Capítulo I



— Tio Albus?

Hermione abriu um pouco mais a porta do porão, tentando enxergar melhor o que acontecia no aposento abaixo. Uma fumaça azul aromática, cheia de faíscas, certa­mente devido à mistura de produtos químicos preparada por seu tio, invadiu o corredor. Ela balançou a mão na frente do rosto, tentando se livrar da substância que ameaçava sufocá-la.

— Tio Albus?

— Espero que não tenha bebido uma de suas poções outra vez — Luna, a criada de Hermione, arregalou os olhos só de pensar na hipótese — Você lembra o que aconteceu da última vez? Não gosto nem de tocar no assunto. Não sei por que suas tias permitem que o mestre Albus fique enfurnado nesse porão por tanto tempo!

— Ah, meu Deus! — exclamou Hermione, recordando-se perfei­tamente do incidente, bem como de todos os outros — Segure a porta para que eu possa descer.

Os degraus que levavam para o esconderijo subterrâneo eram estreitos e curtos, e Hermione tomava o máximo cuidado para não cair, puxando a saia para cima.

— Tio Albus? Você está bem? — Assim que os degraus terminaram, ela seguiu na direção da longa mesa onde o tio mantinha todos seus pós e poções. Empurrando vigorosamente a fumaça para longe do rosto, Hermione tentava enxergar algo — Você me prometeu que nunca mais ia beber uma de suas experiências. E, por sorte, dessa vez produziu apenas fumaça, não causando nenhuma explosão.

Quando conseguiu enxergar alguma coisa, Hermione deparou-se com o tio deitado no chão de braços abertos, como se tivesse sido nocauteado.

— Tio! — gritou Hermione, ajoelhando-se ao lado dele — Tio Albus, fale comigo!

O velho tossiu e, com a ajuda dela, sentou-se no chão.

— Estou bem — insistiu — Não aconteceu nada. Foi só um susto.

— Fique sentado — ordenou Hermione, vendo que Albus queria se levantar — Vou buscar um copo de vinho. Descanse um pouco até conseguir se restabelecer.

Com movimentos ágeis, Hermione ficou em pé, mas notou que a fumaça estava mais densa do que antes, e brilhando com mais intensidade. Algumas faíscas atingiram-lhe o rosto e as mãos, irritando a pele, porém sem machucá-la. Uma breve busca foi suficiente para revelar a fonte da travessura: um pequeno pote de vidro em cima da bancada de trabalho.

Bem depressa, Hermione tampou o recipiente, acabando com a fonte da fumaça. Então, tateando a mesa às cegas, ela procurou um pote do mesmo ta­manho e o abriu. Pegando um pouco da mistura gelada e cris­talina, a jovem deu um passo para trás e jogou-a no ar. Mais faíscas inundaram o porão, dessa vez vermelhas e brancas. Qua­se que imediatamente, a fumaça começou a se dissipar, e minutos depois havia desaparecido. Albus suspirou, aliviado.

— Cheguei tão perto dessa vez — disse ele — Gostaria de saber qual elemento ficou faltando. Já tentei tantas vezes…

Hermione já tinha ido até outra mesa para servir uma taça de vinho ao tio.

— Quando você menos esperar, a solução aparecerá, tio — falou ela, ajoelhando-se — Tenha mais cuidado. Se alguém con­tar para o xerife que viu fumaça colorida saindo da chaminé outra vez, nós enfrentaremos grandes problemas. Não sei se conseguirei convencê-lo mais uma vez.

O velho bebeu todo o vinho do copo e devolveu-o para a so­brinha.

— Você é uma garota tão boa, Mione — disse ele, afagando-lhe a mão — Se não fosse por você, todos nós já teríamos sido queimados na fogueira como bruxos.

— Não, não é assim, tio — assegurou ela, mesmo sabendo, no fundo do coração, que Albus falava a verdade.

Aos vinte anos de idade, Hermione já salvara os tios e tias dos mais diversos apuros. Nenhum deles representava qualquer ti­po de perigo, porém tinham costumes considerados estranhos para a sociedade, o suficiente para mandá-los para a fogueira.

