Ciúmes e Frustrações



Hermione e Rony voltavam do almoço, quando viram Draco ao longe, também entrando no Mistério, voltando ao trabalho também. Ao vê-lo, Hermione apressou o passo, mas Rony a segurou pelo braço.

- Calma! Ele não vai fugir! Que afobação!
- Rony, o que eu te disse? – Hermione olhou feio para a mão de Rony que a apertava o braço – Ainda vamos visitar o vilarejo trouxa hoje! Quanto mais cedo formos, mais cedo voltaremos!
- Ah, e por isso você tem que sair correndo atrás daquele idiota!
- Ao menos, eu não corro atrás dele por ele ser lindo e estar se desquitando...

Rony recebeu as palavras de Hermione como se uma lança o tivesse transpassado. Não acreditava que ela falasse aquilo e ficou mudo por uns instantes, sem soltá-la.

- O que você quis dizer com isso, Hermione? – Ele estava vermelho.
- O que você ouviu! Ou pensa que eu sou cega e não vi como você ficou feliz ao ouvir a loira d’O Profeta Diário dizer que ia se separar do marido? – Hermione puxou o braço com força, fazendo com que Rony a soltasse – Por que não tenta, Rony? Quem sabe ela goste dos ruivos? Aproveita e agiliza os papeis da nossa separação...

Hermione deu as costas a Rony e saiu com o coração disparado e lágrimas nos olhos. Rony a seguiu, contrariado, mas viu ao longe que Hermione trombara com o motivo da briga, na entrada do Ministério: Diana estava saindo distraída, olhando um relógio antigo que retirara do bolso, e Hermione, que secava os olhos, não a viu tampouco. As duas se esbarraram feio, Diana torceu o pé e seu relógio voou para longe de si, e Hermione caiu deitada à um metro de onde havia colidido com a mulher loira, e seus papéis voaram.

- Mas que inferno! – Hermione bradou se levantando – Será que não enxerga?

- Onde está o meu relógio? – Diana sequer mencionou que levantaria. Puxou a varinha rapidamente e com um feitiço não-verbal conjurado, o relógio voou para sua mão, com um grande lascado no vidro.

- Sua cega! – Hermione estava furiosa, acenou com a varinha e magicamente os papéis foram voando para dentro da pasta – Não olha por onde anda, idiota!

- Hermione! Menos! Você estava também não a viu! – Rony foi ajudar Diana, que estava nitidamente com o tornozelo fraturado – Está quebrado, vamos dar um jeito nisso!

- Eu sei, vou consertá-lo agora!– Disse olhando para o relógio e apontou a varinha – Relógio Reparo! – E o vidro ficou inteiro.

- Eu estava falando do seu tornozelo... – Rony apontou para o pé da mulher.
- Ah, isso também? – Diana o olhou curiosa – Que droga...

Diana apontou a varinha para o próprio pé, e rapidamente a área lesionada estava coberta por bandagens. Estava sentada no não e Rony não conseguia desviar o olhar, era como se ele estivesse diante de uma Veela. Ele desviou o olhar rapidamente em sua volta e reparou que havia vários curiosos ali, que pararam para ver a confusão.

- Eu ainda não ouvi pedidos de desculpa! – Hermione estava descabelada, tentava ajeitar a franja com as mãos.
- Desculpas... Eu sou distraída mesmo... – Diana se erguia e Rony a estendeu a mão para ajudar – Ah, obrigada, que gentil...

- RONALD! – Hermione se ofendeu com o gesto do marido

- Dá pra parar de gritar, sua histérica? – Rony encarou Hermione – Está parecendo uma dissimulada!

Diana arregalou os olhos ao ouvir como Rony falara com a esposa e Hermione então, não tinha mais para onde seu queixo cair. Ela encarou o marido, mas ele não fez menção de desculpar-se.

