O Velho Diário



Tiago deitou-se, mas não conseguiu sequer cochilar. Ainda estava sob efeito da confusão daquela noite. Pensava em Jullie, de como Paul se sentia seu dono e gelou imaginando o que ele poderia fazer com ela como detenção, já que depois daquela tapa, ele parecia ruim o bastante para fazer qualquer loucura com a menina. Mas o que mais o incomodava era aquele livro que Jullie o dera para ler, sem maiores explicações. Uma única frase não lhe saía da cabeça: “Talvez você nunca mais queira olhar na minha cara quando souber”.

Cedendo à sua curiosidade, Tiago se levantou sorrateiramente. Olhou para a cama de seu lado e viu que Zac dormia tranqüilo, assim como Justin, duas camas após sua esquerda. Alvo, deitado na cama ao lado da de Louis, quase de frente para sua, também parecia ter dormido rápido, também pudera, ficou esperando pelo irmão e deitou-se junto com ele, quase uma hora da manhã. Fazendo o mínimo de barulho, Tiago abriu a gaveta da mesa de cabeceira ao lado de sua cama e pegou aquele livro que lhe tirara o sono. O olhou como quem mirava uma obra de arte surrealista e o agarrando fortemente, como se ele pudesse sair voando de suas mãos, saiu pisando o mais leve que podia.

Desceu as escadas e se jogou em uma poltrona o mais longe possível dali, mas que desse para ver quem desceria e se fosse o caso, esconder o livro antes que alguém o pegasse. Apoiou o livro em seu colo e o olhando deu um longo suspiro, como se juntasse toda sua coragem para ler seu conteúdo. Abriu em uma página aleatória e viu que por coincidência nessa página estava a foto que Alvo havia deixado cair. Observou melhor, nela, estava uma jovem com vestes da Sonserina, de cabelos parecidos com os de Jullie, mas o seu rosto era completamente diferente. A menina tinha certo ar de arrogância, lábios carnudos e olhos um tanto puxados. Era muito bonita na opinião de Tiago. Estava ao lado de um rapaz, também da Sonserina. Era monitor, podia-se ver sua estrela reluzente acima do brasão ofídico. Tinha um rosto de rapaz petulante, mas Tiago teve que confessar que ele tinha sua beleza. Ficou imaginando que seriam aqueles dois, e virou a foto na intenção de ver alguma dedicatória. Observou uma caligrafia e leu com cara de espanto:

“Sou tua e não percebes, mas eu não te culpo, meu doce amado, pois sei que tens maiores metas e seu destino é brilhante. Mas serei sua por toda a eternidade, esse é meu pacto contigo. Suas metas serão minhas metas. Tu me inspiras.”

Tiago não entendeu nada daquilo. Ou aquela menina amava desesperadamente o rapaz ou ela gostava de sofrer, ou, realmente ele era alguém que valesse muito a pena. Decidiu recolocar a foto no livro, em qualquer página, e começou a folhear o diário. Havia algumas poesias, inclusive reconheceu aquela que Jullie lera na Clareira para Zac, Justin e ele, a qual ele achara tão triste, embora bonita. Tiago percebeu que algumas páginas estavam em branco. Seguiu folheando, e nada escrito.

- Jullie tem problemas sérios... – Tiago comentou consigo, rindo baixinho – Me deu para lar um diário em branco... Assim fica fácil...

Mas ao virar outra página, viu um frase centralizada na folha, escrita com tinta vermelha.

“Me pertença, sou tua”

Tiago leu e ignorou. Virou a página, mas a frase se repetiu, dessa vez, em maior proporção.

“Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua...”

O menino não entendia. Aquela frase se repetiu mais três vezes com a mesma tinta encarnada de antes. Ainda tentando ignorar, virou a página, mas a frase o perseguia, se repetindo como se fosse um mantra.

“Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... “Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua...”

