Capitulo 4



Obs1:Capitulo dedicado a Fernanda Destro que está fazendo aniversário hoje!!!!PARABÉNS QUERIDA!!!!Tudo de bom pra ti!!!!Bjux!!!!Te adorooooo....


CAPÍTULO QUATRO

Harry mantinha os lábios quentes sobre os de Hermione, que não ocultava a surpresa. Para um homem que estava supostamente fazendo uma encenação, ele fazia um trabalho danado de bom, concluía ela, confusa. Onde ele apren­dera a beijar assim? Não restava nenhuma ponta da timidez que o atormentara na infância.
Ele se movia com segurança e confiança, trazendo-a ainda para mais junto dele. Dominada pela onda de prazer sensual que tomava conta de seu ser, Hermione não protestou. O beijo provocava-lhe excitação, espanto e fascinação. Seu coração pulsava enquanto ele explorava a curva de seus lábios com a pontinha aveludada da língua. Ele a seduzia, convidando sua língua a entrar na brincadeira. Na verdade, era um convite bom demais para recusar.
Hesitante, Hermione entreabriu os lábios, permitindo que ele in­vadisse. Esperava que ele viesse como uma tempestade, mas não foi o que aconteceu. Ao contrário, parecia satisfeito em respeitar o limite, usando a língua para experimentar o contorno de seus lábios antes de passar para os cantinhos. Ela não precisava mais de amostras, já se convencida dos prazeres sensuais que ele tinha a oferecer.
O beijo foi ficando mais intenso, foi se tornando uma explo­ração mútua que progredia do excitamento para a fome insaciável. Hermione mergulhou os dedos na cabeleira de Harry; ele gentilmente posicionou-lhe a cabeça a fim de obter um melhor ângulo, mais íntimo.
Movendo-se com experiência sutil, ele a puxou devagarinho até que seus corpos estivessem tão alinhados quando suas bocas. Alargando o abraço, ele a pressionou junto de si com firmeza. Segurando-lhe a cabeça pela nuca, continuou acariciando-lhe os cabelos sedosos, mantendo a outra mão nas costas dela, o toque dos dedos causando-lhe arrepios.
No subconsciente, Hermione pensou ouvir seu nome, seguido de um limpar de garganta. Não podia ser Harry. Ele não teria fôlego para limpar a garganta. Nem ela. Não se importou. A respiração não lhe parecia importante nesse instante, e não podia competir com o irresistível desejo de prosseguir com o beijo.
Ela ouviu seu nome de novo, desta vez num tom autoritário, para acabar de vez com o clima sensual que imperava.
— Hermione!
Hermione se afastou dos braços de Harry como se tivesse levado uma chicotada.
— Desculpe interromper, mas achamos que gostariam de saber das novidades — declarou Alberta, seca, com a irmã do lado.
— Novidades? — Hermione levou a mão direita aos lábios, que ainda latejavam, resultado do beijo de Harry. Era uma sensação prazerosa. — Que novidades? Tem alguma coisa errada?
— Depende do que considera errado — respondeu Alberta, com um encolher de ombros. — Wayne está de volta. E Rosie não está com ele.
Hermione ainda estava tonta do beijo, por isso a informação da irmãs custou a chegar a seu cérebro.
— Wayne...
— É isso. Seu noivo — confirmou Alberta.
— Ex-noivo — corrigiram Harry e Beatrice ao mesmo tempo.
— Wayne está de volta? — repetiu Hermione, finalmente en­tendendo.
— E não está com Rosie — repetiu Beatrice.
Hermione se sentiu encher de esperança. Talvez Wayne houvesse caído na realidade. Talvez ele tivesse percebido que fora um erro deixá-la.
Harry percebeu o traço de esperança em Hermione, cujo rosto se iluminara como néon. Certamente, ela não podia sentir nada por um cara que praticamente a deixara esperando no altar. Certo, havia menos de cinco minutos, ela admitira que ainda o amava, mas não dera muito crédito a essa declaração. Não depois do que o canalha fizera. A Mione que ele conhecia não teria suportado uma situação dessas. Ela teria deixado qualquer um que a tratasse como idiota de olho roxo. Mas ela era incrivelmente leal, lembrava-se bem disso. Ela não era do tipo que trocava de aliança fácil ou rapidamente.