- Como é, Ronald?
- Você está agindo como uma histérica, Hermione! – Rony repetiu a frase – Foi um acidente! Ninguém teve culpa! – E se virando para Diana tentou sorrir – Desculpa, minha mulher está meio estressada, só isso...

- Não, eu estava muito distraída, a culpa foi minha... – Diana estava sem graça – Desculpa, me perdoe, eu estou meio aérea esses dias...

Mas Hermione não a ouviu. Depois de ouvir Rony, saiu pisando firme e entrou sem olhar para trás pela entrada principal do Ministério da Magia.

Diana ficou parada, a acompanhando com os olhos até que sumisse Ministério adentro.

- Eu é que peço desculpas pelo mau jeito, Diana... – Rony também estava acompanhando Hermione com os olhos – Você está legal?
- Sim, sim, estou... – Diana balançou a cabeça e em seguida olhou novamente para o relógio – Eu só fiquei desesperada com a hipótese de perder meu relógio... Foi presente do meu pai, é herança de família...
- É muito bonito... – Rony olhou do relógio para o sorriso que Diana tinha no rosto, meio incerto do que de fato elogiava.

- É uma jóia de valor sentimental... Estou esperando meu filho completar 17 anos para passar-lhe a herança... – E guardou o relógio dentro das vestes – Sabe, eu sou tão apegada a este relógio, que me sinto um monstro por não querer dá-lo ao meu filho!
- Seu filho, já está em Hogwarts, não? Eu tenho uma filha em Hogwarts também, Rosa, foi este ano para lá. E tenho um filho, mas ele ainda tem 9 anos.
- Zac está no segundo ano, eles devem ser amigos, sua filha e ele... – Diana sorriu – É amigo do filho da sua irmã, Tiago.

- Então, é amigo de Rosa também – Rony sorriu – Bom, está realmente bem? Então, me dê licença, preciso voltar ao trabalho...
- Claro, muito obrigada, Rony, mas por favor, não brigue com sua esposa por besteiras, odiaria saber que fui motivo de brigas... – Diana falou sem graça.
- Pode deixar, isso é meio normal entre nós dois – Rony comentou com um sorriso sem graça.
- então, está bem... – Diana acenou e seguiu seu rumo – Até qualquer dia!
- Até... – Rony ficou parado olhando a mulher ir embora. Ao perdê-la de vista, seguiu para a entrada do Ministério.

Hermione entrou tão irritada no Ministério que fez duas viagens de elevador, pois havia esquecido que marcou com Draco na sala dele, e acabou indo para o nível 4. Desceu no nível 1 com o rosto ruborizado ainda de raiva e entrou na sala de Draco descabelada e bufando. Draco a mirou confuso e ficou parado a olhando intrigado.

- Gente, o que aconteceu com você? Furacão? Tornado?

- Uma maluca colidiu comigo na porta do Ministério! – Hermione jogou com força a pasta que tinha em mão na mesa de Draco e tentava arrumar o cabelo ainda – Idiota! Aquela Diana...

- Diana Vasseur? D’O Profeta Diário? Ela estava aqui? – Draco abriu um leve sorriso e murmurou muito baixo – E eu perdi... Então foi um furacão mesmo... – E deu um risinho.
- Ela mesma... – Hermione encarou Draco, pois ouviu sua última frase – O que tem ela? Acha ela linda também? Não, porque Rony está babando até agora! Nem me respeita...

- Linda indiscutivelmente ela é, descende de Veela... Sua avó paterna...dizem que vários homens se mataram por ela...Mas sinceramente, a mãe dela era tão bonita quanto ela quando mais nova... Bom até hoje ela o é, mas era belíssima...

- Você conhece a mãe dessa mulher? – Hermione arregalou os olhos.
- Claro... – Draco respondeu com naturalidade – A mãe dela era uma comensal da morte... Como eu o era, meu pai, minha mãe... E por aí vai...

