Questão de Sangue



Tiago e Jullie se beijaram e naquele beijo muitas coisas foram ditas, mesmo que não tivessem falado nada de mais. Jullie o abraçou forte, buscando um conforto que precisava naquele momento e Tiago acariciava seus cabelos, sem entender o que havia acontecido antes para que a menina ficasse tão triste.

- Ti... – Jullie se ajeitou para encará-lo – Você liga por eu ser da Sonserina? Acha que eu sou má?
- Não... – Tiago arregalou os olhos – Claro que não acho isso! Você é diferente, você é tão especial...
- Então, não liga em não saber por que eu estou na Sonserina?
- Meu pai sempre nos disse, a Alvo e a mim, que quem faz o bruxo não é sua casa, é seu coração – Tiago abriu um sorriso para a menina – E eu sei que você é diferente.

- Mas eu não estou na Sonserina por acaso, Tiago... – Os olhos de Jullie ao falar se encheram de lágrimas.
- Então, por que está? – Tiago tentava a consolar, acariciando seu rosto.

- Eu não sei se devo te contar, acho que não seria muito prudente.
- Como assim? – Tiago estava confuso.

Jullie não o respondeu. Ao invés disso, o olhou nos olhos. Os olhos de Tiago eram tão lindos em sua opinião. Ela não conseguia sorrir, mas olhar para o menino lhe dava certa força. Pensou que deveria compartilhar seu segredo com alguém, Tiago era a pessoa certa, mas não queria envolver ninguém naquela história.

- Eu quero te contar, mas não devo.
- Você confia em mim, Jullie? – Tiago a olhou ternamente e Jullie se derreteu por aquele olhar.
- Confio, Ti, mas...
- Então... – Tiago a cortou – Eu não ligo porque você é da Sonserina, se você tem uma família que cometeu erros no passado, ou seja lá o que houve. Eu só queria que você confiasse em mim e contasse comigo sempre.

A menina ao ouvi-lo deixou um lágrima rolar em seu rosto, lágrima essa que Tiago rapidamente secou. O garoto a olhava com um sorriso nos lábios, mesmo ao ver Jullie chorando. Ela, por sua vez, o abraçou novamente. Ficaram ali abraçados, mas logo levaram um susto com uma voz vinda da entrada da Clareira.

- Que bonito... Namoros noturnos na clareira sob a luz do luar?

Tiago e Jullie se viraram rapidamente para ver de quem era aquela voz e se depararam com Paul Wright os olhando, com um leve sorriso irônico no rosto e de braços cruzados. Tiago se odiou por ter se deixado pegar ali, deveria ter consultado o Mapa para ver se alguém se aproximava, mas esqueceu disso. Nenhum dos dois falou nada, parecia que se falassem algo estariam assumindo mais ainda o erro. Paul não desfez o sorriso irônico ao falar novamente.

- É uma pena que um romance desses acabe com detenção para os dois, não é? Mas, aprendam uma coisa crianças... Quem quebra as regras sempre é pego. E o sr., Potter... – Paul olhou com desprezo para Tiago – Saiba que sua casa perderá 30 pontos pela sua imprudência em perambular por aí a essa hora da noite... Assim como a Sonserina perderá pontos também, graças a Srta. Watson.

- Eu não ligo... Valeu a pena a perda de pontos – Tiago respondeu com raiva.
- Pois deveria, seu moleque atrevido! – Paulo sentiu a hostilidade na voz do garoto.
- Paul, você é tão desprezível! – Jullie se levantou de onde estava, olhando para o homem com raiva – Eu te odeio!

- Me odeia, Jullie? – Paul falou ironicamente – Que pena, pois passará algum tempo comigo em detenção, vai ter que praticar sua paciência nesses dias. Agora, eu quero que os dois me acompanhem. Isso não é hora de dois pirralhos estarem fora da cama.

Jullie e Tiago se entreolharam, mas não falaram nada. Paul virou as costas, esperando que eles o seguissem e foi isso que aconteceu. Os dois o seguiram em silêncio, até que Paul se desviou indo de encontro à sala de Neville. Ao se aproximar, olhou ligeiramente para trás, encarando Tiago com um ar de deboche, e abriu a porta da sala, observando Neville, que escrevia distraidamente em sua escrivaninha.

- Wright... Bater à porta se usa, sabia? – Neville levantou os olhos para encará-lo, com certa irritação.
- Longbottom... – Paul mantinha um sorriso irônico no rosto – Acho que gostaria de saber que um dos seus aluninhos estava namorando na Clareira a esta hora...

