Capítulo XIII



Os dias que se seguiram foram os mais felizes da vida de Harry, o que era um grande feito, pois já tivera muitos bons momentos no decorrer de sua exis­tência. Pelo menos bem mais do que a maioria dos homens poderia pensar em imaginar.

Entretanto, o fato de estar com Hermione lhe transmitia uma segurança que nunca sentira antes. Harry tinha aprendido a conviver com as condições de seu nascimento, algo que no pas­sado o incomodara bem mais, e com o fato de que nada mudaria os acontecimentos, porém nunca imaginara que amar uma pes­soa e, melhor, ter esse amor retribuído, pudesse preencher aque­le vazio em seu ser.

Seus relacionamentos com as mulheres sempre terminavam com a mesma rapidez com que começavam, mas não dessa vez. A viagem para Gales parecia não ter fim, e Ron piorava a cada instante, apesar da alegria de sua situação com Luna. Tanto ele quanto Hermione sabiam que os dois haviam se deitado juntos em Hammersgate, mas não ousaram fazer nenhum tipo de comentário. Claro, não haveria nenhum empecilho para uma união entre eles, afinal Luna não era de família nobre, e Ron guardara dinheiro suficiente durante seus anos de an­danças na companhia de Harry para aproveitar o resto de sua vida como um rico lorde. Além disso, Luna também não tinha família para se opor a um casamento, enquanto a família de Hermione… Mas Harry procurava não pensar no assunto, nem na certeza de que Daman Granger estava cada vez mais pró­ximo de alcançá-los.

Harry conhecia aquela região de Gales, pois ele e Ron tinham o hábito de ir para lá uma vez por ano. Que ironia do destino as terras da família de Hermione serem tão perto de um dos bordéis favoritos de Harry, mas o mais estranho era pensar que algum dia os dois poderiam ter estado tão próximos um do outro. Talvez até já tivessem se cruzado durante uma das via­gens de Hermione com a família para Cardigan.

Assim que atravessaram a fronteira de Gales, Hermione rela­xou, como se tivesse chegado em seu verdadeiro lar. Foi quando Harry se deu conta de como ela honrava sua herança gaulesa, não apenas a língua e os costumes, mas a plena crença em tudo que se relacionava a Gales. O resto da Inglaterra poderia não existir, ou mesmo o mundo inteiro. Aquele era o único lugar com o qual ela se importava, o lugar onde ficava em paz.

Harry não a tinha escutado falar em seu idioma nativo até chegarem nas montanhas Berwyn, onde passaram a noite. Hermione ficou mais de uma hora conversando com os aldeões, perguntando-lhes sobre Caswallan, Sir Draco e a Pedra da Graça. Ele ficou atrás, apenas observando, admirando. O rosto dela se tornara extremamente expressivo, bem como suas maneiras, e todos perceberam que se tratava de uma nativa, de uma pessoa nobre, apesar de suas condições de viagem e de suas roupas.

Harry, conforme combinado antes, seria apresentado como o marido, enquanto Ron e Luna já faziam as vezes de um verdadeiro casal. Ele cumpriu bem seu papel de lorde inglês, uma vez que os aldeões o olhavam com desdém, e para Hermione com pena e compreensão. Não era comum as damas da socie­dade gaulesa se casarem com lordes ingleses, ainda mais quan­do se tratava de uma jovem com classe e fortuna.

Ela terminou a conversa satisfeita por estar com a razão sobre o paradeiro de Caswallan, porém desapontada por não ter descoberto nada sobre Sir Draco. Ninguém soubera lhe dar nenhuma informação sobre o inglês.

— É claro que ele está em Gales — disse ela, naquela noite, enquanto comiam um delicioso cozido de alho-poró. — Ele não teria retardado sua busca a Caswallan uma vez que você con­cordou em tirar a nós duas de Londres.

— Pode ser que sim — respondeu Harry, afastando o prato — Para saber se eu manteria a palavra depois de ter recebido o dinheiro.

— Mesmo assim, ele teria partido imediatamente para Lon­dres. Sir Draco deve estar aqui há algumas semanas, mas como ninguém ouviu nada a respeito dele? É o tipo de pessoa que causa má impressão.

