Encontro com o pecado



Hermione destrancou o apartamento de Luna e entrou, deixando cair as malas no chão ao fechar a porta. Estava exausta, pois ficara até tarde da noite arrumando a bagagem, e naquele momento sofria as conseqüências.

Olhando para seu relógio de pulso, verificou que já era quase meia-noite. Tudo o que queria era um banho bem demorado e uma cama quentinha.

Olhou em volta do imenso living a sua frente. Nada mal. Pé-direito alto, em ogiva, mobília em mogno importado de finíssima qualidade. Não apreciou muito o computador num canto da sala, mas ele poderia ser escondido atrás de um biombo. Teria apenas que imaginar de que tipo seria.

Não a agradava também a imaculada brancura das paredes. Aquilo, com certeza, seria mudado em breve. Uma delas sem dúvida com um tom vibrante. Uma autêntica poltrona estilo Luís XV, com seu rebuscado dourado, também seria uma das primeiras aquisições.

Rony lhe dissera que a maioria dos pertences dele e de Luna foram tirados das suas respectivas residências, etiquetados e guardados em um guarda-móveis ali perto, aguardando que aquele apartamento, bem maior, ficasse utilizável.

Luna se mudara para aquele imóvel duas semanas antes do casamento. Ele estava, portanto, quase desprovido de decoração. O que era excelente, porque Hermione adorava trabalhar em um ambiente vazio. Podia por em prática suas idéias de uma maneira mais fácil, sem se ater em aproveitar isto ou aquilo.

Mas, antes de tudo, era preciso relaxar um pouco. Assim, deixou-se cair na poltrona mais próxima, esticou as pernas e fechou os olhos. Queria parar por um instante, deixar o mundo girar devagar, respirar num ritmo lento e deixar os pensamentos vagarem sem rumo.

O dia seguinte logo chegaria, e aí poderia dar início a seu trabalho e se dedicar por inteiro. Tempo não lhe faltaria. E ademais, como dissera sua heroína preferida, Scarlet O’Hara, de ...E o Vento Levou: “Amanhã eu penso nisso”.

Mudou de posição diversas vezes até que descobriu aquela exata para repousar. “Agora sim estou confortável.” Descansaria por alguns minutos, depois tomaria um banho e...

Seus olhos se abriram. Que barulho era aquele? Ficou gelada, as mãos agarraram os braços da poltrona. Seria imaginação sua? Não, lá estava o ruído de novo, como o de alguém se movendo em um dos quartos do fundo.

Céus, não era a única pessoa no apartamento! Mas quem poderia estar lá?

Será que Luna tinha um gato? Não, de modo nenhum. Não com as alergias de Rony. Um cachorro, talvez? Também não, pois ele latiria. Além do mais, Rony ou Luna teriam mencionado um animal.

Os sons que vinham do fim do corredor sombrio ficaram mais altos. Seu estomago deu uma reviravolta. Começava a entrar em pânico.

Estudou ao seu redor, e deparou com um pesado vaso de cristal maciço. Levantou-se da poltrona e engatinhou pelo tapete até alcançar o objeto. Pelo menos agora tinha uma arma.

Com cuidado, dirigiu-se para a porta da frente, abraçando o vaso junto ao peito. Apenas alguns passos a mais.

A porta no fim do hall mal-iluminado abriu-se. Seu coração se acelerou. A luz difusa da lâmpada estava atrás da figura enorme e desajeitada, de modo que Hermione não podia visualizar seu rosto. Isso não importava. Ela era a única que deveria estar ali. Ninguém mais. Só podia ser um ladrão.

Um pavor imenso a dominou. Hermione gritou e atirou o vaso com toda a força que possuía contra a inoportuna figura. Mas ele foi mais rápido e se esquivou, enquanto a peça se espatifava contra o assoalho acarpetado.

Hermione correu para a porta, atrapalhando-se com o trinco. Passos pesados soaram atrás dela. O homem a segurou por trás. O sangue fervia nas veias dela, enquanto sua vida inteira passava-lhe pela cabeça. O medo era tanto que achou que fosse morrer.

- Calma, moça! Quem é você e por que está no apartamento de minha irmã? – indagou ele, com autoridade.

A respiração voltou ao normal, pois Hermione se acalmou no mesmo instante. O irmão de Luna. Ela não estava prestes a ser assassinada, afinal de contas.