- Não diz... – Hermione estava abismada – Então, era uma comensal?
- A mãe dela, ela nunca o foi – Draco fez questão de frisar – Sabe, quando Diana nasceu, eu devia ter uns seis anos de idade... Meu pai falava com os pais dela que eu e ela nos casaríamos quando crescêssemos. Mas depois eles se mudaram para França e perdemos o contato totalmente. Ela casou por lá com aquele derrotado do Lucas Vasseur... Só voltou no ano passado, para que o filho ingressasse em Hogwarts.

- Ela é mais nova que você?
- Isso, bem mais nova. Ela teve filho muito cedo, acho que com 17, 18 anos... – Draco estava inconformado com o inquérito de Hermione – Qual seu interesse nela?

- Nenhum, imagina... – Ela abriu um sorriso irônico e ao perceber que Draco a olhava estranhamente, preferiu mudar de assunto – Então, vamos falar do que interessa de verdade. Preciso te mostrar a carta que minha filha escreveu! Ela pode ser a chave de um grande mistério!

Hermione abriu a sua pasta e retirou a carta de Rosa, a entregando para Draco. Ele a pegou, meio confuso, pensando no que uma criança de 11 anos poderia ajudar naquele caso tão complicado. Logo descobriu, e ficou tão pasmo quanto Hermione. Releu três vezes a parte em que Rosa dizia que Jéssica e Claire eram idênticas.

- Você conhece a filha do Ministro, Draco. Eu conheço Claire. – Hermione olhava para a expressão intrigada de Draco, que ainda tinha os olhos na carta – Você tem como me mostrar uma foto dela?

- Tem uma, na sala do Ministro... – Draco falou muito devagar – Hermione, se o que sua filha fala for verdade... Eu... Eu não entendo... Adrian não iria contribuir com o caso! Ele está muito interessado no caso, se ele soubesse disso...
- Não sabemos de nada, Draco, mas não podemos descartar nenhuma hipótese!
- Eu vou tentar pegar a foto da Jessie ainda hoje... – Draco estava pensativo – Por hora, está pronta para irmos ao bairro dos trouxas?

- Ah, claro, assim que eu der um jeito nesse cabelo... – Hermione levantou-se rapidamente da cadeira e dirigiu-se a um espelho que havia ali.

- Hermione... – Draco perguntou como quem quisesse apenas puxar assunto – Você sabe o que a Diana Vasseur estava fazendo aqui no Ministério?
- Veio procurar por Gina, está se separando do marido, e veio procurar um também... – Hermione revirou os olhos – Acho que gostou do meu marido... Cretina...
- Como é? – Draco abriu um sorriso – Ela está... Se separando daquele imbecil? Que boa notícia...
- Draco... – Hermione o olhou séria – Você é casado... Isso não é comportamento de um homem casado...

- Hermione, da minha vida pessoal cuido eu... – Draco a cortou – Cuide do seu marido, e eu cuido da Diana...

- Certo, então. – Hermione ficou meio ofendida – Eu estou pronta, Draco. Vamos então?
- Claro, vamos... – Draco se levantou e pegou a pasta com o plano que eles esboçaram anteriormente.

Draco e Hermione saíram do Ministério e decidiram utilizar um carro para chegar até o tal vilarejo. Hermione era ótima motorista, mas Draco fez questão de dirigir. Resultado: confundiram três guardas pelo caminho até o local, uma viajem de aproximadamente 20 minutos. (“na volta, eu dirijo, certo?” Hermione falava cada vez que Draco confundia um guarda). Por fim, chegaram. Estacionaram próximo à Escola onde Claire estudava. Hermione achou por bem entrar e sondar alguma informação sobre a menina. Draco não se opôs e a ficou esperando no carro. Ela entrou observando um grupo de crianças que aparentavam a mesma idade de Claire.

- Boa tarde, crianças! – Hermione sorriu para todos eles – Você podem me dizer onde eu encontro a diretora?

Uma menina ruiva e sardenta fez questão de levar Hermione até a sala da direção. Chegando lá, ela se deparou com uma mulher alta e magra, com expressão muito rígida no rosto. A mulher a olhou de cima a baixo.