— Se Sir Draco ficou no sul de Gales, como você acredita, então não podem ter ouvido nada a respeito dele por aqui. Ainda mais em um lugar tão pequeno, onde as notícias distantes de­moram a chegar. Com Caswallan é diferente, pois, além de ele ser um feiticeiro gaulês, está com a Pedra da Graça faz alguns meses. As notícias sobre ele se espalham com mais rapidez do que sobre um inglês desconhecido.

— Eu concordo. Talvez ao nos aproximarmos de Aberteifi seja diferente. Não conseguirei ficar tranqüila enquanto não souber onde ele está. Você o considera um homem fraco e tolo, mas Sir Draco é extremamente dissimulado, e você mesmo sabe que matar não é um problema para ele.

— Devo admitir que, nesse aspecto, ele me surpreendeu. En­tretanto, acho que qualquer dissimulação foi encoberta pelo de­sespero. Ele agiu sem cuidado no que diz respeito a nós, e pro­vavelmente fará o mesmo ao tentar roubar a Pedra da Graça de Caswallan. Ele cairá em sua própria armadilha. — Depois — prometeu Harry, afagando-lhe o rosto no intuito de afastar as linhas de preocupação —, prometo que lidarei com Sir Draco Malfoy.

Naquela mesma noite, na cabana que os aldeões lhes deram para dormir, Hermione ficou caminhando de um lado para o outro, aflita, murmurando sem parar palavras em gaulês. Harry ficou tão excitado que não conseguiu se conter e tomou-a nos braços. Havia algo de mágico em escutar o idioma, que ela chamava de cymraeg, que o enlouquecia. Hermione pareceu perceber, e começou a seduzi-lo não apenas com toques, mas também com palavras. Desde então, todas as noites eram assim, e Harry, a despeito de sua vasta experiência, não conhecia algo melhor.

Para uma mulher que ainda era virgem, Hermione tinha grande habilidade na arte da sedução. Desde a manhã quando tinham acordado em Hammergate, ela vinha se mostrando uma ardente aprendiz, e Harry um dedicado tutor. Todavia, Hermione o surpreendera com seu desejo de aprender, querendo saber tudo de uma vez, todos os segredos e habilidades que ele passara anos aperfeiçoando.

Era um milagre ela se manter pura para o casamento. Nos anos que estavam por vir, Harry olharia para trás e se mara­vilharia com o fato de ter conseguido se controlar para não pos­suí-la. Deus era testemunha de que Hermione não ajudava em na­da. Ela insistia em dizer que jamais se casaria, e fez de tudo para fazer com que Harry perdesse todo o bom senso e a pos­suísse. A tentação era grande, mas ele se ateve à determinação de não arruinar a reputação de uma mulher tão especial como aquela. Talvez fosse a lembrança da vergonha e desgraça de Elizabeth que lhe dava força de vontade. Não suportava pensar em deixá-la sofrendo apenas por um momento de paixão. Não, seria cauteloso com Hermione. A companhia dela lhe era suficiente.

Cardigan estava entre uma das mais antigas cidades gaulesas, bem como uma das mais prósperas. Seu movimentado porto trazia imponência e inúmeros estrangeiros para o local, além de riqueza para os ingleses, que dominavam todas aquelas ter­ras. Nenhum homem, mulher ou criança gaulesa podia morar nas redondezas, contou Hermione, enquanto seguiam pela estrada principal, uma punição remanescente devido à rebelião de Owain Glyndwr. A voz dela deixava transparecer toda a raiva que sentia em relação ao tratamento injusto dado pelos ingleses aos gauleses… até Harry relembrá-la de que a família dela possuía muitas terras na Inglaterra, não apenas em Gales, e Metolius, em Londres, era uma das maiores preciosidades.

Hermione, acomodada à frente dele em Nimrod, endireitou-se.

— Não há alternativa para nós a não ser viver em Londres durante grande parte do ano, pois os negócios da família exi­gem. Mas Gales é nosso lar, nosso verdadeiro lar. É aqui que sempre estará o coração dos Granger.

— Qual a distância de Cardigan até as suas terras? Você disse que a propriedade ficava em Dyfed?