- Responda-me.

- Eu sou... amiga de Rony. Vou ficar... aqui enquanto eles estiverem em lua-de-mel.

Harry a fez girar, e Hermione se viu frente a frente com um forte e sólido tórax nu. Ela ainda teve tempo de observar que os pêlos do peito eram macios, quase aveludados.

Gotículas de umidade deslizavam pelo corpo dele, e uma única gota ficou pendurada no mamilo esquerdo. Hermione teve de se conter para matar o desejo atroz de passar a língua bem ali. Seu olhar foi seguindo o percurso daquela única gotinha, que se desprendeu, enfim.

Uma toalha felpuda branca fora enrolada em torno da cintura dele e amarrada sobre os quadris.

O nó em sua garganta a impedia de engolir. Era uma visão de pernas muito sexy, e Hermione ficou tentada a arrancar a toalha para ver se eram musculosas como pareciam.

Uma onda de prazer a invadiu. Rony estava errado, ainda bem. Harry não tinha saído da cidade, afinal de contas.

Será que ele percebia a excitação vibrando dentro dela?Será que a desejava tanto quanto ela o desejava?

Aquelas perguntas não seriam respondidas naquele momento, mas Hermione era perspicaz o suficiente para descobrir tudo com o passar dos primeiros momentos.

Um respingo dos cabelos molhados caiu sobre a testa dele e escorreu até a ponta do nariz, e Hermione se lembrou da situação.

Ergueu o olhar uma vez mais, passou pelo peito musculoso e peludo... Ah, que vontade incontida de acariciar aqueles pêlos aveludados! Terminou no rosto bonito. Assim, retornou à realidade.


No princípio a expressão dele demonstrava surpresa, mas foi logo substituída por um severo franzir de cenho. Na realidade, Harry não parecia nem um pouco excitado pela presença dela. O irmão de Luna, de fato, parecia confuso, para não dizer aturdido, mas de modo algum desconcertado, e muito a vontade em sua seminudez.

Hermione sempre ouvira comentar que os homens não sentem o mínimo constrangimento em apresentarem-se nus na frente das pessoas. Esse despojamento, que para inocentes e puritanos pode parecer imoral, para eles é uma postura mais do que comum.

De qualquer maneira, Hermione se sentiu desconfortável ali, agarrada pelas mãos de um estranho. Afinal, tinha boa aparência, mas era um homem. Ela sabia muito bem como eles eram e como reagiam na presença de uma mulher que os excitava.

Empinou o queixo e o encarou.

- Poderia fazer o favor de me largar? – Uma gota d’água caiu sobre o nariz dela. – Não preciso ser regada.

- Desculpe-me. – Soltando-a, Harry deu um passo atrás.

Ela enxugou o rosto com as costas da mão e olhou para cima. E foi atingida em cheio pelo efeito do soberbo espécime masculino, ali, de pé, só com uma toalha cobrindo a parte mais importante de sua anatomia. Tentou respirar, mas não conseguiu. Harry a tirava de prumo.

- Não é educado encarar as pessoas ou parte delas.

- Então vista alguma roupa. – Hermione cruzou os braços. – E rápido.

Ele deu meia-volta e se afastou. Péssima sugestão, decidiu ela, ao vê-lo desaparecer no hall.

Não podia enxergar muito bem na penumbra da madrugada, mas Harry era bastante excitante visto daquele ângulo, também. Ombros largos, cintura delgada... hum... e belas nádegas!

Hermione assumiu uma expressão interrogativa. Por que Harry não parecia interessado nela?

Talvez estivesse exagerando na interpretação. Uma tática milenar entre homens que pretendem seduzir mulheres.

Esticou o pescoço de um lado para o outro. Suas têmporas latejavam. Talvez precisasse colocar uma bolsa de gelo sobre a cabeça, ou pelo menos tomar um analgésico. Ou uma boa noite de sono resolvesse seu problema.

No instante em que a porta do fundo do hall abriu-se outra vez, Hermione pôs os pensamentos em ordem. Até que desse outra boa e demorada olhada nele, tudo em seu cérebro esteve obstruído.

Harry estava descalço e usando jeans bem baixo na cintura, que modelavam maravilhosamente os quadris e as coxas. Era uma visão estonteante. Hermione sentia-se aturdida e um pouco tonta.

