Capítulo XVIII



— Levante-se!

A ponta de uma lança afiada desper­tou Harry. Uma segunda espetadela fez com que ele se sen­tasse rapidamente, apesar de ter de lutar contra as correntes que o mantinham preso.

Ainda era noite, e a neblina cobria o céu. A cabeça de Harry latejava de dor, e seu estômago roncava de fome. Fazia muito tempo que não comia. Desde a partida de Cardigan, nem ele nem Ron tinham recebido alimento, apenas alguns goles de água. Seu corpo todo doía de ficar confinado em um lugar tão apertado, e as algemas em suas mãos haviam deixado seus pulsos em carne viva. As correntes nos pés não machucavam tanto, pois Daman lhe permitira calçar as botas antes de aprisioná-lo.

— Depressa! — Mais uma pontada. — Saia!

Harry despertou quando olhou para a pequena porta aberta, onde o homem estava parado. Ron não estava em ne­nhum lugar. Será que conseguira escapar com a carroça em movimento? Sem ao menos se despedir? Isso não era o que o incomodava. Seu companheiro já ficara furioso várias vezes, mas nunca tanto assim. E não tinha como culpá-lo.

Havia mui­tos anos que viviam juntos, como se fossem dois irmãos, e o fato de Harry lhe ter ordenado que fugisse sozinho devia ter soado como uma forma de abandono.

Ele se ajoelhou devagar, escorregando aos poucos pela manta que lhe fora oferecida como uma pequena medida de conforto, puxando as pesadas correntes consigo.

— Chegou a hora de os prisioneiros tomarem um pouco de ar? — perguntou ele, colocando os pés no chão. — Creio que terá de me ajudar, caso contrário… Oh!

O soldado o arrancou pela pequena abertura com um violento puxão, deixando-o cair no chão.

— Obrigado pela gentileza — ironizou Harry, levantando-se com dificuldade. Contudo, era melhor do que ser auxiliado pelos homens de Daman Granger. — Você foi muito amável.

Havia vários soldados ao seu redor, e um deles segurava Ron, que lançou um sorriso impiedoso na direção do com­panheiro. Harry o conhecia bem demais para saber o signifi­cado daquele olhar. A fuga ocorreria em breve. Em silêncio, desejou-lhe boa sorte, e Ron entendeu, agradecendo com um discreto movimento da cabeça.

— Ande — disse o soldado que o despertara. — Sir Daman deseja lhe falar.

— Olhem só que grande coincidência! — respondeu Harry, ao ser empurrado na direção de uma tenda. — Também quero falar com ele. Só espero que sirva uma taça de vinho ao seu convidado. Minha garganta está seca depois dessa viagem tão agradável e longa.

— Cale-se! — ordenou o homem. — Sir Daman mandou que permanecesse em silêncio até chegarmos.

O quê? Será que Daman achava que ele tentaria convencer o soldado a soltá-lo? Não que não o tivesse feito em outras ocasiões, porém sempre havia uma bela mulher presente que lhe permitia partir. Mulheres eram bem mais fáceis de se con­vencer do que soldados severos. E Daman era um dos soldados mais implacáveis de toda a Inglaterra, um título merecido, e servia a um cavaleiro da realeza que possuía as mesmas qua­lidades. Harry tinha conhecimento do fato, mesmo quando fler­tara com a irmã desse mesmo homem.

Ah, Hermione… Ele não teria conseguido evitar o que acontecera entre ambos, mesmo que Daman fosse o todo-poderoso rei.

Havia apenas uma tenda no acampamento, que ainda estava sendo presa ao chão.

Harry escutou a voz de Daman e o murmúrio de outros homens.

— O prisioneiro está aqui, milorde — anunciou o soldado.

O silêncio na tenda foi imediato, e Harry sentiu uma grande vontade de rir.

A porta da tenda se abriu e três lutadores saíram, sem tirar os olhos de Harry. Ele sorriu para cada um dos homens.

— Traga-o até aqui, Hubert — ordenou Daman Granger. Daman estava sentado em uma cadeira, diante de uma mesa, analisando mapas e alguns documentos. Vestia sua cota de ma­lha e luvas de esgrima, porém tirara o elmo. Harry deparou-se com o rosto que ficara em sua memória durante tantos meses, desde que vira Elizabeth pela última vez.

Encontrara-o apenas duas vezes, mas a expressão sombria e aristocrática daquele homem se mantivera gravada em sua mente. Era bonito, e por esse motivo não tinha como culpar a irmã.