— Sim, perto de Presili. Chama-se Glain Tarran, a jóia na pedra. Nós passaremos por lá quando estivermos seguindo para as colinas.

Harry não perguntou se ela pretendia parar no caminho, seria muito perigoso fazê-lo. Entretanto, precisava saber onde poderia deixá-la, a salvo, quando encontrasse Caswallan. Pre­tendia ir atrás de Sir Draco sozinho, e também acertaria as contas com Daman em particular, se conseguisse. Seria perfeito se pudesse deixá-la em Glain Tarran.

— Você precisa me mostrar quando passarmos por lá. O cas­telo é muito antigo?

— Sim, muito — respondeu ela, suspirando —, mas não lhe garanto que você conseguirá vê-lo. Glain Tarran nem sempre é visível para todas as pessoas.

— Não é visível? — repetiu Harry, sem ter certeza de que queria escutar a resposta.

— Não é muito fácil de explicar. Normalmente, o castelo pode ser visto de longe, mas algumas vezes… é mais difícil en­contrá-lo. Digamos que o tempo é estranho em algumas partes. A neblina vai e vem sem avisar.

— Neblina que esconde todo o castelo?

— Sim.

— Talvez por isso Glain Tarran seja tão antigo — sugeriu ele. — É muito conveniente tornar-se invisível de vez em quan­do, não? Ainda mais durante uma guerra.

— Não existe nenhum tipo de magia por trás — explicou Hermione, com calma. — Simplesmente acontece.

— Não, claro que não há magia — concordou Harry, divertindo-se com a irritação que notou na voz dela. Era sempre assim quando Hermione percebia que ele não acreditava nas ex­plicações que lhe dava sobre os mistérios relacionados a sua família. Ela insistia em não acreditar no óbvio, que a magia era real. Harry gostaria de encontrar uma forma de conven­cê-la, porém não sabia se teria êxito. Se a própria família não conseguia, como um estranho o faria? — Tenho certeza de que toda a propriedade desaparece, como você diz, em virtude do tempo. Você já percebeu que sempre está ventando perto das colinas Presili? A neblina deve ter problemas em esconder os castelos.

Hermione empurrou o cotovelo para trás, acertando-o com força. Harry caiu na risada e puxou-a para beijá-la.

— Eu vou fazer com que você acredite em mágica — sussur­rou ele.

— Nunca!

O bom humor de Hermione durou até eles chegarem ao destino final. Harry escolheu o que considerava o melhor lugar para escondê-los de Sir Draco e de Daman Granger, mas ela pareceu não ser da mesma opinião.

— Não, de jeito nenhum — esbravejou Hermione, olhando-o com desconfiança. — Aqui, não.

— Sim — respondeu ele, descendo de Nimrod. — Não existe lugar melhor. — Harry estendeu os braços para ajudá-la a des­montar. — Este é o único lugar em que estaremos a salvo.— Em Londres, ele conseguiu ficar apenas quinze minutos no Black Raven. Mas seria uma ótima idéia vê-lo rodeado pelas meninas de Berte.

— Eu não vou colocar meus pés aí dentro — jurou ela, apon­tando para o bordel, bastante conhecido naquela parte de Gales. — Eu me recuso terminantemente. Você nos levou para os pio­res lugares enquanto nos manteve prisioneiras, porém não dor­mirei em um bordel!

Antecipando a recusa de Hermione, Harry começou a desamar­rar a bagagem do cavalo, ignorando-a.

— Não há outro lugar melhor — insistiu ele. — E não é tão ruim quanto você imagina. Eu passei várias noites aqui, por­tanto, conheço bem o bordel. E limpo e seco, e as camas são confortáveis.

— Eu imagino que você já deve ter estado em todas — disse Hermione, colocando as mãos na cintura.

Harry sorriu diante do ciúme que notou na voz dela e abra­çou-a, puxando-a para perto.

— Não nego a verdade do que você está dizendo, porém juro que, desta vez, ficarei em uma única cama, com uma única mulher. — Ele beijou-a, impedindo-a de se desvencilhar.

— Harry!

