Capítulo III



Hermione cruzou os braços e levantou os olhos, fi­tando seu seqüestrador sem piscar. Ele a olha­va de volta com o mesmo sorriso encantador nos lábios, mostrando-se contente por ficar em silêncio, desafiando-a a uma competição de forças.

Aquele homem era exatamente o tipo que ela mais despre­zava. Bonito e ciente de seus encantos, julgava que um simples sorriso era capaz de seduzir uma mulher. Ainda mais uma mu­lher sem muitos atrativos, como era o seu caso. Sim, ele era bonito, admitiu Hermione, talvez o homem mais bonito que já vira na vida. E com certeza o mais sedutor. Mas isso não importava. Se acreditava que ela cairia em suas garras, estava enganado. E como! Hermione aprendera a proteger seu coração havia bas­tante tempo. Jovens desprovidas de beleza aprendiam cedo. E depressa.

Os olhos dele eram de um verde estonteante, bastante claros, contrastando com os cabelos negros e despenteados. O rosto aristo­crático revelava um nariz aquilino e as maçãs altas. Os lábios… bem, Hermione preferia não se prolongar naquele traço em espe­cial. Era uma boca muito sensual, especialmente sorrindo da­quele jeito. Um sorriso que devia ter assolado muitos corações no passado.

Que tolice a dele achar que ela seria tão ingênua quanto as outras a ponto de… Mas Hermione tinha de admitir que era desconcertante ser olhada daquele jeito. Nunca recebera um sor­riso assim, não de um homem, muito menos de um homem tão bonito como aquele bandido.

Agora já estavam bem longe de Londres, pelo menos várias milhas. Ah, como quisera gritar por socorro nos portões da ci­dade! Entretanto, Luna continuava desmaiada, completamente vulnerável, e o seqüestrador mostrara que não hesitaria em usar seu punhal, se preciso fosse. Portanto, achou melhor obe­decer as ordens dele naquele momento. Depois encontraria uma maneira de se livrar dele.

Quando o bandido percebesse que ela não tinha dinheiro e que seus parentes não saberiam o que fazer para resgatá-la, pois tinham pouco conhecimento do mundo e nenhum acesso à fortuna da família, o sujeito certamente as soltaria. Não havia nada mais que pudesse querer, a não ser que fosse de Luna. Hermione sabia que não era uma mulher atraente, apesar dos sorrisos sensuais que o homem lhe dirigia.

Sendo assim, resignada a obedecer até que pudessem discu­tir, Hermione repetiu o que ele lhe instruíra a dizer para os guar­das. Reconhecendo-a, os homens abriram os portões e eles pas­saram. Pouco depois, Luna recobrou os sentidos, e Hermione pas­sou a meia hora seguinte tentando tranqüilizar sua criada e fazer com que ela parasse de chorar. A pobre, atordoada e as­sustada, ficou sentada em silêncio, com os dedos entrelaçados no colo, engolindo o choro e o pânico que a consumia.

Preparada para lidar com seu captor, Hermione cruzou os bra­ços e esperou que ele se pronunciasse. Irritada com a insolência do homem, que se manteve em silêncio, ela cedeu.

— Eu lhe garanto que você não receberá um único centavo com esse plano — começou Hermione — Entretanto, terá muita sorte se sua única recompensa for escapar da punição do rei, que, no mínimo, será o enforcamento. Porém, você só se livrará desse destino se parar com essa brincadeira agora, meu caro. Caso contrário, terá o que merece. Eu mesma vou cuidar para que isso aconteça.

O homem pareceu se divertir com as palavras de Hermione, pois continuou a olhá-la, apenas assentindo com a cabeça.

— Quanta bondade em se preocupar com o meu bem-estar, senhorita — disse ele, algum tempo depois — mas temo não poder acabar com essa… brincadeira, nem pela minha própria vida nem pela do meu companheiro. Eu já aceitei uma parte do pagamento pelo serviço e, desse modo, não posso dar prio­ridade à minha honra, por menor que seja.

Glenys arregalou os olhos, surpresa.

— Alguém lhe pagou para me seqüestrar? Quem foi? E com que objetivo? Estou lhe dizendo que não haverá nenhum res­gate, mesmo que você ameace me matar.

Diante dessas palavras, o captor franziu as sobrancelhas.

