Capítulo XVI



— Eles estão vindo nos pegar! — gritou Hermione, rindo, enquanto Harry a per­seguia em volta da cama. — Corra!

— Claro… Ai! — Ele chutou o pé da cama e começou a pular para amenizar a dor. Hermione não conseguiu conter as risadas.

— Não estou achando graça nenhuma.

— Foi engraçado — disse ela, deitada na cama, enxugando as lágrimas dos olhos. — Se você tivesse se visto correndo como um lunático… Eu nunca vou me esquecer dessa cena. Foi muito engraçado!

— E eu também nunca me esquecerei do seu comportamento terrível. Rindo de mim como se tudo fosse uma piada. Eu tentei ser o mais convincente possível na minha tentativa de assustar a todos.

— Ah, você não imagina o quanto foi convincente, Harry — garantiu ela, sorrindo. — Eu estava tremendo de medo quando o escutei gritando para que saíssemos correndo. Posso lhe as­segurar que nunca passei tanto medo em toda a minha vida — zombou Hermione.

Harry puxou-a para debaixo de seu corpo.

— Você é a mulher mais cruel que já conheci — brincou ele, fazendo-lhe cócegas. — Sim, cruel. Como ousa zombar de mim depois de tudo que passei para recuperar seu precioso anel e a rainha de xadrez?

— Paz! — pediu ela, tentando prender-lhe as mãos para es­quivar-se das cócegas. — Por favor, eu lhe imploro, pare! Vamos fazer um acordo.

— Está bem — disse Harry, aproximando-se. — Saiba, en­tretanto, que você magoou meus sentimentos rindo de mim des­sa maneira, e eu exijo uma reparação.

— Será um prazer. Que tal uma massagem nas costas? É suficiente?

— Não.

— Deixe-me ver, então… Quer que eu lhe compre uma capa nova, feita da mais fina lã e tingida de vermelho?

— De jeito nenhum, senhorita. Acho bom pensar em algo muito melhor.

— Melhor? — perguntou ela, franzindo as sobrancelhas. — Devo amarrá-lo nesta cama por um dia e uma noite e fazer tudo que estiver ao meu alcance para satisfazê-lo?

— Misericórdia! De capas a idéias depravadas! Sua mente é um espetáculo, Hermione. Acho que ficarei com a última opção.

Ele inclinou-se para beijar-lhe os lábios, e logo a atmosfera de brincadeira se desvaneceu, cedendo espaço à atenção de um pelo outro. Harry deslizou a mão pela fina camisola que ela usava, enquanto Hermione lhe acariciava o peito nu.

Apesar de todo o bom humor devido ao sucesso do plano, havia um certo desespero para o ato de amor, principalmente para Harry. Assim que chegaram na casa de Berte, ele a levara para o quarto que lhes fora reservado, possuído por uma incontrolável urgência de passar cada momento possível ao lado da mulher amada.

Aquela seria a última noite dos dois juntos, uma vez que a Pedra da Graça e a rainha de xadrez estavam a salvo. Não havia como fingir que teriam mais tempo sozinhos, por mais sedutora que fosse a idéia. Já fazia muito tempo que Hermione estava longe da família, e Daman certamente não tardaria a aparecer.

Harry já tinha decidido o que fazer. Ao amanhecer, quer ela concordasse ou não, eles iriam para Glain Tarran e segui­riam caminhos diferentes. Para sempre.

Hermione já não vestia mais sua camisola, nem Harry sua calça. Ele a tocava em todos os lugares possíveis, proporcionando-lhe prazer e deliciando-se com as carícias que recebia em troca.

— Quero que você me possua — sussurrou ela, puxando-lhe os cabelos enquanto sentia os beijos molhados em seus mamilos intumescidos. — Por favor, Harry…

— De jeito nenhum. Por tudo que é sagrado, Mione, pare de me tentar desse jeito.