Tiago percebeu que havia alguns respingos de tinta na página, que estava completamente preenchida pela sinistra frase. Aproximou seus olhos da folha, já que não conseguia enxergar muito bem de longe, e gelou ao perceber que aquela tinta encarnada não era exatamente tinta, era sangue. Sentiu uma pontada no peito e virou a página rapidamente, mas as palavras continuavam surgindo, preenchendo toda as lacunas da folha.

“Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... “Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua...”

Com a mão tremendo e começando a suar frio, Tiago foi passando as páginas rapidamente, angustiado, mas aquele mantra macabro continuava, gravado em sangue. O menino não conseguia fechar o diário e nem desviar o seu olhar daquelas palavras. Estava se sentindo tonto, começara a suar com mais intensidade, mas a frase ainda o perseguia nas páginas seqüenciais.

“Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... “Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua... Me pertença, sou tua...”

- Tiago?

Ao ouvir seu nome, Tiago parecia ter acordado de um transe, e num pulo, jogou longe o diário. Estava pálido, suado e trêmulo. Sentia um enjôo e parecia que ia desmaiar.

- TIAGO! Você está bem? – Claire saiu apressada em sua direção.

- Ah... – Tiago piscou o olho várias vezes até conseguir perceber que era Claire quem falava – Claire... Eu... Eu... Não estou muito bem... Mas não é nada demais...
- Não é melhor irmos para Ala hos...
- Nâo! – Tiago tentava parar de tremer – Está tudo bem, foi só um... Susto.

Claire o olhava, preocupada, mas Tiago tentava parecer bem. A menina olhou dele para o livro que o vira jogando longe ao escutar seu nome. Saiu em direção a ele, com intuito de pegá-lo, imaginado ter sido arremessado apenas pelo susto que dera em Tiago, mas o garoto ao perceber qual era a intenção de Claire, deu um guincho de desespero.

- Não toca nisso Claire!
- Uê, por que não? – Claire o olhou, confusa.
- Esse livro... – Tiago apontou com o dedo trêmulo para o tal diário – Ele é mau! Ele me hipnotizou! Não mexa nisso!

O menino se levantou e pegou o diário como quem pegasse um rato morto e o jogou em cima da poltrona. Claire ainda o olhava com certa curiosidade, tentando entender como um livro poderia ser mau. Olhou com mais cuidado para o tal livro e teve a sensação de já tê-lo visto em outro lugar.

-Esse livro... – Claire lembrou-se – Não é da Jullie?
- É... É dela sim... Mas ela vai me ouvir! – Tiago estava com certa irritação. – Deve ser um logro, sei lá! Ela me deu e pediu que o lesse, mantivesse segredo e tal... Mas acho que ela me pregou uma peça, isso sim...

Tiago parou de falar ao olhar para Claire e somente agora perceber que a menina tinha os olhos inchados, como se tivesse passado a noite chorando. Ela percebeu seu olhar e ficou um tanto sem graça.

- O que houve, florzinha? – Tiago se aproximou
- Eu... Tive um pesadelo – os olhos de Claire se encheram de lágrimas ao falar.
- Ah, então por isso você acordou a essa hora... – Tiago a abraçou ternamente – Não fica assim, foi só um sonho ruim, agora está tudo bem...

- Não, não está! – Claire começou a chorar – Eu sonhei com meus pais! Eles estavam fugindo de mim, diziam que eu era um aberração, que eles não tinha filha nenhuma chamada Claire... Eles me odeiam, Tiago! Meus pais me odeiam!

- Não, Claire! – Tiago tentava secar as lágrimas da menina – Eles não te odeiam! Confia no meu pai, ele disse que vai tudo ficar bem, estão procurando por eles... Meu pai nunca desapontou ninguém! Meu pai é um herói!

- Mas não é isso, Tiago! Se eles me odeiam, eles não vão querer me ver!
- Claire, eles são seus pais! Eles não te odeiam! É impossível odiar uma garota tão especial como você!

Tiago passou a mão pelos cabelos de Claire e em seguida a abraçou novamente. Ouviu passos vindos da escada e olhou por cima da cabeça da menina, para ver Zac, Justin e Alvo descendo as escadas. Ao vê-los, acenou, para que chegassem ali. Os três meninos obedeceram imediatamente, todos com um grande ponto de interrogação em suas cabeças.