— Achamos que deveria saber imediatamente, Hermione — co­mentou Alberta, olhando desaprovadora para Harry.
— Obrigada — disse Hermione. — É melhor eu ir. — Apressou-se pelo caminho de cascalho como se fosse perseguida por fantasmas.
Harry fez menção de segui-la, mas foi impedido pela muralha Beasley.
— Então, você é Harry Potter? — sentenciou Alberta.
— E isso mesmo.
— E o nome de sua tia era...
Divertido pela curiosidade imperiosa delas, Harry decidiu brin­car de gato e rato.
— Faye — respondeu ele, laconicamente.
— O sobrenome, quis dizer — esclareceu Alberta.
— Abinworth.
— E quando ela nasceu?
— Lá por junho.
— Não é muito específico — comentou Alberta.:— Junho de que ano?
Harry encolheu os ombros.
— Nunca perguntei. Não éramos muito chegados.
— Posso ver — disse Alberta, deixando claro que não acre­ditava em muita coisa.
— As senhoras têm algum problema? — perguntou Harry.
— Não, claro que não.
— Só não queremos que Hermione saia machucada — inseriu Beatrice.
— Nem eu — sentenciou Harry. — Se vocês se recordam, nós éramos muito chegados quando crianças.
— Vocês dois estavam muito chegados há poucos minutos! - resmungou Alberta.
— Até que nos interrompessem — respondeu Harry. Alberta se empertigou, atingindo sua altura total e posicionou o nariz bem à frente dele, mesmo estando abaixo quinze centí­metros. A voz era gelada.
— Achamos que Hermione devia saber que Wayne estava de volta.
— Na verdade, eu achava que podíamos esperar para contar o ela — esclareceu Beatrice, timidamente.
— Sem dúvida, é a irmã mais sensível — notou Harry, pegando n mão de Beatrice e fazendo uma reverência, como se estivessem nos tempos antigos.
— Oh, meu Deus — exclamou Beatrice, com um sorriso jocoso e agitando o lenço rendado.
— Vamos, mana — disparou Alberta. — É melhor irmos tam­bém.
Hermione fechou a porta totalmente sem fôlego. Sentia uma dor­zinha lateral por ter se apressado tanto até a casa. Conseguira, listava salva. Por enquanto.
Entrando na sala, afundou no sofá que Wayne sempre achara confortável e que ela adorava. Agarrou as almofadas e apoiou o rosto contra o encosto de tecido adamascado.
Era sua posição favorita, e só ela sabia em tudo o que tinha pura pensar. Era tanta coisa que sequer podia escolher em que pensar primeiro, o beijo inesperado de Harry e sua reação ainda mais inesperada, a volta de Wayne...
Wayne, naturalmente. Devia pensar primeiro em Wayne. Era o homem que amava, o homem com quem planejara passar o resto da vida.
Harry era... Não estava preparada para pensar em Harry ainda. Wayne. Por que ele teria voltado à cidade sem Rosie? Será que se enganara e voltara para consertar a situação? Poderiam reatar?
Hermione esfregou a testa, fazendo os cachos ficarem levantados. Dali a pouco, seu rosto se cobriu de pêlos, pois o gato caminhava; no encosto como um malabarista de circo.
— E aí, Magic, adivinhe quem voltou? Wayne.
Ao ouvir esse nome, o gato ergueu o nariz desdenhosamente, antes de se sentar.
— Sim. Ele está de volta. Sem Rosie. Acredita nisso?
Magic parou o processo de se lamber para agitar a orelha, balançando a cabeça.
— Sim. Eu sei. — Suspirando, Hermione esfregou as orelhas da gata. - Íamos nos casar neste fim de semana, você sabe.
A gata fechou os olhos e ronronou de prazer.
— Que vida — murmurou Hermione. — Você leva numa boa, não é? Só se lembre de uma coisa: jamais se apaixone. É roubada.
Magic se espreguiçou, aninhando a cabeça sob a mão de Hermione.
Quando o telefone tocou, Hermione ignorou, preferindo que a secretária eletrônica pegasse os recados, como fizera desde que Wayne partira. Mas quando viu quem estava chamando, se inclinou e atendeu.
— Oi, pai! Sou eu. Estou aqui.