— Sua família a tem em alta estima, senhorita. Tenho cer­teza de que eles pagariam muito bem para garantir sua volta ao lar, e principalmente para mantê-la viva. Todavia, você não foi capturada com essa intenção, por um resgate. Eu fui con­tratado por seu amante, Sir Draco Malfoy, para mantê-la a salvo em um local onde…

— Sir Draco! — gritou Hermione, interrompendo-o.

— Ah, não! — exclamou Luna.

O estranho olhou para as duas sem entender nada.

— Ele não é seu amante?

Hermione, incrédula, levou a mão à testa e fechou os olhos por alguns instantes.

— Claro que não, seu idiota! — berrou ela, pouco depois. — Ele é o meu maior inimigo! O homem que quer arruinar e levar minha família à miséria!

Por fim, o sorriso sumiu do rosto do seqüestrador.

— Nesse caso, sinto muito, pois está claro que ele ocultou suas verdadeiras intenções. Mas eu bem que desconfiei, pois ele me pareceu um sujeito covarde e inseguro. Mesmo assim, concordei em seqüestrá-la, e a manterei minha prisioneira até que ele venha buscá-la.

— Prisioneira? Até que ele venha me buscar para quê? Quais foram as mentiras que Sir Draco lhe contou?

— Em primeiro lugar, ele me disse que é seu amante, mas que sua família se recusa a concordar com o casamento de vocês, pois não o consideram um pretendente adequado. Todavia, co­mo está prestes a enriquecer e a elevar seu título, ele acredita que, assim, seus parentes o aceitarão. Por outro lado, Sir Draco teme que você seja obrigada a casar-se com outro homem antes que ele atinja seus objetivos, e é aí que eu entro. Ele me con­tratou para mantê-la escondida na fortaleza de York, longe da sua família até que, no auge de sua glória, possa voltar para pedi-la em casamento.

Em um gesto cheio de charme, Harry passou as mãos nos cabelos.

— Eu já disse que achei essa história absurda — admitiu ele, sem a menor vergonha — porém tenho meus próprios mo­tivos para ter aceitado a tarefa. E é por essas razões que pre­tendo ir até o fim.

— Você deve ter sido muito bem pago — falou Hermione, com desgosto — Na realidade, Sir Draco tem inúmeros motivos para me querer fora de seu caminho. E que brincadeira absurda dizer que somos amantes. Ele decerto imaginou que você descobriria a verdade assim que deitasse os olhos em mim.

Para seu próprio mérito, o bandido não riu, o que Hermione esperava que acontecesse. Ele continuou a fitá-la com toda a calma, sem demonstrar qualquer tipo de reação.

— Se esse realmente foi o pensamento de Sir Draco, ele não faz idéia de como se enganou. Compreendo o que você está in­sinuando, senhorita, e isso apenas prova, mais uma vez, que você sabe muito pouco sobre a verdade.

— Eu sei perfeitamente que nenhum homem diria que é meu amante a não ser que fosse por brincadeira — respondeu Hermione, nervosa por estarem discutindo sobre beleza — Muitos, entretanto, talvez o dissessem por dinheiro, e imagino que seja esse o caso. Portanto, peço que discutamos o assunto agora. Com clareza e sem rodeios. Sir Draco lhe pagou muito bem, mas eu posso pagar mais. Quanto você quer para nos soltar e parar com essa tolice? Eu juro, em nome da minha honra, que lhe entregarei o dinheiro e o deixarei partir em paz. Não co­mentarei o assunto com ninguém, e cuidarei para que John e Willem também se mantenham calados. Mande parar a carrua­gem para acertarmos os termos do acordo.

— Sinto muito, Srta. Hermione, por ser tão descortês — disse ele — Saiba que nenhuma quantia em ouro me faria desistir dessa tarefa. Além do acordo com Sir Draco, tenho meus pró­prios motivos para seqüestrá-la e mantê-la presa. Talvez deva­mos recomeçar. Permita que me apresente. Meu nome é Harry James Potter, e é um prazer conhecê-las, Srta. Hermione e Srta. Luna — Ele inclinou-se para a frente e fez uma mesura com a cabeça. Hermione desejou saber como reagir em um momento tão vul­nerável, mas tudo que fez foi elevar as mãos em sinal da fúria que a acometia.

— Não me interessa saber quem você é! Como posso fazer você compreender? Sir Draco não virá me buscar! Ele jamais virá me buscar, pois quer me ver longe de seu caminho. De preferência morta.