- Pois não? Mãe de algum aluno? – A mulher falou de forma arrogante – Se for, fale com a Assistente Social.
- Não, eu estou aqui por outro motivo – Hermione a fitou seriamente e apresentou uma carteira da Ordem dos Advogados do Reino Unido, artigo que havia clonado de uma mulher trouxa – Eu sou Emilia Dukan, Advogada. Estou aqui para coletar dados sobre Claire Cavendish.

A diretora a olhou confusa. Pegou a carteira da mão de Hermione e conferiu sem muito detalhamento. Logo, apontou uma cadeira para Hermione, que se sentou. Em seguida, a mulher também se sentou, e ligou para um ramal qualquer.

- Chame Carl. Preciso dele aqui, temos uma advogada perguntando por uma aluna.

Hermione tremeu. Quem seria o tal Carl? Mas não deu trela, estava acobertada e poderia confundir os dois se fosse preciso. Não era sua intenção, mas ficou mais aliviada ao apalpar sua varinha por entre as vestes. Logo, viu entrar pela porta um homem magro e baixo, com óculos grandes e aparência cansada. Acenou para Hermione com a cabeça e sentou-se numa cadeira ao seu lado.

- Boa Tarde, Astrid. – O homem cumprimentou.
- Boa, Carl. – A mulher olhou para Hermione- Esse é Carl Andrews, o Advogado que trabalha para nossa escola. - Carl, essa é Emilia Dukan, Advogada. Pergunta por uma aluna.

- Boa tarde, Emilia – Carl a cumprimentou – Bom, qual seria a aluna e qual seu interesse nela?
- Boa tarde – Hermione sorriu – Procuro por Claire Nicolle Cavendish. Não é nada de grave, mas temos informação de que seus pais a tiraram da escola, e ela não consta cadastrada em outro colégio. Eu trabalho para área de Educação, e o Sr. sabe que manter uma criança longe do colégio é crime.

- Com certeza, mas eu cuido para isso não ocorra, Srta Dukan. – Carl era um homem simpático – Quando um aluno é transferido de nossa escola, nós fazemos questão de saber para onde está indo. Mas, vamos ver a ficha de Claire. Qual a idade da menina?

- 11 anos.
- Impossível – Carl falou imediatamente – Nenhum aluno do 5º ano foi transferido.
- Mas ela poderia estar em outro ano? – Hermione não acreditava.
- Não, nosso colégio não trabalha com alunos repetentes. Temos um padrão de ensino elevadíssimo, o melhor da região – A diretora respondeu no lugar de Carl – Os alunos repetentes são encaminhados para outra instituição.

- Então, Claire estaria ainda matriculada?
- Veremos... – Astrid começou a mexer no seu computador, pesquisando seu banco de dados – Cavendish, não é?
- Isso mesmo. Claire Nicolle Cavendish.
- Não consta qualquer aluno com este nome – Astrid balançou a cabeça – Não temos registro nem de matrícula. Essa menina sequer estudou aqui um dia. Deve ter confundido o colégio, Srta Dukan.

- Não consta nos registros? – Hermione se desesperou internamente – Bom, eu verei com o departamento. Agradeço pela atenção, tenham uma boa tarde...

Hermione saiu da sala transtornada. Era muito claro que Claire estudava ali, mas como não havia registro? Voltou para o carro e viu que Draco não estava lá. Olhou em volta e antes que pudesse o odiar por abandoná-la ali, o viu saindo de uma loja de jóias, com um pequeno embrulho nas mãos.

- Ah, mas já? – Draco atravessou a rua correndo – E aí, conseguiu algo?

- Você não vai acreditar... – Hermione olhou para o embrulho na mão de Draco, mas tentou não chamar a atenção para sua curiosidade – Não existe registro de Claire nessa escola!