Daman Granger tinha cabelos lisos e negros, e os olhos castanhos eram adornados por longos cílios, que lhe confe­riam uma expressão pensativa. A não ser pelos olhos, Kieran não via nenhuma semelhança dele com a irmã.

— Solte e espere-o lá fora com as correntes. Prenda-o de novo antes que retorne à carroça.

Harry endireitou-se e sentiu um grande alívio por poder esticar os músculos do corpo. Agradeceu ao soldado com um resmungo antes que ele saísse levando as correntes junto.

— Estarei aqui fora se precisar de mim, milorde, junto com os outros guardas. — Ele fez uma mesura e se retirou da tenda.

Daman riu e colocou a papelada de lado, levantando-se para encarar Harry.

— Meus soldados temem pela minha vida por sua causa — comentou ele, divertindo-se com o cuidado de seus homens. — Acredito, todavia, que deveriam temer pela sua vida.

— É você que tem o poder — admitiu Harry. — Não tenho muitas opções de ação. Além do mais, decidi que não quero causar mais nenhum tipo de aborrecimento ou vergonha para Hermione. Ela está bem? Aonde você a levou?

— Não direi uma só palavra sobre minha irmã. Saiba apenas que ela passa muito bem e que está longe de seu alcance. Você nunca mais a verá. Eu a manterei fora de Londres até que você seja punido por seus atos.

O coração de Harry disparou ao ouvir aquelas palavras, mas estava feliz por saber que Hermione não testemunharia seu en­forcamento.

— Obrigado — disse ele. — tenho um pedido a lhe fazer.

— Fale.

— Minha família… Tanto a do meu pai quanto a da minha mãe… gostaria que eles não soubessem de meu destino até que tudo tenha sido feito. Eu não quero preocupá-los dessa maneira.

Daman mostrou-se surpreso.

— Imaginei que você gostaria que eles soubessem. Acredito que seus familiares possam salvá-lo, afinal seu pai e seu pa­drasto são bem mais poderosos do que eu.

— Pelo visto você não sabe nada a meu respeito. Eu jamais incluiria qualquer um dos dois na minha desonra. Trata-se de uma questão de dignidade.

— Mas você já não agiu assim no passado?

— Infelizmente, sim — admitiu Harry. — Porém não pre­tendo repetir o erro. E por um bom motivo. Minha irmã mor­reria de desgosto se soubesse que o homem a quem ela entregou seu amor foi o responsável pela morte de seu irmão. Na verdade, prefiro que ela não saiba que você participou disso tudo, se não for pedir demais.

A iluminação no interior da tenda não era das mais fortes, porém o rubor no rosto de Daman foi evidente.

— Sente-se — ordenou ele, apontando para uma das cadei­ras. Então virou-se para o criado. — Traga-nos vinho e comida, se é que temos algo.

Daman tirou as luvas, colocando-as com cuidado em cima da mesa. Em seguida sentou-se ao lado de Harry e olhou-o com seriedade.

— Quero saber a verdade. Você raptou Hermione por causa do que aconteceu entre mim e Elizabeth?

— Sim. Não tenho como mentir. Eu queria chamar a sua atenção e me vingar por você ter abandonado Elizabeth daquele jeito. Sempre soube que você era um homem honrado, mas de­pois do que aconteceu com minha irmã, vi que não era bem assim. — Harry não podia evitar a amargura em seu tom de voz, depois do ódio que nutrira por Daman Granger durante tanto tempo. — Queria que você soubesse como é ter uma pessoa querida em poder de outro homem, depois espancá-lo em uma batalha a dois.

Naquele momento, o criado entrou na tenda carregando uma bandeja.

— Não imaginei que pudesse ser pego em ação. Não sei se acreditará em mim, mas eu jurei que não seduziria sua irmã.

Daman levantou a mão para que ele se calasse enquanto o criado estivesse ali. Havia um prato com queijo e pedaços de pão, uma garrafa de vinho e dois copos.

— Saia — ordenou ele. — E vocês dois também. — Daman dirigiu-se aos homens que estavam atrás de sua cadeira.

Sem contestar, os três fizeram uma mesura e se retiraram.

— Coma. Estou tentando encontrar um motivo para não aca­bar com a sua vida. Eu sempre soube o tipo de homem que você é. Por que deveria acreditar que você não tinha a intenção de desonrar minha irmã, se foi justamente isso que aconteceu?