- Que houve? – Alvo olhou para Claire, que ainda chorava.
- Claire teve um pesadelo... – Tiago disse quase sem emitir som algum.
- Ah, fofinha! – Justin a olhou com pena – Não fica assim...

- Claire, não fica triste! Foi só um sonho, estamos aqui com você! – Zac se abaixou para acariciar os cabelos da menina, que estivera sentada com Tiago na poltrona, fazendo Alvo sentir uma pontada de ciúme.

- Meninos, eu sonhei com meus pais! E que eles me chamavam de aberração!

- Claire... Você não é aberração! – Zac a corrigiu.
- Claro que não! – Alvo o interrompeu – Você é a garota mais incrível! A mais linda, a mais legal... A pessoa mais linda do mundo... – Alvo ia se abaixando enquanto falava – Não tem como um ser em sua plena consciência odiar você...

Tiago segurou um risinho irônico e olhou para Zac e Justin, ambos estava olhavam de Alvo para Claire, com olhos arregalados. Claire abraçou Alvo, chorando, e Tiago fez um breve aceno de cabeça para os outros dois meninos, que entenderam imediatamente que eram para deixá-los a sós. Os três foram para a outra extremidade do Salão Comunal.

- Tiago! O que você estava fazendo? – Justin foi logo falando – Poxa, Zac acordou e não te viu na cama, me acordou, acordou o Alvo...
- Oras, eu fiquei preocupado! – Zac se defendeu – Quando fomos dormir você ainda não tinha chegado! Aí, Alvo disse que você chegou, mas pelo visto não dormiu nada!

- Eu não consegui dormir... Foi maior confusão essa noite, vocês nem imaginam... – Tiago não estava muito disposto a contar nada, mas achou que devia aos amigos uma explicação – O Wright pegou Jullie e eu na clareira, nos levou para o Longbottom e depois, quando o diretor deu um “chega pra lá” nele, ele saiu aborrecido e acabou batendo na Jullie, daí chegaram os outros diretores e a McGonagall...

- Espera aí – Justin fez sinal para Tiago parar de fala – Ele, o Wright, bateu na Jullie?
- Foi, acreditam? Deu maior rolo!
- Ele é louco! – Zac estava boquiaberto – Como assim, ele deveria ser expulso!

- McGonagall o ameaçou... – Tiago deu um leve e irônico sorrisinho – Ele se acha dono da Jullie! É obcecado por ela! Chega a dar medo!
- Merlin... – Justin estava com cara de apavorado – Esse cara é um perigo!
- Pois é... – Zac tremeu.

- Olhem, eu acho melhor a gente tentar dormir, por que o dia amanhã será longo, eu tenho detenção para cumprir... – Tiago falou olhando para Claire e Alvo, que agora conversavam calmamente – E esses dois, não? Alvo está cada dia mais poético... – E riu olhando para o casalzinho.

- Tiago... – Zac estava pensativo – O que você e Jullie estavam fazendo na Clareira?
- Essa é uma ótima pergunta! – Justin riu ironicamente

- Nada demais! – Tiago ficou levemente corado – Eu vi que Jullie estava lá sozinha pelo mapa e fui ver se ela estava bem! Ela estava triste, mas não falou muito sobre isso.

- Ah, sei... – Zac olhou de relance para Justin, que também não parecia ter engolido aquela desculpa.

Tiago percebeu que não havia convencido os amigos, mas fingiu ignorar a situação. Não queria falar que Jullie e ele se beijaram, pois naquele momento, em especial, estava com certa raiva da menina por causa do diário. Pensando no diário, andou lentamente até a poltrona onde o havia colocado e o pegou, ainda receoso. Olhou novamente para Claire e Alvo, dando um sorrisinho sem graça, e se dirigiu até as escadas, deixando Zac e Justin com expressão de “Não estamos entendendo nada”.

- O que deu nele? – Zac coçou a cabeça.
- Eu que sei? Tiago é meio maluco, não acha? Se não for, age como se fosse... – Justin riu.