— E quem sabe você não ensina algumas coisinhas para as meninas de Berte — brincou ele.

— Você é terrível, Harry James Potter. Não vou entrar neste bordel com você.

— É o que veremos, Srta. Granger.

De alguma maneira, Harry convenceu-a a entrar no bordel. Hermione não sabia explicar ao certo como cedera, a não ser, tal­vez, pelo fato de estarem no meio da rua, debaixo do sol do meio-dia, beijando-se como se não houvesse ninguém em volta. Como não queria ser confundida com uma das garotas de vida fácil, ela achou melhor sair dali.

Assim que eles entraram, o bordel entrou em polvorosa. Mu­lheres seminuas soltando gritinhos histéricos e risadas escan­dalosas correram na direção de Harry e Ron. Luna e Hermione foram empurradas para o lado, ignoradas, enquanto os dois homens eram beijados e acariciados. E nenhum dos dois parecia pretender colocar um ponto final naquele comportamento obsceno. Na verdade, pareciam estar gostando bastante da atenção.

— Harry, estou tão contente por… Ron, não posso esperar até… Faz tanto tempo que vocês não aparecem por aqui. Por que…

— Silêncio!

Não havia como ignorar aquela voz feminina tão imponente. Todo o salão ficou no mais profundo silêncio, e todos se viraram para a mulher parada no meio da escada. Era uma mulher de incrível beleza, um pouco mais velha do que as jovens histéricas que gritavam ao redor de Harry e Ron. Seus cabelos longos e cacheados caíam-lhe nas costas como um manto ruivo, e seus lábios carnudos ostentavam um batom vermelho. Vestia apenas uma camisola vermelha, transparente, como se tivesse acabado de sair da cama naquele momento. Seus olhos azuis, muito claros, estudaram a cena a sua frente, parando, por fim, em Harry. Hermione arregalou os olhos diante de tamanho desejo. A mulher parecia pronta para pular nos braços dele, sem se importar com a platéia.

Com o coração disparado, Hermione olhou para Harry. Ele tam­bém a olhava, porém com o carinho e amizade de quem não via um antigo conhecido há muito tempo.

Mesmo assim ela sentiu-se confusa. Era evidente que os dois um dia tinham sido amantes. Ou melhor, pelo visto Harry fora amante de praticamente todas as mulheres daquele lugar. Ele era assim e sempre seria, apesar de tudo que acontecera entre ambos.

Percebendo a preocupação de Hermione, ele se virou, lançou-lhe um sorriso tranqüilizador e começou a se desvencilhar das mu­lheres que o agarravam. Quando conseguiu se livrar de todas, a da escada estava parada a sua frente.

— Harry, meu amor — murmurou ela, afagando-lhe o rosto com seus longos dedos. — Que surpresa maravilhosa! Eu estava imaginando que você e Ron logo viriam. É sempre na mesma época do ano, não? — Ela chegou mais perto, pressio­nando o corpo contra o dele. — Teremos de lhe dar as boas-vin­das esta noite. Antes, porém, quero você só para mim. Vamos subir um pouco para você relaxar.

— Hum, Berte… — disse ele, pegando-lhe a mão. — Desta vez eu vim por outro motivo… Mione!

Hermione puxou Luna pelo braço e correu em direção à porta aberta. A criada seguiu-a sem resistência, incrédula com tudo que vira até aquele momento. Ela passara por momentos bas­tante difíceis nos últimos dias, e Hermione se culpava por não a ter protegido mais.

— Vamos até o mestre Tremayne — disse ela. — Será um choque ele nos ver nesta situação, mas não há alternativa. Sen­do o banqueiro da família Granger há mais de quarenta anos, duvido que nos negará ajuda. Isso mesmo. — Hermione seguia pela rua sem saber ao certo aonde ia. — Não sei como não pensei nisso antes. E assim nos livraremos desses bandidos.

Luna respondeu com um soluço.

— Hermione!

Harry estava logo atrás.

— Luna!

Ao escutar a voz suplicante de Ron, Luna diminuiu os passos.

— Não escute esse monstro! Você viu quantas mulheres o rodeavam!

