Capítulo VI



— Shh! — Hermione levou um dedo aos lá­bios e olhou para Luna. — Precisamos ser o mais discretas possível. Você pegou todas as suas coisas? — A criada assentiu com a cabeça, olhando para a janela.

— Não podemos ir por aqui? Não deve ser muito alta, e ninguém nos verá.

Hermione balançou a cabeça enquanto amarrava sua capa.

— Não precisamos nos dar esse trabalho. Eles estão dormin­do pesadamente na taverna. E nenhum daqueles homens é sen­sível o suficiente para nos escutar passando, se formos discre­tas. Agora vamos. Não tenha medo — disse ela, tocando o ombro de Luna para tranqüilizá-la. — O pior que pode nos acontecer é sermos pegas, e o melhor é conseguirmos escapar. — Hermione se endireitou e respirou fundo, levando a mão ao bolso para verificar se a pedra brilhante e a peça de xadrez continuavam ali. O saquinho com o pó de tio Albus estava bem preso a seu cinturão. Determinada, ela seguiu até a porta do quarto.

— Só espero que encontremos os cavalos depressa. Senão, teremos de voltar andando para Londres.

Com cautela, Hermione abriu a porta, alegrando-se por as dobradiças não rangerem. Enfiando a cabeça para fora, ela olhou em todas as direções antes de sair e indicar para que Luna a seguisse. Três passos as conduziram até o topo da pequena escadaria que levava ao canto mais afastado da taverna. A es­cada ficava escondida atrás de uma surrada tapeçaria, e foi aí que ela parou de novo, afastando-a para espiar o salão.

Hermione surpreendeu-se com o que encontrou, mas continuou em silêncio diante da cena repulsiva. Uma grande festa acon­tecera durante a noite e o início da manhã, e todos aqueles que tinham participado agora pagavam o preço. Corpos estavam espalhados pelo grande salão, deitados nas mesas, cadeiras, e até no chão. Vários homens dormiam de boca aberta, roncando alto, mas ninguém nem se mexia. Alguns estavam nus ou seminus, homens e mulheres, e nem o frio da manhã os desper­tava. Havia canecas por todas as partes, e o cheiro de bebida, fumaça e suor era suficiente para qualquer pessoa desacostu­mada àquilo desmaiar. Ela respirou fundo para afastar a náusea e desejou estar fora da taverna, respirando o ar fresco, puro. Esquivando-se do medo que ameaçava fazê-la voltar para o quarto, Hermione atravessou a tapeçaria e olhou a taverna à sua volta, em busca de algum sinal de movimento. Tudo em silêncio. Então deu mais alguns passos, sempre seguida pela criada.

— Onde está Harry Potter? — sussurrou Luna.

— Não o estou vendo — respondeu Hermione, procurando os cabelos negros e despenteados por todos os lados.Harry Potter era um homem muito marcante para não ser notado, mesmo entre to­dos aqueles corpos caídos. Nem ele nem seu criado Ron estavam na taverna, ou mesmo Bostwick, cujo tamanho o tor­nava inconfundível.

— Talvez eles tenham partido sem nós — sugeriu Luna.

— De jeito nenhum. Devem estar enfiados em algum quarto com prostitutas. Vamos logo.

Elas seguiram em silêncio, passando em meio aos corpos es­palhados por todos os lados, cuidando para não pisar em alguma mão ou pé. De vez em quando alguém resmungava e se virava de repente, assustando-as, mas ninguém acordava, permitin­do-lhes continuar com a fuga.

Quando alcançaram a porta da taverna, Hermione parou.

— Não pode ser — murmurou ela, tocando o trinco aberto. — Duvido que eles tenham ficado tão bêbados a ponto de es­quecer a porta destrancada. — Ela se virou e olhou para o salão desordenado. — Potter deve estar acordado, escondido em al­gum lugar esperando para nos pegar em flagrante. Não acredito que deixaria a porta aberta se já não estivesse lá fora, nos aguardando. É uma armadilha, pode ter certeza!

— Mas, milady — sussurrou Luna —, talvez a porta tenha ficado destrancada porque todos na taverna estavam bêbados demais para se preocupar em trancá-la. Por que ladrões pensa­riam em trancar uma porta? Por medo de ser roubados? Duvido.

— E por que não? — Hermione colocou a mão na tranca. — Bem, se Potter estiver nos esperando lá fora, não vamos deixá-lo irritado. O mínimo que temos a fazer é lhe dizer bom-dia.

Ela abriu a porta e saiu, esperando deparar com Harry e Ron esperando-as com sorrisos no rosto.

Mas não havia ninguém à vista. Em nenhum lugar.

O pátio da taverna estava vazio, e as duas foram recebidas apenas pelo vento frio e pelo sol que começava a nascer. As árvores ainda estavam molhadas da chuva do dia anterior, mas o dia prometia ser claro e ensolarado.