- Pois é... Vamos dormir? Estou caolha de sono aqui... – Zac falou bocejando
- E eu, que fui acordado por um desesperado aí... – Justin comentou ironicamente.

- Ah, eu já falei! Eu estava preocupado!

Justin continuou rindo de Zac e os dois também se dirigiram às escadas. Zac deu um aceno para Alvo e Claire e Justin desejou um “boa noite” baixinho. Claire e Alvo estavam sentados, A menina estava com a cabeça apoiada no ombro no garoto e, embora não chorasse mais, estava com a expressão triste.

-Claire! Não fica assim! O que eu faço para te ver sorrir, me diz? Eu faço qualquer coisa!

- Al... Tem uma coisa que eu não contei para o Tiago quando falei do pesadelo – Claire se ajeitou na poltrona para encarar Alvo – Mas eu quero contar para você...

- Pode contar! – Alvo sentiu uma leve massagem em seu ego com a declaração da menina.

- Bom... Nesse sonho... Tinha um homem que eu nunca vi antes, mas ele parecia me conhecer, porque falou assim comigo: “Claire, eles não se lembram de você, mas assim é melhor para eles e para você... Logo tudo se resolverá.”

- Nunca o viu? - Alvo a olhou curioso – E ele não disse quem era?
- Não... Ele não era muito velho, sabe? Era um homem bonito, tinha cabelos escuros e olhos claros... E uma cicatriz no rosto...

- Não era o meu pai? – Alvo arregalou os olhos – Você acabou de descrevê-lo!

- Não era o seu pai! Eu o conheço! Era um homem mais novo que seu pai, aparentava ter os seus 27 anos, por aí... – Claire tentava lembrar mais detalhes – Ah, ele disse também algo sobre a Rua dos Alfeneiros...

- Rua dos Alfeneiros? – Alvo novamente se surpreendeu.

- É, eu morava lá, sabe? Fica no Surrey, morei lá até minha família mudar-se para Notting Hill, quando eu tinha seis anos.

- Espera... Meu pai morou por anos na Rua dos Alfeneiros! – Alvo se empolgou – Claire! Ele precisa saber disso! Pode ajudar em algo!
- Então, por isso o homem me falou de lá... – Claire esboçou um sorriso – Alvo! É verdade! Esse homem... Seja lá quem for, ele está querendo me ajudar!

- Eu não disse que tudo vai se resolver! Agora, temos que escrever para o meu pai! – Alvo se antecipou e levantou apressado – Vamos fazer logo isso, quanto mais rápido, mas cedo meu pai poderá ajudar!

-Isso! – Claire se levantou também e sorriu – Alvo, eu te amo! Você é o meu melhor amigo...

- Eu também te amo, Claire... – Alvo tentou sorrir, mesmo que desgostoso com a colocação “melhor amigo” – Agora, vou pegar pena e pergaminho e faremos a carta! Só um momento e já volto!

Alvo subiu correndo as escadas, mas ao lembrar do horário, desacelerou o passo. Entrou no dormitório masculino bem devagar, e viu que Tiago ainda não estava dormindo, embora deitado, mas tampuco falou algo, fingiu dormir quando percebeu Alvo ali, que por sua vez, pegou o que queria e desceu ao encontro de Claire. Os dois escreveram o que Claire havia sonhado da maneira mais detalhada que puderam e assim que terminaram, se retiraram para dormir ao menos três horas até que amanhecesse.

Assim que amanheceu, Louis se levantou e ficou pasmo ao ver que Tiago, Alvo, Zac e Justin ainda dormiam. Geralemente, ele era o último a acordar e hoje era o primeiro. Cutucou o braço de Alvo levemente, que abriu os olhos com muita dificuldade.

- Acorda, Al! Ja está na hora! Até eu já levantei!
- Ah, sério? Eu não dormi nada... – Alvo bocejava.

- Não? – Louis olhou para os outros três meninos – E pelo visto, eles também não, certo?
- Pois é... – Alvo se levantou contra a vontade, e chamou Tiago para levantar.