— Por favor — suplicou ela mais uma vez. — Só uma vez. Quero estar por inteiro com você, ser sua, senti-lo dentro de mim.

Com um gemido, Harry se virou para silenciá-la com os lábios, beijando-a longa e intensamente.

— É tudo que eu mais quero — admitiu ele, com a voz áspera. — Mas eu não ousarei tirar sua virgindade. Eu te amo, Hermione — sussurrou, beijando-lhe a testa. — Não me peça para arrui­ná-la dessa maneira. Eu jamais poderia me perdoar.

— Então você se casaria comigo e me aceitaria como esposa? — perguntou ela. — Como eu o aceitaria como marido? Nesse caso, poderíamos estar juntos sem qualquer tipo de preocupação.

Harry procurou-lhe os olhos, tentando controlar os batimen­tos acelerados de seu coração. Não sabia se conseguiria falar sem revelar como aquelas palavras lhe eram dolorosas. Ele abriu a boca, mas nenhum som saiu. Então respirou fundo e levan­tou-se da cama, caminhando até a pequenina janela do quarto. Apoiou as mãos no parapeito, no intuito de tentar acalmar os nervos. Atrás, escutou Hermione sentando-se na cama.

— Você não quer mais se casar comigo? — perguntou ela, com uma certa hesitação na voz.

— Eu já lhe disse que a faria minha esposa se pudesse, porém é algo impossível. E um grande suplício falar no assunto, ainda mais sabendo que nos separaremos ao amanhecer e que nunca mais nos veremos.

— Eu até concordava que era impossível — admitiu ela. — Até ontem. Entretanto, agora vejo que não é. Nós podemos nos casar, se quisermos.

— Sua família jamais permitiria que você se casasse com um homem como eu — falou Harry, balançando a cabeça. — Como pode começar a acreditar que um milagre como esse é capaz de acontecer?

— Não sei se você compreenderá, mas mesmo assim tentarei explicar. É que… o nome pelo qual o homenzinho o chamou em Pentre Ifan, lorde Eneinoig, muda tudo — Harry soltou uma sonora risada.

— Não muda nada, minha querida. Um pequeno estranho, travesso e com dentes afiados, pode me chamar do que quiser, porém nada mudará o que eu sou, o que eu tenho sido desde o dia em que nasci. Se acredita que seus tios e tias não se cho­carão com a simples idéia de uma união como a nossa, imagine só como seu irmão receberia uma novidade dessas. Garanto que ele preferiria vê-la morta pelas próprias mãos a permitir que você se casesse com um homem como eu.

Mione ficou em silêncio por alguns instantes, cabisbaixa.

— Pode ser que sim, Harry, mas prefiro não pensar assim E não teria o menor problema em me arriscar. Eu nunca pensei… ou melhor, eu sabia que nunca me casaria, que nenhum homem me amaria. E…

— Mione — suplicou ele, com a voz rouca — Não diga mais nada, por favor. Prefiro que você me mate. Você sabe o quanto eu te amo. Eu faria tudo que estivesse ao meu alcance para me casar com você, até mesmo para mantê-la perto de mim. Entretanto, não me atrevo a arruinar a sua vida em nome de minha reputação. Você não sabe o que é ser um excluído, o que certamente aconteceria se nos casássemos.

— Sabe, Harry, eu preferia ser desprezada por todo mundo, se é que isso aconteceria, do que viver o resto da minha vida como vivi até hoje. E não acredito que você tenha muita escolha nesse assunto. Depois do que você foi chamado em Pentre Ifan, tenho plena convicção de que nosso destino é ficar juntos. Ape­sar de tudo que possam tentar fazer para evitar.

Por fim Harry virou-se, encontrando Hermione sentada na cama, nua, os longos cabelos castanhos caindo-lhe pelo ombros. Ela o fitava com olhos brilhantes, o que o fez descobri que não havia o que fazer contra o desejo e o amor que lhe inundavam o peito.