A expressão de Harry tornou-se mais séria.

— Então para que ele me contratou? Pelo menos para for­çá-la a um casamento indesejado. Mesmo que vocês não sejam amantes, você acha provável que Sir Draco queira sua fortuna?

— Não é ouro que ele quer — explicou Hermione — E sim um tesouro que pertence há gerações aos Granger. Ele pretende encontrar esse tesouro, que saiu de nosso poder, antes de mim.

— Ah… — murmurou o seqüestrador, compreendendo. — A Pedra da Graça. É esse o tesouro?

A surpresa em saber que ele conhecia o segredo de sua fa­mília a deixou momentaneamente muda.

— Ele sabe de tudo, milady! — sussurrou Luna, assustada. — Ele é cúmplice de Sir Draco!

— Não, não sou — defendeu-se imediatamente Harry, vol­tando a atenção para a criada. — Os motivos que levaram Sir Draco a querer a captura de sua senhora não significam nada para mim, embora eu deva admitir que eles me deram a opor­tunidade de agir. Eu sei sobre a Pedra da Graça porque ele me advertiu que a Srta. Hermione resistiria em ser capturada por estar em busca desse suposto tesouro. — Ele olhou para a jo­vem — Pelo menos sobre esse assunto Sir Draco não mentiu.

— Não é bem a verdade, porém o suficiente — respondeu ela, perdendo um pouco de sua costumeira vivacidade. A cada frase proferida, eles se afastavam mais e mais de Londres. A carruagem seguia depressa, e o céu escurecia com nuvens car­regadas. Seus tios e tias começariam a se preocupar se não voltasse logo para casa. Ou talvez não, concluiu Hermione, pois eles pareciam saber que a sobrinha não retornaria tão cedo a Metolius. A lembrança de sua partida a fez emitir um gemido.

Por que não a avisavam quando coisas desse tipo iam acontecer? Por que tudo sempre tinha que ser um mistério?

— Por favor — implorou ela — Escute e compreenda o que eu tenho a lhe dizer. A Pedra da Graça é um antigo anel, que passou por várias gerações da minha família, desde a época dos romanos. E um objeto de grande valor para os Granger, apenas sentimental. Entretanto, algumas pessoas acreditam que o anel possui poderes místicos, o que não passa de uma grande tolice. E Sir Draco está entre elas. O anel foi roubado de nossa resi­dência em Londres, Metolius, enquanto estávamos passando uma temporada na propriedade da família em Gales. O homem que o roubou é… bem, isso não interessa. O que importa é que sei quem foi, e eu pretendia sair atrás desse ladrão no início do próximo mês. Sir Draco conhecia os meus planos e decidiu me impedir.

— Ele quer encontrar Caswallan antes de você, não é? — perguntou Harry.

Mais uma vez, Hermione ficou espantada.

— Sir Draco lhe contou sobre Caswallan? Esse homem é bem mais burro do que eu imaginava! — exclamou ela, fixando os olhos no captor. — Você é cúmplice dele! Só pode ser, caso contrário não estaria insistindo em um assunto tão infrutífero.

— O único acordo que fiz com Sir Draco foi para seqüestrá-la, senhorita. Nada mais. Não tenho o menor interesse na Pedra da Graça, se é que ela existe ou tem poderes mágicos.

— Claro que não tem poderes mágicos. Trata-se apenas de um velho anel sem nenhum valor. Só que não permitirei que Sir Draco se apodere de um tesouro que pertence à minha fa­mília. Ele acredita ser um feiticeiro dotado de grandes habili­dades, e acha que a Pedra da Graça o tornará ainda mais poderoso.

Com essas palavras, Harry finalmente riu, inclinando a ca­beça para trás e mostrando seus dentes brancos e perfeitos. Naquele momento, Hermione notou, para piorar seu agastamento, que ele era um homem extremamente bonito, com traços fortes e marcantes, ainda mais quando sorria.

— Sir Draco? Feiticeiro? Você só pode estar brincando — disse Harry, sem conseguir conter a risada. — Desculpe, mas é demais para mim. Ele me parece mais um rato bem vestido do que um homem dotado de poderes mágicos.