Tiago, ao contrário dele, abriu os olhos imediatamente, denunciando que sequer cochilara após deitar-se. Estava abatido, com os olhos fundos, mas levantou-se assim mesmo. Alvo preferiu não o incomodar com perguntas, mas sabia que havia algo errado com o irmão. Para resistir à tentação de encher Tiago com perguntas, se arrumou rapidamente e saiu do Salão Comunal com Louis. Foram para o Grande Salão e se juntaram aos demais alunos da Grifinória, inclusive Claire que já estava lá, ao lado de Rosa, Victoire e Dominique. Alvo sorriu para a menina e mostrou a carta que escreveram, e sentando-se à sua frente na mesa, cumprimentou as primas e falou baixinho:

- Depois do café, podemos ir no corujal, pedir para a Astrid levar a carta, já que ela nunca levou correspondência sua!

- Ótima idéia! – Claire sorriu radiante.

Alvo estava com o olhar fixado no sorriso de Claire, mas foi forçado a desviá-lo dela. Se virou rapidamente, pois sentira um vento passando ao seu lado. Era Tiago, que literalmente havia se jogado na cadeira ao lado, com uma cara horrível. Zac e Justin, sentaram-se também, mas estavam com uma expressão melhor que a de Tiago. Alvo os olhou, mas pela cara dos meninos, também estavam preocupados com Tiago. Logo assim que chegaram, o correio também chegou. Os alunos pegavam suas correspondêcias animados. Zac pegou seu exemplar d’O Profeta Diário, assim como Rosa o fez. A menina deu um leve sorriso, se dirigindo a Zac.

- Olha! Sua mãe, não é? – Rosa mostrou a foto de Diana na capa do jornal – Adoro os livros dela!
- É, é ela... – Zac falou sem vontade.

- Diana Vasseur? – Victoire pegou o jornal de Rosa – Merlin! Eu adoro essa mulher! Ela é tudo que eu quero ser! – E começou a ler a matéria, deixando que Rosa e Dominique também lessem. – Ah, não fala! Um coquetel-party com a melhor escritora de todas! Que sonho! Como eu queria ir! Estou louca pelo livro novo dela!

- Estamos, não é, mana? – Dominque começou a ler o jornal também. – Ah, ela é tão
perfeita!

- Pois é... – Zac se meteu na conversa – Ela parece ser perfeita, mas minha mãe é muito má! Eu odeio ela!

- Que isso, Zac! – Justin olhou o amigo assustado – Sua mãe é um amor, todos sabem disso! Até os trouxas!

- Minha mãe está fazendo meu pai sofrer! – Zac empurrou um pergaminho para Justin – Olha isso! Meu pai está deprimido por causa dela! Ela pediu separação dele e agora quer proibir que ele me veja! Mas eu não vou deixar...

-Zac, não é bem assim... – Rosa olhou o menino docemente – Separação é assunto de adultos, e não creio que sua mãe queira te afastar do seu pai, mas um deles tem que ficar co m sua guarda... Tia Gina me explicou que quando um casal se separa, ou o pai ou a mãe fica com o filho, mas daí pode visitar, passar dias na casa do seu pai...

- Não! – Zac deu um guincho de raiva – Eu não vou ficar com minha mãe! Ela que me aguarde! Meu pai está dizendo na carta que eu vou ser consultado pelo juíz, e vou dizer que prefiro meu pai! Minha mãe ama mais os livros dela do que a mim e ao meu pai!

- Menino, não fala isso! – Dominique estava perplexa – Diana Vasseur é a melhor escritora do mundo mágico e está se tornando a dos trouxas também, eu e Vick somos grandes fãs dela e acompanhamos sempre... Ela fala tanto de você, que você é a vida dela, o melhor presente que ela já ganhou...

- Conversa mole! – Zac encarou Dominique – Ela diz isso para parecer boazinha!

- Zac... – E todos pararam de falar, pois era Tiago quem falava, levantando a cabeça para encarar o amigo – Cala a boca! Minha mãe está dizendo na carta dela que sua mãe está péssima com a hipótese de perder você, seu mal agradecido!