Gostaria de poder mantê-los durante o ano todo na proprie­dade da família em Gales, pois lá estavam sempre a salvo. En­tretanto, eles insistiam em acompanhá-la a Londres nos seis meses que ficava na cidade cuidando dos inúmeros negócios dos Granger. E em Londres, seus tios e tias tornavam-se vulnerá­veis a hábeis falcões de caça como pequeninos coelhos recém-nascidos.

Hermione tinha apenas duas defesas para mantê-los a salvo em Metolius, a habitação palaciana da família em Londres. Em primeiro lugar, os Granger contribuíam financeiramente com a Igreja e a Coroa, o que lhes dava segurança diante de qual­quer problema mais sério. Além disso, Daman, irmão dela, era um renomado cavaleiro do reino, e cavalgava pelo país com seu exército, angariando a simpatia do povo e propagando o sobre­nome da família.

Enquanto a fama e os feitos de Daman continuassem a exis­tir, os Granger estavam a salvo, mas a própria Hermione tinha de admitir que não era uma tarefa fácil. Sempre sonhava em poder se livrar desse fardo, mas sabia que isso jamais aconte­ceria. Fazia muito tempo que ela e o irmão se dedicavam ao bom nome da família, tendo abdicado de muitas outras coisas.

— Basta — disse Albus, com a energia renovada — Não posso ficar sentado o dia inteiro — Apoiando-se no braço ofe­recido pela sobrinha, ele se levantou — Temos muito o que fazer antes de você partir. Ah, minha filha, será tão difícil e estranho para nós quando você se for…

Soltando-a, Albus voltou para sua mesa de experimentos, onde começou a arrumar seus frascos e potes.

— Metolius não será a mesma. Na verdade, nem sei como suportaremos. Entretanto, não há nada a fazer — falou ele, prático — E você, minha filha, não precisa se preocupar conosco. Eu cuidarei para que Mim e Wynne se comportem bem enquanto você estiver em busca da Pedra da Graça. E proibirei terminantemente que seu tio Culain saia de Metolius, a não ser para ir à missa.

Hermione sorriu para o velho.

— Eu vou apenas até o banco falar com o Sr. Fairchild, tio Albus, como faço todas as quintas-feiras. Quero acertar os últimos detalhes sobre nossa próxima aventura marítima, e vol­tarei para casa dentro de duas horas. Quanto à Pedra da Graça, você sabe muito bem que não partirei para Gales enquanto Daman não retornar com seus homens. Já combinamos que ele me acompanhará.

— Sim, minha filha, eu sei que está combinado — disse Albus, pegando um pouco do pó que ela utilizara para acabar com a fumaça e colocando-o em uma pequenina bolsa de couro — mas mesmo assim você precisa estar preparada. Amarre-a no seu cinto e tome o máximo cuidado para não perdê-la — Ele apertou as tiras de couro e entregou a bolsa à sobrinha.

Hermione olhou para o tio franzindo a testa.

— Tio, eu não preciso desse pó para ir até a cidade. Você realmente acha que é seguro permitir que uma de suas expe­riências saia de nossa casa? Ainda mais esta? Sei que não é mágica, mas se, de alguma forma, a bolsa se perder e cair em mãos alheias… — O pensamento era muito desagradável para ser dito em voz alta.

— Não tenha medo, Mione — falou ele, entregando-lhe o pequeno embrulho e sorrindo calorosamente — Você precisará desse pó no futuro. Confie em mim, querida. Agora vamos subir. Faço questão de acompanhá-la até a porta.

Albus seguiu na frente pelos degraus estreitos, subindo com extrema graça. Como sempre, Hermione se admirou com a elegância com que seu tio mais velho se movia. Era um homem alto e magro, bem como seus outros irmãos e irmãs, lembrando-a não de um ser humano comum, mas sim de uma criatura semi-humana, semi-animal. O tipo de animal que Hermione não sabia especificar. Seus tios e tias eram ágeis como as cabras das montanhas, delicados e cuidadosos como os cervos e desobedientes como um bando de gatos independentes.

