Capitulo 3



Obs1:Capitulo dedicado a Andréa Pismel da Silva!!!!Parabéns pelo aniversário querida!!!!!Bjux!!!!



CAPÍTULO TRÊS


Oh, meu Deus, era 'ele!' Era seu companheiro de infância, Harry — na forma de 'lasanha'. Saído das trevas! Hermione mal podia crer no que via. Mas focalizou 'aqueles' olhos.
Como se perguntasse: “é você mesmo?”, ela chegou mais perto para olhar diretamente aqueles olhos verdes. Era ele mesmo, sim. O sorriso coquete que a arrebatara antes. A presença poderosa. Mas era dos olhos que se lembrava — olhos maduros demais para um menino de onze anos.
Ele crescera... e como! Naquele verão, havia tanto tempo, ele usara o cabelo curtinho. Lembrava-se de como as outras crianças gozaram dele, já que a moda era cabelos compridos. Agora, ele exibia cabelos espessos e longos, quase na altura dos ombros, mas bem curtos sobre a testa imponente. Não eram só lisos, de forma alguma, mas uma rebelião de fios escuros que desafiavam qualquer ajuste.
O menino fracote e desajeitado não tinha nada a ver com esse rosto anguloso, o maxilar quadrado, a forma esguia. Hermione per­correu com o olhar as feições amigos, passando aos ombros e sobre a camiseta branca, arrebatada pela postura autoconfiante. O Harry que conhecera tinha o corpo sempre desleixado, como se quisesse ficar invisível.
Naturalmente, já se haviam passado mais de vinte anos. Muita coisa ocorrera nesse meio tempo. Mas nada se comparava à transformação de Harry Potter: era como se ele tivesse sido polido com fogo.
— Perdeu a língua? — perguntou ele, seco, encarando seu olhar espantado.
— Você parece... — Ela acenou a mão no ar em sua direção. — ... diferente.
— Você também. Não a reconheci até que pregou a torta no meu peito.
Hermione ruborizou ante a lembrança de como perdera a com­postura.
— Me desculpe...
— Não faz mal — interrompeu ele. — Eu mereci. A Mione que conheci atiraria mais que uma torta em mim.
— A Mione que conheceu não existe mais — retrucou ela.
— Não penso assim. — Chegando mais perto, ele a estudou com atenção, do mesmo modo que ela fizera há pouco. — Ela está aí em algum lugar. Só fico imaginando o que aconteceu para que ficasse assim tão submissa.
— Viver me fez isso.
— Viver com o "caro Wayne"? O que o imbecil fez com você?
Hermione parou, sem querer dizer que Wayne a passara para trás. Harry saberia, mais cedo ou mais tarde. Mas, no momento, preferia que fosse mais tarde. Mudou de assunto:
— O que está fazendo de volta a Greely após tanto tempo?
— Estou passando férias.
— Esta não é a capital do lazer — ponderou ela.
— Vim pela quietude e pela tranqüilidade. Tenho que pensar em muitas coisas.
— Paz e tranqüilidade. Parece bom. — Ela também precisava disso.
— Ouça, caso se sinta melhor, ouvi dizer que seu casamento foi adiado.
— Então, por que perguntou quem era Wayne? — replicou Hermione, aborrecida novamente.
— Queria que 'você' me contasse. Houve um tempo em que dividíamos nossos problemas.
— Isso foi há séculos.
— Tenho um excelente ombro para amparar lamentações — ofereceu Harry.
Ela notou aqueles ombros, ombros excelentes, acompanhados de um tórax perfeito.
— Vamos lá — instigou ele. — Sempre disse que eu era um bom ouvinte.
— Por que está tão interessado? — investigou ela.
— Porque você foi uma boa amiga um dia, e gostaria de re­tribuir o favor. Acho que está precisando de um amigo agora.
Ele estava certo, tinha que admitir. Luna vivia se oferecendo, mas não queria sobrecarregá-la, sabendo como era sensível.
— Que tal conversarmos hoje à noite durante o jantar? — sugeriu Harry. Notando sua hesitação, acrescentou: — Quer coisa melhor para as fofocas locais do que ser vista com o misterioso da cidade? Daria pano para as mangas, ao invés de comentários sobre a "pobre Hermione". Mostraria a todos que está inteira e a toda.
