Lembranças



Era um campo verde vivo e uma brisa leve levantava seus cabelos negros, raios finos de sol atingindo sua pele dando uma pequena sensação de calor, seis aros enormes, três a cada lado do campo, então ele inspirou aquele cheiro de dia de verão, da grama tão verde sob seus pés, Harry de repente estava no alto, mas alto do que poderia estar, e uma sensação maravilhosa o envadiu, estava jogando Quadribol, a coisa que ele mais gostava de fazer, olhou pra baixo e viu um vulto vermelho defendendo gols, era Ron, defendendo goles de todos os lados sem deixar escapar nem ao menos uma, olhando Ron defender as goles, um pequeno raio dourado passou diante de seus olhos voltando sua concentração para algo mais importante, porem bem menor e quase despercebido ao meio dos raios de sol – o pomo de ouro – e então ele vôo, e Harry mergulhou no ar atrás do pomo mais rápido do que um cometa tendo quase certeza que quem visse tal cena só estaria vendo um borrão tentando escapar de outro bem maior, então quando estava quase perto o suficiente para agarrá-lo, com seu braço estendido, sua mão aberta, e seus dedos quase podendo roçar no pomo. Uma pancada... duas pancadas...um grito abafado e um nome... seu nome¿


- HARRY! HARRY! HARRY POTTER ABRA LOGO ESSA PORTA! HARRY ACORDE!


Então seu lençol se foi.


Acordou com um sobressalto e foi parar direto no chão, com os olhos arregalados, mas não fazia muita diferença sendo que não podia enxergar nem um palmo a sua frente sem os óculos, então tateou a cabeceira ao lado de sua cama para encontrá-los. Quando os colocou em seu rosto, entraram em foco dois pés, um com calças marrom claras e outro com jeans bem gastas, então correndo seu olhar mais para cima, estavam Ron e Hermione com expressões divertidas no rosto muito semelhantes.


- Pra que isso¿ - perguntou Harry, se levantando do chão e sentando na cama.


-  Ah claro, porque não morrer dormindo, não é¿ - disse Ron em resposta com um tom irônico em sua voz. Como assim “morrer dormindo” tinha gritado¿ Mas seu sonho era tão bom e normal, porque tivera tido algum problema¿


- O que¿ Como assim¿


- Harry, você esta dormindo a tempo demais, ficamos preocupados. – disse Hermione como se fosse óbvio. Harry sentiu o alívio percorrer seu corpo, ele só tinha dormido demais, só isso.


- Na verdade mamãe ficou, nós estávamos atormentando os gnomos do jardim. – disse Ron com simplicidade dando de ombros.


- Vocês estava atormentando os gnomos de jardim¿ - Harry olhou incrédulo para Hermione, que de repente ficou um pouco vermelha e começou a brincar com os botões de sua jaqueta,e  então começou:


- Ah Harry, - Hermione começara a andar pelo quarto - Ron estava jogando xadrez de bruxo e – virou de repente pra ele, cerrando os olhos – você sabe o quanto eu odeio esse jogo – voltou a continuar andando – então comecei a atormentar Ron na verdade – disse formando um sorriso em seus lábios – então ele parou de jogar e eu tive que oferecer algo realmente bom em troca de xadrez de bruxo, então disse que se ele parasse de jogar eu ensinaria a ele alguns feitiços para atormentar os gnomos.


- E tente jogar xadrez de bruxo com ela tagarelando na sua orelha, te dando cutucões e puxando o seu cabelo – disse apontando indignado para Hermione, que começou a rir freneticamente – É IMPOSSIVEL! – concluiu Ron jogando seus braços para o alto.


- Ah Ron, vai falar que não foi bem mais divertindo ver os gnomos te xingando e amaldiçoando sua família talvez até as próximas cinco gerações do que ficar jogando um jogo de bárbaros estúpido.