— Por Deus! Você é a mulher mais teimosa que já conheci! — exclamou ele, quase as alcançando. — Hermione, pare!— Você vai voltar para lá comigo, querendo ou não — disse Harry, segurando-a pelo braço.

Ela soltou-se e virou-se para ele, furiosa.

— Não vou, não! Você realmente acredita que vou ficar as­sistindo a você e a Srta. Berte se esfregando um no outro?

Pela primeira vez desde que haviam se conhecido, as faces de Harry enrubesceram, como se estivesse envergonhado.

— Não se atreva a tocar em mim! — gritou Luna, acertando um tapa no rosto de Ron. — Depois de tudo que você me falou… depois de tudo que fizemos… especialmente a noite pas­sada! — Ela cobriu o rosto com as mãos e desabou em lágrimas.

— Luna, por favor, escute-me. Tudo que eu disse é sério. — Ela o empurrou, e chorava cada vez mais alto.

Uma multidão começou a se formar ao redor deles.

—Sir Draco não precisará perguntar por nós — resmungou Harry, irritado. — Toda a Gales falará a nosso respeito.

Sabendo que não teria outra saída, ele pegou-a no colo e voltou para o bordel.

— Harry James Potter!

— Fique quieta, mulher! — ordenou ele, aplicando-lhe um tapa no traseiro. — Essas duas novas garotas de Berte ainda não aprenderam a se comportar — explicou Harry, ignorando os gritos de Hermione. — Imaginem só, não gostaram dos aposen­tos. Venha, companheiro, vamos levá-las de volta para a casa de nossa amiga.

— Luna, por favor, não fique brava comigo — pediu Ron, fazendo o mesmo que Harry.

Ao entrar no bordel, Harry seguiu para a escada, ignorando as expressões de espanto.

— Aonde você está indo? — perguntou Berte.

Hermione ergueu a cabeça e viu-a parada com as mãos na cin­tura, os olhos cintilando. Atrás dela, Ron entrava carre­gando Luna, que continuava a chorar.

— Vou tomar seu quarto emprestado por alguns minutos — explicou ele. — Nós não atrapalharemos, eu prometo.

— Harry!

— Eu peço desculpas, Berte — disse Harry, continuando a subir. — Daqui a pouco eu desço para lhe explicar tudo. Até então, peço-lhe a gentileza de nos deixar em paz.

Chegando ao quarto de Berte, ele colocou Hermione no chão e trancou a porta.

— Você pode gritar o quanto quiser comigo, mas antes escute o que tenho a lhe dizer.

Hermione respirou fundo, olhou para os lados… e de repente silenciou.

— Minha nossa! — exclamou ela, estarrecida com a visão diante de seus olhos. Nunca estivera nos aposentos de uma prostituta, portanto era uma grande revelação. As paredes os­tentavam tapeçarias com cenas picantes às quais nunca fora exposta. Homens e mulheres, nus, em todos os tipos de posições. Como alguém poderia ter criado tudo aquilo sem o menor pu­dor? E quem teria bordado tudo aquilo?

— O gosto de Berte é um tanto inusitado — explicou Harry.

— No mínimo — concordou ela, virando-se para apreciar todo o resto.

A cama ficava no centro do quarto e era enorme, com lençóis, colcha e almofadas vermelhas. Hermione imaginou Harry ali, deitado nos braços de Berte, como fizera com ela nas noites passadas.

— Tudo que você está pensando é verdade — começou ele — E pior ainda. Eu nunca disse que era um homem correto, Hermione, ou que não havia me deitado com outras mulheres.

— Com muitas outras!

— É verdade. E nem tenho como enumerá-las. E também não posso fazer nada para apagar meu passado. Está tudo ali, junto com meus outros pecados, crimes e desfeitas. E o pior é que eu me permiti amar você. E esse pecado, creio eu, não poderá ser perdoado, quer por você, quer por Deus. — Ele ca­minhou lentamente e parou ao lado de Hermione. — Mas não encontrei uma maneira de controlar meus sentimentos. Não há desculpa, Hermione. Sei que sou o pior homem do mundo por não ter conseguido me controlar e por ter cedido aos meus desejos. Eu só agradeço por não ter tirado sua virgindade. Só Deus sabe como as minhas palavras são verdadeiras. — Harry tocou-lhe o braço, sem saber qual seria a reação dela. — Eu te amo — sussurrou ele. — Não tenho mais o que fazer além de lhe pedir desculpas. Mione… será que algum dia você voltará a falar comigo?