— Talvez você morra antes — disse Harry, irritado. — Não admitirei que fale assim de uma mulher tão correta quanto Hermione. Ela não foi desonrada, e não permitirei que ninguém, nem mesmo você, a trate como tal.

— Já se esqueceu de como eu encontrei vocês dois, meu caro? Vai ter coragem de me dizer que não compartilharam a mesma cama?

— Você é muito idiota, Daman Granger! Sim, nós dormimos na mesma cama, e não negarei que tivemos momentos de pra­zer, mas Hermione ainda é virgem, como ela mesma deve ter lhe dito. Por que um homem de reputação tão sombria quanto a minha insistiria nesse assunto se não fosse verdade? Sabendo que bastaria a palavra de um médico para confirmar o fato? Pense bem, meu caro.

— Fique quieto por um instante e deixe-me pensar. Coma em paz, enquanto isso. Não sei se conseguiremos acampar outra vez antes de chegar a Londres, e você sairá o menor número de vezes possível da carroça.

Agradecido, Harry bebeu um gole de vinho e pegou um pe­daço de pão.

— Gostaria de saber o que aconteceu com meu cavalo, Nimrod. Queria lhe pedir a gentileza de devolvê-lo ao meu pai, o lorde James.

Daman colocou seu copo de volta na mesa e olhou para Harry­, evidentemente confuso.

— Sinto muito, porém não sei de nada sobre seu cavalo. Lembro-me bem de Nimrod. E um grande garanhão preto, não é? Um belo animal.

— Sim. Ganhei-o de presente do meu pai. Decerto deve estar com um de seus homens. E meu bem mais valioso, e não terá nenhum valor a quem pegá-lo.

— Vou mandar procurá-lo — prometeu Daman. — Imagino, todavia, que tenha ficado em Cardigan. Se Nimrod não estiver aqui, vou pedir para que um dos meus homens vá buscá-lo onde estiver. Concordo que ele deva ser devolvido a lorde James. Não é conforto pela perda de um filho, mas creio que seu pai não se surpreenderá nem um pouco com seu destino.

— Também acho que não.

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, comendo e bebendo, até que Daman olhou para cima.

— Você não me deve nada. — Harry teve a impressão de que Daman estava um pouco nervoso. — E sei que serei o res­ponsável pela sua morte, mas gostaria de lhe pedir que me contasse um pouco sobre Elizabeth.

Harry recostou-se na cadeira e o fitou por um longo mo­mento.

— Você a amava? Pelo menos um pouco?

— Muito — respondeu ele, com sinceridade. — Achei que fosse morrer quando a deixei, só que não havia outra escolha. Não havia como… — Daman ficou em silêncio.

Em outra ocasião, Harry não hesitaria em cuspir-lhe no rosto. Agora, entretanto, depois de ter descoberto como o amor podia ser doloroso, sentiu um pouco de pena de seu inimigo.

— Hermione me contou que o comportamento peculiar de sua família arruinou-lhe a vida. Foi por esse motivo que você deixou Elizabeth sem nenhuma explicação? Nunca prometeu se casar com ela?

— Sim, foi por isso. Só que fiz questão de deixar tudo bem claro. Ela chorou até não poder mais, porém não havia outra solução. Era a melhor saída, pois eu não poderia envergonhá-la daquela maneira.

Harry respirou fundo, por entre os dentes cerrados.

— Mentiroso! Você me acusou de ter tirado a virgindade da sua irmã, mas eu jamais a deixaria como você deixou Elizabeth. Eu sei o quanto ela sofreu quando você partiu. Achei até que fosse morrer. Eu nunca faria isso com a mulher que amo. Você sabia que Elizabeth estava grávida? Ou partiu sem se importar em saber as conseqüências dos momentos de prazer?

Daman arregalou os olhos.

— Um bebê? — repetiu ele, em um fio de voz. — Não é possível. Eu lhe disse… Eu não teria coragem de desonrá-la. Eu não a desonrei.

— Tenha piedade, Daman. Como consegue ser tão dissimu­lado? Você soa tão sincero que eu quase acredito em suas pa­lavras. Eu estava ao lado de minha irmã quando ela contou a novidade a nossa família. Ela me disse que a criança era sua.

Daman se levantou, furioso.

