Desistência



Harry sentia-se um perfeito tolo. Fizera de tudo para ver se conseguia que Hermione tomasse alguns cálices de vinho para ficar um pouco tonta durante o jantar, mas frustrou-se quando ela pediu aquele bendito suco de abacaxi com hortelã.

Sabia muito bem que não seria capaz de agüentar outro dia perto dela se Hermione não se rendesse.

Na viagem de volta para casa, num percurso silencioso entre eles dentro do automóvel, com raros comentários que ela fez sobre a noite deliciosa que tiveram, sobre a comida saborosa e o ambiente refinado do restaurante, sem falar na decoração primorosa, Harry absteve-se de tecer comentários.

Ao fecharem a porta do apartamento atrás deles, não houve nenhuma menção por parte dos dois em conversar um pouco até a hora de dormir. Deram-se as formais recíprocas boas-noites, e cada um se dirigiu a seu próprio quarto.

Naquele momento, deitado de costas contra os travesseiros macios no espaçoso quarto de Luna, Harry alcançou o telefone celular sobre o criado-mudo, olhando para o relógio de mesa ao mesmo tempo. Quase meia-noite, mostrava o despertador em prata polida. Ouvira Hermione se movendo no aposento ao lado, alguns minutos atrás. Em seguida, quietude total.

Harry tentava imaginar o que Hermione estaria usando para dormir. Talvez a camisola vermelha que já mencionara, mais o ursinho de pelúcia e... talvez absolutamente nada, exceto as duas gotas do perfume preferido.

Esforçou-se para pensar sobre como pareceria ela deitada no leito com apenas um pedaço de lençol de seda sobre os quadris, e exalou um profundo suspiro antes de discar o número do telefone fixo do apartamento.

O aparelho chamou uma, duas vezes...

“Atenda ao telefone, Hermione.”

- Alô? – A voz dela soou confusa, decerto imaginando por que alguém estaria ligando àquela hora tão tardia.

- Sou eu, Harry. Apenas queria desejar-lhe boa noite – disse ele numa maneira pachorrenta, achando que arrastar as palavras era sexy.

- Você já desejou. – Hermione gargalhou. – Esqueceu?

Ele respirou fundo.

- Já lhe falei o quanto gostei do modo como você penteou seus cabelos hoje? Invejei as mechas acariciando seu pescoço. Eu queria ser eles a tocá-la, beijando-a no pescoço, na nuca...

Harry ouviu o suspiro afogueado de Hermione do outro lado . Se pudesse enxergá-la, constataria que sua expressão era de total espanto. Sem lhe dar uma chance de perceber o que ele estava fazendo, seguiu adiante, na intenção de fazê-la sucumbir:

- E gostei do traje que usou. A exposição suave de pele revelada pelo acentuado decote em V do vestido preto estava sexy ao máximo. Cheguei a sentir coceiras nas mãos pelo desejo de tocar seus seios. De desnudar um ombro, de tal maneira que pudesse mordiscá-lo, e depois beijá-la com sofreguidão.

Harry cerrou os olhos, imaginando apenas que gosto Hermione terá. Na certa um pouco como o perfume erótico que usou... um gosto tropical. E um tanto como a mulher que ela era... ardente.

Ele quase não podia respirar quando continuou, meloso:

- Eu abaixaria o vestido do outro lado do ombro e massagearia o seio. Friccionando meu dedo sobre o mamilo. Teria gostado disso, Hermione?

- Sim. – Ela gemeu, e ele pôde escutar a respiração entrecortada. – Oh, Deus, sim!

- Em seguida, abaixaria o zíper nas costas, deixando-o cair no chão. Você estava usando calcinha?

- Estava...

- Como era? De que cor?

- Preta... de renda – sussurrou, meio rouca.

- Também estava de meia-calça?

- Sim.

A criatividade de Harry se aguçou, e ele prosseguiu em seu jogo tentador:

- O que as prendia?

- Ligas... pretas também.

- Eu as deixaria lá, assim como os sapatos de salto alto pelos quais optou. Agora imagine-se de pé a minha frente, nua, usando apenas a calcinha, a meia-calça presa por ligas e os calçados. Como isso a faz sentir-se, sabendo que estou olhando para você e que seus seios estão nus?

- Quente... Muito excitada. Isso me deixaria ardendo por dentro.

- Nesse caso, eu ajoelharia e, muito devagar, despiria sua calcinha preta, puxando-a com os dentes para baixo através daquelas suas incríveis pernas longas, até que a única coisa que permanecesse em você fossem as meias pretas e os saltos altos.

- Ah...