— É só uma chamada rápida — sentenciou o pai.
Hermione notou que todas as chamadas irregulares dele eram rápidas. Ele também fora rápido casando-se de novo depois que a mãe fugira com o carteiro. E a madrasta fora igualmente rápida em declarar sua opinião de que ela era uma praga e não pertencia à família, sem nunca esconder a preferência por suas duas próprias filhas. O pai nunca ficara a seu lado no passado.
— Estou telefonando por causa da máquina de fazer pães — disse o pai.
Haviam dado a tal máquina como presente de casamento.
— Recebi, sim, obrigada — respondeu Hermione. — Mandei um bilhete, não mandei?
— Sim. Mas, bem, o caso é, já que não vai mais se casar... Achamos que, se não vai usar o presente, podia devolver. Você sabe, sua irmã sempre quis uma. E como ela e o marido se mu­dando para uma nova casa...
— Envio amanhã mesmo — informou Hermione, sem disfarçar o desgosto.
— Ótimo — disse o pai em tom jovial. — Vou telefonar para ela e dizer que está chegando. Adeus.
“Ele nunca pergunta como eu estou indo”, percebeu Hermione, trêmula. Claro, nunca fora o pai mais sensível, mas, mesmo assim, dada a situação, podia ao menos perguntar como ela estava passando.
Precisava parar de esperar qualquer coisa. Assim, nunca ficaria decepcionada. Afinal de contas, já superara a época em que acre­ditara que um homem seria seu herói, junto com todas as lem­branças da infância, que a madrasta descartara antes de a família se mudar para a Califórnia.
Contando só dezesseis anos na época, Hermione preferira ficar em Greely e concluir o curso secundário, ao invés de cortar as raízes. Nunca fora aceita pela família do pai, de qualquer forma. Mas, como uma criança olhando a vitrine de uma loja de doces, ainda desejava fazer parte de uma família de verdade.
O telefone tocou novamente. Desta vez, era Luna. Precisando conversar com uma amiga, Hermione atendeu.
— Telefonei há um minuto, mas estava ocupado — informou Luna.
— Meu pai acaba de ligar.
— O que ele queria? Com certeza não estava querendo saber se você estava bem — adivinhou Luna, conhecendo a indiferença pela qual a amiga passara na adolescência.
— Ele quer de volta o presente de casamento — respondeu Hermione, sem esconder nada. — Parece que minha irmã sempre quis uma máquina de fazer pães.
— Que raiva! — Luna que sempre se mantinha calma, mostrou-se indignada. — Eu teria dito onde colocar essa máquina!
— Não, não teria. Nem eu. Disse que mandaria amanhã. Não vou ficar com algo que ele prefere dar a minha irmã. — Assim como ele preferira dar seu amor e atenção às outras, e nunca a ela.
— Seu pai sempre foi grosseiro — notou Luna. — Não quero que se sinta pior mas... soube do Wayne?
— Que ele voltou? Sim, soube.
— E Rosie não está com ele.
— Ouvi isso, também.
— O que vai fazer? — perguntou Luna. Hermione riu nervosamente.
— Não sei. Jogá-lo na fogueira?
— Soa bem — concordou Luna, veemente. — Posso acender os fósforos, se quiser.
— Se fosse assim tão fácil — comentou Hermione, o riso pa­recendo um soluço.
— Ainda o ama, não é? — disse Luna, a voz consternada.
— Sim. — Hermione enxugou as lágrimas assim que saíram.
— Oh, Hermione... — suspirou Luna.
— Exatamente o que sinto. — Seria muito mais simples se seu amor tivesse acabado no momento que leu o bilhete de Wayne. Mas não foi assim, e tinha que conviver com esse fato.
Hermione foi à biblioteca com extrema relutância no dia seguinte devido a outra noite mal dormida. Teve vontade de telefonar dizendo que estava doente, mas não havia ninguém que pudesse substituí-la nesse dia.
A primeira pessoa a aparecer foi não outro senão seu ex-noivo, Wayne. Tinha os cabelos castanho-claros bem curtos, mais curtos do que quando partira. Seus olhos azuis brilhantes mostravam cautela, e combinavam com sua camisa esporte com a insígnia da escola secundária Lincoln.
Ela o olhou desanimada. Ainda não estava pronta para esse encontro.
