Cicatrizes

N/A: Ahhh meu Deus, eu quero me desculpar pela demora em postar esse capítulo! Não ando tendo muito tempo pra escrever, mas enfim, o 6 está quase pronto, espero que gostem!




"The scars remaind me that the past is real"
As cicatrizes me lembram de que o passado é real
Papa Roach - Scars


Era uma manhã ensolarada. O céu estava bonito, azul e cintilante, mas havia notas tristes nas canções dos pássaros. Famílias bruxas e trouxas se misturavam quase imperceptivelmente, indo e vindo apressados de todas as direções. O som insistente e irritante dos carrinhos arrastando as bagagens preenchia a movimentada estação de King's Cross, mas eu não ouvia, de fato. Não conseguia desgrudar os olhos daquele garoto magro e desajeitado, que mesmo de longe e mesmo com aquele cabelo que crescia pra todos os lados e direções - idêntico ao do seu maldito marido - não conseguia esconder a fina cicatriz em forma de raio no meio da testa.

Ele não parecia saber ao certo pra onde ir. A plataforma estava magicamente oculta, mas ele não sabia que coisas assim eram possíveis. Seu heróizinho foi criado como um animal e passou a ser considerado uma ameaça quando a família da sua irmã viu o que o garoto podia fazer.

O jovem Potter achava que era tudo uma grande brincadeira de mau gosto e que não havia mundo mágico nenhum quando viu um dos Weasley atravessando a barreira mágica que levaria até a plataforma. Ele encontrara o caminho, afinal. Encontrou uma família.

Estavam todos indo pra Hogwarts, enfim. Eu soube que desde o principio o seu heróizinho soube que tipo de pessoa era meu filho e que realmente nunca precisou de ajuda para distinguir o certo do errado. O seu filho é um rapaz doce e decidido, como você, embora ainda carregue uma certa arrogância que herdou do pai. Ele enfrenta seus medos de frente e arrisca tudo pra proteger quem ele ama. Você realmente não o abandonou, não é, Lilly?

Nossos filhos sempre se odiaram, é verdade. Mas não era diferente do seu marido e do esquisito do Snape. O pequeno Potter salvou a vida de meu filho... assim como seu marido fez com Snape. As semelhanças entre as duas histórias são inegáveis, embora tenhamos mudado um pouco a maneira como aconteceram. Não abandonamos nossos filhos, talvez isso tenha feito alguma diferença...

Sei que para o seu filho, sentir sua presença fez toda a diferença... Sei que ele cresceu longe de todo amor e conforto, mas ele a sentia por perto toda vez que encarava aqueles profundos olhos verdes no espelho - os seus olhos. Mas o com meu Draco? Ele teria resistido ao lado das trevas se eu tivesse o ensinado tudo que aprendi com você?

Não, Lilly, se toda aquela babaquice sobre o amor teria feito alguma diferença. Você sempre tentou me fazer acreditar - e acabou conseguindo - que quando realmente amamos, tudo vale a pena. Viver ou não, tudo vale para protegermos quem amamos de verdade. Minha maldita ingenuidade e ignorância me fizeram interpretar as coisas da maneira errada. Eu deixei que o suposto amor por seu marido me dominasse e...

Já na plataforma, quase na hora do embarque, minha consciência fazia de mim uma completa tola. Remoendo minhas cicatrizes, eu me lembrei de cada pedacinho de dor que eu proporcionei à sua família. Cada centímetro de mim contraía-se de culpa quando vi o pequeno Potter embarcando sozinho, e me doeu ainda mais quando me aproximei de Draco para dar-lhe um beijo de despedida. Eu queria ter dito para que ele se cuidasse e que não se metesse em confusões. Queria ter-lhe dito para ser cauteloso ao escolher seus amigos - eu não queria que ele se tornasse um homem com o pai dele - e queria principalmente ter dito para que ele se mantesse perto de seu filho e que fosse agradável com ele. Mas eu falhei. Apenas beijei-lhe a testa sem notar sua expressão de decepção, enquanto eu observava aquela quase imperceptível cicatriz em forma de raio desaparecer na multidão.

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