— Eu… Eu tenho uma propriedade — disse ele, tentando fazer sua oferta de modo a não parecer ridículo. — É pequena, bem pequena. Ganhei do meu pai.

Hermione, em vez de parecer chocada, como ele imaginara que aconteceria, mostrava-se encantada.

— Uma pequena propriedade? — repetiu ela, sorrindo. — E onde fica?

— Em Derbyshire. Há uma criação de ovelhas. Já estive lá inúmeras vezes, porém não o suficiente para conhecer muito sobre o lugar. Meus criados cuidam da casa principal, das ove­lhas e do gado. Ganhei do meu pai muitos anos atrás, quando completei dezoito anos. Chama-se Greenvale. Nunca dei atenção para a propriedade, deixando-a sempre nas mãos dos outros.

— Pode ser, mas já é um bom começo, meu lorde Eneinoig. Eu o ajudarei a colocar Greenvale em ordem, se desejar.

— Mione…

— Não será muito difícil. Você nunca mais fará nada sozinho. Eu ficarei ao seu lado, Harry. Quero dizer, se essa for a sua vontade.

O coração dele batia como um tambor. Não sentia tanta es­perança desde criança, quando conhecera a tolice de tal emoção.

— Claro que é essa a minha vontade. É o que mais quero na vida.

— Perfeito. Então assim será.

— Hermione, você não está raciocinando direito — disse ele, dando um passo na direção da cama.

Hermione estendeu-lhe a mão.

— Estou. Pela primeira vez, estou.

As palavras dela faziam com que tudo soasse possível. Fácil demais.

— Você perderia tudo o que tem, além de tornar-se uma excluída da sociedade, a esposa de um bastardo. Pior, esposa de um criminoso.

— A esposa de Harry Potter — respondeu ela. — E o que eu seria. Bem mais do que sempre sonhei. Não tenho nem palavras para lhe dizer como eu ficaria orgulhosa por ser cha­mada de sua esposa.

— Mione… — Harry foi até ela e ajoelhou-se no chão, segurando-lhe a mão estendida entre as suas. — Você está falando a sério?

— Sim, do fundo do meu coração.

Harry não sabia se ria ou se chorava.

— Você se casaria comigo? — perguntou ele, atônito. — Sa­bendo de tudo que eu sempre fiz? As mulheres… todos os meus crimes… meus inúmeros pecados?

— Sim, Harry. Eu me casaria com você porque te amo e porque preciso de você assim como você precisa de mim.

— E Deus sabe como — murmurou ele, puxando-a para seus braços em um apaixonado abraço. Fechou os olhos e pressionou o rosto contra o pescoço de Hermione, na maciez daqueles cabelos — Espero conseguir ser um marido digno de uma mulher tão especial, tão encantadora. Se algum dia eu lhe causar tristeza por algum motivo, ou arrependimento…

— Não me arrependerei — disse Hermione, afagando-lhe os cabelos. — Eu lhe prometo.

— Está bem — respondeu ele, abrindo um belo sorriso. — Combinado. Eu jamais me permiti tamanho atrevimento, Hermione, porém você me transformou em um homem corajoso, bem mais do que eu imaginava ser. Filhos bastardos costumam se conhecidos por sua ousadia, mas não a mesma com que os homens honestos nascem. Você parece não se importar. — Harry a olhou, esperando uma resposta negativa. — Importa-se?

— Claro que não, meu querido. Você é Harry Potter, e se tivesse nascido rei ou mendigo, não faria a menor diferença para mim.

Ele beijou-lhe a testa.

— Quem disse que mágica não existe? Existe sim, e você a possui dentro da alma.

Hermione começou a deslizar as mãos pelos braços de Harry: porém uma forte batida na porta fez com que ela se afastasse.

— Quem nos interromperia a esta hora? — perguntou ela.