— Não é possível! Eu nunca me deitei com Elizabeth! Nós apenas nos beijamos e trocamos algumas carícias. Juro por tudo que é mais sagrado que… — Ele parou de falar e levou a mão à cabeça. Então sentou-se devagar. — Ah, meu Deus! Aquela noite, quando nos despedimos… depois que ela foi embora, eu comecei a beber para aliviar a minha dor… então fui para a minha cama e sonhei com… não, não pode ser! — Ele olhou horrorizado para Harry. — Ela deve ter voltado para o meu quarto. O que eu pensei ter sido sonho foi realidade. Será que Elizabeth pensou que eu me lembraria? Ah, meu Deus!

Daman se levantou, andando de um lado para o outro.

— Será que ela pensou que eu lhe tirei a inocência e depois a deixei sem nenhuma explicação? Eu parti antes que ela acor­dasse na manhã seguinte, achando melhor ela não me ver outra vez. Saiba, contudo, que eu jamais teria ido se tivesse me dado conta do que acontecera entre nós.

— Elizabeth acha que você a abandonou. Ela ficou doente de saber que você teve a coragem de deixá-la naquele estado.

— Eu jamais teria agido assim! — insistiu Daman. — Eu juro! Eu teria me casado com ela, apesar de todos os meus receios. Quer você acredite, quer não, sou um homem de muita honra. Você precisa acreditar no que estou lhe dizendo.

— Sim. Vou acreditar, pois é evidente que você amava Eli­zabeth. Antes de ter conhecido Hermione, eu não acreditaria em você, mas agora compreendo bem o que é o amor. Quem me preocupa é minha irmã. Ela sofreu demais por ter confundido a realidade com um sonho.

— Eu sei, e é por isso que pretendo falar com ela o mais depressa possível. Elizabeth deve estar no final da gravidez, se é que o bebê ainda não nasceu. Precisamos nos casar com ur­gência. Onde ela está?

— Acredito que esteja com minha mãe e meu padrasto — respondeu Harry. — Lorde Randall o matará antes de pergun­tar o que você quer com ela. Saiba que ele o deixou em paz só porque Elizabeth lhe implorou, e por não querer que você sou­besse que estava grávida. Se você for até lá…

— Eu sei muito bem os riscos que corro. Entretanto, Eliza­beth precisará de mim em um momento tão difícil. Pode deixar que eu me entendo com lorde Randall.

— Daman — disse Harry, levantando-se. — Preciso lhe con­tar algo. Sobre a criança.

— Ainda não nasceu? — perguntou ele, preocupado. — Por favor, diga-me que é mentira. Um filho ilegítimo? Não, não é possível. Não faz nove meses que nós nos separamos. — Daman se aproximou de Harry. — Ele nasceu antes do tempo? É um bebê doente? Ah, meu Deus, preciso correr e…

— Não. — Harry segurou o braço dele, impedindo-o de sair. — Elizabeth ficou muito doente quando você a abandonou. Foi um período difícil, principalmente nos três primeiros meses. Ela… Ela perdeu o bebê.

Toda a cor sumiu do rosto de Daman. Ele olhou para Harry por um momento, então se virou e cobriu o rosto com as mãos.

Harry imaginava como aquele momento devia estar sendo doloroso, pois lembrava-se perfeitamente do sofrimento de sua irmã. Não tinha a menor dúvida de que Daman sentia a mesma dor inconsolável diante de tão triste notícia.

— Como fui tolo! Estou pagando por meus pecados. Deus me puniu com justiça. Gostaria apenas que Elizabeth e o bebê ti­vessem sido poupados.

— Você realmente foi um tolo, como eu. Jogou fora a chance de um verdadeiro amor por não ter fé em Elizabeth e em sua própria família. Saiba que eu quase fiz o mesmo com Hermione.

— Ela deve estar me odiando — murmurou Daman. — Mes­mo assim, terá de se casar comigo. Vou lhe implorar que… não, simplesmente vou informá-la de que vamos nos casar. Com o tempo, ela saberá me perdoar. E se Deus quiser, teremos muitos filhos juntos. — Ele se virou para Harry. — Não vou mais lutar por seu enforcamento, agora que vamos ser parentes. Mas você terá de ser julgado pelo crime que cometeu, e pode ser condenado à morte. Espero que compreenda.

— Entendo perfeitamente. Estou aliviado, todavia, em saber que você não atormentará Elizabeth com sua vingança. Deixe-a pensar que outro homem me capturou e me levou para Londres. Será melhor.

— Obrigado — disse Daman. — Estou começando a pensar que o julguei mal, Harry Potter. Gostaria, de verdade, que tudo pudesse ser diferente entre nós — Harry sorriu.

