Suicídio!



A tarde caía tão bonita, com os raios de sol dourando as vidraças e entrando pelo quarto, que Hermione começou a chorar silenciosamente.
O telefone tocou na sala. Ela ouviu Melissa atendendo. Levantou-se da cama e foi saber quem era, esperando que fosse Draco. Melissa já tinha desligado e ficou surpresa ao vê-la em pé:
- Já se levantou? O sr. Malfoy disse que a senhora ia dormir o dia todo...
- Quem telefonou? Foi meu marido?
- Não, sra. Malfoy, era um cavalheiro... dr. Daniel ou algo parecido. Eu disse que a senhora estava de repouso... como o sr. Malfoy mandou.
Draco tinha pensado em tudo, ela concluiu. Podia não a querer mais, mas a impedia até de conversar com o dr. Daniel. Mesmo nessa situação, continuava possessivo.
- A senhora vai voltar para a cama, sra. Malfoy?
- Não. Acho que vou pegar meu biquini e dar um mergulho.
- A senhora se incomoda se eu voltar para a minha casa? Eu estava passando roupa quando o sr. Malfoy me chamou, mas se a senhora já está melhor.
- Oh, está tudo bem, Melissa. Não preciso de ninguém para cuidar de mim.
Andando pela areia, Hermione tinha vontade de sair correndo e não voltar jamais. Nunca havia se sentido tão só e abandonada. Antes, pelo menos, Nathan precisava dela.
Mas agora que ele estava tão longe... não existia uma viva alma que a quisesse, que tivesse necessidade de sua ajuda ou companhia.
O sol já se aproximava do horizonte. O que Draco estaria fazendo? Será que estava amando Renata Campbell? Flertando com ela, dançando ou... na cama?
Virou-se contra o sol, procurando afastar esses pensamentos. Deu de cara com o dr. Daniel Ravern que a observava a alguma distância. Ele se aproximou.
- Eu tive uma sensação muito curiosa enquanto a olhava, Hermione. Passou-me pela cabeça que você pensava em se matar...
- Pensava mesmo - ela respondeu, da mesma forma direta.
- E... porquê?
Ela sacudiu os ombros. Não dava para explicar.
- Isto aqui é um verdadeiro paraíso... Onde está a serpente, Eva? Será que sou eu mesmo?
- Não, dr. Daniel, por favor. Não me venha com suas perguntas ensaiadas. Basta de interrogatórios.
- É, chega de interrogatórios... - ele concordou, sem graça, e mudou de assunto. - Eu telefonei mais cedo e a empregada disse que você estava deitada. Mas depois, quando vi seu marido na piscina do hotel com a srta. Campbell, achei que era a melhor hora de vir aqui para vê-la.
- Não temos nada para conversar, dr. Daniel.
- É, hoje em dia não temos. Mas já tivemos tempo, lugar... e perdemos a oportunidade.
Hermione o encarou, achando estranha a conversa. O que esse homem queria dizer?
- Quando você tinha dezesseis anos, eu tinha vinte e tres - ele explicou. - Eu só pensava em fazer meu nome, conseguir prestígio profissional. Não me sobrava tempo para mulheres... Não que a companhia feminina me desagradasse, pelo contrário. Muitas vezes, como todo homem, eu desejava ter uma mulher ao lado, mas não queria gastar energias com conquistas ou programas quando havia uma carreira para construir. Não estou tentando dizer que me apaixonei por você durante o julgamento... O fato é que, desde aqueles dias, nunca mais sua imagem me saiu da cabeça. Você tem um ar de pureza, de vulnerabilidade, que nunca mais encontrei.
- Obrigada - ela respondeu, num tom seco.
- Se você tivesse alguns anos a mais, eu não teria deixado pedra sobre pedra até encontrá-la. Mas foi melhor assim... Eu não ia conseguir sucesso nos dois, amor e profissão.
- Vou tentar encarar o que o senhor está dizendo como um elogio.
- Se você me conhecesse melhor, ia saber que isso tudo é muito sério. De qualquer forma, a oportunidade está perdida... Agora, só quero lhe dizer uma coisa: se um dia precisar de ajuda, me procure. Sempre encontrará meu endereço na lista telefónica. Se eu puder lhe prestar qualquer tipo de ajuda, ficarei muito feliz.
- Obrigada. Mas, só por curiosidade: o que o leva a pensar que eu possa precisar de ajuda?
- A maneira como estava parada aqui, como uma criança perdida... e a forma como o seu marido falou com você ontem à noite... Mas não quero fazer perguntas... Se precisar de quem a ouça, estou à sua disposição. Só não quero que pense que desejo me meter na sua vida ou prejudicá-la. É você quem deve dar o primeiro passo.
Hermione passou a mão pelos cabelos, sem notar que esse gesto reforçava aquela expressão de vulnerabilidade que o dr. Ravern tinha mencionado. Fixou seus lindos olhos no mar e disse:
- Sonhei com o senhor por vários anos...
Ele não soube como reagir no primeiro minuto. Depois, disse gentilmente:
- É comum isso acontecer. Os psicólogos dizem que essa pode ser uma tentativa do inconsciente justificar, esclarecer, uma experiência que não foi feliz na prática.
Hermione ficou surpresa.
- O senhor quer dizer que... que isso acontece com mais gente? – Ele sorriu, com uma expressão paternal.