— Nós precisamos conversar — disse Wayne. Hermione sentiu o coração falhar uma batida.
— Veio para me dizer que se enganou? — perguntou ela. Wayne balançou á cabeça.
— Vim porque esta é uma cidade pequena e mais cedo ou mais tarde nós acabaríamos nos esbarrando.
— Com ela e comigo também — sentenciou Harry, da porta de entrada. — E não gosto de esbarrar em ninguém. Na verdade, sou muito sensível quanto a isso.
Hermione achava que a situação não podia ficar pior do que já estava, mas a aparição inesperada de Harry a fez mudar de idéia.
— E você é... — perguntou Wayne, franzindo o cenho na direção de Harry.
— O protetor de Hermione — proclamou Harry orgulhosamente, chegando mais perto, sem pressa, como um homem que sabe onde está indo. — Quem é você?
— Wayne Turner.
Harry assentiu.
— Oh, certo. O palhaço.
Wayne ficou vermelho de raiva e se voltou para Hermione.
— Quem é esse cara, Hermione?
— Harry Potter. O sobrinho da senhora Abinworth.
— Ou diz que é — interrompeu Alberta, às costas dela.
De onde ela aparecera? Hermione sentiu vontade de apoiar a cabeça no balcão. Ao invés disso, polidamente perguntou à anciã:
— Em que posso ajudá-la?
— Não, só estava dando uma olhada. Procurando um bom livro. Não se preocupe. — Ela olhou para Wayne como se o estivesse vendo pela primeira vez. — Ora, Wayne, que surpresa ver você por aqui.
— Eu moro aqui — respondeu ele. — Estou de volta.
— Estava falando aqui, na biblioteca — esclareceu Alberta lançando um olhar significativo para Hermione. — E como Rosie está indo? Está com você?
— Não. Ficou em Chicago, assistindo a um seminário de duas semanas para cabeleireiros.
— Oh, então, é por isso que não está aqui com você.
— Certo.
— Então... nada mudou entre vocês? Você e Rosie, quero dizer...
— Nada mudou — confirmou Wayne, claramente se sentindo desconfortável com o rumo da conversa.
— Naturalmente, as coisas mudaram aqui — continuou Al­berta. — Harry Potter é o novo homem misterioso da cidade. Ele e Hermione eram... muito chegados.
Wayne pareceu não gostar da idéia.
— Hermione e o sobrinho da senhora Abinworth foram amigos quando crianças — elaborou Alberta.
— Não me lembro de nenhum Harry Potter por aqui — co­mentou Wayne olhando desaprovador na direção de Harry.
— Ele só visitou a tia durante um verão — esclareceu Hermione, quando Harry não fez menção de responder a Wayne.
— O homem não fala por si mesmo? — desdenhou Wayne.
— Só quando é importante — respondeu Harry, lacônico.
— Bem, Harry — começou Wayne, com um tom de voz de homem para homem que nunca falhava quando passava instruções a seu time escolar. — Gostaria de conversar a sós com Hermione, se não se importa.
— Eu me importo — sentenciou Harry.
— Não, ele não se importa — corrigiu Hermione, pedindo-lhe que ele não fizesse cena.
E expressão severa de Harry foi substituída por resignação antes que desse a volta, a postura evidenciando irritação.
— Estarei bem aqui se precisar de mim — comentou ele, indicando a estante de revistas do outro lado da sala, de onde não poderia ouvir a conversa, mas veria qualquer alteração do ânimos.
Ante os olhares de Wayne e Hermione, Alberta teve a delicadeza de se retirar também.
— Vou para lá com ele, para ter certeza de que ele não vai roubar nenhuma revista — resmungou Alberta antes de sair no encalço de Harry.
— Este não é um lugar para conversas particulares — informou Hermione, assim que se viram a sós, ou o mais a sós possível. — Estou trabalhando.
— Só queria dar uma passada e dizer que estou na cidade ao invés de deixar que soubesse por outras pessoas.
— É tarde demais. Não sabe como as fofocas correm nesta cidade? Não, talvez, você não saiba, já que partiu antes que a coisa pegasse fogo — observou ela, zangada. — Bem, me deixe ser a primeira a informá-lo de que cada detalhe do nosso rom­pimento foi o assunto em pauta durante a última semana.