Hermione respirou fundo o ar puro e fresco, contente por não estar mais dentro da taverna. Luna fechou a porta com cuidado, deixando os homens embriagados e o mau cheiro para trás.

— Quem sabe não é a nossa chance — murmurou Hermione, pegando a mão de Luna e puxando-a para o que imaginou ser a estrebaria. — Por favor, meu Deus, permita que seja verdade. Permita que consigamos escapar desses bandidos.

Foi tudo tão simples que Hermione não acreditava que estavam quase conseguindo. Os dois cavalos, em meio aos outros animais do abrigo, foram selados rapidamente. A égua de Ron deixou bem claro seu desconforto por estar sendo tocada por um estranho, porém o garanhão preto, Nimrod, manteve-se em silêncio. O cavalo era tão bonito como seu dono, mas tão grande que ela teve de subir em um banquinho para conseguir passar as rédeas por cima das orelhas dele.

Para montá-los, entretanto, a dificuldade foi maior, princi­palmente por a égua de Ron não aceitar Luna como ama­zona. Depois de algum tempo, as duas conseguiram sair da estrebaria. Então começaram os problemas de Hermione.

— Vamos lá! — disse ela, esporeando os flancos de Nimrod. O cavalo nem se mexeu. Hermione puxou as rédeas para o lado, a fim de guiá-lo até o pátio, mas ele se recusou a obedecer. Com muita calma, acompanhado pela égua de Ron, Nimrod começou a seguir para a lateral da taverna, exatamente para o lugar onde seu mestre, Harry Potter, se encontrava.

Entretidos em uma agradável conversa debaixo da janela do quarto onde as duas tinham dormido, Harry e Ron ar­regalaram os olhos ao ver seus cavalos, comandados pelas pri­sioneiras.

Harry gritou, surpreso, e Ron correu em direção à égua. Hermione, sem pensar duas vezes, jogou-se da sela, caindo graciosamente na lama. Nimrod, por sua vez, continuou a andar até seu mestre.

O grande animal era como uma parede entre Hermione e o seqüestrador. Tudo que ela enxergava eram as pernas de Harry. Quando aquelas pernas começaram a vir em sua direção, ela afastou o choque momentâneo que a mantivera imó­vel e se levantou. Então puxou a saia para cima e saiu correndo o mais depressa que conseguiu.

Harry gritou de novo, correndo atrás dela, en­quanto Ron tentava pegar as rédeas de sua égua des­contente.

Mesmo correndo, Hermione sabia que era tolice. Teria muita sorte se conseguisse alcançar o portão do pátio antes que Harry Potter a pegasse, mas o som das pesadas botas se aproxi­mando fizeram-na correr ainda mais. As saias pesavam cada vez mais em suas mãos, e o ar frio da manhã queimava-lhe a garganta cada vez que ela inspirava.

— Senhorita! — chamou ele, logo atrás. Hermione sentiu a mão em seu ombro.

— Não! — Ela parou na mesma hora, mas Harry não con­seguiu controlar o peso de seu corpo e os dois caíram no chão enlameado.

Hermione quase foi esmagada pelo peso do corpo dele.

— Saia! Saia de cima de mim! — gritou ela, debatendo-se. No instante em que sentiu-se aliviada, Hermione virou-se de­pressa e o empurrou para a lama ao lado.— Brutamontes! — ralhou ela, empurrando-o novamente quando Harry tentou sentar-se. Jogando-se em cima dele, Hermione o impediu de se levantar. — Maldito!

— Como você conseguiu sair da taverna? — perguntou ele, furioso.

— Pela porta da frente! — gritou ela.

— Pela… — Harry segurou-a pelos ombros, puxando-a para perto até que estivessem se olhando nos olhos. — Impossível!

— Não foi impossível! Eu só me arrependo de ter ido à es­trebaria atrás daqueles malditos cavalos! Deveríamos ter fugido correndo! A esta hora já estaríamos bem longe daqui! — Hermione soltou-se das mãos de Harry e sentou-se na lama.

Harry ficou deitado, olhando-a e balançando a cabeça.

— Você saiu pela porta da frente… e eu tinha certeza abso­luta de que tentaria escapar pela janela. Que tipo de mulher é você, saindo pela porta da frente como se pudesse não ser pega?

Hermione tentou, em vão, tirar a lama de sua mão, depois o olhou com desdém.

— Uma mulher esperta o suficiente para saber que seria pega se tentasse escapar por um lugar tão óbvio quanto a ja­nela. Eu não sou tão tola assim.

— Nem eu — respondeu ele, nervoso. — E me enganei, achan­do que você tentaria escapar pela janela, mas sabia que tentaria de alguma maneira, apesar do juramento que fez.

— Eu jurei que não tentaria escapar durante a noite — res­pondeu ela. — O dia já amanheceu.

