Desculpas

O Lorde havia sido derrotado. O feitiço incrivelmente verde fora refletido pelos olhos do menino. Aqueles que eram do partido negro estavam sendo caçados. Não foi diferente com a minha família. Fomos cruelmente interrogados. Lúcio estava ficando desesperado. Disse que estávamos sob domínio da maldição Imperius e que matariam nosso filho caso tentássemos algo contra o Lorde. Disse que fomos mantidos reféns do nosso próprio medo. E eu sustentei todas as mentiras dele até o fim.

Acabaram deixando minha família em paz, então passei a me dedicar mais a ela. Estava ao lado de Lúcio sempre que possível e não abandonava Draco um segundo sequer. Eu soube que Dumbledore deixara seu filho na responsabilidade da família de sua irmã trouxa e que ele cresceria sem saber quem é. Soube também que o pequeno Potter sofria em sua nova casa. Enquanto o meu Draco crescia amado e saudável, o seu filho só conhecia o desprezo e a indiferença. Enquanto o meu Draco crescia rodeado de luxos e mimos, o seu filho era espancado pelo primo problemático e dormia no armário sob a escada.

Eu queria morrer devido a culpa que sentia. Se não fosse minha maldita ingenuidade, você e seu marido não teriam morrido àquela noite e o pequeno Potter não teria sofrido tanto. Mas ele se tornou um rapaz forte, inteligente e cheio de coragem. O sofrimento fez dele o homem que meu filho jamais será. O pequeno Potter aprendeu com seus erros, cresceu tendo que cuidar de si mesmo. Mas ele será uma criança. Só uma criança, tendo que conhecer os prazeres e desagrados da vida sozinho.

Ainda me pergunto onde eu errei com o Draco. Não sei se ele se tornou tão parecido com o pai por eu amá-lo de mais ou de menos. Mas ainda assim eu o amo e faria de tudo para vê-lo feliz.

Eu vivia arrumando desculpas para justificar o que eu fiz. Encontrei várias, e até me convenci de que eram verdade. Mas o vento vinha todas as noites sussurrar no meu ouvido o quanto eu havia feito o pequeno Potter sofrer. Ele jamais me deixara esquecer do monstro que havia dentro de mim.

Assisti meu filho crescer dando-lhe amor e apoiando-o em tudo. Talvez se eu tivesse sido um pouco mais dura, ele tivesse sido um pouco melhor. Mas eu estava cega, querendo reparar de qualquer forma todos os meus erros do passado. Precisava dar ao meu filho tudo que você jamais poderia dar ao seu, na esperança de sentir-me um pouco menos culpada...

O tempo foi passando, nossos filhos foram crescendo e eu me esqueci do eventual estrago que fiz. Draco completava onze anos e iria para Hogwarts. Eu estava orgulhosa. Mas não havia pensado que ele encontraria seu filho no caminho. Havia me esquecido de você e de sua maldita família. Mas você não se esqueceu de mim, não é, Lily? O verde de seus olhos ainda me perseguia pelas entranhas de minha consciência, ainda que eu me recusasse a enxergar... e assim permaneceria, até que o destino fez com que eu percebesse que era lastimável minha esperança de fugir dele.

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