Hermione irritou-se com aquelas palavras.
— Não sabe o que é ser largada como eu fui!
— Sei o que é passar por uma humilhação, Mione. Na verdade, sou especialista; passei a infância e a adolescência enfrentando esse problema.
— É diferente — murmurou ela.
— Como assim? Ser publicamente rejeitado e ridicularizado tem o mesmo efeito do que está sentindo agora. É por isso que estou determinado a ajudá-la, da mesma forma como me ajudou quando éramos crianças.
— Não precisa...
— Sim, precisa. Vamos dar a essa cidade mais alguma coisa para falar. O que acha?
Hermione não sabia o que dizer. Ainda não se acostumara à idéia de que esse moreno bonitão e forte era o mesmo menino que conhecera.
— Preciso pensar no assunto.
— Ótimo. Pense o quanto quiser. Mas, queira ou não, vou ajudá-la.
Aquela atitude deixou Hermione furiosa.
— Os homens sempre acham que têm razão.
— Melhorou — observou Harry com aprovação. — Prefiro esse brilho de guerra em seus olhos àquele olhar assustado.
— Não me importa sua preferência — disparou Hermione.
— Não ainda, mas vai se importar. — Percebendo as faíscas, Harry sorriu e deu um passo para trás, fora do alcance de arremesso de tortas. — Ah, aí está ela, minha Mione está de volta! Espero que permaneça. As coisas iam ficar 'muito' interessantes. — As­sobiando suavemente, saiu da biblioteca.
Hermione acabara de tirar a torta de cima do balcão quando as irmãs Beasley chegaram afoitas. Alberta olhava para trás, por sobre o ombro.
— Estou dizendo, Beatrice, há qualquer coisa nesse homem... Sei que já o vi antes.
— Claro que já o viu antes — reafirmou Beatrice. — Com os óculos de ópera. Ontem.
— Não, quero dizer que já o vi antes disso. Verificou as fotos na delegacia? Dos criminosos procurados?
Beatrice assentiu.
— E? — quis Alberta saber.
— E nada. Ele não se parece com nenhum deles.
— Tudo bem, Hermione? — saudou Alberta, esquecendo a irmã. — É um trabalho para você, com sua habilidade de catalogação. Minha irmã e eu já fizemos algumas verificações. Ela foi ver as fotos dos procurados na delegacia, e eu verifiquei os vídeos do programa "Os Mais Procurados da América". Não o localizamos ainda, mas conseguiremos. Nunca esqueço um rosto, sei que já vi esse homem antes. A sra. Cantrell disse que viu você e o forasteiro conversando como velhos amigos. Disse que ele trouxe doces para você. — Fez cara de quem não acreditava. — Agora, vejo que a sra. Cantrell é uma abelhuda e inventa essas histórias, mas achei melhor verificar com você.
— Verificar o quê? — perguntou Hermione, deliberadamente se fazendo de boba. Não estava querendo ser boazinha naquele mo­mento.
— O homem misterioso, naturalmente. Sei que está atrapalhada por causa de Wayne, minha querida, mas tem que começar a se concentrar. O homem falou com você, Hermione? Sabemos que ele esteve aqui, porque o vimos saindo quando chegamos.
— Sim, ele falou comigo.
— E? O que ele disse? Conseguiu alguma informação dele? Vamos, Hermione, não seja tímida. Vá falando.
— Você está sendo autoritária — censurou Beatrice, agitando o lenço antes que Hermione pudesse falar. — Não seja impaciente. Hermione vai contar no devido tempo, não é, querida?
— Aposto que ele a ameaçou, e por isso está tão quieta.— declarou Alberta.
Conhecendo a imaginação fértil de Alberta, Hermione decidiu que era hora de esclarecer tudo antes que elas extrapolassem.
— O motivo de ele ser familiar é porque já esteve em Greely antes.
— Quem é ele? — perguntou Beatrice.
— Harry Potter — respondeu Hermione. Como elas continuavam indiferentes, Hermione acrescentou: — O sobrinho da sra. Abinworth, Harry. Passou um verão aqui quando tinha onze anos.
— Eu me lembro do sobrinho da senhora Abinworth: era bem magrinho — declarou Alberta.
— Ele cresceu — comentou Hermione.
— E como! — murmurou Beatrice.