— Sinto sobre isso, Hermi — comentou Wayne, usando seu apelido. — Não queria machucar você.
— Então, o que queria? — perguntou ela bruscamente.
— Não podia me casar com você, sentindo o que sinto por Rosie. Certamente, você entende — disse ele, pedindo perdão —, não seria certo.
Ela se enrijeceu para não se deixar abater.
— Oh, e eu suponho que seja correto sumir dez dias antes do casamento, deixando só um bilhete no meu local de trabalho? Um bilhete que todos pudessem ler, e que realmente leram.
Ele teve a graça de parecer arrependido.
— Certo, acho que foi meio desastrado da minha parte.
— Em primeiro lugar, por que me pediu em casamento, Wayne?
— Porque eu amava você. Você sabe disso.
— E deixou de me amar?
— Não. Não é isso. Só que sinto isso pela Rosie, não seria justo com você se eu continuasse com aquilo tudo e me casasse com você.
— Não lhe ocorreu que eu merecia uma satisfação pessoal? — sugeriu ela, sem esconder a traição que sentia.
— Sim. Você merecia. Sinto que eu é que não podia. Não podia encarar a dor em seu olhar. Então, agi como um covarde, admito. Mas estou de volta para me explicar agora.
Suas palavras chegaram como facas.
— É isso que eu sou? Alguém que vai puni-lo?
— Hermi, não quis dizer exatamente isso... — Wayne deixou as palavras se apagarem, arrependido. Mas era o olhar dele que a irritava, um olhar de pena.
A idéia de Wayne sentindo pena dela, vendo-a como a "pobre Hermione", era mais do que podia suportar.
— Acho melhor você ir embora agora — declarou ela, com a voz alterada.
— Ainda quero que sejamos amigos — implorou Wayne. Preocupada demais para responder, Hermione balançou a cabeça.
Não respirou até que Wayne fosse embora; então, teve que inalar profundamente.
— Você está bem? — Harry apareceu a seu lado, perguntando suavemente.
Hermione mordeu o lábio para evitar que continuasse tremendo.
— Ficarei bem — mentiu ela. — Só quero ficar sozinha.
Harry não a pressionou, para seu alívio. Ao invés disso, ajudou-a desviando a atenção de Alberta.
— Essa hora é perfeita para conversarmos sobre minha tia Faye, lá na confeitaria — convidou ele à anciã atônita. — Sinta-se à vontade para fazer qualquer pergunta.
Era um convite a que, Hermione sabia, Alberta não resistiria. Quando os dois saíram, ocorreu-lhe que Harry tinha o dom de fazer convites irrecusáveis. No momento, pensar em Harry era mais fácil do que pensar em Wayne e seu olhar de pena.
Hermione acabara de jantar queijo em bolas e azeitonas pretas quando ouviu uma batida na porta. Ficou tentada a ignorar. Não estava no clima para companhia. Desde que voltara do trabalho, vinha tentando anular a depressão, mas era uma tarefa ingrata. Abrindo a porta, viu Harry do outro lado da porta telada. Mais uma vez, ele estava segurando uma caixa da confeitaria.
— Estou com um problema — declarou ele, com um grande suspiro.
— Sim?
Harry assentiu.
— Esta torta de framboesas é boa demais para eu comer so­zinho. Algo tão bom assim tem que ser dividido.
— Você tem razão — concordou ela, antes de afastar a porta telada e convidá-lo a entrar.
— Eu estou certo?
— Está surpreso?
— Não. O fato de você concordar comigo é que me surpreende. Ou talvez devesse dizer que o fato de você admitir que concorda comigo é que me surpreende.
— Pare enquanto está em vantagem — aconselhou ela, com um sorriso. Tomou a caixa das mãos dele e a pousou sobre a mesa. — Entre e sente enquanto vou pegar alguns pratos. Quer tomar alguma coisa?
— Tem leite?
Ela assentiu, o sorriso se alargando quando se recordou dos concursos de ingestão de leite que promoviam quando crianças, vencendo o maior bigode de leite.
— Ainda toma leitinho — desdenhou ela.