— Ron — respondeu Harry, entregando-lhe a camisa — Imagino que tenha vindo pedir a mão de Luna em casamento. Vista-se depressa antes que ele fique impaciente. Onde está minha calça? E o seu roupão?

Houve outra batida, dessa vez mais furiosa.

— Um momento, Ron! Ainda não terminamos de nos vestir para…

Ele levantou a cabeça, demorando demais para perceber quem estava à porta. Como um bandido tão hábil não reconhecera o perigo iminente? Será que o amor o cegara àquele ponto?

Momentos depois a porta veio abaixo, e Sir Daman Granger, seguido por seus homens, entrou no quarto empunhando a espada.

Hermione, do outro lado, tentava fechar o roupão. Ao avistar o irmão, ela ficou imóvel e arregalou os olhos por encontrá-lo tão enfurecido.

— Daman! Como você…

Foi tudo que ela conseguiu dizer antes que a ira de Daman viesse à tona.

— Vagabunda! Prostituta! Vou matar vocês dois!

Em um piscar de olhos, Harry colocou Hermione atrás de seu corpo, disposto a protegê-la com a própria vida, se preciso fosse. Estava sem armas, quase sem defesas, e sabia que sentiria a mesma raiva de Daman se encontrasse a irmã em circunstân­cias semelhantes.

— Não é o que você está pensando, Granger — disse ele com voz firme, mesmo sabendo quão ridículas soavam suas pa­lavras. Estava seminu diante daqueles homens, e não havia como tentar explicar que nada acontecera naquele quarto. Nem um idiota acreditaria. — Peço-lhe que nos escute antes de agir. Hermione é inocente!

— Ela é uma prostituta! — berrou Daman com a voz trêmula, como se estivesse prestes a chorar por encontrar a irmã naquele estado. Ele avançou para cima dos dois com toda sua fúria. — E traidora. Deitou-se com um bastardo sem se preocupar com a reputação da família!

Harry percebeu que Daman estava prestes a cometer um homicídio. Pulou para frente, agarrando a espada dele, tentan­do ganhar tempo para controlar a situação. Os dois lutaram furiosamente, de igual para igual.

— Parem! — suplicou, Hermione, começando a se desesperar. — Daman, não!

— Escute o que tenho a lhe dizer, Daman! — pediu Harry, tentando se esquivar dos golpes dele. — Por Elizabeth, por ­Hermione, escute.

Aquelas palavras fizeram com que Daman se afastasse no ato. Ele desviou o olhar da irmã e concentrou-se em Harry.

— Por que está falando de Elizabeth agora? Como se atreve a tocar no nome dela em um momento desses?

— Seu tolo! — disse Harry, com a voz cheia de amargura. — Se você me matar, é bem provável que também mate Eliza­beth. Se você realmente se importasse com ela…

— Não se atreva a falar dela! — Com um golpe violento, Daman jogou Harry no chão.

Hermione gritou o nome de seu amado e correu até ele, mas o irmão a impediu, acertando-lhe um forte tapa no rosto. Ela caiu na mesma hora, inconsciente, e os dois foram acudi-la.

— Deixe-a em paz! — Harry segurou Daman pela gola da cota de malha, levantando-o.

Não mediu seus atos e, sem pensar nas conseqüências, acer­tou-lhe um soco no maxilar. Sua única intenção era manter Hermionr a salvo daquele irmão brutamontes.

Daman cambaleou para trás, com os olhos arregalados, po­rém Harry não se importou. Ajoelhou-se no chão ao lado de Hermione para tentar despertá-la.

— Hermione — chamou ele. A face em que levara o golpe estava vermelha e começava a inchar. — Ah, meu Deus, Mione…

Harry estendeu o braço para tocá-la, mas foi impedido por uma forte pancada.

— Não se atreva a tocar em minha irmã!

A última coisa que Harry viu foi a espada na mão de Daman vindo na direção de sua cabeça.

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