Túmulos



Ele sabia onde vocês estavam. Ele tinha a chave para o meu esquecimento, para a minha paz... Eu esperava mais de você, Lilian. Nunca vou perdoá-la por sua maldita ingenuidade. Confiou àquele imundo de cabeça oca a localização de seu esconderijo , entregando-me sua vida perfeita sem que eu precisasse medir esforços.

Todos sabiam que o tal Pedro Pettgrew era um rapaz um tanto quanto perturbado. Sempre fora o menos talentoso dos marotos. Nunca foi o que quis ser. Era aceito apenas por estar sempre perto de seu marido inutil... e como Pedro o idolatrava! Mas todos também sabiam que ele era facilmente manipulado. Por quê, então, você confiou a ele o segredo?

Eu estava a beira da loucura. O imprestável do Potter não saía da minha cabeça. O Lorde das Trevas queria o filho de vocês devido a uma informação que seu amado Sev havia dado a ele. Eu sabia que o Lorde os mataria junto do bebê... a felicidade de vocês me enfurecia. Eu precisava acabar com isso de uma vez por todas.

Lúcio alimentava uma completa devoção pelo Lorde. Ele nos prometera poder, segurança. O preço a pagar não era, de fato, alto. Lealdade e uma marca no braço. Não tinhamos nada a perder. Se recusássemos, certamente seríamos mortos no futuro. Eu tinha um filho pra cuidar... e não morreria enquanto não fizesse você e seu marido pagarem pela dor que me causaram.

O Lorde parecia gostar de Lúcio. Não. Gostar não. O Lorde das Trevas desconhece o amor ou o carinho. Ele apenas respeitava meu marido porque Lúcio não falhava. Cumpria suas tarefas perfeitamente, atentendo a todas as numerosas exigencias do Lorde. Éramos uma família muito respeitada. Tinhamos dinheiro. Nome. Puro-sangue. Então o Lorde nos prezava.

Certa noite, enquanto Lúcio saíra em uma de suas missões, eu ouvi uma de minhas criadas dizendo que você e sua familia estavam escondidos e que apenas o pobre Pedro Pettgrew sabia onde. Sem nem pensar, movida apenas pelo ódio que Lúcio me ensinara a cultivar, saí atrás de Pedro no meio da noite. Eu sabia que ele morava em algum lugar em Hogsmead. Não foi difícil encontrá-lo. Estava sentado em uma mesa do movimentado Tres Vassouras, na companhia de Sirius Black. Ouvi Black dizendo que você e sua familia estariam mais seguros nas mãos de Pedro. Black achava que haviam feito uma boa escolha. Pobrezinho...

A ingenuidade sempre foi o maior defeito da humanidade, então esperei em silencio que Black fosse embora. Quando ele finalmente o fez, sentei-me ao lado de Pedro com um sorriso amável nos lábios. Contei a ele os planos do Lorde e o quanto ele seria recompensado caso o ajudasse a chegar até seu precioso Harry. Ele pareceu intrigado e assustado, mas eu sabia que estava tentado em pensar no poder e na segurança que ele teria ao lado do Lorde. Bastaram apenas mais algumas palavras para que eu tivesse certeza de que o tolo rapaz viria para o meu lado.

-Cedo ou tarde, ele saberá que você é o fiel do segredo. Ele o matará para obter a informação. Não seja burro, Pedro. Salve sua vida e ganhe a confiança do Lorde. Só assim você finalmente será notado. Será tão bom e popular quanto Tiago ou Sirus jamais foram.

Levantei-me sem esperar uma resposta. Eu sabia que havia conseguido. Pettgrew não era nobre como os amigos. Era ambicioso, não corajoso. Ele jamais arriscaria sua vida cretina para salvar alguém, mesmo porque não conhecia o amor. Voltei para casa sorrindo, satisfeita com meu trabalho. Encontrei Draco dormindo tranquilamente sobre a minha cama. Talvez tenham deixado-o lá para que eu cuidasse dele durante a noite. Mandei que uma das criadas levassem meu filho dali, e só hoje vejo o quanto fui errada. Deixei que o ódio me dominasse de tal forma que me esqueci do quanto meu filho precisava de mim.

Dias depois de minha aventura atrás de Pettgrew, enquanto assistia a Lúcio ensinar a Draco como amaldiçoar alguém - mesmo que ele fosse só um bebê - senti meu braço arder. O braço da Marca Negra. Perdida, procurei o cinza dos olhos de meu marido. Ele parecia aterrorizado. O que mais temíamos havia, então, acontecido. O Lorde caíra pela primeira vez. Ele encontrara, com a informação dada por Pettgrew, o esconderijo de sua família. Sentíamos que ele estava morto, e eu sabia, lá no fundo, que você e Potter também estavam. Achei que fosse finalmente acordar do meu pesadelo. Ouvi Lúcio gritando, o medo estampado em seu rosto de veludo. Meu pequeno Draco chorava, e então eu o abracei pela primeira vez. Por sorte, ele era pequeno demais para entender o que estava acontecendo. Com aquela pequena criatura inocente em meus braços, eu chorei. Pela primeira vez, senti-me mãe e esposa. Não temi por minha vida, mas sim pela vida de Lúcio e de Draco, que mal começara.

Eu não amava o seu marido desprezível, no final das contas. Eu apenas queria me vingar do garoto que eu conheci nos tempos da escola. Eu, que sempre crucifiquei a ingenuidade, fui a mais ingenua de todos, acreditando que estava agindo por amor. Eu amava aquele homem à minha frente, aquele homem frio, porém que havia me dado aquela pequena criatura presa firmemente entre meus braços tremulos. O homem que me protejeria e que me fez ser o que sou. O homem que não é mau, apenas teme os mais fortes e mais poderosos, e principalmente teme a morte acima de tudo.

É, Lily, só o amor me salvaria. Só é lamentável eu ter demorado tanto pra entender. Aquela noite em que pensei que acordaria do pesadelo se repete dentro de mim a cada vez que fecho meus olhos. Você e Potter finalmente estavam mortos, mas o filho de vocês, não. E uma parte de vocês dois continua cada vez mais viva dentro dele.

Com meu filho preso contra meu peito e envolta pelos braços do homem que eu realmente amo, eu chorei. E foi aí que meu pesadelo realmente começou.

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