Paul puxou Tiago pelo braço, forçando o garoto a entrar na sala de Neville. Ao vê-lo, Neville levantou-se rapidamente da mesa, e se pôs à frente dos dois. Tiago estava vermelho de raiva, e percebeu que Jullie também entrara na sala, olhando com desprezo para Paul.

- Sr. Potter? Pode me explicar o que estava fazendo fora do Salão Comunal a esta hora? – Neville não levantou o tom de voz, e Paul revirou os olhos ao ouvi-lo.

- Professor Longbottom... – Jullie se meteu – A culpa novamente foi minha! Tiago foi até a clareira a meu pedido! Estava meio triste, precisava de um amigo, e Tiago é o melhor amigo que eu conheço... E como somos de casas diferentes... Mas isso não impede que sejamos amigos... – E Jullie olhou com ar de sarcasmo para Paul – ...Temos que criar meios de nos encontrarmos...

- Mas srta. Watson, isso não poderia esperar até o amanhecer? – Neville olhava ternamente para a menina – Regras são regras, alunos não podem perambular pelos corredores após as 21:00h.
- Eu sei, professor, mas esse tipo de coisa não escolhe horário! – Jullie insistiu.
- Exatamente, amigos são prioridades! – Tiago olhou para Jullie. – Eu não pensei nas conseqüências, só queria amparar Jullie!

- Eu admiro sua nobreza, Potter, mas não é certo. – Neville balançou sua cabeça – Paul, obrigado por trazer Potter, 30 pontos serão retirados da Grifinória e tratarei da sua detenção amanhã.
- Não senhor... Não mesmo... – Paul falou ironicamente – Eu os peguei no flagra, a detenção é minha.

- Acho que você não entendeu, Paul... – Neville falou pacientemente – Tiago Potter é aluno da Grifinória, e dos alunos da Grifinória eu cuido. Isso não foi uma opção que eu te dei, foi um comunicado que te fiz. Agora, pode levar a Srta. Watson para sua Sala Comunal, que eu e Potter iremos para a da Grifinória... Isso não é hora para esse tipo de discussão.

- Longbottom, como ousa discutir minha autoridade na frente dos alunos? – Paul fechou o sorriso irônico que até agora estampava seu rosto – Eu não vou a lugar nenhum até que trate da detenção do Potter...

- Quem discute autoridade aqui é você, Paul! Está discutindo minha autoridade de diretor da Grifinória! – Neville estava nitidamente perdendo a paciência – Se você trouxe Potter até mim, é porque ele é de MINHA – e frisou bem a palavra – responsabilidade... Se quisesse, o levasse para sua sala e tratasse da detenção lá mesmo, não o traria para mim... Então, até mais ver. Bons sonhos, Paul. Vá dormir...

Neville apontou a porta de saída para Paul. Jullie se esforçava para não cair no riso e ao olhar para Tiago percebeu que o menino também estava fazendo de tudo para não gargalhar. Paul, por sua vez, estava nitidamente irritado e sua face começava a ficar vermelha. Contudo, virou as costas e foi saindo da sala.
- Ande, Watson, vamos sair da sala do inquestionável diretor da Grifinória...
- Uh, ele está mordido! – Jullie cochichou para Tiago e Neville – Eu sou sua fã, professor Longbottom!

- Menina! – Neville começou a rir e ao ver isso, Tiago se sentiu à vontade para gargalhar também.
- Eu também o sou! – Tiago comentou rindo.
- Eu sou muito sincera... – Jullie riu e foi saindo – Ah, e pega leve com o Ti... A culpa não foi dele...
- Está bem... Nunca é culpa do Potter... – Neville ainda ria.
- Ei! – Tiago não conseguia parar de rir.

Jullie saiu correndo atrás de Paul, que andava rápido e bufava de raiva. A menina ia saltitante, embora tivesse ganhado uma detenção, Paul teve a resposta que merecia ouvir. De repente, Paul parou abruptamente e Jullie, após um leve saltinho, se equilibrou para não cair.

- Posso saber qual o motivo da sua alegria, sua fedelha insuportável?

- Eu? Feliz? – Jullie encenou indignação – Imagina... Só porque o Professor Longbottom acabou com seu sorrisinho irônico? Que isso... Estou morrendo por dentro... Titio...