— Não acredito nisso — manteve Alberta, decidida. — Não há jeito de ter mudado tanto. Ele disse que é o sobrinho da sra. Abinworth, certo?
— Não, ele não me disse. Eu o reconheci.
— Você não o reconheceu quando esteve no chalé ontem — ponderou Alberta.
— Como disse, ele mudou.
— Mudou demais para ser verdade, se me permite — senten­ciou Alberta. — Viu algum documento? A carteira de motorista?
— Claro que não.
— Por que não? Pensei que os usuários da biblioteca tivessem que mostrar algum documento para retirar livros.
— Só se quiserem um cartão da biblioteca. E ele não veio para retirar livros.
— Por que ele veio, então?
— Para se desculpar por ter sido grosseiro quando o visitei ontem.
— Qual foi a desculpa que deu?
— Também não havia me reconhecido. Não até que eu... — Hermione interrompeu, não querendo dizer que atirara a torta nele.
— Não até que você o quê? — exigiu Alberta,
— Ficasse zangada com ele. — Hermione tentou consertar.
— Por que ficou zangada... — Desta vez foi Alberta que parou no meio da frase, quando lhe ocorreu uma nova idéia. — O homem não estava nu quando o visitou ontem, não é? Eu me lembro de ter perguntado isso a você na ocasião, e você assegurou que ele estava de calça. Não estava escondendo a verdade para não ferir nossa sensibilidade, não é, querida?
— Claro que não. Ele só não foi muito amigável, e fiquei zangada com a atitude. Então, ele veio aqui para se desculpar, e isso é tudo.
Alberta franziu o cenho desconfiada.
— Parece que tem mais alguma coisa, que não quer contar para nós. E a caixa de doces da confeitaria que a senhora Cantrell disse que viu no balcão? Ele estava tentando enganá-la com doces?
— Com aquele visual, não precisa desses artifícios — inseriu Beatrice, sonhadora, — Ele serviria de modelo para as capas dos meus livros!
— Ele tem tórax para isso — concordou Alberta.
— Falando de romances, chegou aquele de capa dura que estava esperando, Beatrice — comentou Hermione, ansiosa para trocar de assunto.
As irmãs saíram dali a pouco, sabendo que Hermione não reve­laria mais nada. Hermione também desconfiava de que Alberta não acreditava que Harry era quem dizia ser.
Hermione não tinha dúvidas. Embora Harry tivesse mudado muito, as semelhanças ainda estavam lá, para aqueles que tivessem sen­sibilidade para enxergar além do tipo irlandês.
Ao se acomodar à escrivaninha, Hermione viu de novo a caixa de torta que Harry trouxera. Tinha que devolver a ele. Não pre­cisava de mais uma torta em sua vida. Devolveria a torta esta noite, assim que fechasse a biblioteca às sete horas.
Naquela tarde, Hermione refez o caminho ao chalé alugado de Harry, imaginando por que ele voltara a Greely. Não era um lugar típico para passar as férias. Ele disse que queria paz e tranqüilidade. Realmente tinham muito disso ali. A pequena cidade con­tava cerca de oitocentos habitantes e era rodeada por plantações. O lago Momento era um dos inúmeros na área que pontilhavam os hectares de área plantada. Quanto a Greely, era formada por três ruas sombreadas que se afastavam com meticulosa precisão. Mas não tanto a ponto de espantar Harry.
Hermione morava na parte norte da cidade, a apenas dois quar­teirões do lago. Na verdade, as quadras terminavam antes, dando lugar a uma área arborizada onde ficavam algumas cabanas. O chalé Poindexter era o único em boas condições. O resto já des­moronara por falta de manutenção. Muitas famílias haviam dei­xado Greely à procura de melhores oportunidades.
Hermione passara rapidamente em casa para trocar a roupa de trabalho por um top azul mais confortável, um short de algodão branco e um par de tênis brancos surrados. Precisava comprar tênis novos, mas gastara todo o dinheiro naquele barco furado que fora o preparativo do casamento. Tênis não estavam na lista.
Acreditava poder ainda devolver parte do enxoval novo, toda a lingerie de seda e os vestidos floridos para férias, recuperando o dinheiro ou trocando as peças por artigos mais práticos.
Wayne garantira que a levaria para algum lugar quente na lua-de-mel. Disse que faria uma surpresa. E fez mesmo.