Ninguém respondeu nada, nem mesmo Zac. Tiago estava nitidamente de mal humor e isso era inédito, inacreditável. Justin se inclinou para olhar o amigo, que estava com uma cara de cachorro chupando caroço de manga azeda. Tiago, ao perceber a hostilidade de todos, recolheu suas cartas e pegou sua mochila, saindo da mesa.

- Estou sem fome... – E empurrou a cadeira de volta a mesa com uma força desnecessária.

- Tiago! – Alvo fez menção de levantar
- Não se esquente, Al... – Tiago virou-se, fazendo um leve aceno para que Alvo não o seguisse – Eu vou resolver um assunto, nenhum de vocês poderá me ajudar agora... – Olhou em direção à mesa da Sonserina, mas não viu Jullie.

Tiago saiu do Grande Salão e foi para um lugar mais reservado, puxando o Mapa do Maroto para tentar localizar Jullie. Olhou, olhou... Mas o nome da menina não aparecia nos lugares em que ela poderia de fato estar. Olhou nos lugares mais improváveis e de repente, viu seu nome sobre um pontinho no banheiro feminino conhecido como o banheiro da Murta que Geme, aquela fantasma chata e risonha que Tiago odiava. Sem nem ao menos pensar no que a menina estaria fazendo lá, saiu em disparada ao sem encontro. Entrou decidido no banheiro, olhando para os lados, procurando por ela.

- Aha! O menino Potter mais velho! – Murta o cumprimentou voando por cima de sua cabeça – Veio me amolar, seu estúpido?

- Olha, eu não estou de bom humor hoje, por tanto, não me perturbe e eu não te perturbo, falou? – Tiago ainda procurava Jullie, praticamente ignorando a presença de Murta.

- Você procura a Watson? Aquela estranha? – Murta falava com um irritante tom infantil – Ela não está nada bem! Você tem que ver, está um horror!

- Onde ela está? – Tiago virou o olhar para Murta que apenas apontou para um canto.

-Eu estou aqui, Ti... – Jullie estava sentada num canto, com a cabeça baixa, e não olhou para Tiago.
- Ah... – Tiago foi ao seu encontro.

-Vou deixar os pombinhos em paz... Já ganhei meu dia vendo o Potter de mau humor mesmo... – Murta saiu cantarolando, mas Tiago nem se importou com o comentário e se abaixou na frente de Jullie.

A menina estava tão derrotada quanto Tiago. Tinha olheiras abaixo de seus belos olhos, dando um ar de cansaço anormal ao seu rosto sempre tão expressivo. Tiago estava irritado, mas respeitou aquela cena.

- O que aconteceu com você?
- O mesmo que com você... – Jullie o olhou, avaliando suas condições. – Não consegui dormir de jeito algum... Foi o maior erro de todos dar aquele diário a você, Ti... Não sei onde estava com a cabeça! Devolve pra mim, não o leia...

- Eu já li alguma coisa...
- Não! – Jullie se desesperou – O que você leu?

- Primeiro, me diz... Aquilo é uma brincadeira, não é? – Tiago estava sério – Me diz que era, foi a coisa mais macabra que eu já vi na minha vida!

- Não é brincadeira! – Jullie o olhou, indignada – O que acontece é que aquele diário não é um diário comum... – Mas parou de falar, encarando Tiago em silêncio durante algum tempo – Onde está? Me dá ele aqui agora!

- Como é? Eu quero uma explicação para aquela coisa doida! – Tiago estava ficando vermelho – Aquele troço me hipnotizou, ou sei lá! Se não fosse Claire dizer meu nome, eu acho que iria desmaiar, ou morrer...

- Não ia morrer nada! Exagerado...
- Eu não sei de mais nada, está bem? Se não confia em mim para contar seus segredos, pra que me deu aquele trambolho nojento? – o menino estava nitidamente irritado.

- Não quero mais te contar nada, Tiago! – Jullie mudou sua expressão – Por que você não me conta como me encontra sempre? Primeiro, aparece na Clareira tarde da noite, agora aqui no banheiro da Murta...