Paul partiu para cima de Jullie, com toda sua ira, e deu um tapa no seu rosto que fez a menina cair sentada. Para seu azar, Nesta mesma hora, Padma passava a alguns metros dali, e ao ver a cena de longe, se antecipou, correndo ao encontro dos dois.

- Está louco, Wright? – Padma falava em alto tom e tinha os olhos arregalados e se colocou à frente de Jullie, que tinha a mão pressionando o rosto, ajudando-a a levantar – Perdeu o juízo, seu maluco? Agredindo uma aluna!

- Não fale do que não sabe, Simpson! – Paul estava com olhar de ódio – Essa garota está desafiando o diretor de sua Casa! Não admito esse comportamento!
- Isso não lhe dá o direito de agredi-la, Paul! – Padma ergueu Jullie, a olhando preocupada – Está bem, querida?

- Ele é um louco! – Jullie chorava, ainda pressionando o rosto.
- Paul, isso não vai ficar assim! – Padma estava revoltada e seus gritos chamavam a atenção dos demais professores.

- O que está acontecendo? – Neville desviou o caminho do Salão Comunal da Grifinória com Tiago ao ouvir os gritos de Padma.
- Jullie? – Tiago se antecipou e foi ao encontro da menina. – Que houve?
- Ele é um monstro! – Jullie abraçou Tiago – Ele me agrediu!

- Como é? – Neville o olhou com raiva.
- Neville, esse doente bateu na aluna! – Padma confirmou a história – Estava justamente passando quando vi a cena!
- Perdeu a noção, Paul? – Neville cresceu para cima de Paul, mas Padma o segurou.
- Não perca você também a razão, Neville!

- Eu adoraria travar um duelo com você, Longbottom! – Paul sacou a varinha ao ver a reação de Neville – Se acha bom o bastante? Eu não sou a Nagini, que você matou por sorte...

- Cala sua boca, Wright! – Neville começara a ficar vermelho – Não me provoque!
- Chega! – Padma gritou – Os dois estão assustando os alunos!

- Posso saber o motivo da histeria nos corredores? – Minerva McGonagall se aproximava deslizando pelo corredor ao encontro dos presentes e parou olhando para Tiago e Jullie – Isso não é hora dos alunos estarem nas camas?

- Diretora! – Tiago se antecipou – Paul Wright agrediu a Jullie!
- Sr Potter? O que faz no corredor? – Minerva parecia não o ter ouvido.
- Eu estou dizendo...
- Eu perguntei... – Minerva o interrompeu – O que você e a Srta. Watson estão fazendo aqui? Do Paul eu trato depois que os dois estiverem dentro dos seus respectivos Salões Comunais!

- Ande, Potter – Neville falou parecendo mais calmo – Direto para o Salão Comunal... E o mesmo para a Srta Watson... Está se sentindo bem para voltar?
- Sim, estou... – Jullie balançou a cabeça positivamente, ainda chorosa.
- Então, volte...
- Quem é você para passar por mim, Longbottom! – Paul falou com raiva – Jullie é da Sonserina, quem manda nela sou eu!

- Alto lá, Wright! – Minerva se posicionou – Quem manda? Você não manda em nada, muito menos em um aluno! Agora, por gentileza... Potter, Watson... Nos deixem a sós.

- Sim, Sra... – Jullie agarrou a mão de Tiago e os dois seguiram o rumo dos seus salões comunais. No caminho, esbarraram com Ernesto McMillan, que vinha correndo, seguindo os gritos.

- Está tudo bem com vocês? – Ele parou ao ver Tiago e Jullie – O que foi isso no seu rosto, menina?
- O maluco do Paul bateu nela! – Tiago falou com raiva.
- Ah, eu não acredito – Ernesto olhou para o aglomerado de gente que discutia à frente – Crianças, vão para os seus salões... Nós vamos resolver isso... Querem companhia?

- Não, obrigada, professor... – Jullie falou secando os olhos – Estamos indo...
- Está bem, mas antes... – Ernesto tentou sorrir para Jullie e sacou sua varinha, apontando para seu rosto e conjurando um feitiço que fez aquela marca desaparecer – Assim está melhor, não queremos seu rostinho lindo marcado, não é mesmo?
- Obrigada, professor – Jullie sorriu fracamente.
- Por nada, querida... – E saiu ao encontro dos demais diretores.