A cor da pele e as feições de todos também eram muito parecidas, embora não fosse algo tão anormal, ainda mais por Mim e Wynne serem gêmeas. Todos tinham cabelos brancos como a neve e olhos azuis e continuavam lindos, sim, lindos. Algumas vezes, ao observá-los, Hermione achava quase impossível ser parente de criaturas tão maravilhosas e incomuns quanto seus tios e tias. Nem ela nem o irmão possuíam características deles, e Hermione tinha plena consciência de que não herdara a beleza daquele ramo da família.

— Venha, minha filha — chamou Albus, apressando-a — Não se demore tanto assim. Outra oportunidade como essa não surgirá tão cedo.

— Só vou me encontrar com o banqueiro — repetiu ela, seguindo-o.

— Aqui está Luna, segurando a porta para nós — Albus sorriu e limpou os resquícios de pó do longo manto púrpura que vestia — Você precisará de um manto mais quente, minha querida — disse ele, segurando a porta para a sobrinha passar.

— Vá pegar o mais pesado, e pegue um para Hermione também.

— Mas, senhor… Não está tão frio assim. Ainda estamos em maio.

— O frio chegará com a noite, quando menos se espera — insistiu ele, afagando-lhe o braço — Vá depressa. Pegue seu manto mais pesado, e não seja teimosa.

Luna olhou para Hermione, que suspirou e assentiu. Antes de sair correndo, a jovem fez uma breve mesura.

— Você também precisará de roupas mais quentes, Mione, só que Mim já cuidou disso. Vá até o grande salão despedir-se de todos. E amarre a bolsa de couro na cintura. Não quero que você corra o risco de perdê-la.

— Tio Albus, eu vou apenas ao banco. Não sei para que tantas recomendações. Você sabe que todas as quintas-feiras são assim.

— Sim, sim, claro que sim. O que também é muito bom. Gosto de ver você passeando por aí.

O grande salão de Metolius era um aposento espaçoso, acon­chegante e convidativo. As paredes eram recobertas por cere­jeira e o chão adornado com tapetes italianos coloridos. Em uma das paredes, janelas altas iluminavam o ambiente nos dias ensolarados, e uma série de luminárias dinamarquesas dispostas em intervalos nas outras paredes cumpriam a mesma função à noite. Seis fogões grandes e bonitos aqueciam o salão durante o ano todo, especialmente com a chegada do frio.

A família se reunia todas as noites no grande salão, e tam­bém ao longo do dia. Cada um tinha seu lugar predileto. Albus gostava de ficar ao lado de uma estante para ler seus manuscritos, que eram guardados ali. Hermione ficava ao lado da lareira, bordando ou costurando qualquer roupa que precisasse de reparos. O tio Culain sentava-se bem perto, à mesa de xa­drez, mudando de uma cadeira para outra, pois gostava de jogar consigo mesmo, como fazia naquele momento. Mim e Wynne se acomodavam próximo às janelas, para poderem olhar para os jardins e o pátio enquanto conversavam. Entretanto, nunca per­diam de vista sua caixa especial, sempre rindo e discutindo cada descoberta. Agora as duas estavam sentadas em suas ca­deiras, olhando dentro da caixa de madeira, para os objetos que apareciam.

— O que é isso? — perguntou Mim, pegando um pequeno e fino embrulho e segurando-o contra a luz. — O que você acha, Wynne?

A outra mulher observou o pedaço de papel com atenção, apertando os olhos para ler as letras vermelhas impressas ao longo do objeto.

— B-a-n-d-a-i-d — repetiu ela, lentamente. — Tenho certeza de que já vi isso antes… o que quer que seja esse pedaço de papel embrulhado.

— Não, minha querida — interveio Mim, devolvendo o objeto para a caixa e fechando-a. — A caixa nunca mostra o mesmo objeto duas vezes. Você está cansada de saber. — Ela levantou a tampa outra vez. — Olhe! Não são lindas?

— Sim, Mim, são maravilhosas — concordou Wynne, pegan­do um belo colar de pérolas com sua mão delicada. — É uma pena que não possamos dá-lo a Hermione. A pele dela tem a co­loração perfeita para pérolas — Ela devolveu a jóia para a caixa e suspirou.— Quando encontraremos a chave?