- Não? Mas era essa! Nós vimos! – Draco guardou o embrulho no bolso do sobretudo – E agora?
- E agora, vamos aos vizinhos. Eles devem saber para onde a família foi.

Entraram no carro para percorrer apenas um quarteirão. Estacionaram em uma praça, onde algumas crianças brincavam. Saíram do carro olhando a área, para um breve reconhecimento, e viram a casa onde os Cavendish moravam. Decidiram começar por ela. Tocaram a campainha e uma jovem os atendeu.

- Boa tarde! – Hermione sorriu para a menina – Eu sou Stella Marion, psicopedagoga da Escola Primária Saint John. Eu gostaria de saber se a Srta. sabe algo sobre a família Cavendish, os antigos moradores desta casa. A filha deles não voltou à escola este ano e estamos preocupados.

- Desculpe – A menina encarou Hermione – Ninguém morou nessa casa anteriormente, minha família reside aqui há 30 anos.

- Ah... – Hermione olhou para Draco – E você conhece alguma família Cavendish nesse bairro?
- Não... E olha que conhecemos todos por aqui!
- Já ouviu falar na Claire? Uma menina loira, de olhos azuis, muito simpática? – Hermione se esforçou.

- Não seria a Kim? – A menina apontou para um criança de aproximadamente 8 anos que brincava na praça.
- Não, Claire tem 11 anos...
- Eu não conheço, desculpe...

- Não, tudo bem – Hermione forçou um sorriso – Obrigada pelas informações, tenha uma boa tarde...

Draco e Hermione não acreditavam naquilo. Era como se a vida da família Cavendish fosse apagada, e agora, eles não tinha sequer idéia de onde encontrar os pais de Claire. Perguntaram para outras pessoas e ninguém sabia informar sobre os Cavendish. Por fim, vendo que não conseguiriam mais nada, voltaram ao Ministério. Desta vez, Hermione assumiu o volante do carro. No meio do caminho, Draco retirou do bolso o embrulho que comprara.

- Posso te pedir uma opinião? – Ele se dirigiu a Hermione – É bom uma opinião feminina nessas horas.
- Claro, se eu puder ajudar...
- O que você acha dessa jóia? – Draco abriu a pequena caixa de veludo azul-escuro e Hermione viu um anel maravilhoso, cravejado de brilhantes e topázios.
- Nossa, é lindo... – Hermione teve que parar o carro para apreciar a jóia, era muito maravilhosa – É para Pansy? Aniversário?

- Não, não... – Draco riu ironicamente, guardando novamente a jóia – É para uma ocasião mais especial que um aniversário...


***

Jéssica e Escórpio voltavam para o Salão Comunal da Sonserina após a última aula. Jessie estava pensativa desde o almoço, mas não comentou nada com o garoto, que já estava angustiado com seu silêncio. Entraram no Salão e menina se jogou na poltrona, com um sorrisinho irônico no rosto.

- O que você está armando, Jessie? – Escórpio a olhou, preocupado.
- Estou tramando a queda da Jullie Watson... Os Grifinórios a odiarão... – Jessie ainda mantinha o sorriso no rosto.
- Como você vai fazer isso, louca? – o menino entrou em desespero.
- Não é da sua conta... Não... Melhor... Eu vou precisar mesmo da sua ajuda...

Quando Jéssica ia comentar seu plano com Escórpio, Jullie ia entrando no Salão Comunal. Ao ver os dois ali, nem sequer deu boa noite e se dirigiu às escadas. Mas antes que alcançasse a metade dos degraus, Paul Wright entrou no recinto, a olhando duramente.

- Srta Watson, na minha sala, agora – Ele a encarava.

- Qual é o problema? – Jullie não desceu os degraus que já havia subido.
- Na minha sala, agora! – Ele somente repetiu a frase pausadamente e saiu do Salão Comunal.

- Encrencas, florzinha? – Jéssica olhou para Jullie rindo ironicamente.