- Ju, eu vou te levar até as Masmorras... – Tiago disse bravamente.
- Não precisa, Ti...
- Precisa sim! Se duvidar, fico por lá com você! – Tiago insistiu.
- Não se complique mais por minha culpa! – Jullie ainda chorava.
- Nem vem com esse papo... – Tiago pegou sua mão, decidido – Anda, vamos!

Tiago e Jullie saíram apressados a caminho das Masmorras, ao passo que Ernesto alcançara os demais professores reunidos.

- Que acontece? – Perguntou olhando para todos – Paul ficou maluco, batendo em alunos agora? Só faltava essa!
- McMillan, ninguém pediu sua opinião... – Paul respondeu com ódio.

- Cala a boca, Paul! – Minerva estava nitidamente irada – Não tem direito de falar mais nada! Está completamente errado em suas atitudes!

- McGonagall, esta menina, a Watson, está testando minha paciência desde sua chegada em Hogwarts, sabem vocês que ela é minha sobrinha, estou inclusive pensando em sua educação! – Paul falava sem culpa alguma em sua voz.

- Não me interessa se ela é sua parenta, Paul! – Minerva estava irredutível – Longbottom, McMillan e Padma têm filhos aqui e nunca os vi sequer levantar a voz para suas crianças!

- E nunca verá! – Padma completou – Porque sabemos que em Hogwarts nossos filhos são alunos como outro qualquer!
- Mesmo que fosse filha sua, Paul, não se educa com tapas! Qualquer pessoa de bom senso saberia disso! – Ernesto entrou no coro.

- Paul esteve na minha sala minutos antes do ocorrido, McGonagall – Neville informou – Segundo ele, Srta Watson e Potter estavam na Clareira. Os dois confirmaram a história, mas ele questionou a minha autoridade ao me negar a detenção de Potter!
- Claro! – Paul estava a ponto de agredir Neville também – Eu os peguei em flagra! Eu os deteria!

- Essa discussão não nos levará a nada! – Minerva balançou a cabeça negativamente – Escutem os quatro, essa cena de hoje não se repetirá novamente, estendido? A não ser que o Sr. Wright queira ser afastado por justa causa do seu cargo de Diretor da Sonserina e quiçá do de professor de poções! E como isso não hora para discutirmos assuntos práticos, quero os quatro na minha sala amanhã, após o almoço! Fui clara?

Os quatro diretores concordaram com a colocação de Minerva, embora Paul ainda estivesse relutante da decisão. Olhou Padma com ódio, afinal, foi ela quem começou com a muvuca, talvez se não estivesse ali naquela hora, ninguém saberia do ocorrido. Desviou o olhar para Ernesto e Neville, que o encaravam com raiva, e manteve o olhar neles. Paul os odiava tanto que sua vontade era sacar a varinha e acabar com os dois ao mesmo tempo, mas ainda estava sano o bastante para saber que sairia dali direto para Azcaban se tentasse tal proeza. Ao poucos, voltaram às suas salas. Paul, ao ver Neville se dirigindo a sua sala, ainda provocou.

- Se eu fosse você, Longbotton, faria Potter ficar longe da Jullie... Antes que ele se machuque.
- Isso foi uma ameaça ao meu aluno, Wright? – Neville parou de andar e o encarou.
- Não... Não de minha parte, mas da própria Jullie... É uma questão de sangue, Longbottom... Sua mente limitada não o permitiria entender... Mesmo que eu estivesse disposto a contar – E sustentando um sorriso enigmático e dissimulado, saiu rumo às Masmorras.

- Louco! – Neville o viu sumir de sua visão e seguiu seu caminho.

Tiago e Jullie estavam na frente do Salão Comunal da Sonserina. Jullie estava nitidamente triste e Tiago não sabia exatamente o que falar para a menina. Apenas acariciava seus cabelos, secava as suas lágrimas e tentava sorrir.

- Tiago, por que você é legal comigo? – Jullie perguntou cabisbaixa.
- Como assim por quê? Assim você me ofende!
- Eu não sou boa pessoa, Ti... Seria melhor que você não...
- Ei! – Tiago ergueu o rosto de Jullie – Não completa a frase! Nem vem! Eu gosto de você, Ju! Eu já disse, não ligo pra sua família, pra sua Casa, pro idiota do Paul Wright!

- Mas... – Jullie não sabia mais o que contestar – Tiago... Eu tenho que te contar uma coisa, mas eu não sei como...

