Capítulo 5



Capítulo 5



 



Harry observou o capitão
encarregado da segurança das muralhas sair do salão.



Deixou um leve suspiro
escapar enquanto colocava a mão no queixo. Sentia a barba crescendo. Um sinal
de seu cansaço, do peso e da responsabilidade.



Sir.Cedric estava ao seu
lado, o fitando intensamente, desejava falar algo. O salão do trono estava em
silêncio, apenas os sons da agitação do pátio central eram ouvidos ao longe.



Finalmente Cedric pareceu
reunir coragem para quebrar o silêncio:



- Parece que Camelot não caiu
ao chão durante nossa viagem.



- Não.Felizmente não
caiu.



Silêncio novamente.



- O que te perturba? -
finalmente ele perguntou.



Como sempre Cedric o lia
como um livro aberto:



- Várias coisas me
perturbam, Cedric. Entre elas o fato que os saxões não atacam nossas terras há
quase um mês.



- Não seria isso um bom
sinal?



- É um sinal. Mas não é
bom. Se eles não estão atacando vilas da costa Norte como sempre fizeram...Quer
dizer que estão armando algo. Estão usando a cabeça.



- Há um novo líder entre
eles, Servolo, talvez ele tenha planos diferentes dos anteriores?



- Ele me preocupa.
Dumbledore mencionou Servolo antes de partimos. Falou de sua crueldade e de sua
perspicácia. Me avisou que ele talvez usasse de nossa falha em controlar o
norte para atacar em grande escala.



- E isso nos trás
novamente para lorde Severus e Cornelius...



Harry assentiu. Severus
era um homem preocupado mais com alquimia e feitiços das artes das trevas do
que com saxões...Com certeza não se importava com mais ninguém a não ser si
próprio. Cornelius era ambicioso demais para se colocar debaixo do comando de
Harry...Estava apenas esperando um erro dele para unir outros lordes contra
Harry. Se ele não fizesse nada em relação aos dois lordes, o norte seria a
entrada para uma invasão:



- Lorde Cornelius é
romano, gosta de ouro...Por que não pagamos a quantia que ele pede? Suas tropas
garantiriam a segurança da muralha de Hadrian...



Hadrian fora construída
pelo último grande imperador romano, Adriano, para evitar exatamente que tropas
saxônias entrassem. Mas a muralha agora jazia aos pedaços e precisava de homens
competentes para defende-la. Harry não possuía tropas suficientes para fazer
isso e ao mesmo tempo lutar contra outros lordes:



- Eu pagaria Cornelius se
acreditasse que com isso ele realmente fosse se unir a nos. Mas ele só
aumentará a quantia, como já fez no passado. E tenho certeza que se Servolo lhe
oferecer mais dinheiro, Cornelius lutará contra nós.



Cedric não pareceu
concordar. Ele sempre pensava que havia bondade em todos, mesmo em um saxão que
atacava um soldado pelas costas. Mas ele respeitava demais Harry para contestar
em voz alta:



- Dumbledore, no entanto,
me diz que Severus pode nos ajudar e é um homem honesto, apesar das falhas... -
falou Harry.



- Então há esperança! Foi
por isso que não aceitou as acusações de sir.Draco? - disse Cedric, animado com
a perspectiva de um novo aliado para a causa de Camelot.



- Sim. Não há provas
contra ele. E não julgarei ninguém sem elas. Pretendo mais uma vez mandar um
mensageiro a ele, amanhã.



- Tenho certeza que ele
irá nos ajudar.



- Espero que sim.



Cedric ia responder
quando a porta do salão foi aberta violentamente, era um soldado que veio perto
do trono de Harry e abafado disse:



- Meu rei, um cavaleiro recém
chegado deseja falar com o senhor. Ele diz ter um assunto grave a tratar. Devo
permitir sua entrada?



- Esse cavaleiro tem nome
ou senhor, soldado? - perguntou Cedric



- Ele não disse a quem
serve, mas disse o nome: Ronald Weasley.



Harry levou um susto ao
nome ser mencionado. Cedric também ficou chocado e os dois se olharam,
preocupados:



- Faça-o entrar, rápido -
anunciou Harry rapidamente.