— Eu entendi perfeitamente o que você quis dizer quando fez a promessa. Mas eu passei as últimas três horas parado nesse frio, esperando que você escapasse pela janela.

Ao contemplar aquela cena patética, Hermione não conseguiu conter a risada. Um homem daquele tamanho deitado na lama, enfurecido por ter sido passado para trás por uma mulher, era quase ridículo.

— Não ria, srta. Hermione — advertiu ele, apontando-lhe o indicador. — Eu não serei motivo de zombaria depois de quase ter congelado por sua causa. E Ron também.

Era impossível. Hermione começou a rir, pensando nos dois pa­rados debaixo da janela por tanto tempo, esperando e plane­jando de antemão como seria capturar as duas prisioneiras quan­do elas tentassem escapar por aquela mesma janela. E as duas tinham saído pela porta da frente. Era muita tolice. Sem con­seguir se conter, ela caiu na risada.

— Não vejo graça — disse Harry. — Você não tem senti­mentos. Eu a tratei tão bem e é assim que você me paga?

Hermione quase não tinha fôlego para respirar de tanto que ria.

— Pela janela! — disse ela, entre risadas. — Você ficou pa­rado embaixo da janela! Esperando por nós. — Hermione ria tanto que seus olhos se encheram de lágrimas.

— Você é cruel — ralhou Harry. — Cruel e sem coração.— Hermione riu ainda mais. Ron e Luna se aproximaram dos dois, e as perguntas murmuradas foram motivo de mais risadas. E então, quando ela começava a se acalmar, foi a vez de Harry. A princípio, um riso calmo e contido, mas depois vieram as gargalhadas. E assim ficaram os dois, incontroláveis.

— Meu Deus! — exclamou Luna. — Eles enlouqueceram.— Ao escutar essas palavras, Hermione teve um novo acesso, e achou que jamais conseguiria parar.

Algum tempo mais tarde, os dois se acalmaram, deitados na lama, suspirando. Hermione sentiu-se fraca e quando foi se levan­tar, notou que estava sentada de maneira nada elegante.

Horrorizada, ela descobriu estar sentada sobre a parte mais íntima do corpo de Harry, e saiu de cima dele o mais depressa possível, como se estivesse sentada em brasas. Os dois pararam de rir e se entreolharam por um longo instante… e recomeçaram a rir.

Com a ajuda de Luna e Ron, ela se levantou.

— Precisamos de um banho — comentou Harry, olhando para seu estado lastimável.

— É verdade — concordou Hermione .

Eles caíram na risada outra vez, mas logo foram interrom­pidos por Luna que, impaciente, puxou Hermione pelo braço. Ron fez o mesmo com seu mestre.

— Vamos voltar para a taverna antes que o estrago seja maior — falou Ron. — Olhe o que elas fizeram. Toda a taverna acordou.

Era verdade. Hermione e Harry avistaram os ocupantes da taverna, todos do lado de fora, que os olhavam espantados. Bostwick, o que mais se destacava, tinha os olhos arregalados.

— Bostwick! — gritou Ron, conduzindo seu mestre para dentro. — Precisamos de dois banhos! Urgente!

— Mas eu não tenho nada preparado!

— Não me interessa! Acorde alguns homens e mande-os bus­car água. Esses dois vão tomar banho frio, mas vão tomar ba­nho. — Ele empurrou Harry para a cadeira mais próxima, então o encarou com irritação. — Qualquer um que o visse nesse estado acharia que você está bêbado. Agora terá de viajar molhado, bem mais molhado do que já estava.

— Não, eu vou viajar bem seco — respondeu Harry, com um belo sorriso.

Ron balançou a cabeça.

— Você está imundo. Suas roupas precisam ser lavadas. To­das. E suas botas também.

— Pode lavar tudo — disse ele, começando a tirar os sapatos. — Elas estarão secas antes de partirmos. A Srta. Hermione cuidará de tudo, não é?

Ele olhou para a jovem, que entendeu perfeitamente o reca­do. Hermione sabia não ter outra escolha a não ser usar o pó de seu tio se não quisesse ter sua 'magia' revelada. Não que o culpasse por isso. Ela mesma também não queria vestir roupas molhadas o dia todo.

E apesar de não dever nada para aquele seqüestrador, ­Hermione lhe faria esse favor pela diversão que ele lhe proporcionara ao esperá-la debaixo da janela.

— Sim, Harry — disse Hermione, já saboreando o banho que tomaria. — Eu cuidarei para que suas roupas fiquem secas.

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Esse é o meu capítulo favorito...

Espero que gostem!!!

E comentem muito hem!!!

Jessi, obrigada pela capa, ta lindaaaa viu,..Amei d+!!!

Capítulo dedicados a essas pessoinhas lindas que comentam as mihas fic:

*** Sarinhaaa ***
Alais Potter
Amor
PAULA POTTER
Adriana Paiva

Valuuu!!!Adoru Vcs..

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