Hermione imaginava se houvera sinais de que ele estava sendo infiel. Sinais que ela, na sua felicidade cega, não notara. Repassou mentalmente os últimos dias que passaram juntos, procurando alguma indicação de onde errara. Sabendo agora o que não sabia na ocasião, cada palavra dele parecia suspeita, e concluiu que não se achava em posição de julgar nada.
Quando chegou ao chalé, Harry estava novamente com a man­gueira de jardim na mão. Só que desta vez dirigia o jato para o carro, não sobre si mesmo.
— Você está ocupado — notou ela, dizendo a si mesma que estava aliviada, assim não teria que ficar. — Só passei para de­volver a torta. Não preciso. Isto é, comprei a torta ontem para você; como esta substitui aquela, ainda é sua. — Praguejando contra a falta de desembaraço, decidiu se calar, ruborizando.
— Estou mesmo precisando de uma pausa — disse Harry, pou­sando a mangueira e fechando a torneira ao lado do chalé.
— Prefere chá gelado ou cerveja?
— Não, realmente, não posso ficar...
Mas ele já se fora, deixando-a de pé ali com a torta na mão.
— Trouxe uma cerveja — informou Harry, um minuto mais tarde, deixando a porta de tela bater. — Acho que você precisa de uma após o dia que teve.
— O que sabe sobre o dia que tive?
— Vi aquelas duas remanescentes da inquisição espanhola en­trando na biblioteca quando saía, hoje. Parecia que iam sabatinar você.
Hermione encolheu os ombros.
— Estavam curiosas a seu respeito.
— Imagino. A julgar pela espionagem com os binóculos no outro dia — comentou ele.
— Como sabe que estavam usando binóculos? Na verdade, acho que eram apenas óculos de ópera, e não conseguiram ver muito bem, mas ainda...
— Vi o sol refletindo no vidro através das árvores. — Harry sentou-se numa cadeira de diretor na varanda e bateu na outra, convidando Hermione a se acomodar. — Vamos, sente-se e descanse um pouco.
— Essa é outra razão para estar devolvendo a torta — comentou Hermione. — Não preciso engordar mais ainda.
— Você me parece ótima — opinou ele, observando Hermione dos pés à cabeça.
— Obrigada, mas não precisa ser gentil. Sei que estou meio fora do peso.
— Nos lugares certos, eu diria — acrescentou ele, com um sorriso que brilhava como o sol no lago.
— Sim, certo — aceitou ela, subindo os degraus até a varanda e se sentando na cadeira a seu lado. Pousou a torta numa mesinha perto e pegou a cerveja gelada que ele oferecia.
— Posso pegar um copo, se preferir.
— Não, está bem assim — retrucou ela, esforçando-se para abrir a tampinha sem quebrar a unha. Já quebrara duas unhas aquela semana, e roera outras três. Queria proteger as que resta­vam.
Harry solucionou o problema, pegando a lata e abrindo-a para ela.
— Obrigada.
— Disponha.
Ficaram ali em silêncio por algum tempo, o que surpreendeu Hermione. Já esquecera como a presença de Harry era confortadora. Quando eram crianças, podiam ficar sentados, apreciando a com­panhia um do outro durante horas. Também discutiam acalora­damente quando necessário. O fato era que se sentiam bem juntos — em silêncio ou no calor de uma conversa.
— Isto é ótimo — murmurou Harry.
Hermione não sabia se ele se referia ao frescor da brisa vindo do lago, à cerveja ou a sua companhia. Talvez uma combinação das três. Mas, ela concordava, era ótimo.
— Me lembro de estar assim quando éramos crianças — con­fidenciou ele. — Claro que bebíamos refrigerantes na época, e você estava sempre descalça.
Hermione sorriu.
— Já tinha esquecido.
— Quer dizer que superou seus dias de descalça? Que vergo­nha. Você tinha pés engraçadinhos. E costumava mexer os de­dinhos quando estava feliz.
— Tem uma memória e tanto.
— Só para coisas importantes.
Virando a cabeça, ele ficou olhando para ela, avaliando a trans­formação. Nervosa, ela desviou o olhar.
— Pode tirar os sapatos, se quiser — convidou ele. — Olhe, vou fazer como você. — Tirou os tênis e apoiou os pés descalços no corrimão da varanda, que estava bem ali à disposição.