— Eu não mudaria de opinião tão depressa, milorde. Não está escutando a comoção do lado de fora da tenda? Acredito que meu criado tenha colocado seu plano de fuga em prática.

— O quê?

— Sim, e se eu não estiver enganado, um de seus homens deverá entrar aqui para lhe contar que Ron sumiu e não foi encontrado em nenhum lugar.

Harry sentou-se e pegou seu copo de vinho.

— Ron é um homem difícil de se apanhar. Sugiro que avise seus homens para não perder tempo à procura dele, mas você pode agir como bem entender, claro.

— Ele não pode ter escapado! — declarou Daman, incrédulo. — Seria impossível, com todos os homens que o vigiavam.

— Você não conhece os talentos de Ron. De uma forma ou de outra, ele encontraria uma maneira de escapar. — Harry começou a encher o copo com movimentos lentos — E tem mais, se o conheço bem, ele foi atrás de Hermione e Luna para ajudá-las a me libertar — Daman caiu na risada.

— Que tolo! Minha irmã e sua criada estão seguras em Glain Tarran, protegidas por alguns de meus melhores cavaleiros. Eles não conseguirão se encontrar.

Harry tomou um gole de seu vinho. Uma voz do lado de fora da tenda pediu licença para entrar. Era Hubert, evidentemente nervoso.

— Milorde, sinto informar que as notícias não são nada agra­dáveis. O outro prisioneiro, o criado, desapareceu. Procuramos por todo o acampamento, mas não o encontramos em nenhum lugar.

Daman olhou para Harry, que sorriu.

— Como ele escapou?

— Não sei, milorde. Ninguém sabe. Perguntamos para todos os homens que ficaram de guarda, e todos disseram o mesmo, que ele simplesmente desapareceu.

— Eu não lhe disse? — falou Harry, orgulhoso. — Ele é um bandido de renome, tido em grande estima por seus companhei­ros. É assim que surgem os melhores ladrões.

— Não preciso de seus comentários irônicos agora. Cale-se, Harry Potter!

— Milorde, temo lhe dizer que tenho notícias piores — mur­murou Hubert.

— Não me diga que minha irmã e sua criada escaparam de Glain Tarran?

— S-sim. Um cavaleiro acabou de chegar da propriedade e nos trouxe a notícia. Sinto muito, milorde.

— Como elas escaparam?

— Não faço a menor idéia. Só se sabe que elas fugiram em um grande garanhão preto…

— Ah! Nimrod! — exclamou Harry.

— E uma égua cinza.

— Meretriz. — Harry pegou um pedaço de pão. — Fico con­tente em saber que os cavalos estão bem.

— Seus homens saíram à procura delas imediatamente, mi­lorde, mas a neblina os impediu de prosseguir com a busca — contou Hubert. — Muitos homens se perderam e não consegui­ram encontrar Glain Tarran durante horas. Por isso demora­ram em mandar alguém com a notícia.

Em silêncio, Daman cerrou os punhos ao lado do corpo.

— Que problema, não? — ironizou Harry. — Ir atrás de Hermione ou de Elizabeth? Não gostaria de estar no seu lugar.

— Como estará na prisão, que é o lugar mais adequado para alguém como você, não se preocupe com a decisão.

— Como quiser, porém eu tenho uma vaga idéia de onde você as encontrará.

Daman mandou Hubert embora.

— Não fará a menor diferença se você me contar. Seu destino é a prisão.

— Eu sei. É com Hermione que me preocupo. Não quero vê-la machucada.

Daman enrubesceu e blasfemou em voz alta, impressionan­do Harry com seus xingamentos. Depois olhou para Harry, fuzilando-o.

— Você ama Hermione?

— Sim.

— Pois saiba que nunca terá minha irmã.

— Não precisa me dizer, Daman. Você poderá se casar com minha irmã, pois possui nome e família para tanto. Eu não terei o mesmo privilégio, mas saiba que, se eu fosse um homem livre, passaria por cima de tudo e de todos para me casar com Hermione. Veja como é o destino.

— É mesmo. E minha irmã insiste em dizer que o ama e que o terá de qualquer jeito. Maldito!

— O amor parece não se importar com as leis e a igreja. Não se pode fazer nada contra.

— Diga-me onde poderei encontrar minha irmã, para que pelo menos eu possa cuidar de sua segurança — pediu Daman, um pouco mais calmo.

— Tente procurar em Hammersgate, a propriedade onde mi­nha irmã, lady Eunice, vive com a família. Aposto como as duas foram em busca da ajuda de minha mãe.

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