— Você me desrespeitou na frente de todas aquelas pessoas, fazendo com que acreditassem que Luna e eu somos prostitutas. Deste bordel.

— E o que mais eu poderia fazer? — perguntou ele, quase em desespero. — Preferia que eu tivesse proferido seu nome em bom tom, tratando-a como uma verdadeira dama? Sir Draco está a sua procura e não pode nem desconfiar que você passou por aqui.

— E se alguém tiver me reconhecido? — perguntou ela, es­condendo o rosto entre as mãos. — Minha família é muito co­nhecida em Aberteifi.

— Não, Hermione, eu duvido que alguém a tenha reconhecido. Não nesse estado, com o vestido sujo, os cabelos despenteados. Só espero que ninguém tenha reparado na cor, senão sir Draco saberá que você está em Cardigan. Mas não precisa ter medo, mesmo que ele descubra a verdade. Como já lhe disse uma vez, eu farei de tudo para mantê-la a salvo.

Ela assentiu e fixou os olhos na tapeçaria a sua frente. Não conseguia imaginar como uma mulher e um homem podiam ficar naquela posição. As costas dela extremamente curvadas para trás e as pernas dele… Não era possível! Hermione virou a cabeça para tentar entender melhor a cena.

— Hermione, imagine o que seu irmão pensará quando souber que você fica olhando para essas imagens. E eu mesmo contarei para ele!

Hermione o ignorou e foi até a penteadeira, encantada com a caixa de madeira cravejada de pedras preciosas.

— Não faz diferença. Ele não terá piedade conosco quando descobrir o que aconteceu entre nós.

— Daman não precisa saber a verdade. Se você quiser, eu prometo que não abrirei minha boca.

— É isso que você quer? — perguntou ela, passando o dedo na tampa da caixa. — Fingir que não aconteceu nada, que não nos deitamos juntos?

— Ora, Hermione, você sabe que eu farei qualquer coisa para protegê-la. E você quem decide.

Ela ficou em silêncio por alguns instante, buscando coragem para falar.

— É tudo muito difícil para mim, você não imagina quanto. Você é um homem muito bonito, e eu nunca fui bonita. Nem quando criança. E eu nunca me senti tão feia quanto agora, diante de tantas mulheres bonitas… e nuas.

— Seminuas — corrigiu Harry, sem humor na voz.

— Você tem razão. Seminuas.

Ele ficou parado, olhando-a por alguns instantes, depois ca­minhou até a janela, resmungando. Abriu a cortina vermelha e observou a rua, calado. Por alguns instantes, nenhum dos dois se atreveu a falar, e Hermione continuou passando o dedo na caixa, sentindo um nó no estômago. Agora era a hora de Harry lhe dizer a verdade, apesar das declarações de amor que lhe fizera momentos atrás. Ele lhe diria que era feia e que não queria nada de mais sério com uma mulher petulante e infantil. Nenhum homem preferiria uma mulher feia com tantas belda­des se atirando em seus braços. Como era tola! Passaria o resto de seus dias se remoendo por ter estragado tudo de mais lindo que acontecera em sua vida.

— Eu sei o que é sentir-se feio — disse Harry de repente, forçando as palavras a saírem de sua boca. Hermione ficou sur­presa com a emoção na voz dele e virou-se. Ele estava de costas, cabisbaixo, olhando para fora. — Eu me senti feio durante gran­de parte da minha vida, comparado ao resto da minha família. Se eu fiz você sentir-se assim, então…

Hermione continuou calada, dando-lhe tempo para continuar.

— Não sei nem como lhe dizer o quanto eu a acho bonita, mais do que qualquer outra mulher. Peço que Deus tenha pie­dade de mim, pois o amor é como uma maldição do inferno! Eu preferiria terminar meus dias sem conhecer o sentimento, mas não era para ser. Nunca declarei meu amor a mulher nenhuma, e entendo o fato de você sentir-se feia diante dessa confissão.