- É o que estou tentando dizer. A situação se parece com a dos clientes que procuram um psicanalista e transferem alguma afeição para ele durante o tratamento. O relacionamento íntimo que se estabelece entre os dois, em muitos casos, até gera uma atração sexual. Isso é muito comum: tanto os clientes de um psicanalista como os de um advogado tendem a ficar apaixonados pelos profissionais que se interessam pelos problemas deles.
Ela sorriu.
- Entendo...
- Estou sendo totalmente honesto, Hermione. Quem sabe, até, agindo contra meus interesses... Gostaria de deixar você imaginar que seus sonhos comigo eram diferentes e reais, que não eram sonhos comuns... Gostaria de acreditar que pensa em mim tão carinhosamente quanto penso em você. Mas não consigo, minha honestidade é maior.
- O senhor tem uma forma tão clara, tão lógica de explicar as coisas, dr. Daniel! Muito obrigada!
- Por favor, você não tem nada que agradecer. Passei muitas noites sem dormir... Sinto-me amargamente culpado de ter participado daquele caso. Agora, mais do que nunca, me arrependo.
- Muito obrigada, de qualquer forma. Preciso dizer mais uma coisa...
- Por favor, pode ser franca.
- Bem, já que estamos sendo honestos... Meus sonhos não eram agradáveis.
- Você quer dizer que tinha pesadelos comigo?
- Às vezes.
- E das outras vezes?
Hermione o olhou nos olhos e sorriu.
- Acho que o senhor já sabe a resposta..,
Ele respirou profundamente. Sua expressão deixava transparecer que estava muito desconcertado. De repente, se despediu.
- Então, adeus, Hermione! E lembre-se: se precisar de mim, esteja à vontade.
- Adeus, dr. Daniel! - ela respondeu, sabendo que nunca mais o veria.
Ele deu alguns passos e parou. Virou-se para olhá-la com o rosto crispado de dor. Então, voltou até onde Hermione estava, colocou a mão carinhosamente sob o queixo dela e deu-lhe um beijo respeitoso, gentil, muito mais de pai que de amante apaixonado.
Ela ainda ficou olhando enquanto ele se afastava. Depois, entrou correndo na água.
Aos poucos o sol foi descendo no horizonte. No céu azul apareciam as primeiras estrelas. Começava a escurecer, mas Hermione não tinha vontade de sair do mar e voltar para casa. Somente ali, em contato direto com a natureza, se sentia livre de todas as emoções confusas que estavam tornando sua vida tão difícil. Ia ficar ali para sempre, ela disse para si mesma. Nunca mais deixaria o mar.
Queria ser uma sereia. Então, ficaria deitada nas pedras passando um pente de ouro nos cabelos, e atraindo os marinheiros dos navios para o fundo do mar... As sereias não têm coração, não sofrem como os seres humanos... Só ficam nadando com suas caudas luminosas e cantando com suas vozes lindas.
No fundo, Hermione sabia que estava agindo como uma boba, que se entregava aos delírios como se tivesse febre. Seu pensamento estava disperso... Mas pensar, encarar a realidade, doía demais. Deixar o corpo e mente relaxados, envoltos na fantasia, era mais fácil.
- Vou para o fundo do mar! - ela gritou para as estrelas, gargalhando.
Foi quando ouviu a voz de Draco, gritando de longe:
- Hermione... Hermione... Pelo amor de Deus!
Quando uma onda a ergueu mais alto, pôde vê-lo na areia. Estava de pé, segurando a toalha que ela havia trazido. Assim que a viu, largou a toalha e saiu correndo, enquanto tirava a roupa.
Hermione escutou o barulho dele mergulhando no mar. Fechou os olhos e se deixou levar pelas águas. Seus ossos seriam cobertos de coral, pensava. Na verdade, sentia raiva de Draco por ele interromper essa paz noturna.
Mas, por fim, Draco conseguiu alcançá-la. Ela estava inconsciente, com o corpo mole, olhos fechados, boca entreaberta, e os lindos cabelos castanhos esparramados sobre a água como algas... Draco dava braçadas rápidas, fazendo um grande esforço para puxá-la até a praia.
Quando conseguiu chegar à areia, Hermione era apenas um peso morto que ele tinha que arrastar. Começou a fazer massagens tão violentas que, em poucos segundos, ela voltou a si, tossindo e devolvendo água pelo nariz e boca. Num gesto rápido e brusco, ele levantou seu rosto, puxou os cabelos dela para trás e lhe deu dois tapas fortes. Ela abriu os olhos e murmurou em protesto:
- Porque...
- Sua idiota, você pensa que eu ia deixá-la escapar? Não, mesmo que tivesse que segui-la até o inferno; eu iria...
Beijou-a em seguida com tanto desespero, que ela adquiriu enfim plena consciência do lugar onde estavam e do que tinha acontecido. Hermione começou a chorar.
- Não me maltrate mais, Draco, não me faça sofrer tanto...
Ele olhava para ela em silêncio. E em silêncio levantou-a nos braços e caminhou em direção à casa, aconchegando-a contra seu peito nu.


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Que pressão pro nome do cap, hein?
auhauhauahau
Vlw por todos os coments...
Vlw... Carla Ligia, espero que seja tudo tranquilo na viagem mesmo!
\0/
Bom.. continuem comentando, ok??
O Draco é "meio" autoritário,insuportável,machista... Mas no fundo...
Bem... Continuem lendo a fic ; ]
Beijos
Te mais

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