- Que tal falando sobre tal coisa?
- Não é fácil! – Jullie estava nitidamente confusa – Talvez você nunca mais queira olhar na minha cara quando souber!
- Duvido muito...

A Atenção de Tiago e Jullie foi desviada para os passos que ouviam ao longe. Era Paul vindo em direção à sua sala. Jullie não pensou duas vezes, disse a senha para abertura da passagem para o Salão Comunal e empurrou Tiago para dentro, entrando ela mesma em seguida.

- Se ele te pega aqui, eu não quero nem pensar! – Jullie comentou.
- Eu morro de medo dele... – Tiago falou debochando.
- Ele não é flor que se cheire, Tiago, você deveria temê-lo sim!
- E você tem medo dele, por acaso?
- Er... Não... – Jullie deu um risinho fraco – Mas eu me garanto...
- Ora! Eu também! – Tiago se ofendeu.

Tiago sentou-se numa poltrona, observava o Salão Comunal da Sonserina, mas estava nitidamente incomodado com o quadro de um bruxo que não parava de reclamar do “Aluno da Grifinória dentre os puros de sangue”.

- Ai, cala a boca! – Jullie se estressou com o bruxo do quadro – Ele já vai! Que saco! Velho chato!
- Jullie, eu tenho que sair daqui antes que esse quadro me denuncie – Tiago olhava com raiva para o quadro.
- Antes que você vá... – Jullie parecia sem graça – Eu acho que... Seria melhor...
- O quê? – Tiago arregalou os olhos
- Espera aqui, já volto! – Jullie saiu correndo escadas acima, indo rumo ao dormitório feminino.

Tiago a observou subindo e estava nitidamente incomodado naquele lugar. Aquele salão Comunal era completamente diferente do da Grifinória. Os tons de verde e prata davam a Tiago sensação de enjôo. Estava mirando os detalhes, até que sua espinha gelou ao ouvir seu nome.

- Potter? Que palhaçada é essa?

Olhou para trás para encarar Escórpio Malfoy, descendo as escadas o mirando curioso. Tiago se ajeitou e tentou não parecer nervoso. Encarou o garoto loiro à altura.

- Vim acompanhar a Jullie, não pense que estou feliz por estar aqui nesse ninho de cobras, Malfoy!
- Ora, a porta da rua é aquela ali – Escórpio apontou a saída – Por que não some?

- Porque eu pedi que ele esperasse por mim, algum problema? - Jullie voltara do dormitório com seu velho livro nas mãos.

- Jullie, sabe que alunos de outras casas não podem entrar! – Escórpio falou sem tirar os olhos de Tiago.
- Sério? – Jullie encenou surpresa – Eu não sabia disso, obrigada por avisar... – E ignorando o garoto se dirigiu a Tiago – Bom... Leia isso... É mais fácil que eu contando... Mas é segredo, não conte a ninguém, ouviu?

- O que é isso? – Escórpio esticou os olhos para ver do que tratavam.
- Engomadinho, fica na sua, a conversa ainda não chegou na seção de gel para cabelos! – Tiago respondeu com raiva, pegando o livro das mãos de Jullie – Ok, eu vou ler sim... Agora deixa eu ir, antes que me denunciem...

Tiago deu uma última olhada com raiva para o lado de Escórpio e saiu do salão, olhando para os lados. Jullie estava nitidamente preocupada, mas ainda assim, puxou Tiago antes que ele andasse e deu lhe um selinho, murmurando agradecimento. O queixo de Escórpio caiu ao ver a cena. Tiago esperou a passagem do Salão Comunal se fechar para vestir sua capa de invisibilidade e saiu rumo ao Salão Comunal da Grifinória.

- Você beijou o Potter? – Escórpio falou com desespero.
- Beijei? – Jullie o olhou sonsamente – Eu nem reparei...
- Jullie, eu não acredito!
- Ah, olha o drama, Malfoy! – Jullie fez sinal de impaciência e saiu rumo às escadas.
- Não pode ficar com o Potter! Não pode! – Escórpio saiu atrás de Jullie resmungando.

- Não? Quem você acha que é para manda em mim? – Jullie parou na metade dos degraus e cruzou os braços, encarando o menino – Eu já estou por aqui com o Paul achando que pode me controlar e agora você também? Se enxerga! Minha vida deve ser realmente muito legal, todos se metem...

- Não, Jullie! – Escórpio estava quase chorando – Eu gosto de você! Não fica com ele! Fica comigo! Por favor!