- Em seguida, me inclinaria mais perto e tocaria a boca no centro da sua feminilidade. Usaria meus lábios para brincar com sua parte mais doce e sensível.

- Não. Por favor, você está me matando, Harry!

- Pode parar com a tortura, se quiser, Hermione. Diga a palavra e não teremos de atravessar os caminhos um do outro pelo resto da semana. Apenas diga, princesa.

- Basta!

E ele ouviu o clique do aparelho telefônico. Hermione havia desligado.

“Basta” não era a palavra que queria que ela proferisse. O pior era que ele próprio estava em deplorável estado de excitação e, se não fizesse algo logo, seria o primeiro a se render.

Enquanto vestia seu abrigo de moletom, ouviu a porta do quarto dela abrir-se, fechar-se, e outra porta abriu-se e fechou-se.

Harry saiu do dormitório e apressou-se em passar pelo banheiro. O som da água caindo através da cortina do boxe era audível.

Seu plano pelo menos funcionara. Hermione devia estar parada sob um jato frio. Agora, se pudesse ao menos desfazer seu erro estúpido... Ou pelo menos esperava que uma boa corrida pelo parque em frente ao prédio o livrasse daquela situação. Uma coisa podia dizer com certeza: depois daquela semana, ele deveria estar pelo menos saudável. Primeiro os pesos, agora a corrida.

O telefone tilintou ao seu lado.

- Olá! É você Harry?

- Sim, quem está falando?

- Não reconhece mais a voz da sua irmãzinha querida?

- Olá meu anjo! Como vai a lua-de-mel? Rony a está tratando como a princesa que você é?

- Sem dúvida. Desculpe-me pela pieguice da resposta, mas Rony é um marido maravilhoso. Sou a mulher mais feliz do mundo! – Não conseguiu deixar de rir de tamanho lugar-comum. – Estamos nos divertindo muito neste cruzeiro por essas paragens da América Central. Aruba é um paraíso na terra!

- Que bom que estão aproveitando, querida.

- E você? Muito adiantado com o novo programa de computador? – perguntou.

- Sim, estou trabalhando duro – mentiu.

- Liguei apenas para matar a saudade, que é muito grande. Eu te amo muito, sabia?

- Claro que sabia, meu anjo. Também te amo.

- Logo, logo estaremos de volta. Cuide-se. Rony está lhe mandando lembranças.

Ao desligar, Harry se perguntava como poderia decepcionar uma irmã tão querida como aquela, não cumprindo a promessa que lhe fizera.



No dia seguinte, Hermione acordou cedo e desceu para a cozinha. Passando pela sala de estar, ficou admirada de ver Harry já trabalhando. Esticou a língua para o biombo. Ele estava no outro lado e não podia ver seu gesto infantil, mas isso a fazia sentir-se vingada.

O que Harry fizera à noite fora de uma crueldade sem limites. Ela chegara muito perto de cometer uma loucura ouvindo as palavras obscenas dele. Algum dia o faria pagar na mesma moeda.

Afastando a raiva, subiu nas janelas e admirou as cortinas. Pelo menos alguma coisa funcionava bem. A decoração estava ficando excelente.

As cores dos tecidos de tapeçaria eram perfeitas. O ousado marrom e as listras verde-escuras deram toques de vermelhos e verdes na sala, enquanto o fundo cor de chá manchado combinava com a sépia. Hermione distribuíra com parcimônia alguns objetos decorativos pelo ambiente e chegou à conclusão de que aquele cômodo da casa estava terminado.

Desse modo, começaria a se ocupar da suíte do casal, ou seja, o quarto que Harry vinha usando. Deveria revestir de papel as paredes e colocar alguns quadros de nus artísticos. Ela não estaria trapaceando... por assim dizer.

A quem queria enganar? Harry era mais poderoso na força de vontade do que ela pensara. Ele jamais quebraria a palavra dada a Luna. Além do mais, restava-lhe apenas pouco tempo. Tinha de admitir que perdera.

Juntando seus apetrechos, levou-os para a suíte. Era necessário fazer algo que a descansasse, relaxa-se, tirasse daquele estado de excitação Talvez uma ducha quente, uma vez que a fria não causara efeito algum, a não ser enrijecer seus mamilos. Não resfriara seu ardor nem um pouquinho.

Poderia aplicar uma máscara facial, acender as velas, vestir sua nova lingerie de grife... e ler. O que vinha acontecendo com sua vida? Tudo parecia de pernas pro ar. E por causa de quem? De Harry Potter e seu absurdo jogo de sedução.