- Eu não sei, mas se for, eu volto aqui para quebrar seu nariz – Jullie desceu as escadas lentamente – Aí eu me encrenco mais, mas lavo minha alma ao menos... – E saiu rumo à sala de Paul.

Jullie seguia vagarosamente pelo corredor, até a sala de Paul. Não estava com a mínima vontade de brigar, mas já estava se preparando para tal situação. Entrou na sala e Paul a esperava sentado à mesa. Apontou a cadeira para ela, que se sentou e o encarou.

- Parabéns pela bela atuação no almoço... – Paul falava com tom irônico – Prova que você não merece esse emblema nas suas vestes.
- Não me quer na Sonserina, titio? – Jullie manteve o olhar firme – Me manda para Grifinória, eu vou adorar...

- Não me provoca, garota, eu esqueço que você é uma aluna, e lembro que sou seu tio e lhe aplico um corretivo como o que eu queria...
- Tenta... Vai lá... Vai ser o que, Cruciatus?

- CALA A BOCA – Paul deu um grito, mas Jullie não se intimidou. – Ridícula, mil vezes ridícula aquela demonstração de fraqueza e entrega! Não honra seu sangue, não honra sua família! Amiga de Sangue-ruins e amante dos traidores do sangue...

- Que interesse você tem em mim, seu psicótico? – Jullie arregalou os olhos – Acho que deveria ficar feliz com Jessie, e me deixar em paz! Eu mando na minha vida...

- Você não entende, sua fedelha repugnante! Não entende o que está por trás de seu nome? Não entende por que está na Sonserina?
- Entendo perfeitamente porque estou aqui – Jullie falou com pesar – Mas eu não aceito! Quem escreve o destino somos nós!

- NÃO MESMO! – Paul se levantou irritado e foi de encontro a Jullie, pegando a garota pelos braços – Escuta, sua insuportável, eu estou te vigiando, você tem um laço de sangue a zelar e eu não vou deixar que se esqueça disso! O seu destino já foi escrito, Jullie! Não adianta fugir dele, está entendendo?

- Me larga, senão eu vou gritar! – Jullie estava ficando desesperada.
- Grita, grita mesmo, mas grita com vontade... – Paul ria dissimuladamente – Até parece que alguém vai te ouvir com todos os feitiços que cercam minha sala! Você me dá nojo, garota! Tão jovem e tão insolente, desobediente, rebelde...

- ME SOLTA! ESTÁ ME MACHUCANDO! – Jullie começou a chorar.

Paul a soltou e a menina correu até a porta de saída, mas estava trancada. Ela sacou a varinha, mas Paul foi mais rápido e a desarmou com um pequeno aceno de sua varinha.

- É tão triste alguém que tenha uma árvore genealógica como a sua, negando suas raízes... – Paul a olhava com desprezo – Você deveria sentir orgulho! Minha irmã casou-se com seu pai por esse nome, Jullie... Por esse laço... E você, é uma vergonha, uma decepção! E ainda, de namoricos com o Potter!

- Namoricos? – Jullie o olhou, confusa – Do que está falando, dissimulado?

- Pensa que eu não sei? Está pensando no Potter mais velho dia e noite, escreve em seu diário sobre “como Tiago é arrogante, mas fofinho” – Paul ao falar isso fez cara de quem ia vomitar – Já não bastasse a decepção de ter uma Watson rebelde, ainda de amizades e namoricos com Potter e Weasley... E mais o filho do retardado do McMillan e aquela alienada da Longbottom... Que ódio do Longbottom! Desgraçado!... Se fosse eu a aparecer naquela mesa, você viria direto para detenção pela palhaçada! Mas não... “É admirável sua disponibilidade para os amigos, independente da casa a que eles pertençam. Que isso seja uma inspiração para todos aqui...” Longbottom seu DERROTADO!

Paul arremessou um vaso que estava em cima de sua mesa contra a parede. Estava transtornado além do comum e até Jullie estranhava sua reação exagerada. Ele a olhava com ódio e ela, mesmo nunca antes tendo medo dele, estava nervosa.