Um instante depois, Hermione estava descalça, com os pés perto dos dele. Ah, que paraíso! Mexeu os dedos. Olhando para ele, ela devolveu seu sorriso.
— Que bom, não? — comentou ele, atrevido. Ela assentiu.
— Já tinha esquecido de como era bom.
— Eu também — confidenciou ele.
Ficaram em silêncio novamente. Na verdade, não era um si­lêncio total, pois o entardecer se fazia acompanhar de seus sons; naturais, dos grilos, dos pássaros, das abelhas.
Esse momento de paz foi interrompido quando Hermione soltou um gemido. Uma farpa de madeira penetrara em seu calcanhar.
— O que foi? — perguntou Harry.
— Uma farpa de madeira no meu pé — informou ela, desgostosa.
— Aqui, me deixe ver. — Ele apanhou-lhe o pé antes que ela pudesse protestar, pousando-o sobre a coxa, inclinando-se e examinando a farpa.
— É, é uma farpa. Uma grande. — Agarrou o pé, levantando-o para ver melhor.
Aquele toque transmitia força e gentileza. O contato provocava em Hermione sensações, que lhe percorriam a perna, subindo as coxas e chegando a locais mais íntimos. Perturbada, ela olhava para aquelas mãos cujos dedos longos e esguios deslizavam sobre sua pele pálida. As unhas eram curtas naqueles dedos delicados como os de um pianista, ou artista. Sem dúvida, ele a perturbava mais e mais a cada mínimo movimento.
— Fique quieta — ordenou ele, quando ela se mexeu na cadeira. — Calma, vou tirar agora. — Removeu a farpa. — Aí está. — Jogou o fragmento de madeira por sobre o parapeito da varanda. Massageando o pé, fez com que o sangue circulasse, limpando a ferida. — Fique aí, vou pegar um curativo para você.
Ele voltou num minuto, e Hermione comentou:
— Agora me lembro por que parei de andar descalça. — Fazendo careta, colocou o curativo e calçou o sapato. — Bem, já estava de saída mesmo.
— Pensou no meu plano? — perguntou Harry.
— Sim, e acho que não vai funcionar. Ninguém vai acreditar que você está interessado em mim a não ser como amigo.
Ele franziu o cenho, as sobrancelhas ainda mais escuras.
— Por que não?
— Porque um homem como você não olharia duas vezes para uma mulher como eu.
— O que isso quer dizer? Sou um homem como qualquer outro.
— Mais atraente que os outros — corrigiu ela.
— Que cresceu como o mais feio de todos — revelou ele. — Acredite em mim, sei como é ser julgado pela aparência, seja boa ou ruim.
— Desculpe.
— Não desculpo — disparou ele. — Esperava mais de você.
— Isso, me censure — rebateu ela. — Sou humana.
— E errar é humano, certo? Que bom que pensa assim. Esta tarde você se esforçou ao máximo para ser a perfeita bibliotecariazinha.
— Para começar, não sou uma bibliotecariazinha — declarou Hermione, zangada. — Se me lembro, eu era mais alta que você quando éramos crianças, e embora você tivesse espichado nesses vinte anos, não sou nenhuma tampinha. Segundo, não fale mal das bibliotecárias, como se fossem desprezíveis. As bibliotecárias são como todas as outras pessoas. Não somos como a imagem estereotipada que nos deram. Não sou casada. E daí? Faço bem o meu trabalho. Não sou mosca morta!
— Nunca disse que era — acalmou ele, o tom denunciando que entendera mais do que ela dizia.
Hermione sussurrou.
— Meu noivo fugiu com uma garota de vinte e poucos anos, sabia disso?
Harry balançou a cabeça.
— Uma gata de vinte e um anos.
— Quantos anos tem Wayne?
— Trinta e nove.
— Devia ser mais sábio — declarou Harry.
— Não me diga que não fugiria com uma garota assim, se tivesse oportunidade — desdenhou ela.
— Já tive oportunidade — informou Harry, indiferente. — E não fiz nada.
— Então, você é santo. A maioria dos homens não é.
— Desde quanto virou especialista em homens? — rebateu ele, seco. — Aposto como Wayne foi o primeiro caso sério cm sua vida.
— Bem, está enganado.
— Certo, então ele foi o segundo.