- Ai, eu não mereço isso... – Jullie levou a mão à testa em sinal de irritação – Entende um coisinha, Escórpio... Jessie é paradona na sua, ela e você fazem um casal fofo... Se merecem... Pronto! Fica com ela! Ela é até mais bonita que eu, olha que legal...

Jullie virou as costas e subiu apressada às escadas, deixando Escórpio parado na escada, a olhando com os olhos cheios de lágrimas. O menino sentiu o rosto queimar de raiva e subiu para seu dormitório com ódio de Tiago Potter cravado em seu coração. Tiago, por sua vez, chegara ao Salão Comunal da Grifinória, pisando leve, entrou pedindo silêncio à mulher gorda e gelou ao ouvir a voz de Alvo.

- Estava aonde, seu louco? – Alvo estava sentado, com expressão de desespero no rosto.
- Ai, Alvo, que susto! – Tiago levou a mão ao peito instintivamente.
- Estava morrendo de preocupação aqui! – Alvo se levantou e foi ao encontro do irmão.
- Meu... Foi maior confusão! Amanhã eu conto, chega de emoções por hoje!

Tiago colocou o livro de Jullie encima de uma poltrona para dobrar a capa de invisibilidade. Movido pela curiosidade, Alvo pegou o livro para observá-lo, fazendo Tiago quase dar um berro de nervosismo, pois lembrara que Jullie havia pedido sigilo. Alvo o olhou, e ele fez sinal para não ver do que se tratava. Alvo arregalou os olhos e recolocou o livro em cima da poltrona, mas antes, viu que dele havia caído uma foto. A pegou do chão e a olhou. Nela, uma bela mulher trajando vestes da Sonserina sorria, ao lado de um garoto com uma estrela de monitor no peito, logo acima do brasão da Sonserina.

- Quem são? – Alvo mostrou a foto para Tiago

- Não tenho idéia... – Tiago olhou para os dois na foto, guardando em seguida – Alvo, desculpa, mas isso é assunto de Jullie e ela me pediu sigilo, não comente desse livro ou dessa foto com ninguém, tudo bem?

- Está bem... – Alvo disse da boca pra fora, pois ficou ressentido com tanto mistério.
- Vamos dormir, maninho... – Tiago passou ao lado de Alvo, desarrumando seus cabelos.

Alvo seguiu Tiago escadas acima, ainda meio contrariado.

***

Hermione acordara com a mesma expressão de desgosto com a qual dormira no dia anterior. Sentou-se a mesa para tomar seu café, lendo O Profeta Diário. Rony estava inconformado com sua reação. Se demorou mais do que o normal se arrumando, como se adiasse o encontro à mesa com a esposa. A essa altura, agradecia por Hugo estar com sua mãe, para não ter que presenciar esse clima pesado entre os dois. Por fim, saiu do quarto arrumando a gravata, sentando-se à mesa, observando Hermione, escondida por trás das páginas do jornal.

- Bom dia... – Disse ele, mas não obteve resposta – Eu disse bom dia, Hermione... Que isso, lei do silêncio?
- Não acho que seja um bom dia, Ronald – Hermione respondeu sem tirar os olhos do jornal.

- Vamos parar com a criancice e conversar como adultos? – Rony se aborreceu – Olha para mim! Que eu te fiz?
- Ainda pergunta? – Hermione dobrou o jornal sob a mesa.
- Eu agi como deveria, Hermione! Você estava ofendendo a mulher sem motivos! Faria o mesmo por você se fosse ao contrário!
- Será mesmo, Rony? – Hermione provocou – Não, porque eu não sou loira e não visto sutiã 46...

- Será possível? Hermione, eu acho que agir como um cavalheiro deveria te deixar feliz! Não era você que sempre cobrou isso de mim?
- Foi, Rony, mas eu vi como você a olhou! Isso é falta de respeito!
- Escuta uma coisa... – Rony a cortou – A Diana foi tão gentil, ela pediu que não discutisse com você pelo ocorrido, ela pensou em você o tempo todo, é uma mulher admirável...

- Oh, tocou meu lado sentimental isso... – Hermione desdobrou o jornal com raiva, empurrando para Rony – Quer ver a mulher admirável de perto novamente? Olha só, ela estará hoje na Floreios e Borrões, por que não vai lá? Quem sabe ela não te dá mais que um autógrafo no livro! – E saiu da mesa estupidamente, pegando sua bolsa e saindo de casa, sem esperar por Rony.