Fazendo uma reverência
rápida, o soldado saiu do salão.Cedric e Harry ficaram em silêncio, olhando
ansiosos a porta, esperando pelo visitante.



Harry nunca imaginara que
iria ver Ron novamente. Ele tinha ido embora há tanto tempo, que parecia que a
amizade dos dois era algo longínquo, quase pertencia a uma outra vida.



E agora, de repente, ele
estava preste a entrar naquele salão...E o que teria trazido ali? Seria a morte
de Percy? Não era possível, já que ele não tinha aparecido em outras ocasiões
parecidas.



Novamente o soldado
apareceu, seguido atrás por um ruivo alto de armadura simples e com o braço
direito imobilizado em uma tipóia de pano. Ele tinha o rosto sério e muito mais
cansado do que Harry se lembrava. Provavelmente Ron também acharia a mesma
coisa do rosto dele.



O soldado deixou-os com
uma reverência e fechou as portas do salão.



Cedric e Harry continuaram
imóveis, esperando por algo.



Ron então se ajoelhou na
frente de Harry:



- Meu rei. - disse
fracamente com a cabeça abaixada - Trago notícias dos saxões.



Harry se levantou e se
aproximou de Ron. E o levantou também pelos ombros. Ron olhou surpreso:



- Você não se ajoelha a
ninguém, amigo. Que há com você? Tanto tempo desaparecido, sem dar uma notícia
e agora de repente caí do céu? - falou Harry, o abraçando fortemente.



- Desculpe. - foi a única
resposta que ele conseguiu dar.



Harry riu:



- Desculpar o quê? - e
então Harry fez sinal para que Cedric se aproximasse - Esse é Sir.Cedric
Diggory, o mais sentado da Távola.



Cedric soltou uma risada
envergonhada:



- Ninguém é mais sensato
que o senhor.



- Senhor! Senhor! Todo
mundo me chama de senhor agora, sabe, Ron? Eu ainda mal cheguei nos meus vinte
anos!



- É o certo. - falou Ron -
Todos nós devemos respeito ao senhor.



Harry se irritou com a
resposta. O que estava acontecendo com Ron? Desde quando ele era sério assim?



- Cedric, eu ia te
apresentar Ronald Weasley, filho de Arthur da Cornualha...Mas parece que esse é
um impostor, então farei isso quando o verdadeiro voltar. - falando isso Harry
voltou a sentar no trono. - O que tem a me contar, Ronald?



- Há quatro dias uma vila
costeira perto das terras do lorde Uriens foi atacada e queimada ao chão por
uma horda de saxões. Eu mal escapei. Mas aquele não foi um ataque típico saxão.
Eles não saquearam a vila, não levaram nada. Simplesmente destruíram tudo e
seguiram em frente, para dentro do reino. Parece que eram centenas e marchando
para as terras de Uriens. Eles devem chegar hoje ao entardecer ou amanhã.



Harry tinha a mão no
queixo novamente. Então era como ele temia. Uma invasão em larga escala. Ele
precisava agir rapidamente:



- Cedric, reúna os
cavaleiros. Quero um conselho formado o mais rápido possível. Lord Uriens não
deve saber do que se aproxima, precisamos avisa-lo o quanto antes.



- Um mensageiro levará
dois dias! Ele não terá nem tempo de começar a se preparar para um ataque! -
argumentou Cedric, nervoso.



- Mandarei o cavalo mais
rápido que tivermos. Não há nada que possa fazer além disso, no momento.



- Me perdoe...Eu devia
ter chegado antes... - lamentou Ron, abaixando a cabeça.



- Você está ferido, não tem
o que desculpar. Se não tivesse vindo, Uriens não teria nenhuma possibilidade
de ser avisado a tempo. Pelo menos agora podemos tentar. - disse Cedric,
simpaticamente.



Ron não deu resposta mas
Cedric não havia esperado por uma, já tinha os deixado.



Harry olhou para Ron e
teve certeza que os dois haviam mudado muito desde a última vez que tinham se
separado.



Que batalhas Ron havia
lutado? Quantas almas tinham sido retiradas com sua espada? 



Teriam ele e Harry agora
algo em comum além de guerras?



Mas não havia tempo para
pensar nisso, o conselho novamente estava formado e mais uma vez Harry teria
que tomar uma decisão que o levaria para longe de Camelot e para longe de
Hermione.





