, Draco teria um reino em total caos para governar, lutando contra saxões invasores e contra outros lordes ao mesmo tempo. E quem quer governar um reino assim? Não ele, com certeza.

Por fim, sua mãe apenas lhe disse que cuidaria disso:

"- No fim, talvez nem seja necessário sua morte. Se tudo encaminhar como quero, será ele quem entregará o reino e se curvará diante de ti."

Nota da Autora: Obrigada por todos os comentários! Espero não estar cansado vocês com as tramas "políticas" da fic. Vai começar ter mais romance logo, logo. E só esclarecer uma dúvida: Ginevra é o nome inteiro de Gina, foi a J.K que disse. E por sorte, combina muito mais com um fic athuriana, não acham? E mais uma coisa: A parte R/Hr contém a explicação para o título...Rising Moon Setting Sun...A lua e o sol, sempre se buscando, nunca juntos.

Nota2: Quem quiser ser avisado quando essa fic for atualizada manda um e-mail (madamescilahotmail.com) com o assunto "Rising Moon Setting Sun".


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