Rony ficou olhando a esposa sair, balançando a cabeça em seguida. Pegou o jornal para ler a matéria que Hermione o empurrara. Deparou-se com Diana sorrindo e balançando os cabelos, linda como sempre. Desviou o olhar para se concentrar na parte escrita da matéria.

“Diana Vasseur em tarde de autógrafos hoje, na ‘Floreios e Borrões’”.
Por Glenda Orloff

“A escritora e Jornalista redatora-chefe d’O Profeta Diário, Diana Vasseur, estará hoje interagindo com seus leitores, em um coquetel-party, a partir das 17:00h, na ‘Floreios e Borrões’, respeitável livraria no Beco Diagonal, Londres. A tarde de autógrafos contará com a presença de toda a Imprensa Inglesa, já que se trata da divulgação de seu novo livro, “Convivendo com os Trouxas – O diário de cinco anos entre os povos não-mágicos da Inglaterra”.

Segundo a crítica especializada, este é o melhor livro sobre Estudo dos Trouxas já visto até hoje. ‘Diana sabe transmitir a alma dos trouxas de forma simples e precisa, com certeza, esse livro será leitura obrigatória para os alunos de Hogwarts em minha matéria!’ Disse Helena Mont’Serrat, professora de Estudo dos Trouxas em Hogwarts e Cientista em Relação com Povos não-mágicos.

A autora também falará sobre suas outras obras famosas, como os livros didáticos ‘Jornalismo Mágico sem censura’ e ‘Vendo a Magia pelos olhos dos trouxas’ e as de ficção e romance ‘A Bruxa que desafiou as Trevas’, ‘Amor além do Sangue’ e ‘Contos de Hellen – Entre a Magia e os Sapos’, este último, inclusive, líder absoluto de vendas no mercado trouxa. ‘Procuro falar da magia que os trouxas conhecem’ Diz a autora. ‘Para os trouxas, a magia existe, mesmo que só consigam a visualizar como algo mau. Entretanto, procuro passar imagens de mulheres trouxa, com poderes extraordinários, como aquelas que têm família, filhos, acordam cedo para trabalhar... Elas de certa forma praticam mágica todos os dias, mas estão com os olhos vendados para essa verdade. O amor, a determinação e a coragem são vertentes da magia.’

Diana é a única autora bruxa que teve títulos de suas obras autorizados para venda no mundo trouxa, pois segundo o Ministério da Magia, ‘As obras de Diana Vasseur em nada ofendem o Código de Ética Mágica para Convivência com os Trouxas. Pelo contrário, são obras repletas de bom senso e uma leitura realmente agradável’. Diz o Secretário Sênior do Ministro da Magia, Draco Malfoy.

Quanto aos boatos de sua possível separação do Empresário e também Jornalista, Lucas Vasseur, Diana continua com o mistério. ‘Esse é um assunto particular, prefiro não o comentar’ diz sem perder a simpatia que é sua marca registrada, tanto entre os bruxos quanto entre os trouxas.”

Rony passou pela última vez o olhar na foto da mulher, em seguida, abandonou o jornal em cima da mesa e saiu, rumo ao Ministério. Hermione chegara sozinha ao Ministério, causando espanto em Harry e Gina, que chegavam juntos, e a encontraram na porta de entrada.

- Cadê o Roniquito, Mione? – Gina arregalou os olhos.
- Não sei, deve ter passado na Floreios e Borrões para garantir o lugar dele na tarde de autógrafos da Diana Vasseur – Disse Hermione com estupidez.
- Ah, bem lembrado! – Gina deu um tapinha na testa – Harry, querido! Esqueci de avisar! Diana foi um amor, nos deu duas entradas VIP para a tarde de autógrafos dela! Vai ser um coquetel lindo, várias pessoas da Imprensa... Começa às 17:00h...

- Desculpa, meu amor, não poderei ir... – Harry disse tirando do carro algumas pastas – Terei que ficar até mais tarde com Rafael e Teddy, revendo um caso com eles... Pergunte se Virginia não vai com você, Rafael estará preso no trabalho mesmo...

- Não... – Hermione se meteu – Posso ir com você, Gina? Se Harry não vai mesmo...
- Ah, pode... Te encontro às 16:00h então? Não se atrase, quero pegar um ótimo lugar, adoro a Diana!

- Perfeito... Não vou me atrasar por nada... – Hermione respondeu com um risinho no rosto.

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