Trinta minutos mais tarde, após um banho quente e uma máscara facial morna que acxalmava a tensão da pele, Hermione se sentia melhor. Portanto, talvez sexo não fosse tudo.

Vestindo seu roupão felpudo branco, saiu do banheiro e encontrou Harry no corredor. Ela empinou o nariz e caminhou com afetação para o quarto, e ele foi para a suíte.

“Apenas mantenha-se repetindo para si mesma que não quer fazer amor com Harry. Tire-o da cabeça a qualquer custo. Coloque-o em outra órbita, longe de você.”

Talvez resolvesse ir até o centro sozinha naquela noite, para ver as paragens da cidade que nunca dormia. Poderia fazê-lo, desde que não tirasse nenhuma soneca para repousar, porque, uma vez que adormecesse, jamais teria vontade de sair para passear.

Hermione sabia muito bem o que estava acontecendo: detestava perder.

Colocou uma camisola transparente rosa-pêssego, ajeitou o sutiã rendado de forma que lhe acentuasse os seios e mirou-se no espelho da penteadeira.

- Você não tem idéia daquilo de que está desistindo – falou para si mesma, suspirando e sacudindo a cabeça.

Depois, desenrolou o fio do depilador e o ligou na tomada.

Aquilo não era justo. Deveria ter sido uma aposta fácil de ganhar. Entretanto, o que mais poderia fazer? Não podia ficar nua... nada de toques. Jogo limpo, dissera Harry.

Mas na véspera ela se sentiu como se tivesse sido tocada. As palavras dele acariciaram seu corpo, fazendo-a tinir de desejo e muito bem consciente disso.

Seus olhos se fecharam por um momento, enquanto revivia a sedução por telefone

Com um suspiro profundo, refreou os devaneios e sentou-se ao lado do leito. Não era justo, de modo nenhum. Ligou o aparelho elétrico e começou a depilar as pernas. O zumbido do depilador a fazia recordar-se de um...

Sua mão parou. Um sorriso malicioso aflorou-se nos lábios. Parecia um vibrador!

Deu uma olhada em direção ao quarto de Harry como se pudesse ver através das paredes.

Não terminara ainda. Ela tinha chances. Havia uma esperança. Ah, se havia!

Se ele acreditasse que Hermione estava nos espasmos da paixão, satisfazendo-se com um vibrador, isso o deixaria subindo pelas paredes?

O que tinha a perder? Não custava tentar!

Todavia, teria de fazer algum outro barulho. Só o ruído de um vibrador não atiçaria a imaginação dele. Assim, Hermione cerrou as pálpebras e procurou uma posição melhor sobre o colchão.

Sem seguida, pôs-se a gemer alto e murmurar interjeições lascivas. Achou que, ao invés de uma gata no cio, estava parecendo mais uma cabra que ia morrer. Aquilo não iria funcionar...

Avistou a caixa de chocolates da Prazeres Culposos ali a seu lado no criado-mudo. O teto pareceu se abrir, e um raio de luz brilhou. Quem imaginaria que chocolate poderia ser sua salvação?

Arquitetou todo seu plano e aguardou as conseqüências com toda a calma. Harry cairia em sua armadilha como um patinho na lagoa. Disso tinha plena certeza. Afinal de contas, os homens eram machos empedernidos na aparência, mas no fundo não passavam de carneirinhos inocentes...



Harry tentou fingir que não notou Hermione ou a postura gelada que ela manteve quando saiu do banheiro e se trancou no quarto.

Continuou seguindo pelo hall, procurando não aspirar o aroma fresco de sabonete de pêssego que se achava impregnado nela. Um perfume delicioso e provocante que mexeu com sua libido, mas ele, impávido, prendeu a respiração. Não queria correr riscos.

Uma vez dentro de seus aposentos, fechou a porta e encostou-se contra ela. Exalou um grande suspiro. Aquela mulher o matava aos poucos de tanto desejo incontido.

Refletia e refletia, sem achar uma resposta. Como podia uma garota parecer tão sexy num roupão branco felpudo cheirando a sabonete de pêssego? E o roupão ainda por cima era folgado, portanto, não revelava as curvas espetaculares de Hermione. A única coisa que Harry sabia, era que estava perdendo algo precioso.

Afastou-se da porta e abriu sua maleta ali no canto. Tão logo achasse o disquete de que necessitava para trabalhar, iria se enterrar atrás do biombo até que as quarenta e oito horas passassem. Era o único modo de salvar sua sanidade mental.

Girou a maçaneta e foi para o hall, diminuindo o passo quando aproximou-se do quarto de Hermione. Foi quando ouviu a voz dela que vinha do outro lado.