***



Ronald observou enquanto
os cavaleiros de Harry se sentavam na Távola.



As cadeiras foram sendo
ocupadas uma a uma. Apenas Cedric não ficou surpreso ao vê-lo ali. O restante o
olhava com surpresa e até um pouco de desdém.



Ronald se lembrava de
todos os cavaleiros por nome e ficou irritado ao ver Draco entre eles. Sempre
odiou o egocêntrico filho de Lucius Malfoy.



Mas o que mais importava
para ele naquele momento era outra coisa...



Seus irmãos faziam parte
da Távola. E Ronald não podia deixar de sentir uma pontada de nervosismo. Eles
estariam ali a qualquer segundo.



O que ele falaria para
eles? Qual seria a reação de cada um? Percival com certeza iria chamá-lo de
irresponsável...Fred e George talvez o jogariam em um poço de lama por ter
ficado tanto tempo longe!



Mas então Harry começou o
conselho e nenhum de seus irmãos estava presente.



Ronald esqueceu de sua
posição e interrompeu Harry em seu discurso de abertura:



- Onde estão meus irmãos?



De repente todos olharam
para ele, alguns com pena. Harry foi quem teve coragem de falar:



- Eles...Eles não fazem
mais parte do conselho. Ron...Eles foram mortos em batalha.



Ronald não respondeu, não
respirou, não pensou. Simplesmente não acreditou.



Sentiu a mão de Cedric em
seu ombro:



- Sinto muito, Ronald.
Eles eram todos cavaleiros excelentes - falou gentilmente Cedric.



Uma dor aguda e um frio
no estomago, foi o que sentiu. Queria levantar, sair correndo dali e gritar até
sua garganta queimar...Mas Ronald se recompôs, não iria atrasar nem mais um
segundo o conselho, uma invasão saxã era importante demais:



- Eles realmente eram,
Cedric - foi o que conseguiu dizer - Sei disso.



- Você não precisa
participar do conselho, se preferir. Eu e Cedric contaremos o que ocorreu -
sugeriu Harry com um tom cheio de pena.



- Não, não há
necessidade. Estou bem.



Mas ele não estava.



  O conselho
continuou e Ronald apenas observava em silêncio. Ouvia cada um dos cavaleiros,
algumas vezes atento, outras vezes não.



 Sua voz só tinha sido ouvida mais uma vez,
para contar o que tinha acontecido durante o ataque saxão. Depois ele não falou
mais.



 Não falou mais porque sua mente estava em
outro lugar, em outro tempo.



 William...Charles...Percival...Fred...George...Todos mortos, todos
enterrados. Apenas esqueletos restavam de seus irmãos.



 E ele todo esse tempo fora...Era tudo sua
culpa...Se ao menos tivesse em Camelot, talvez pudesse ter salvado a vida
deles. Mas agora era tarde demais. A covardia dele os tinha matado. Ele fugiu
de seus problemas e perdeu tudo por isso.



O conselho terminou com a
decisão de partir no entardecer. Harry e seus cavaleiros iriam ir para as
terras de Uriens tentar impedir que os saxões avançassem mais ainda.



Um mensageiro já havia
sido enviado com o cavalo mais rápido de Camelot.



E ele? Ele ficaria.



Por mais que tivesse
pedido e suplicado, Harry o queria ali. Ambos conversaram depois que o conselho
tinha sido dispensado:



- Eu preciso de você
aqui, Ron. Quero que se recupere do ferimento.



Ronald interrompeu:



- Já estou recuperado.



- Isso não é o que eu
vejo. E além disso, quero te pedir um favor.



- Qualquer coisa, meu
senhor.



- Não me chame de senhor
mais uma vez ou te bato na cabeça com o cabo da Excalibur! Agora me ouça...Eu
quero que você cuide de Hermione.



Ronald engasgou:



- Cuidar de quem?



- Hermione! Ora vamos,
você se lembra dela!



- Sim eu me lembro...E me
lembro também que ela nunca precisou de cuidados...



- Nunca quis
cuidados. Mas ela precisa. Eu só quero que você a proteja. Você faria
isso?



Sua mente gritava para
que ele respondesse não. Mas a boca não obedeceu:



- Vou protege-la com minha
vida.

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