As palavras autoritárias que ouviu a tiraram daquele transe momentâneo:

- Você não pode ficar aqui. – Harry parou a alguns metros dela.

Como assim? Ele deveria tomá-la no colo e fazer amor apaixonado com ela... e não dar aquela ordem absurda. Hermione pôs as mãos na cintura, desafiadora.

- O que foi que você disse? Estou aqui para redecorar o apartamento como uma surpresa de Rony para Luna. – O olhar dela parecia querer fuzilá-lo.


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Harry tentou parecer firme em sua convicção, mas aquele brilho mortífero e determinado das pupilas dela jogou tudo por terra.

Sempre adorara as mulheres e seus modos torturantes e misteriosos. Havia sempre um mistério nas intenções delas, isso era fascinante. Mas como, pelo amor de Deus, iria conseguir concentrar-se em retocar e acabar seu programa de computador com ela por perto, decorando o imóvel?

Ainda mais depois de Hermione tê-lo olhado havia pouco como se ele fosse um pedaço de chocolate e ela estivesse jejuando. Convenhamos, um homem sabe quando uma mulher o está cobiçando.

Sem mencionar que Luna jamais o perdoaria se ele quebrasse sua promessa.

Empertigou-se, assumindo uma estatura maior ainda.

- Lamento informar-lhe, mas você terá mesmo de ir embora.

Ela também aprumou os ombros e pousou o braço no sofá, cruzando as pernas.
- Não. De jeito nenhum. É você quem vai. Caia fora.

Que coisa! Ainda por cima tinha belas pernas. A fenda do vestido abriu-se, revelando muito mais que um torturante pedaço de perna sexy.

Harry recobrou a concentração a custo, retomando o assunto em baila:

- É sábado à noite, quase alvorecer em Las Vegas, durante o mês de convenção. Duvido que haja um quarto vago em algum hotel – disse ele, tentando um sorriso amigável.

- Ainda assim espera que eu encontre um?

Harry pigarreou.

-Você tem dinheiro suficiente para subornar gente que arranje acomodação. Sei que pode fazer as coisas acontecerem. O dinheiro compra tudo, não é mesmo?

- Pode até ser. Mas detesto quartos de hotel. Eles tolhem a minha criatividade.

- Mesmo?

Hermione havia se levantado, e caminhava para o outro lado da sala à medida que falava.

Harry tentou ater-se às palavras dela. Algo sobre criatividade tolhida... No entanto, só o que o seu cérebro captava era maneira como s quadris redondos meneavam enquanto ela caminhava para frente e para trás.

Hermione possuía um andar marcante, da espécie que adicionava combustível à imaginação de qualquer um, e naquele exato momento Harry estava perdido em fantasias, vendo-a desfilar nua. A imaginação cresceu, e então ela se deitava sobre ele.

Foi quando Hermione se virou, voltou par o braço do sofá e sentou-se de novo.

- Portanto, você já sabe. Não serei eu a partir. Mas ficarei mais do que satisfeita em ver se consigo um quarto para você – afirmou, com fingida doçura.

Harry respirou fundo. Luna assegurara-lhe que seu computador estava instalado ali. Tudo o que ele necessitava se achava naquele imóvel, todo o seu equipamento especializado. Portanto, não apenas não queria como não poderia sair dali.

Haveria apenas uma solução.

- Ouça, moça. – Por fim, Harry quebrou o silêncio. – O apartamento tem dois dormitórios. Ficarei aqui por pelo menos uma semana, mas estarei trabalhando na maioria do tempo, portanto, é muito provável que consigamos nos manter afastados um do caminho do outro. O que me diz?

Uma faísca de interesse brilhou nos olhos dela.

Não era a primeira vez que ele via aquele olhar numa mulher. Sabia distinguir uma garota sexualmente atraída por um homem. Era melhor impedir quaisquer pensamentos que ela pudesse ter sobre um romântico interlúdio antes que começassem. Luna jamais o perdoaria se fossem para a cama.

Harry deixou escapar um suspiro.

- Creio que podemos nos tornar colegas de quarto Ou melhor, de quartos separados. Essa é a única solução para o problema que surgiu. E não se preocupe, não vou incomodá-la no meio da noite, pode ficar tranqüila. Tenho serviço demais para fazer, o que não me dará tempo para pensar em nada mais. E, além disso, desculpe-me, você não é meu tipo - finalizou, esperando que Hermione acreditasse.