Hermione estava cuspindo fogo pelos olhos, lembrando-se de como sempre odiara quando ele, criança, lhe atirava na cara a verdade crua, que ela em geral não queria ouvir.
— Como começamos com esse assunto, afinal? Por que não falamos da sua vida pessoal?
— Talvez porque eu não tenha uma.
— Acho difícil acreditar — revelou ela.
— No momento — continuou ele, com um sorriso lento.
— E já teve muitas mulheres na sua vida? — perguntou ela, vendo que ele franzia o cenho. — Ei, faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Me perguntou coisas pessoais, é justo que eu também saiba da sua vida.
— Admito que, quando estava com meus vinte anos, e as mulheres finalmente começaram a me notar, me aproveitei da situação. Foi incrível no começo. Mas logo enjoa.
— Oh? Por que isso?
Harry encolheu os ombros.
— Não sou do tipo garoto de enfeite.
— Não apareceu ninguém mais sério?
— Só uma. Rompemos no ano passado. Na verdade, ela me deu o fora. Então, sei como é.
— Já superou?
— É seu jeito de perguntar se você também vai superar? — perguntou ele, esperto. — Se for, a resposta é sim.
— Você gostava muito dela? — prosseguiu ela.
— Não a amava nem um pouco.
— Mas disse que era sério.
— E era.
— Não entendo.
— Não, não poderia.
— Se não a amava, então não pode saber como é ser traído pela pessoa amada — argumentou Hermione.
— Você ainda ama Wayne?
Baixando os olhos, ela aquiesceu. Harry olhou-a surpreso.
— Não posso desligar meus sentimentos como um interruptor — explicou ela, defensiva. — Bem, tenho que ir.
— Você precisa de mim mais do que eu imaginava — murmurou ele.
— Não preciso de você em absoluto.
— Certo, ótimo. Mas eu preciso daquela mangueira aí a seus pés — disse ele, enquanto a seguia da varanda ao jardim e apon­tava o carro. — Segure para mim por um segundo, por favor.
Ela obedeceu, e ele só molhou um pouco a superfície do Volvo branco antes de lhe passar a mangueira novamente.
— Obrigado.
Seus dedos se tocaram, provocando em ambos um excitamento confuso. Como se encostasse numa brasa, Hermione derrubou a mangueira no chão, ao que o jato se voltou para cima, atingindo-a no rosto.
Harry riu da expressão atônita dela.
— Devia se ver no espelho!
A risada quebrou a tensão criada pela discussão de pouco antes, e Hermione se inclinou para apanhar a mangueira.
— Então, acha que foi engraçado, não é? Olhe isso! — Apontou o jato d'água direto nele. — Talvez devesse ter dito lave isto!
Vendo-o espernear ensopado, lembrou-se do dia anterior, quan­do observara a água percorrer aquele corpo esguio, aqueles mús­culos bronzeados no tórax desnudo, e o cós da calça jeans. Agora, a camiseta branca se agarrava a ele como uma segunda pele.
— Sua diabinha!
— Já disse para não se referir a mim no diminutivo — lembrou ela, com um sorriso largo, mandando outro jato nele.
— Me dá isso aqui — ordenou ele, inclinando-se sobre a capota do carro, tentando apanhar a mangueira. Conseguiu, embora fi­casse todo molhado.
Hermione rapidamente se afastou.
— Agora, Harry, já chega. Vamos parar e estamos quites.
— De jeito nenhum!
— Você nunca entra em acordo? — perguntou ela.
— Nunca. Eu dou o troco. — Segurando-a pelo braço, com­pletou: — Tome isso!
Hermione fechou os olhos, esperando que ele a molhasse toda. Ao invés disso, ouviu a mangueira cair de lado e sentiu os lábios dele acariciando os seus.
— Não olhe agora, mas as velhinhas estão nos espionando — sussurrou ele contra sua boca. — Vamos proporcionar a elas alguma coisa, certo? — Sem esperar mais, mergulhou o rosto para um beijo.




Obs2:Oiiii pessoal!!!Desculpem a demora!!!!Sei que tinha dito que ia postar na quinta, mas não tinha me lembrado na hora que teria prova de anatomia na sexta e que teria que estudar!!!!hehehehe....Espero que tenham gostado do capitulo!!!!Logo logo tem mais atualização!!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!

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