- Ah, isto é bom... – ela murmurava. – Isto é tão... bom.

Harry quase tropeçou. Aquilo era um motor zumbindo? Um vibrador? Era então aquilo que viera na sacola da loja Prazeres Culposos?

- Quero mais! Isso...isso!

O rosto de Harry cobriu-se de suor. Sua excitação imediata quase o deixou tonto. Não a queria apelando para um vibrador quando ele estava bem ali, à disposição.

Não, não podia fazer isso. Tinha de pensar em seu encontro... seu trabalho... na promessa que fizera a Luna.

Não houvera sangue no juramento de dedos cruzados entre eles.

Uma visão surgiu diante dele: Hermione estava deitada e estendida na cama, completamente nua. Ela se acariciava, massageando os seios com uma mão enquanto brincava com o vibrador com a outra.

Espremeu-se contra a parede. “Vá para seu quarto e tranque-se lá!”, ordenou-se. Tentou sair do lugar, mas seus pés pareciam chumbados no chão. Era como se estivesse usando botas de concreto.

- Quero mais! – sussurrava Hermione, em seu quarto. – Mais!

Ela o estava pondo a nocaute. Seria ele bom o bastante para satisfazer as necessidades de Hermione? Olhou para baixo. Sim, senhor, poderia fazer aquilo.

-Deus, isso é tão... delicioso!

Harry não pôde mais se conter. Abriu a porta do quarto Dela e entrou num rompante.

- Estou aqui para você, Hermione!

Ela saltou do colchão. A boca estava lambuzada de chocolate até o meio do queixo.

Harry podia apenas olhar para a visão atordoante. Usando apenas uma diáfana camisola transparente que nem sequer chegava ao final das coxas e um sutiã apertado, onde se viam os seios ameaçando saltar a qualquer momento, se ele tivesse sorte, lá estava a deusa palpável, bem ao alcance de suas mãos.

Velas ardiam sobre a penteadeira e sobre o criado-mudo.

E na cama, um depilador elétrico ainda ligado na tomada.

Não era um vibrador. A caixa da Prazeres Culposos caiu no solo quando ela se levantou e um bombom rolou.

- Desculpe-me, pensei que você... – Harry não conseguia tirar os olhos do aparelhinho elétrico.

- O quê? – Hermione seguiu a linha de visão dele. – Não me diga que achou que eu estava me divertindo sem você!

E ela chupou o chocolate grudado em cada um dos dedos. Harry pôde, sem dificuldade alguma, imaginar aquela boca encaixar-se em algo mais...

Hermione estava fazendo aquilo de novo: tentando fazê-lo sucumbir primeiro, antes dela. E quase conseguiu.

“Como ele podia ter sido tão idiota?”

- Peço-lhe desculpas por tê-la interrompido.

Ele fez menção de se retirar, mas Hermione se contorcia, voluptuosa, sem constrangimento algum pela camisola transparente, por sua quase nudez.

- Não se vá tão rápido...

- Tenho de voltar ao trabalho.

“Lembre-se de que você prometeu a...a...” Que coisa, qual era mesmo o nome de sua irmã?

Hermione meneou a cabeça.

- Desista, Harry. Você me quer.

Ele tentou sair, mas seus pés não obedeceram ao comando do cérebro.

Hermione se mexeu mais pra perto do ataque. A respiração dele estava opressa. Sentia dificuldade em respirar. Ela o sufocava. O perfume das velas embotava seus sentidos.

Harry cambaleou. Hermione deu um passo adiante, passando a língua sobre os lábios.

Numa atitude mais que ousada, Hermione pegou as mãos dele e colocou-as sobre suas próprias costas, forçando-o a abraçá-la forte.

- Tem certeza de que não quer fazer amor comigo?

Harry lutava por ar. Ali estava uma serpente venenosa pronta para dar o bote.

Que Deus tivesse piedade dele, mas aquele corpo magnífico encostado contra o seu era macio e firme ao mesmo tempo. Irresistível.

E foi então que decidiu que a falta de sangue cruzado entre os dedos mínimos dele e de Luna seria prova suficiente, apresentada em qualquer corte judicial, como não seno um acordo obrigatório.

No chão do quarto, os bombons de chocolate da loja Prazeres Culposos jaziam espalhados, e as velas aromáticas ardiam pelo aposento inteiro, que mais parecia um santuário do que um quarto de dormir.


NA: pronto, felizes? eu sei que eu demorei e talz, mas foi por uma boa causa... eu comecei a postar no ff.net e esqueci daqui... não m matem por isso... foi mals, jah pedi desculpas...

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