Mim e Wynne passavam horas e mais horas todos os dias procurando essa chave. A caixa de madeira oferecia mistérios nos quais Hermione não gostava nem de pensar. De todos os acon­tecimentos estranhos de Metolius, esse era o mais desconcertante, mas o verdadeiro propósito daquela caixa era revelar uma chave antiga que, como a Pedra da Graça, fora perdida pela família Granger. Havia centenas de anos que a chave fora colocada na caixa e enviada… bem, tudo que entrava naquela caixa desaparecia, e fazia muito tempo que as duas tentavam encontrá-la.

A caixa era aberta e fechada inúmeras vezes por dia, mos­trando pequenos e intrigantes objetos, mas nunca a chave. Hermione não fazia a menor idéia da utilidade daquela chave, ou o que deveria abrir, e também não tinha plena certeza de que seus tios e tias soubessem, mas a busca era uma maneira agra­dável de diverti-los durante a tarde, e a antecipação de um dia deparar-se com o objeto nunca desaparecia.

— Mim — disse Albus, quando a irmã levantou a tampa da caixa pela terceira vez. — Mione vai nos deixar.

Mim, Wynne e Culain pararam suas atividades e se levan­taram ao mesmo tempo.

— Ah, Mione, minha querida — choramingou Mim, cami­nhando na direção da sobrinha com os braços abertos. — Você precisa ir agora? Queria que você não demorasse tanto para voltar…

Hermione tomou a mão da tia entre as suas, sentindo, como sempre acontecia, a grande diferença entre sua robustez e a delicadeza de seus parentes.

— Não precisa se preocupar tanto assim, tia Mim. Vou ape­nas ao banco, e Luna me acompanhará. Devo voltar dentro de duas horas.

Wynne juntou-se às duas, com seus olhos azuis cheios de lágrimas. Nas mãos, ela segurava o manto mais quente de Hermione.

— Sentiremos tanto a sua falta — falou ela, ajeitando o pe­sado manto nos ombros da jovem. — Você precisa tomar o má­ximo cuidado, minha filha, e nunca se esqueça de que é uma Granger. Uma verdadeira Granger, mesmo que sua mãe tenha sido do povo do norte e, como é costume deles, extremamente prática. Apesar disso, ela foi uma excelente esposa para nosso irmão Arian. — Todos os tios assentiram, sustentando as pa­lavras de Wynne.

— Mas… — começou Hermione, logo interrompida por Mim, que aproximou-se para ajeitar-lhe a gola do manto.

— Sua tia Wynne tem razão — afirmou ela, enxugando uma lágrima no canto do olho, esforçando-se para não chorar. — Não há a menor dúvida de que você e Daman têm o sangue dos Granger, apesar de você ser teimosa demais para aceitar esse fato — ralhou Mim, esticando o braço para ajeitar a tiara prateada que enfeitava os cabelos castanhos da jovem. — Porém você não pode fugir eternamente da verdade. Ah, Wynne, onde está a pedra? Ela não deve partir sem a pedra.

— Aqui no meu bolso — respondeu a outra mulher, tirando uma pequena pedra branca do bolso de seu avental. Hermione a reconheceu na mesma hora.

— Ah, não — murmurou ela. — Eu não posso levá-la comigo. Por favor, não me peçam para fazer isso. Vou apenas ao banco, e assim que terminar a conversa com o sr. Fairchild, volto para casa. Juro que estarei aqui na hora do jantar. Além disso, vocês sabem muito bem como me preocupa levar algo… especial… para fora de Metolius. Eu não me sinto nem um pouco à vontade.

Tudo que menos precisava era ter uma das pedras de Mim e Wynne reluzindo à sua volta. Apesar do tamanho reduzido, as pedras brancas produziam uma quantidade surpreendente de luz. Hermione até costumava revistar suas tias antes que elas saíssem de casa para se certificar de que as duas não as tinham escondido em algum lugar. Não gostava nem de imaginar o que poderia acontecer se um dos bolsos delas de repente começasse a brilhar no meio da Igreja St. Paul durante a missa.

— Eu jamais me perdoaria se perdesse uma pedra dessas.

— Nós não nos importamos — disse Wynne, sorridente, inclinando-se para guardar a pedra no bolso do manto de Hermione.