- Some da minha frente antes que eu faça uma besteira, sua imprestável! – Paul apontou sua varinha para a porta, que se escancarou – E não pense que não sei o que está fazendo, sua impertinente! Estou na sua cola, sempre, pode acreditar!

Jullie não pensou duas vezes, e saiu correndo porta afora. Mas não foi para o Salão Comunal da Sonserina. Ao invés disso, foi para Clareira, desafiando todos os monitores e nem ligando para perder pontos se fosse pega. Chegando lá, se encolheu em um canto e chorou. Chorou muito.

Claire entrara no Salão Comunal da Grifinória rindo com Rosa e Louis. Havia finalmente escolhido um nome para sua coruja e acabara de mostrá-la para os dois amigos, no corujal. Alvo e Tiago estavam sentados em uma mesa no salão comunal, em cima de um monte pergaminho, mas na verdade, Tiago estava explicando para Alvo como o Mapa do Maroto funcionava. Ao perceberem que havia mais gente ali, rapidamente trataram de cobrir o Mapa com outros pergaminhos que por ali estavam.

- Meninos, escutem essa! – Louis estava rindo – Claire batizou a coruja dela de Astrid!
- Astrid? – Tiago riu sem entender – Qual o problema com o nome?
- Calma, Lou não sabe contar! – Rosa também estava rindo – Claire tem uma história! Conta, Claire!

- Então... – Claire sentou perto de Tiago e Alvo para contar. Tiago verificou se o Mapa estava devidamente coberto – Eu freqüentava uma escola normal... digo, trouxa... Que a diretora se chamava Astrid. É uma cascavel! Uma bruaca!
- O que é uma bruaca? – Alvo a olhou confuso.
- Ah, uma gíria trouxa para definir alguém insuportável – Rosa se meteu.

- Isso aí mesmo... – Claire continuou – Então, eu e minhas amigas a chamávamos de corujão, porque ela tinha um bibelô na mesa dela, que era uma coruja com beca. Toda vez que agente ia para direção, ela apontava para a coruja e falava: “você não se vê assim?” só que se referindo a beca, e não a coruja... Mas era tão engraçado o jeito dela falar, era sempre o mesmo bordão da sabedoria... Mas um dia, eu virei para ele e disse: “não, diretora, eu prefiro ser humana mesmo, obrigada” e fiquei suspensa por dois dias!

- Claire! Quem diria! – Tiago riu – Você também responde professores!
- Foi exatamente por isso que Rosa e eu rimos! – Louis ainda ria – Imagina, Claire toda certinha e meiguinha falando isso com a corujão!

Os cinco riram por um tempo, até que Rosa se interessou pelos pergaminhos espalhados e logo desistiu quando Tiago disse que era a tática do último jogo dos Canhões de Chudley que ele discutia com Alvo. Louis era louco por Quadribol, mas era só falar nesse time para ele correr. Então, os três deixaram novamente Alvo e Tiago sozinhos.

- Então, como eu estava te dizendo... – Tiago descobriu o mapa – Só não mostra a Sala Precisa...

Mas Alvo não prestou atenção, pois Zac acabara de entrar na sala com Justin, e viu Claire subindo as escadas. A chamou para desculpar-se e Alvo só entendia que os dois se abraçaram ali. Estava mordido de ciúmes e Tiago falava sozinho.

- Alvo, você está ouvindo? – Tiago enrolou um dos pergaminhos e bateu com o canudo na cabeça de Alvo.
- Desculpa, Tiago, o que foi?
- Não liga pro Zac... – Tiago olhou para onde Alvo olhava antes – Ele desencanou na Claire. Só era empolgação, ele está tranqüilo e pediu desculpas por ter sido grosso por ela. Agora, atenção aqui...