— Você não pode estar falando a sério! Você não pode me amar! Eu não sou digna do seu amor!

— E nem eu do seu — respondeu Harry, virando-se. — Hermione, não sei o que fazer para que você acredite nas minhas palavras. Eu queria que você se sentisse especial, que perce­besse como é importante e bonita para mim, mas acho que foi tudo em vão. Eu te amo! — gritou ele, irritado. — Você nunca me disse o mesmo, apesar de eu ainda ter a esperança de es­cutar as palavras saindo de seus lábios. O que mais posso dizer, ou fazer, para convencê-la de que meu amor é verdadeiro? Se pudesse, eu me casaria com você sem pensar duas vezes, mas nem me atrevo a ter esse tipo de pensamento. Sei que nunca teremos nada sério, e que você me rejeitaria. Por mais bonito que eu seja — terminou Harry, com a voz cheia de amargura.

— Você se casaria comigo? — repetiu ela, incrédula.

— Sim, e com muita alegria. Mas não faz diferença, pois não sou um bom partido, nem para você, nem para qualquer mulher.

Hermione deu um passo na direção dele.

— Claro que é — murmurou ela. — Não conheço uma mulher que não daria a vida para ser esposa de Harry James Potter.

— Ora, Hermione, por mais bonito e simpático que eu seja, não há como mudar ou apagar o meu passado. Eu não pertenço a uma família nobre. Sou o filho bastardo de um grande lorde. Você afirma que eu não posso amá-la, mas é o contrário. Você está muito acima de mim, em vários aspectos. Eu nem tenho esperança de alcançá-la.

Ela tocou-lhe o braço.

— Achei que você já soubesse que eu te amo. Imagino que todas as mulheres sintam o mesmo só de olhar para você. E por que comigo seria diferente? Eu te amei quase desde o pri­meiro instante.

— Não é amor. É desejo, afinal de contas eu a iniciei na arte do prazer. Você se esquecerá de tudo no momento em que nos separarmos. E esse tipo de amor que eu conheci com as outras mulheres. E não quero o mesmo de você.

— Ah, Harry — sussurrou Hermione, envolvendo-lhe a cintura com os braços e apoiando a cabeça nas costas musculosas. — Nós somos um casal desencontrado. Você não consegue me con­vencer do seu amor e eu não consigo convencê-lo do meu. E eu te amo tanto que nem sei como expressar meus sentimentos em palavras. Sim, seu rosto e corpo são lindos, bem como suas maneiras, mas, para mim, nada disso importa. Nem as condi­ções de seu nascimento, nem a sua posição social. Para mim seria uma grande honra me casar com você. Eu agradeceria a Deus todos os dias por ter me concedido tal felicidade.

Harry apertou as mãos em sua cintura com tanta força que quase as machucou.

— É mesmo, Mione?

— Juro que é a mais pura verdade. Se não fosse, por que eu teria tanto ciúme da srta. Berte e das outras mulheres? E de todas as outras mulheres que já se deitaram em seus braços?

De repente, Harry se virou e segurou-a pelos ombros, fitando-a com intensidade.

— Eu gostei de quase todas as mulheres com as quais estive, porém jamais amei alguma como amo você. Você acredita em mim, Hermione? Apesar de tudo que sabe a meu respeito, de todos os meus pecados? Acredita?

— E você também acredita que eu te amo? Apesar de todos os meus erros?

— Sim — respondeu ele, abrindo um belo sorriso. — Eu me atrevo a acreditar em você.

— Então eu também acredito.

— Quero que você compreenda que não haverá nada de mais sério. Temos pouco tempo juntos. Quando Daman chegar…

Hermione tocou-lhe os lábios, impedindo-o de continuar falando.

— Eu entendo, mas não quero que pense nisso agora. Ne­nhum de nós sabe o que o futuro nos reserva.

— Mione…

Ela ficou na ponta dos pés e beijou-o com ternura.

— Eu te amo e você me ama. Se milagres como esse acon­tecem, então tudo pode acontecer.

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LindoOoo esse capítulo...


AmooOoo

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