— Só em ocasiões especiais — respondeu ele, bem-humorado. Ocorreu a Hermione que Harry daria um ótimo garoto-propaganda para o departamento de saúde pública, considerando sua ossatura forte e os bons dentes, não fosse o fato de suas feições serem austeras demais para a tarefa. Havia muito caráter naqueles traços, e muito mistério em seus olhos verdes. Além de muita sabedoria em, seu sorriso lento. Não, Harry não era mm garoto insosso de fazenda. Era um homem perigoso, com feições de pedra, bonito demais para deixar qualquer mulher em paz.
Quando voltou da cozinha, encontrou-o na poltrona ao invés do sofá. Gostou da opção dele, pois significava que ela ficaria no sofá e teria algum espaço. Ele não a estava pressionado. A distância entre eles tomou o trabalho de cortar a torta muito fácil, e ela colocou um pedaço sobre um prato, que passou a ele sem demonstrar o nervosismo.
— Confesso que tinha outro motivo para passar aqui esta noite — declarou Harry.
Ao invés de levantar a questão, Hermione saboreou sua fatia de torta e esperou que ele continuasse em seu ritmo.
— Pensei que estava na hora de fazer uma aparição estratégica — elaborou ele, antes de tomar um gole do leite gelado. Hermione observou o líquido branco tocar aqueles lábios, e viu quando o pomo-de-adão se movimentou completando a tarefa. Não ficou marca de bigode desta vez. Seu lábio superior era fino e meio sem estética, em contraste com o inferior que era cheio e sensual.
Ela ergueu o olhar em direção a seus olhos, e percebeu que ele franzia o cenho à espera de uma resposta. Aflita, tentou se lembrar sobre o que ele falara.
— Aparição estratégica?
Harry assentiu.
— É a melhor maneira de lidar com essa situação.
— Uma mudança para a Antártica parece ser a melhor opção no momento — respondeu ela.
— Não acho que tenha que fazer nada tão drástico — respondeu ele — Embora admita que pensei durante anos se você continuava aqui, ou tinha se mudado.
— Fui para a faculdade em Chicago, mas nunca me adaptei. Não era feliz numa cidade grande. Na verdade, me sentia mise­rável, então, fui para Urbana tirar meu título de mestre e depois voltei para cá, alugando esta casa. Numa cidade pequena como Greely, o que mais incomoda é que há mais famílias saindo do que entrando. Os proprietários desta casa esperaram muito tempo para alugá-la.
— É uma belíssima casa antiga — notou Harry, com admiração. — Um bom exemplo do gótico vitoriano, uma interpretação ro­mântica em madeira das catedrais medievais, executada por um bom marceneiro. — Falava com respeito. — Não se constroem mais coisas assim, cumeeiras íngremes e janelas com arcos pon­tudos são elementos góticos, enquanto a janela projetada para fora é clássica na arquitetura vitoriana. Tem também esses detalhes nos batentes e nos beirais. Não, não se fazem mais coisas assim.
— Fala como um especialista. O que é um beiral?
— Um beiral é aquilo que fica na ponta do telhado dando o acabamento — respondeu ele.
— Quer dizer aquela madeira trabalhada presa ao telhado?
— Sim. Só foi possível com a introdução de máquinas que fazem os detalhes mais rapidamente do que à mão.
— Sim. Definitivamente fala como um especialista — concluiu ela.
— Sou arquiteto — informou ele.
— Verdade? É ótimo! Você sempre construía coisas — re­cordou ela. — Lembra-se do forte que fizemos no lago? Tinha dois andares.
— E uma vista excelente — acrescentou ele.
— Bem na direção da janela do quarto de Peggy Sue, se bem me lembro. — Hermione sorriu. — E você teve coragem de acusar as irmãs Beasley de espionagem.
— Conheço o negócio — informou ele, com um sorriso lento. — Além disso, não dava para resistir a Peggy Sue e seu sutiã preto. O que aconteceu com ela?
— Ela tem cinco filhos e se divorciou recentemente; portanto, ela está disponível, se ainda está interessado.
— Não, obrigado.
À medida que iam relembrando acontecimentos do passado, Hermione começou a relaxar e se sentir bem pela primeira vez... pela primeira vez desde que se sentaram na varanda dele no dia anterior. Mais uma vez, a companhia dele a confortava.