— Temos várias, e você precisará dessa enquanto estiver longe — Em seguida, ela beijou a sobrinha na testa. — Ah, minha querida, é um momento tão excitante, mas nós ficaremos tão preocupados! Volte logo para casa. E tome muito cuidado.

— Sim, querida — concordou Mim, beijando-a no rosto e abraçando-a. — Volte o mais depressa possível.

— Estarei de volta daqui a duas horas no máximo — mur­murou Hermione, envolvida pelo abraço. — Talvez nem isso. Pre­tendo ser bem rápida no banco.

— Solte-a um pouco, Mim — reclamou Culain, aproximan­do-se da sobrinha. — Mione não pode partir sem o meu pre­sente.

Mais um regalo? O coração da jovem se contraiu no peito, ainda mais ao ver o que o tio pretendia lhe dar: seu bem mais estimado, uma peça de um antigo jogo de xadrez, a rainha.

Tratava-se de um jogo bastante antigo, a julgar pelo estado da peça. Era uma rainha de madeira vermelha, escura, e pa­recia muito mais uma deusa paga do que uma verdadeira rai­nha, com os cabelos soltos combinando com os longos trajes druidas. Os pés estavam descalços e, na cabeça, havia uma coroa de flores e folhas entrelaçadas. Os olhos, feitos de âmbar, brilhavam como se houvesse uma vela acesa por trás. Era uma peça de extrema beleza.

Culain carregava a peça para todos os lados, conversando com a rainha como se ela pudesse escutá-lo. Durante o sono, deixava-a sob seu travesseiro, o que impedia Hermione de acredi­tar que ele estivesse disposto a se separar de seu amuleto, mes­mo que apenas por algumas horas.

— Não, tio Culain — disse ela, quase desesperada. — Eu jamais aceitaria levar sua rainha. Em hipótese alguma. Tenho muito medo de perdê-la. Sei o quanto essa peça é importante para você.

— Mas é preciso — insistiu ele. — Ela é o único tesouro pelo qual Caswallan barganhará. Aquele homem não lhe entregará a Pedra da Graça por nada, mas quando vir a rainha…
— Cu­lain colocou a peça na mão da sobrinha e apertou os dedos relutantes em se fechar.

— Caswallan? — repetiu Hermione, confusa. — Tio Culain, es­tou indo apenas ao banco. Eu não irei a Gales por pelo menos um mês. Combinei esperar por Daman e seus homens. Você sabe disso. — Ela olhou para cada um dos rostos delicados de seus tios. — Todos vocês sabem.

Eles assentiram e sorriram, então a acompanharam até a entrada do grande salão, onde Luna a aguardava. Depois de receber abraços e beijos de todos os quatro, ela saiu da casa acompanhada pela criada. Com a ajuda de um dos empregados, subiu na carruagem que já a aguardava. Ao olhar para trás, viu seus tios chorando e acenando pela janela aberta.

Depois de tantos anos, Hermione achava que estava acostuma­da ao comportamento estranho dos familiares, mas cada dia era uma nova surpresa. Os itens que carregava consigo pare­ciam mais fardos do que mimos, embora no fundo de seu coração ela soubesse que lhe tinham sido confiados como regalos.

Ela olhou para a peça de xadrez que aquecia sua mão. Como de costume, os olhos cor de âmbar brilhavam, fato que sempre a incomodara.

— Meu Deus! — exclamou ela, guardando depressa a rainha no bolso, junto com a pedra da luz, rezando para que nenhum dos dois objetos lhe causasse problemas no banco. — Talvez devamos esperar até amanhã cedo para ir ao encontro do sr. Fairchild, Luna. Estou tão confusa…

— Não se preocupe, milady. As pedras da luz nunca brilham quando há tanta luminosidade. Quanto à outra peça, mante­nha-a escondida. Tudo sairá bem. — A convicção na voz da criada era tamanha que Hermione quase acreditou. Quase.

Elas atravessaram os portões da propriedade e logo entra­ram na estrada principal que as levaria ao centro de Londres.

— Espero que você esteja certa, Luna — sussurrou ela, en­costando no assento — Tenho a sensação de que devemos re­solver nossos negócios bem depressa e voltar imediatamente para casa.

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