- É... talvez tenha sido – disse Ron olhando pra baixo, para Hermione não ver quue ele estava corando.


- Ah Ron, eu sei que você me ama. – disse Hermione rindo ainda mais e então bateu no ombro dele e saiu pela porta ainda rindo.


 


Ron ficou parado na mesma posição por talvez 2 minutos até ele olhar para Harry com


seus olhos arregalados, apontar para a porta da qual Hermione tinha acabado de desaparecer e dizer – Ouviu o que ela disse¿ O que ela quis dizer com isso¿


 


- Acho que nada – deu de ombros e levantou. – Então porque essa agitação toda¿ Só porque eu dormi mais uns minutos¿ - disse Harry remexendo seu malão que podia ter um tornado guardado dentro de seu malão junto com seus pertences pela baderna que se encontrava ali.


- Minutos¿ Harry, são uma da tarde. – disse Ron deitando na cama que geralmente dormia quando dividiam o quarto.


Harry olhou para Ron tão rápido que seu pescoço poderia ter saído do lugar facilmente.  – UMA DA TARDE¿ COMO ASSIM¿


- Como assim digo eu! Nunca tinha visto você dormir tanto – disse Ron entre risos – entende o motivo de eu e Hermione quase derrubarmos a porta para ver se você estava vivo¿


- Nossa, não achei que tinha dormido tanto tempo assim – disse Harry coçando sua cabeça.


- Mamãe era quem mais queria te acordar pra ser sincero – estava dizendo Ron e Harry sentiu seu corpo gelar lembrando o que a Sra.Weasley tinha dito sobre sair do quarto.


- O que¿ Porque¿


- Ah, sabe como é a mamãe, sempre preocupada se você esta comendo direito, sempre preocupada se você esta saudável, sempre preocupada se você não esta sendo atacado por Você-Sabe-Quem ou coisas assim – concluiu Ron dando um riso.


- Hm... Ron, Ginny  já esta acordada¿


Ron ficou sobre seus cotovelos na cama e olhou desconfiado e confuso para Harry.


- Está sim. Ela acordou antes de todos nós essa manhã, pra ser preciso. Porque¿


- Ah, nada. Curiosidade.


Ron se levantou rapidamente e foi em direção a porta.


- Bom, vou dizer a mamãe que você não esta morto e essas coisas.


Então sumiu por trás da porta, assim como fizera Hermione.


 


Harry cruzou o quarto e começou a revirar mais uma vez seu malão procurando suas roupas, penas para um lado, pergaminhos amontoados, livros no fundo do malão, meias uma de cada cor enroladas umas nas outras, um terremoto definitivamente estivera ali.


 


Harry começou a pegar suas roupas e jogá-las na cama, as escolhendo do melhor jeito que sabia fazer: pegando as primeiras peças de roupas que ele via na sua frente. Então pegou uma toalha e saiu pelo corredor em direção ao banheiro.


 


Ao entrar no banheiro, ligou o chuveiro e sentou-se na pia do banheiro dos Weasleys,algum tempo depois de ficar simplesmente respirando o vapor que sai do chuveiro, ele entra no banho e vê que estivera o mais cansado que o normal e encosta sua cabeça na parede e fica reelembrando seu sonho, Harry sempre estava cansado, não deveria se espantar com isso, ele deveria ser mais conhecido como ‘O Garoto Sempre Cansado’ e não como ‘O Garoto Que Sobreviveu’, então perdido em pensamentos esfregou seus olhos e voltou a encostar sua cabeça na parede, Ginny não estava cansada, e provavelmente estivera a noite toda acordada, talvez até mesmo a anterior, mas ela não parecia cansada “sono é para os fracos” dissera Ginny a ele na madrugada anterior. A Ginny que Harry estava acostumado não era de dizer essas coisas, geralmente ela não dizia nada na presença de Harry, isso estava mudando¿ Ela talvez tivesse vencido a queda que tinha por Harry. Agora ela olhava Harry com indiferença e Harry não tinha certeza se gostava disso, ele não tinha que gostar de nada, era só Ginny, era como sua irmã mais nova, nada mais.