— Não me importa o que pareça — interveio Hermione — mas sim que ele conseguiu me impedir de chegar antes até Caswal­lan. Preste atenção, Sir Draco não pode ter a Pedra da Graça nas mãos. Se isso acontecer, minha família jamais terá a chance de recuperá-la. Você precisa parar com essa bobagem agora mesmo e nos deixar ir embora!

Harry respirou fundo e parou de rir.

— Não posso.

— Por quê? Agora que você já sabe que Sir Draco não irá me buscar, não há razão para seguir adiante com esse plano! E eu já disse que lhe pago bem mais! Imagino que você já tenha percebido que não receberá mais nada dele. Na realidade, é provável que sejamos surpreendidos por bandidos bem mais perigosos do que você em algum momento dessa viagem. E eles não hesitarão em nos matar.

Incrédulo, Harry Potter não desgrudou os olhos de Hermione.

— Como assim? Sir Draco não tem nenhum motivo para matá-la, mesmo que tudo que você me contou seja verdade. Além do quê, ele não tem o perfil de um assassino.

— É aí que você se engana. Sir Draco sabe que não vou parar de acusá-lo de traidor, e isso já é suficiente para ele que­rer a minha morte. E mataria outras pessoas que interferissem em seu caminho, incluindo você.

A julgar pela expressão no rosto de Harry Potter, ele não tinha acreditado em uma única palavra do que ela dissera.

— Sir Draco teria grandes dificuldades em tentar me matar, e você também, enquanto estiver sob os meus cuidados. Não sou um cavalheiro da realeza, mas já enfrentei alguns em ba­talhas e saí vencedor. Não tenho medo de homem nenhum, muito menos de tipos como Sir Draco Malfoy.

Apesar de desejar que não fosse assim, Hermione teve de ad­mitir que o homem sentado à sua frente seria perfeitamente capaz de acabar com um bando de hábeis lutadores sozinho. Harry era musculoso e se movimentava com extrema graça e desenvoltura, o que poderia lhe colocar em vantagem diante de outros homens.

— Talvez não tenha medo de Sir Draco — disse ela — Mas seria uma grande tolice não considerar que, entre meus paren­tes, há alguns que o enfrentariam sem medo. Meu irmão em primeiro lugar, Sir Daman Granger. Duvido que você nunca tenha escutado falar dele, ou de suas habilidades. Em caso ne­gativo, gostaria de lhe informar que Daman é um exímio cava­lheiro do reino, capaz de impor justiça a homens da sua laia.

O sorriso charmoso voltou aos lábios carnudos de Harry Potter.

— Eu sei muito bem quem é seu irmão, Srta. Hermione.

— Então também deve saber que ele e seus homens virão atrás de mim no instante em que souber o que você fez. Daman encontrará essa fortaleza e o castigará sem piedade, obrigando-o a implorar por salvação.

Mais uma vez, Harry soltou uma sonora risada.

— Você fala em amor e honra, senhorita, mas certamente tais palavras não lhe soam tão tolas quanto para mim. Na rea­lidade, espero que Sir Daman siga nosso rastro e nos encontre. E logo. Será um prazer enfrentá-lo cara a cara.

Hermione entreabriu os lábios, cada vez mais pasma.

— Você não pode estar falando a sério — murmurou ela — Meu irmão lhe matará quando o encontrar. Não é brincadeira.

— Ele pode tentar. E saiba que não vai conseguir. É bem capaz que eu o mate antes.

Hermione balançou a cabeça.

— Então essa história toda não tem nada a ver com Sir D­raco, como você afirmou. É por causa de Daman que está agindo assim. Mas por quê? Você tem algum tipo de rivalidade com meu irmão? Não, não pode ser. Daman não tem inimigos, a não ser aqueles que também são inimigos da família, como Sir Draco e Caswallan. E já que não é cúmplice deles, por que quer atrair a ira de Daman?

— Meus motivos são particulares, senhorita, e continuarão sendo. Agora pelo menos você compreendeu que eu não a dei­xarei partir, portanto é melhor aceitar e resignar-se. Meu cria­do, Ron Weasley, que está conduzindo a carruagem, e eu não lhe causaremos nenhum mal, e nem à Srta. Luna. Pretendo man­tê-la cativa até que seu irmão, ou Sir Draco, ou ambos, venham buscá-la. Até lá, peço-lhe que não me cause qualquer tipo de problema. Tenha em mente que não conseguirá escapar e que permaneceremos algumas semanas debaixo do mesmo teto. Sen­do assim, sugiro que tente ficar o mais à vontade possível.