Aquelas últimas palavras afastariam qualquer idéia interessante que ela pudesse ter. E ademais, dessa forma ficaria mais fácil para ele cumprir a promessa que fizera a Luna.

A expressão de Hermione era neutra.

- E o que mesmo você quis dizer com isso?

Não havia saída, decidiu Harry. Teria de mentir.

- Não acho que você seja feia ou coisa assim. Na verdade, tem uma bela aparência. Só que tenho preferência por mulheres mais cheias de carne, não tão delgadas. E cabelos castanhos não me interessam. Gosto de louras. Sabe como é, cada pessoa tem atração sexual por um determinado tipo de homem ou mulher. Entende? – Esboçou um meio sorriso. – Tenho amigos que só se interessam por mulheres obesas. Outros, pelas bem mais velhas. É uma questão de gosto é só Freud explica. E você também é alta demais. Quanto mede? Um metro e oitenta?

Ela ficou de pé.

-Um e setenta e cinco. Mas acho que tem razão. Está certíssimo. Se ficar longe de mim, eu ficarei longe de você. Agora, se me der licença, estou um tanto cansada.

Ela pegou a bagagem e começou a andar em direção ao hall.

Harry apressou-se até ela e segurou uma das malas.
- Deixe-me ajudá-la – ofereceu, esforçando-se para não olhar para os belos olhos castanhos de Hermione enquanto carregava a ala. – Quero dizer, não me perdoaria se você as carrega-as para o quarto errado.

Harry sentiu que um ar gelado o envolvia. Então encolheu-se, como que amedrontado, e lembrou-se de que dera sua palavra à irmã. Poderia muito bem quebrá-la, mas valeria a pena? Era melhor não arriscar.

Não a deixei aborrecida quando disse que não estava interessado, deixei? Talvez eu tenha me expressado mal. Não quis ferir seus sentimentos, nem sua vaidade. Apenas queria que soubesse que está segura comigo aqui.

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Segura? Segura?! Os olhos dela estreitaram-se quando ele depositou a bagagem no chão do aposento.

- Não estou preocupada, em absoluto. Para ser franca, o sentimento é mútuo – murmurou, com um sorriso sedutor.

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“Ei...”, pensou Harry. “Será que não a atraio?” Então por que ela...

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Uma idéia formou-se em sua cabeça. Sorriu. Hermione poderia estar segura das intenções dele, mas estaria Harry em total segurança das intenções dela?

Hermione o fitava com total inocência, ao virar-se para encará-lo.

- Isso faz com que eu me sinta tão melhor! – Ela tocou com os dedos o decote em V do vestido vermelho.

A atenção dele se fixou na superfície de pele sedosa que ficou exposta a sua visão.

-Se você acabou de usar o banheiro, eu adoraria tomar uma ducha. Estava tão quente no aeroporto, e eu me sinto pegajosa... e úmida. – Hermione passou a língua pelo lábio inferior. – Gosto muito de sentir a água quente e espuma de sabonete sobre a aminha pele nua. Você não gosta?

Seguro, ele? Com uma mulher bonita e insinuante? “Era só o que me faltava!”

Harry pôs a mala no chão e pigarreou.

- Sim, sem dúvida. Quero dizer, vá em frente e fique nua... ou melhor, tome uma ducha! – Pigarreou de novo, nervoso. Seu desconforto era visível. – O que quero dizer é que não vou mais usar o banheiro.

Apressado, deu-lhe as costas e saiu dali, indo direto para o outro quarto, fechando a porta.

Aquilo não era nada bom, refletiu Hermione. E tinha um pressentimento de que ia ser um pouco pior para Harry.

Um sorrisinho sarcástico surgiu os cantos de sua boca. “Não sou o tipo dele? Vejamos o que diz quando eu acabar com ele!”



N.A.: Respondendo aos comentários:

Thais Pedrosa Gomes: Acho que vou dia 12. Voce realmente merece boa parte dos créditos.

***Pah Potter*** : Muito obrigada!

Tata: Só pode realmente ser o destino. Mas a promessa de Harry a Luna vai atrapalhar bastante.


A todos um muito obrigada!!!! Continuem lendo porque ainda vem muita coisa pela frente.




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