A presença de Harry devia ter agradado à gata também, pois Magic saiu de seu cantinho e mostrou interesse pelo recém-chegado, pulando no apoio de braço da poltrona. Ao invés de se irritar com o atrevimento, como Wayne sempre ficava, Harry con­versou suavemente com Magic e ganhou sua confiança quando acariciou seus pêlos onde mais gostava, atrás da orelha esquerda.
O ronronar de Magic foi alto o suficiente para ser ouvido da rua.
— Sua gata gosta de framboesas — observou Harry, quando Magic começou a lamber a pontas de seus dedos.
— Ela é meio ceguinha — respondeu Hermione. — Provavel­mente achou que você tinha algo bem gostoso, embora goste de doce.
— Como sabe que ela não vê muito bem?
— Já demonstrou várias vezes. Ela coloca o nariz no seu ao invés de olhar para você, assim como está fazendo agora — ob­servou Hermione com um riso. — E ela não avalia bem as distâncias, o que faz com que não atinja o alvo às vezes. Por isso, o abrigo de animais não conseguiu achar outro lugar para ela; então eu a adotei.
Quando a gata pulou fora, ele perguntou:
— Ainda tentando cuidar dos pobrezinhos, Mione?
— De que está falando?
— Estou falando de como sempre se comporta como campeã para aqueles que precisam. Assim como tentou cuidar de mim quando éramos crianças.
— Fala como se fosse errado.
— Só quando esquece de pensar em você primeiro. Foi isso que a atraiu no senhor Futebol? Era outro para você cuidar?
— Como pode dizer isso? Wayne é muito seguro, e um trei­nador de sucesso. O que o faz pensar que ele precisa de cuidado?
— A verdade é que ele é um fraco. — Quando ela ia protestar, Harry levantou a mão. — Estou falando de fraqueza moral. Mione, encare os fatos. O palhaço abandonou você e fugiu com uma garota bem mais nova. É sinal de um homem que não sabe quem é, que se sente ameaçado pela idade. Um homem que é inseguro.
— Oh? E suponho que você nunca se sentiu inseguro?
— Sabe que sim. Mas nunca me apoiei numa mulher para me sentir mais homem. — Depois de encontrar Wayne na biblioteca naquela tarde, Harry não podia entender como sua brava Mione se envolvera com um idiota daqueles. Harry conhecia o tipo. Já vira muitos caras como Wayne. A medida do pescoço era maior que o Q.I. Eram os tipos que haviam gozado dele até completar vinte anos por sua falta de força e pelo excesso de cérebro.
Na concepção de Harry, Wayne representava todos os bobalhões do mundo. Pessoalmente, preferia outras maneiras de mostrar sua força, ao invés de derrubar alguém no campo de futebol. Tudo isso só mostrava o quanto Hermione se afastara da verdadeira Hermione, aquela que ele estava determinado a trazer de volta.
— Voltando ao nosso plano estratégico — continuou Harry. — O objetivo aqui é fazer as pessoas pararem de chamar você de "pobre Hermione". De acordo?
Hermione assentiu, tirando a franja dos olhos.
— De acordo.
— Ótimo.
— Agora, qual é exatamente o seu plano?
— Desde quando exatamente a destemida Mione começou a olhar antes de atravessar a rua?
— Desde que seu noivo a passou para trás — informou ela. No fundo, Harry sabia que vinha de muito antes. Com voz firme, questionou:
— Não foi antes disso, não?
Sim, fora. E o pior de tudo é que ainda não superara o assunto com Wayne. Mas, ao vê-lo com aquela expressão de arrependi­mento e pena na biblioteca, decidiu que nunca mais aceitaria a piedade de ninguém.
— Ponto — consentiu ela.
— Então somos parceiros?
Ela assentiu e estendeu a mão, polegar para cima, para o aperto de mão especial que elaboraram quando crianças. Harry envolveu-lhe a mão completamente, enquanto ela pronunciava as pa­lavras que acompanhavam o ritual.
— Nós somos amigos...
— Até o fim — completou Harry, selando seu voto antigo com um olhar que não tinha nada a ver com o tempo de crianças, mas tudo a ver com paixão.




Obs2:Oiiii pessoal!!!!Capitulo postado!!!!Espero que tenham curtido!!!!Na sexta dia 06/06, que é meu aniversário, vou postar mais um capitulo de cada fic para vocês!!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!!

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