— Senhor — começou Hermione, exasperada — Você não pode estar achando que minha criada e eu ficaremos à vontade na condição de prisioneiras. Sua sugestão é um verdadeiro absur­do, um disparate!

Harry a olhou fixamente com seus olhos verdes, tão cheios de sensualidade que toda a pele de Hermione se arrepiou.

— Mesmo a situação mais desagradável do mundo pode tor­nar-se divertida e prazerosa, Srta. Hermione — falou ele, com a voz baixa e sedutora. — Eu já passei várias vezes por experiên­cias do tipo. Na verdade, é um jogo muito interessante.

O sentido daquelas palavras foi óbvio, provocando um rubor imediato no rosto da jovem. Se não tivesse absoluta certeza de que não passava de uma provocação, Hermione teria se derretido toda. Por Deus! Além de bandido, aquele homem era um hábil sedutor. O temor não era por si, mas sim pela criada. Luna era jovem e bonita, com os cabelos loiros e olhos azuis que tanto encantavam o sexo oposto. Seria um alvo perfeito para Harry Potter, apesar de ele ter olhado apenas duas vezes na direção da moça. Teria de tomar o máximo cuidado para que nada acon­tecesse com Luna, a quem considerava como uma irmã caçula.

A criada, por sua vez, parecia nem ter prestado atenção no seqüestrador, o que deixou Hermione bastante aliviada. A última coisa que precisava era que Luna se apaixonasse por aquele homem. E sem dúvida era o que acontecia com a maioria das mulheres que o conheciam.

— Ah, meu Deus… — murmurou Luna, cabisbaixa. — O que será do mestre Albus, do mestre Culain e de suas tias? O que lhes acontecerá se você não voltar para Metolius? Não há mais ninguém para cuidar deles.

Hermione pensava o mesmo, agora que estava bem claro que não conseguiriam fazer o captor mudar de idéia.

— Sim, o que será dos meus parentes idosos? Eles não estão acostumados a ficar sozinhos, sem alguém que cuide deles.

— Mas você não pretendia deixá-los quando partisse em bus­ca da Pedra da Graça? — perguntou Harry.

— De forma alguma. Eu já havia combinado com minha pri­ma Helen para ficar com eles na minha ausência. Todavia, ela só deverá chegar dentro de três semanas, no mínimo. Agora eles ficarão sozinhos, sem saber o que fazer.

— Humm…

Harry colocou um longo e belo dedo no queixo e ficou em silêncio por um momento, analisando a questão. Hermione sur­preendeu-se por ele estar considerando seu problema.

— Se eu conseguir encontrar uma maneira de você mandar uma carta para sua prima pedindo-lhe para ir antes para Metolius, você me promete que não revelará quem a capturou e para onde estamos indo? — disse ele, por fim.

— Não — respondeu Hermione imediatamente, antes que pu­desse pensar. — Não vou fazer nenhum tipo de promessa.

— Como não? — gritou Luna — Você precisa fazer isso para que nada aconteça a seus tios. Infelizmente, não há outra saída.

Hermione sabia, mas sentia-se uma grande tola.

— Está bem — concordou ela, apertando a mão que Luna colocara sobre a sua — Eu prometo, apesar de duvidar que você consiga encontrar uma forma de mandar essa carta.

— Eu tenho muitos amigos, senhorita — disse ele, com um sorriso sedutor — Você logo descobrirá. Não tenho dificuldades em conseguir o que quero.

— E eles são tão fiéis a ponto de se rebaixarem e ajudá-lo em um crime atroz como esse?

— Sim. A maioria deles é como eu.

— Muito bem — respondeu Hermione.

Irritada, ela cruzou os braços e olhou para fora. Estava es­curo e caía uma chuva fina, que respingava ligeiramente no interior da carruagem. Se piorasse, seriam forçados a fechar as cortinas, e ficariam cerrados na escuridão. Era um pensamento infeliz, mas não havia como impedi-lo. Nada daquilo podia ser evitado, infelizmente. Tudo que tinha a fazer era aceitar seu destino e rezar para que a pedra branca em seu bolso não co­meçar a brilhar. Hermione não queria dar explicações ao perverso seqüestrador. Ele já sabia demais sobre a sua vida.

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