Mas Tiago não falou mais nada e Alvo olhava para o Mapa sem entender. Ele estava olhando para o pontinho onde se lia “Jullie Watson” na Clareira. Alvo agora foi quem se irritou com o silêncio.

- Que é Tiago! Fala!
- Jullie! – Tiago apontou para que Alvo visse – Ela está sozinha na Clareira, a essa hora... Será que ela está bem?
- Não sei... Ela não costuma ir para lá...
- Nós nos encontramos com ela lá ontem, Zac, Justin e eu. Acho que ela apreciou o lugar, como Zac. – Tiago pegou o mapa e Alvo ficou o olhando confuso – Escuta, se pegarem a Jullie lá, ela vai receber detenção! Eu sei, por que eu detido por isso! Eu vou lá, depois eu continuo te ensinando...

- Mas se você for, você também poderá ir para detenção! - Alvo avisou.
- Não, ninguém vai me ver... – Tiago piscou para Alvo e subiu as escadas correndo com o mapa na mão.

Justin e Zac cumprimentaram Alvo e subiram atrás de Tiago, mas quando alcançaram o topo da escada, Tiago estava saindo do dormitório masculino com a capa de invisibilidade nas mãos. Os meninos o perguntaram aonde ia, mas ele só disse um “depois eu conto” e foi embora escadas abaixo, logo saindo correndo do Salão Comunal, deixando os poucos alunos que ali estavam meio confusos.

Ao alcançar o corredor, Tiago vestiu a capa e conferiu o Mapa. Estava tudo limpo na área da Clareira. Não havia monitores e o Zelador estava bem longe dali. Então, apressou o passo e alcançou a Clareira rapidamente. Antes de se aproximar, achou melhor despir a capa, para não assustar Jullie. Guardou a capa e o Mapa do melhor jeito que pôde e se aproximou da menina, que estava encolhida e de cabeça baixa. Não parecia ter reparado na presença de mais ninguém ali, então, Tiago se abaixou em sua frente e passando a mão pelos seus cabelos, fez com que ela levantasse a cabeça. Ele viu que ela chorava, mas tentou animá-la.

- Não precisa mais chorar, princesa... Eu vim para salvá-la! – E desembainhou uma espada imaginária.
- Meu herói... – A menina ao vê-lo abriu um largo sorriso e o abraçou, ainda chorando.
– Você veio! Disse ela entre soluços.

Os dois ficaram abraçados por um longo tempo, como se não precisassem nem trocar uma palavra para Jullie se consolar. Até que Tiago a olhou e acariciando seus cabelos, perguntou o motivo pelo qual estava ali sozinha.

- Então, princesa? A realeza deveria estar dormindo a essa hora, por que se arrisca saindo das Masmorras?
- Eu... Eu... – Jullie não queria contar o motivo então resolveu inventar – Eu vim por que não conseguia dormir, estava pensando num monarca de outro reino, ele tem me tirado o sono, sabe? É um meio arrogante, que se acha o todo poderoso... Conhece?

- Conheço – Tiago sorriu – E conheço tão bem que diria exatamente o que ele está pensando agora.
- E o que ele está pensando agora? – Jullie ficou curiosa.
- Em uma princesa que está infeliz presa nas Masmorras... E como ela é tão linda e doce, ele não pode deixar de pensar nela... Mesmo a achando convencida e irritante, ele vai salvá-la.
- Que nobre esse rei, não? – Jullie deu uma gostosa risada.

- É... A coragem dele é movida pelo sorriso dessa princesa. É essa a força que o leva a procurá-la. Leva ao rei a cometer um ato meio insano...
- Que ato insano? – Jullie o olhou, confusa.
- Esse...

Tiago aproximou seu rosto ao de Jullie e a beijou levemente os lábios. Depois, a olhou e viu que ela tinha os olhos fechados. Os abriu lentamente e sorriu para ele. Então, ela mesma aproximou seu rosto do dele e também o beijou. Mas dessa vez, o beijo foi mais demorado.


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