- Isso não é da sua conta! – Tiago tremeu com a pergunta.
- Ótimo, minha vida também não é da sua, seu estúpido! Eu não devia ter me aproximado de você! Agora, me dá o diário! – Jullie estendeu a mão e Tiago viu que estava trêmula.

- Jullie... O que deu em você? – Tiago estava confuso – Ontem você estava tão confiante em mim, eu te disse que não me importava com nada, mas você fez questão de me dar o diário para ler...

- Eu errei! Errei em tudo, Tiago! – Jullie estava empalidecendo – Errei em achar que poderia confiar um segredo a você, errei em me aproximar de você e do Alvo, da Claire... Errei em... Te beijar... Agora, me devolve! Anda!

Tiago não acreditava naquela reação de Jullie. Não era ela, não parecia. Ficou a olhando, seus olhos estavam úmidos, mas sua expressão era assustadora. Não pensou muito, abriu a mochila e retirou o diário dela, entregando à menina, que o pegou num puxão.

- Agora... – Jullie agarrou o diário – Some da minha vida! E o mesmo serve para Alvo, Claire e para a Camélia, lá... Quem quer que seja, eu não posso... Quer dizer... Eu não quero... – a menina balançou a cabeça e Tiago percebeu que estava a ponto de chorar – Eu não quero mais a amizade de vocês... Principalmente a sua e de Alvo!

- Jullie... O que está...

- SAI DAQUI, POTTER! – Jullie deu um grito, mas não era de raiva, parecia mais de desespero – ME DEIXA EM PAZ!

O menino estava boquiaberto. Olhava Jullie como se ela fosse um elfo doméstico se auto-flagelando. Contudo, virou-se e saiu do banheiro com sua face queimando. Se havia um defeito em Tiago que era nítido, é que ele era orgulhoso, e aquela cena toda havia ferido seu orgulho. Se ela não queria o ver, ótimo, ele também não queria vê-la. Saiu pelos corredores completamente atordoado, ao passo que Jullie ao vê-lo sumir de vista, fechou os olhos e começou a chorar desesperadamente, se abraçando ao diário e voltando a se encolher no canto onde estivera até Tiago chegar.

- Por que isso? – Jullie soluçava em seu canto – Por que tem que ser assim! Quantas pessoas eu tenho que magoar? POR QUE EU SOU ASSIM! Eu não quero! Não quero! – a menina estava desesperada - Por que logo você, Tiago... Se eu não penso em outra coisa senão em você?

Tiago estava completamente sem rumo. Estava com tanta raiva que tinha os dentes cerrados. Parou no meio de um corredor, tentando colocar em ordem o pensamento, para poder prosseguir sua caminhada. Não lembrava a aula que teria agora, então, preferiu consultar o mapa e ver onde Zac e Justin estavam, mas logo foi surpreendido por uma mão em seu ombro, que o forçou a virar-se como se estivesse sendo ameaçado.

- Calma! Sou eu! – Alvo arregalou os olhos.

- Dá pra você parar de me assustar, droga! – Tiago respirou ao ver quem era.
- E você pode deixar de ser um arrogante insuportável? – Alvo cruzou os braços, nitidamente incomodado com o comportamento do irmão – Eu não queria te perguntar nada, mas você está demais! Que houve? Eu quero saber!

- O que houve, Alvo Severo? – Tiago ria ironicamente – O que houve é que a Jullie é uma farsa! Ela acabou de me dizer que não quer mais nossa amizade! Está bom para você? Eu disse, desde o princípio, eu disse! Uma pessoa da Sonserina não seria confiável...

- O que você está dizendo, Tiago? – Alvo não entendia nada.

- O que estou dizendo é que de hoje em diante, Jullie Anne Watson é nossa inimiga! Ela deixou isso muito claro! E se ela quer guerra – Tiago encarou Alvo, que fazia uma careta confusa – Ela vai ter guerra! Ou eu não me chamo Tiago Sirius Potter!

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