Fechou a torneira, saiu do Box e começou a secar seus cabelos ainda mais desalinhados por estarem molhados, enrolou a toalha que secara seu cabelo e saiu do banheiro.


Andava distraidamente pelo corredor quando se deparou com uma porta aberta e um quarto alaranjado, aparentemente vazio que chamou muito sua atenção, então olhou para os dois lados para se certificar que ninguém estava vindo e entrou no quarto. Era o quarto de Ginny, estava vazio como havia suspeitado e era claro e agradável com um tom alaranjado por causa dos muitos pôsteres do Chudley Cannons se movendo, a luz vinha somente de uma janela grande, não era grande, mas perfeitamente aconchegante então Harry avistou o guarda-roupa e abriu sem hesitar ou pensar no que estava fazendo, quase ligado no piloto automático e Harry pode ver vários cabides com várias roupas de diferentes cores penduradas, mas o que lhe chamou a atenção eram vestes pretas socadas no fundo do guarda-roupa, ele as pegou e logo reconheceu como vestes da Grifinória pequenas demais para caber em Ginny agora e Harry as reconheceu como as vestes que ela estava usando quando Harry a salvara da Câmara Secreta no segundo ano dele e primeiro dela, Harry se pegou sorrindo ao lembrar disso mais seu sorriso desapareceu instantaneamente quando uma voz sibilou as suas costas:


 


- O que você esta fazendo aqui¿ - Era Ginny segurando um livro contra o peito, braços cruzados sobre ele com uma expressão que beira desconfiança e surpresa, encarando Harry incrédula.


 


Harry jogou as vestes de volta no guarda-roupa, fechou a porta e encostou suas costas nele tão rápido como nunca achava que conseguiria fazer algo semelhante em tal velocidade. Harry queria responder, queria pedir desculpas por entrar num quarto que não era seu e tampouco mexer em coisas e roupas que não eram suas, queria dizer que sentia muito e queria sair logo dali, mas o que saiu de sua boca foi:


 


-Eu..e-eu... hã, eu...não


 


A única coisa que Ginny fez foi levantar as sobrancelhas como quem quer uma resposta rápida e objetiva.


 


- Eu, eu.... – Então reuniu palavras o suficiente para dizer- me desculpe, eu não


 


- Ah claro que não, porque é realmente normal – ela começou; o tom de Ginny era mesclado com ironia e divertimento,  começou a andar pelo quarto e colocou o livro que segurava em cima da cama e continuou olhando para Harry – você entrar no seu quarto e encontrar um garoto nele, mexendo em seu armário – apontou para o guarda-roupa e foi caminhando lentamente para mais  perto de Harry que quase automaticamente dava pequenos passou para trás – fazendo sabe lá o que e – Harry estava encurralado, não podia ir mais para trás, suas costas estavam no armário, então Ginny abaixou rapidamente a cabeça e tornou a levantá-la e concluiu – somente de toalhas.


Harry corou violentamente, ele podia sentir seu sangue subindo cada vez mais rápido, ele e Ginny ficaram se encarando por alguns segundos, ela estava perto o suficiente para ele sentir o perfume dela, mas ele não conseguia sentir a pele dela, e desejou imediatamente que eles estivessem mais perto, ele queria poder sentir a pele dela na dele, o cabelo dela roçando em seu corpo, a respiração dela na sua, parecia em transe quando Ginny se afastou, pegou seu livro, sentou na cama e começou a lê-lo, o que o fez acordar e ficar olhando para ela com os olhos arregalados. Ela disse inesperadamente:


 


- Te dou três segundos para você sair por aquela porta e eu – disse olhando para ele rapidamente depois abaixou os olhos para seu livro mais uma vez – prometo esquecer tudo que vi.

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